A lenda dos três

By Kael777

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O herói, o vilão e a morte. Faces perigosas de figuras infinitamente repetitivas ao longo dos séculos, ao lon... More

Prólogo
O herói
A morte
Crer ou não crer, eis a questão.
Divindades e perigos, caindo na estrada.
Além da compreensão
Uma viagem interdimensional.
Dimensão Zero

O vilão

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By Kael777

Kael não lembrava bem do dia em que conhecera sua mãe, mas isso não era tão simples assim, era como querer lembrar do dia em que nascera, mas ele lembrava bem de todos os pesadelos que tivera deitado na mesma cama que ela, isso era impossível de esquecer. Todas as vozes, os gritos, aquele local escuro, sua face iluminada, alguém pedindo socorro, berros de perdão, e a parte mais difícil de esquecer, a doce voz dizendo: Eu te amo.

Em casa Kael se sentia livre, era como estar em uma gaiola que se queria estar, só havia ele e sua mãe ali, ela se chamava Elisa, possuía pele morena como a dele e cabelos longos e cacheados, ele amava sua mãe acima de tudo, ela sempre explicava as coisas pra ele de um jeito fácil de entender. Em um dia muito comum eles haviam saído para passear no shopping, e ele lembrava de um momento em que perguntara a sua mãe sobre quem havia construído aquele lugar.

— Mãe, quem construiu este lugar tão grande? — Ele só tinha 8 anos de idade, e sua mãe segurava sua mão, o que deixava ele com vergonha as vezes.

— Foi um homem bem rico meu filho. — As respostas dela eram sempre assim, rápidas e curtas.

— Mas eu li em um livro lá em casa que alguém chamado Deus foi quem criou todo, o homem que fez este shopping não é Deus é? — ser ingênuo era um de seus defeitos, mas sempre visto como uma qualidade.

— Não Kael, mas foi Deus que fez o homem que fez este lugar! — Ela explicou.

— Ah, agora entendi. Na escola eles não ensinam isso.

No momento atual Kael olhava o espelho de um orfanato que mal conhecia, e aos 12 anos de idade mal conseguia respirar com tanta dor em seu peito, sua mãe estava morta e ele não conseguia conversar sobre isso com ninguém. O dia do incêndio havia sido horrível, e com certeza ele tinha culpa em grande parte do acontecimento. Uma lágrima escorreu de seu rosto, seu reflexo não parecia tão mal quanto ele estava, e isto era bom. Atrás de Kael alguém vinha se aproximando.

— O que está fazendo? — Meta perguntou. Meta era um garoto legal, quando Kael chegou ele logo percebeu as semelhanças que eles dois haviam acumulado ao longo dos poucos 12 anos, semelhanças que não era legal de se ter com ninguém. A perda de alguém importante para si.

— Só me olhando no espelho, lembrando da vida antes daqui. — Kael tentava sempre parecer mais frio do que realmente era, aquilo podia manter as pessoas afastadas, e lhe dava tempo para pensar em que caminho tomar. Sem dúvidas a vida ali não era uma opção, mas fugir já era um exagero. Confusão.

— Sabe, eu acho que se você conversasse com alguém ao invés de só ficar pensando sozinho ajudaria bem mais. — Meta era diferente das outras crianças, Kael não sabia se era pelo fato de ser solitário, mas ele tinha uma bondade interior que não era fácil de entender.

— Meta... este é mesmo seu nome? Vi o diretor lhe chamando de Jasson. — Ele tentou mudar de assunto, saindo da frente do espelho e olhando para seu colega.

— Não... é que... — Ele desviava o olhar. — eu gosto do nome Meta, prefiro que me chame assim, pelo menos você.

— Entendo. — Kael sorriu e foi andando para a sala, passando por Meta.

Aquele momento lhe fez lembrar do dia do incêndio, maldita memória, maldito dia. Era aproximadamente umas 23 horas da noite quando Kael tinha resolvido levantar da cama e ir até ao banheiro, ao passar pela cozinha ele vira sua mãe, ela estava de cabeça baixa e chorando, sentada em uma cadeira da mesa de jantar, a luz estava apagada, ele continuou até o banheiro e quando voltou ela já estava em pé, de costas para ele, fumaça saia dela. Não dava para esquecer.

— Mãe... tá tudo bem? — ele perguntou.

— Sim, está meu filho. Volte para a cama. — a voz dela parecia rouca, e não tinha mais o tom suave de sempre.

Ela se virou para ele e o que Kael vira foi exatamente o que causou todo o resto da bagunça, sua mãe estava com olhos completamente negros e tinha um cigarro na boca, ela sorria como se não quisesse sorrir e sua boca estava ensanguentada, como se estivesse ferida. Kael tropeçou nos próprios pés ao tentar dar passos para trás e caiu no chão, a cena era aterrorizante, ele imediatamente começou a chorar.

— Não chore meu filho, vá para o quarto! — Sua mãe berrava com uma voz que já não pertencia mais a ela.

— Não... Não! Mãe! Socorro! Socorro! — Ele começou a gritar assustado. Então uma voz surgiu em sua cabeça dizendo coisas que ele nunca mais esqueceria. "Não grite Kael, não se assuste, nossa essência é esta, nós somos assim, Nós somos deuses!" — Nós quem?! — ele perguntou sozinho para a voz, colocando as mãos nos ouvidos e tentando se levantar

O cigarro caiu da boca de sua mãe e ao se levantar Kael bateu a cabeça em uma prateleira da parede e uma garrafa de álcool que estava meia aberta caiu no chão, o cigarro tocou o liquido e um uma pequena chama surgiu que foi aumentando em segundos, o estopim foi quando tocou na toalha da mesa de jantar e de lá até o bujão de gás não demorou muito, Kael já havia corrido para fora de casa é claro, mas com os olhos quase fechados e gritando com a voz que escutava na sua cabeça ele mal lembrou que quem deixaria para trás era sua mãe. A única pessoa no mundo que realmente se importava com ele.

— Mãe! — falou ao olhar para casa, ele já estava fora dela, e as vozes haviam parado. O último vislumbre de alguém que ele enxergou dentro da casa foi uma grande sombra negra que pairando na sala olhou para ele com olhos avermelhados, e parecia procurar por alguém. Kael identificou, aquela era a morte, não havia mais esperanças. Neste momento o bujão de gás explodiu e toda a casa entrou em chamas e destruição, bombeiros foram chamados, vizinhos se aproximaram e ele só conseguia chorar.

— Meta, você acha que a Morte existe como alguém? — Kael perguntou de repente. Era depois do almoço e eles haviam acabado de se despedir de uma das crianças chatas que havia sido adotada. Eles estavam sentados no chão da sala, longe dos outros, vendo a TV de longe onde passava uma propaganda sobre o exército.

— Você é estranho Kael... não acredita que Deus seja um herói mas acha que a morte existe. — Meta não olhou nos olhos de Kael quando respondeu isto, ele parecia triste, o que não era comum, com certeza a pergunta de Kael havia despertado alguma lembrança nele.

— Ok, desculpa a pergunta. Percebi que você não gostou. — Meta agora olhava para a TV onde um homem de armadura especial do exército falava algo.

— Não seria legal? Ser como ele, poder proteger o povo, ser tão forte. — Meta apontava para a TV.

— Você se importa de mais com os outros e acaba esquecendo de si mesmo.

— E você não se importa com ninguém e acaba perdendo quem é importante. — Meta mudara o tom de voz para um mais sério, ele não estava brincando, ao que Kael observara no fundo Meta realmente se importava muito com o povo e queria que todos fossem assim. Era tão estranho, ele era tão rejeitado, e excluído, por que se importava tanto?

— Calma, não me morde amigão. — Kael sorriu. — cada um tem o jeito que escolhe ter, meu jeito é assim.

— Sabe, sobre o que você perguntou antes. Eu acredito sim que a Morte exista como um ser. — Meta mudou de assunto.

— Por que a mudança de ideia? — Kael pareceu surpreso.

— Lembrei de algo que vi no dia em que Eduardo morreu. O diretor deve ter falado com você sobre este dia. — Meta voltou para a expressão triste e não olhava no olho de Kael, mantinha a cabeça baixa.

— O que você viu? — Kael perguntou curioso.

— Era como uma sombra negra, pairava sobre o corpo dele. Deixava o local frio, tinha olhos vermelhos... — ele falava meio que pausadamente, lentamente, enquanto Kael ia arregalando os olhos ao reparar as semelhanças com a sombra que ele vira em sua casa no dia do incêndio.

— Meta! Eu já vi isso também! — Kael falou um pouco alto demais, algumas crianças que estavam um pouco a frente, focadas na TV, olharam para trás, depois voltaram para a TV.

— Sério? Onde? Você não está brincando não é? — Meta falou mais surpreso que Kael.

— Não, não estou brincando, foi no dia da morte de minha mãe. No incêndio na minha casa, esta mesma sombra estava na minha sala, olhando de um lado para o outro. Acho que procurava minha mãe.

— Kael... isto é incrível! Não no sentido bom é claro, mas eu e você vimos a mesma coisa, e ninguém mais viu! — Meta mal sabia o que falar.

Kael pensava a mesma coisa, era incrível, mas o melhor daquela parte era ter encontrado algo em que eles dois concordavam. Em sua mente a mesma voz daquele dia parecia voltar, mas agora era sua voz, era sua mente e dizia "encontramos um alvo, podemos nos vingar, ache a morte, destrua a morte". Era tão fantasioso pensar daquela forma que parecia uma piada, Kael deu um leve sorriso enquanto viajava em seus pensamentos.

— Nós precisamos encontrar esta coisa Meta. — Ele falou decidido.

— Para que? Você está louco? É a morte! Ela mata, não é obvio? — Meta falava baixo, mas assustado com a ideia de Kael.

— E se a gente destruísse ela? Ninguém mais morreria? Não é esta a lógica? Você não quer ajudar o povo? — Kael agora usava os desejos de Meta para chegar a algum consenso, e se realmente aquele ser existia e poderia ser encontrado? Se fosse possível, mesmo que em uma chance em um bilhão, seria fantástico.

— Sim, claro, você tem razão. Nós precisamos de algum acesso à internet antes. — Meta falou pensativo, mal percebera mas estava concordando agora com as ideias de Kael, sem dúvidas Kael sabia usar as pessoas, e estava aprendendo isso agora.

— Internet? Para que? — Sem dúvidas ser ingênuo era um defeito.

— Para conseguir informações é claro, seu idiota! — Meta sorriu.

— Ah, sim, claro. — Kael sorriu. — Sabe Meta, você foi inteligente em escolher um nome falso para usar, talvez assim demore até a Morte encontrar você.

— Sendo assim por que você não faz o mesmo?

— Eu não quero me esconder dela, quero que ela me encontre. — Kael falou pensativo, frio, mas desta vez não era para afastar alguém, ele realmente estava sendo frio.

Minutos depois daquela conversa empolgante e de certa forma fantasiosa e verdadeira ao mesmo tempo, o diretor entrou na sala onde todos viam TV e ao seu lado estava um garoto branco e de cabelos cacheados, o garoto usava uma mochila. As outras crianças mal perceberam, mas o diretor estava mostrando o local para ele.

— Atenção aqui, todos. — Então todos finalmente olharam para ele. — Este é mais um novo morador, mas ele não irá ficar aqui por muito tempo, ele já possui uma família e logo, logo eles irão vir pegá-lo. — Todos olharam e cochicharam, era estranho até por demais, o diretor falava como um robô, e a criança ao seu lado sorria.

— Que estranho. — Kael comentou com Meta.

— Sim, o diretor parece fora de si, nunca houve uma situação assim aqui, uma criança com família? O que ele quer?

Então o garoto pegou no braço do diretor e puxou, o diretor olhou para ele, ele então apontou para Meta e Kael e falou algo. O diretor olhou para eles dois e sorriu.

— Jasson, Kael, por que vocês não mostram o resto do orfanato para o novo morador? Ele se chama Pedro! — E o garoto saiu de perto do diretor e foi andando em direção aos dois, as outras crianças então cochicharam algo como "o grupinho dos estranhos está aumentando" e enquanto ele se aproximava e Meta e Kael se levantavam do chão um brilho estranho se formou nos olhos de Pedro, era um brilho vermelho, um brilho que fez Meta e Kael tremer, quem era aquele garoto?

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