Morfeu - A Toca do Coelho

By Noemi_Morfeu

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Todos nós temos um lugar dentro da gente. Um lugar sombrio, ou quem sabe excêntrico e de alguma forma ruim. M... More

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By Noemi_Morfeu

Chegamos em Lemmos, aqui as árvores eram mais altas e tinha muitas flores.

Paramos em um ponto onde o rio Lethé desagua no mar. O sol é laranja, o céu é colorido. Respiro o ar puro e desço de Travis.

Will desce atrás de mim e Travis se torna aquele homem ruivo que se tornou meu amigo.

- Estamos no mar de lágrimas. - disse Will olhando o horizonte.

- O navio do País das Maravilhas está bem ali. - disse Travis apontando para um barco que estava na praia branca do outro lado.

- Como chegamos na toca do coelho? - perguntei.

- Pelo jardim. Venham. - disse Travis e começou a correr.

Will e eu corremos atrás dele. O lugar era incrível, chegamos em um belo jardim de flores enormes, elas estavam abertas e tomei um susto ao ver um rosto dentro de uma delas. Um rosto feminino que se misturava com a cor da flor. Ela piscou para mim sorrindo.

Vi que todas as flores abertas estavam assim. Parei bruscamente e Will esbarrou em minhas costas e acompanhou meu olhar.

- Mas o que é isso? - perguntei horrorizada.

- São apenas flores falantes. - respondeu Travis a nossa frente. - Venham logo.

Seguimos ele ignorando aquelas flores estranhas.

- Essa não é a mocinha que vimos anos atrás Orquídea? - perguntou uma rosa vermelha prendendo seus ramos em meu vestido, dei um pulo para ela não me pegar e cai no chão.

- Ela mesma, conheço esses cabelos ruivos a quilômetros de distância. - disse a Orquídea envolvendo seus ramos em minha cintura.

Cortei os ramos com a espada vorpal, a Orquídea se esquivou e puxou seus ramos de volta. Olhei para as flores que pareciam me encarar de maneira reprovadora.

- Você está bem? - perguntou Will me ajudando a levantar.

- Estou sim, mas elas não me deixam em paz. - disse segurando firme a espada vorpal.

- Cuidado com isso garota, pode machucar alguém. - disse uma tulipa irritada para mim.

- Eu só quero ir para o jardim das almas, me desculpe se machuquei você, mas você me assustou. - disse olhando para a Orquídea que assentiu.

- Tudo bem mocinha, vá em frente e vai envontrar uma porta. Ela é a toca do coelho, atrás dela fica o jardim das almas. - disse a Orquídea.

- Obrigada. - falei e Travis me puxou para fora daquele lugar.

Will veio logo atrás de mim. Chegamos na tal porta e fiquei assustada.

A porta não tinha parede, era apenas uma porta no meio da floresta de madeira cinza com uma chave prata na tranca.

Me aproximei analisando aquilo, que estranho. Atrás tinha uma enorme colina com flores derivadas.

- Vejam. - disse Will tocando ao lado da porta, vi um campo de força transparente aparecer com o toque dele, como se a parede daquela porta fosse invisível e separasse alguma coisa.

- Separa os mortos dos vivos. - disse Travis assentindo.

Nós três entramos no belo jardim e passamos direto pela porta.

Tudo era muito bonito. As flores, vi criaturas caminharem normalmente, elfos, fadas, nínfas, Minotauros, sátiros e outros animais normais, como leões, coelhos, mariposas, vagalumes. Todos pareciam tranquilos e em amônia.

Me lembrei dos espelhos de Morfeu onde ele preservava aqueles seres incríveis lhes proporcionando um pouco de liberdade.

- O que você queria que eu fizesse? - gritou uma voz fazendo nós três nos entreolharmos.

- Ela deve está morta agora, nunca vou te perdoa Morfeu. Nunca. - gritou a voz de Edgar. Eu conhecia bem.

Corremos em direção aquelas vozes. Vinham de trás de uma árvore.

- Se acalme saladino, ela deve chegar a qualquer momento. - disse uma voz calma e suave masculina. Esse era o Morfeu.

- Eu vou matar você!!! - gritou Edgar e ouvi um barulho estranho, como se eles estivessem lutando.

Cheguei atrás da árvore e vi Edgar socar o rosto de Morfeu que se vira com uma expressão séria.

Morfeu só encara Edgar e quando consigo assimilar o que está acontecendo, vejo os galhos das árvores se moverem e amarrarem Edgar no chão, ele luta contra as amarras e Morfeu sorri de lado ajeitando o terno preto que estava usando. Ele arranca sua gravata e joga no chão.

- Eu vou contar tudo para Sophia, você vai ver, ela não vai acreditar mas em você. - cuspiu Edgar irado.

- Eu não menti em nada para ela, pode contar, não devo nada para ela. - disse Morfeu soprando de leve no rosto de Edgar, que acaba desmaiando no chão. Me assusto com tudo aquilo e nem consigo me mover.

- O que é isso? - perguntou Travis fuzilando Morfeu.

Morfeu se vira para nós e me fita, desvio o olhar para Edgar e corro até o seu corpo caído no chão coberto de ramos.

- Ele está bem, só estava me afrontando. Dei um jeito nele, não se preocupe Sophia, ele ficará bem. - disse Morfeu calmamente.

- Não, não ficará. - encarei Morfeu com ódio. - Acorde ele. Agora!!!

Morfeu bufou e fez um movimento com seus dedos em direção a Edgar, os ramos se soltaram e Edgar abriu os olhos e me olhou.

- Que bom que está viva. - disse Edgar me abraçando forte. Seus braços envolviam meu corpo e eu me senti bem, estava sentindo tanta saudade dele.

- Eu sei, vai ficar tudo bem. - disse segurando seu rosto o fazendo me encarar, sua barba loira estava nascendo, seus olhos verdes me encaravam com atenção, seus cabelos loiros estavam bagunçados de uma maneira bonita de se ver. - Vamos para casa.

Abracei forte Edgar e quando meu afastei vi seus olhos marejarem.

- O que foi? - perguntei confusa.

- Não vamos para casa Sophia. - disse Edgar triste e me levantei não entendendo.

- Vamos sim, está aqui a espada vorpal. - apontei para o chão, mas Morfeu já tinha pegado ela, ele deslizava seus dedos elegantes nela e encarava seu reflexo.

- Proponho um acordo amorzinho. - disse Morfeu me fitando de maneira desafiadora.

- Já cumpri meu acordo Morfeu, me deixe ir agora. - falei encarando ele com raiva de sua falta de palavra.

- Eu também cumpri meu acordo, te contei a verdade sobre tudo que me perguntou, deixei o estúpido de Lewis no meu Palácio e levei Alice para a corte branca, e no final de tudo deixaria vocês irem embora. - Morfeu sorri diabolicamente para mim. - Mas isso ainda nem começou. A guerra ainda nem aconteceu.

- Deixe ela decidir Morfeu, já expliquei tudo para ela. A escolha é dela, não pode obrigar ela a lutar. - disse Travis vindo por trás de Morfeu com o olhar sério.

- Mas se não for ela, todos irão morrer, ficaremos presos em um tempo confuso e a corte branca será destruída. - disse Will e todos olharam para ele, ele se aproximou me fitando. - Se não for você, vão matar Cristal, ela será presa dentro do jardim das almas. O Tempo só quer um campeão puro sangue, não importa se é você ou Arbety, desde que seja uma mulher.

- Por que uma mulher? - perguntou Edgar.

- Por que o País das Maravilhas é regido por rainhas. - respondeu Morfeu com a voz seca.

Encarei Morfeu firme, agora as coisas fazem sentido. - Você não quer que Cristal morra, não quer que ela perca a coroa porque é apaixonado por ela.

- Isso é verdade, mas também me preocupo com Arbety, se ela consegui a coroa de Cristal, será o fim, ela governará todo o mundo inferior. - disse Morfeu sério.

- Infelizmente Morfeu tem razão Sophia, precisamos de você. Que lute por nós. - disse Travis me fitando triste.

- Não posso. - disse sentindo minhas bochechas esquentarem. - Já consegui a espada vorpal, agora é por sua conta Morfeu.

Vi Travis e Will ficarem tristes, Edgar sorriu para mim. Mas Morfeu me fuzilava com seus olhos negros.

- Você realmente não se importa com nenhum de nós, precisamos de você Sophia, só você pode matar a Arbety, será que você não entende? Se não for você o Tempo não irá cumprir sua promessa. - gritou Morfeu virando de costas para mim e erguendo suas enormes asas. Ele joga a espada vorpal no chão e passa as mãos nos cabelos.

Edgar me abraça de lado.
- Não se preocupe com ele, vai ficar tudo bem. - sussurrou Edgar me acalmando. Eu me sentia uma covarde. Mas não queria ser a nova rainha vermelha. Eu tenho minha vida, em Londres, não posso me prender aqui.

Nesse momento um homem alto, forte, moreno de cabelos compridos, acima dos ombros, olhos amarelos como de um gato, aparece segurando as mãos da pequena Alice.

Alice veste um vestido roxo escuro e seus cabelos loiros estão presos em um coque alto, ela me olha e sorri.

- Sou Icelos, responsável pelas almas desse jardim, não quero ser rude, mas vocês estão perturbando a paz desse lugar sagrado. - disse o homem moreno que se veste com uma camisa de mangas compridas cinzas e calças pretas.

Todos nós assentimos e ele nos pediu para entrar para um pequeno pátio, onde tinha a mesa e um banquete sobre ele.

Sentei entre Morfeu e Edgar.

Me senti estranha. As flores eram cheirosas, trepadeiras subiam pelo pátio, tudo era calmo e só existia paz.

Icelos se sentou na minha frente e me encarou com seus olhos amarelos incríveis, uma cor que ainda não tinha visto.

- Então, qual o problema? - perguntou Icelos.

- Nosso saladino não quer lutar. - disse Morfeu com um ar debochado.

- Entendo... - disse Icelos olhando para baixo mas mantendo sua postura elegante. Seus olhos amarelos de gato me encaram. - Cumpra sua palavra Morfeu e mande ela de volta para o reino mortal.

- Não, já cumpri minha palavra. - respondeu Morfeu com desdém. - Eu disse que eles estariam livres para ir embora quando tudo acabasse. - disse Morfeu me olhando cínico. - Oh... acho que essa guerra nem começou.

- Não pode me obrigar!!! - gritei me levantando da mesa e todos me olharam.

- Ela tem razão Morfeu. - disse Will me olhando. - Mas, nunca vi alguém controlar tão bem sua magia ao ponto de deixar Capturandan imóvel, você de fato é uma lenda.

Os olhos de Will eram de fascínio para mim.

- Afinal de contas quem é você? - perguntou Morfeu olhando com indiferença de cima a baixo Will. - Deixa-me ver, conheço essas roupas da elite vermelha, sem dúvida você é um traidor, por que deixou a corte vermelha?

- Porque eu era prisioneiro naquele lugar. Sophia me salvou de Capturandan, por isso devo minha vida a ela. - disse Will me olhando com uma certa reverência.

Todos me olharam da mesma forma. Menos Morfeu, que parecia orgulhoso.

- Não respondeu minha pergunta jovem. - disse Morfeu com os cotovelos em cima da mesa encarando Will de maneira sinuosa. - Quem é você?

- O senhor Largata adora fazer essa pergunta. - disse Alice sorrindo e Morfeu sorriu de volta para ela.

- Sou Will Taner. - disse Will fazendo Travis, Icelos e Morfeu se entreolharem. Morfeu encarou  seriamente ele. - Creio que já ouviram falar de mim.

- Claro que sim, o príncipe da corte vermelha!!! - exclamou Travis surpreso.

Will assentiu.

- Por que deixou sua mãe? - perguntou Morfeu desconfiado.

- Ela prendeu ele em uma torre com Capturandan, você queria que ele continuasse lá? - perguntei com sarcasmo.

- Chega de brigas aqui. - disse Icelos aparentemente irritado. - Vamos falar com o Tempo, ele tem todas as leis e promessas do País das Maravilhas. Ele vai dizer outra solução para vocês.

- Tempo é uma pessoa mesmo? - perguntei confusa. Eu pensei que o Tempo era sinônimo de Destino.

- O Tempo é masculino, ninguém quer ser inimigo dele. - disse Alice abraçando seu próprio corpo.

- Ele não é uma pessoa, ele é mais uma criatura mágica de Wonderland, a mais poderosa, o líder e aquele que cumpri a lei. Ele não é mal e nem bom. Ele faz o que lhe parece certo em benefício único ao País das Maravilhas. - disse Icelos.

- Ultimamente não é isso que ele anda fazendo, deixando Wonderland nas mãos da megera vermelha. - disse Morfeu irônico, sentando de maneira relaxada na cadeira, seus tornezelos cruzados  e os pés em cima da mesa.

- Ele não tem culpa Morfeu, Arbety só tem ele ao seu lado porque ela é a legítima herdeira do trono, ele cumpri a lei, como ele podia advinhar que Arbety era uma sádica? - disse Travis passando as mãos em seus cabelos ruivos.

- Então por que ele não faz nada?  Arbety trancou o próprio filho naquela torre com aquele monstro, o que fará ao resto do País das Maravilhas? - disse Morfeu indignado.

- Sabe quem é o verdadeiro culpado disso. - disse Icelos calmo.

- Minha mãe nem sempre foi esse monstro que conhecemos, ela não me matou porque ela apesar de tudo ama meu pai. - disse Will  e notei seus olhos lacrimejar, ele lutava para não desabar.

Olhei para Edgar, ele me abraçou por trás envolvendo minha cintura e encostando seu queixo em minha cabeça.

- Os erros dele não justifica os erros dela. - disse Travis sério, mas sua voz saiu mansa.

- Eu sei. Sei disso. - disse Will se levantando da mesa, ele estava muito triste. - Eles erraram, mas são meus pais, não consigo odiar eles. Acho melhor eu ir embora.

Will não deixou ninguém dizer  nada, simplesmente saiu correndo.

- Will, espera... - falei me soltando dos braços de Edgar e correndo até Will.

Senti algo dentro de mim, uma necessidade de cuidar de Will. Não como se ele fosse uma criança, mas como se fosse um amigo, alguém que precisa de mim.

Corri pelo jardim chamando ele, vi um tecido vermelho atrás de uma árvore, andei até lá e Will estava sentado com as mãos na cabeça, como se estivesse perdido.

Me sentei ao lado dele e fiquei em silêncio observando uma nuvem de mariposas brancas voarem, elas passavam direto por nós, eram apenas espíritos.

- Não preciso que sinta pena de mim. - disse Will quebrando o silêncio. Fitei ele e sorri de leve.

- Não sinto, acho você muito corajoso, contrariar sua mãe, mesmo amando ela. - falei tocando seu ombro.

- É complicado, apesar dela ser sádica e cruel, não quero ver ela morta, ela é minha mãe. - disse Will olhando para frente.

- Eu entendi. - falei me encostando nele, ele sorriu e me abraçou, queria que ele soubesse que eu estava aqui, que podia contar comigo, me importo com ele, assim como me importo com todos aqui de alguma forma. - Se acalme, tudo vai ficar bem.

- Sophia, por que você me salvou? - perguntou Will me fitando hesitante.

- Não sei, só fiz. Eu vi que você acreditou em mim, então achei justo tirar você daquele lugar. - respondi e Will sorriu.

- Ganhei uma amiga, isso é bom. - disse Will acariciando meu cabelo.

Então uma pergunta surgiu em minha mente, sem pensar falei.
- Você conheceu seu pai?

Will me fitou e seus olhos ficaram sombrios.
- Sim, mas não gosto de falar sobre ele.

- Entendo. - disse não falando mas no assunto. - Vamos voltar? Não se preocupe, vamos encontrar o Tempo e ele vai nos dizer o que fazer.

- Mas você não vai voltar para casa? - perguntou Will confuso.

- Não posso voltar, não desse jeito. - respondi confusa, esse lugar estava precisando de mim. Will precisava de mim. Não posso ser covarde agora, mas eu não vou ser rainha, isso é demais.

- Entendo. - disse Will curvando seus lábios em um sorriso. - Vamos voltar então.

Nos levantamos e seguimos pelo jardim até o pátio onde todos estavam.


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