SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDO

Par bellscolors

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Amber Hunger, Amélia Torn e Anika Suen são amigas inseparáveis desde a 5º série. Criaram laços impossíveis de... Plus

| Trailer |
Prólogo
Capítulo 1 | Festa
Capítulo 2 | Suspeitos
Capítulo 3 | Pistas
Capítulo 4 | Descoberta
Capítulo 5 | Encontros
Capítulo 6 | Paranoia
Capítulo Bônus - Festa
Capítulo 7 | Inércia
Capítulo Bônus - Paranoia
Capítulo 08 | Amélia
Capítulo 09 | Confissão
Capítulo 10 | Assassina (Parte 1)
Epílogo
AGRADECIMENTOS
Prólogo (Olhos de Vidro)

Capítulo 10 | Assassina (Parte 2)

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Par bellscolors

A família Tori era a de maior influência na cidade. Albert Tori, o matriarca, era prefeito e por tanto uma importante figura pública, sua mulher, Linda Tori, além de ser a primeira dama fazia vários projetos sociais que motivavam os cidadãos de Olians. Dylan e Yanna viviam a sombra dos dois tendo que serem perfeitos e bons moços, mas as coisas nem sempre são do jeito que devem.

Estava dentro de um táxi indo para rua Prince Eight, pronta para encarar algo que nem imaginava. Tive que pular a janela e sabia que quando voltasse para casa uma bela bronca me esperava. Mas isso não importava no momento, eu precisava ajudar o Sage, mesmo que sua última palavra, antes da ligação ficar muda, fizesse os pelos do meu corpo se arrepiarem cada vez que lembrava dela.

Segundos depois de receber a mensagem com o endereço, recebi outra mensagem avisando que eu deveria ir só e que se tentasse alguma "gracinha" Sage pagaria caro. Por tanto, não avisei ninguém e nem a polícia, seja o que for que estivesse me esperando na casa dos Toris eu enfrentaria sozinha.

— Chegamos moça. – A voz do taxista me fez despertar da névoa de pensamentos em que me encontrava. Olhei ao redor e fitei a enorme casa de cor branca do outro lado da rua. Era ela.

Peguei os vinte dólares no bolso traseiro e lhe entreguei.

— Pode ficar com o troco. – Sai sem esperar resposta.

O sol já estava se pondo e só se via no céu resquícios laranjas e roxos, a noite se aproximava e com ela o frio. Apertei meus braços contra o corpo e atravessei a rua. A vizinhança era calma e silenciosa, ao me aproximar da casa notei que ela estava escura, apertei a campainha e esperei. Nada. Apertei novamente. Nada de novo.

Olhei ao redor e tudo continuava deserto, mais parecia um bairro abandonado, respirei fundo dando a volta na casa.

A enorme piscina estava vazia, assim como tudo ao redor, mas coincidentemente ou não, a porta dos fundos estava aberta. Me aproximei e passei por ela.

Do lado de dentro o escuro fazia tudo ficar ainda mais assustador, a noite havia chegado e tudo que dava para ver eram as sombras da luz escassa dos fundos que entrava pelas janelas de vidro.

Passei pela cozinha, cheguei até a sala passando em seguida para o hall de entrada, tudo estava absurdamente quieto, parecia mais uma casa abandonada.

"Cadê todo mundo? "

Tentei ligar a luz, mas nada acendeu, Dylan havia feito isso? Preparado um cenário macabro para me assustar?

— Apareça Dylan! Eu tô aqui. – Gritei parando em frente à enorme escada que se dividia em duas na metade. Bem ali no meio existia um enorme quadro de toda a família pintada a óleo. Uma família que vivia apenas de aparência e status.

Um barulho vindo do segundo andar me fez olhar para cima, lá parado no topo da escada a direta estava o mesmo mascarado que entrou na minha casa e me atacou.

Segurei a respiração, sentindo todo meu corpo congelar. Eu não estava com medo, na verdade estava apavorada.

— Você. – Consegui dizer dando passos para trás.

"Sage! Você veio por ele, não esqueça Amber, você veio por ele"

O mascarado não falou nada, apenas desceu a escada de forma graciosa e lenta, em sua mão tinha uma faca.

— Cadê o Sage? – Tentei parecer segura, confiante. Mas minha voz tremeu no fim. Todo meu corpo tremia na verdade.

Novamente recebi o silêncio como resposta, isso já estava me tirando do sério.

— Responde! Eu sei que é você Dylan, seu joguinho acabou, pode se mostrar. – Dessa vez eu me aproximei sentindo uma onda de confiança me atingir, mas que logo foi por água abaixo quando o mascarado se aproximou de mim, fechei as mãos em punho e lhe fitei demonstrando toda minha raiva no olhar.

Foi tão rápido que quando notei já estava no chão segurando o lado do rosto atingindo, senti o gosto metálico de sangue e antes de me virar, ele pegou forte meus cabelos me fazendo andar em direção a escada.

— Me solta seu covarde. Cadê o Sage? – Tentei me soltar, mas era difícil já que tinha que alternar entre subir os degraus ou me machucar enquanto me debatia, então parei de lutar e me deixei ser levada. Só esperava que fosse até onde Sage estava.

Por fim terminamos de subir as escadas e uma porta foi aberta, fui jogada contra o chão sentindo meu corpo protestar de dor. Levantei a cabeça e vi Sage amarrado em uma cadeira desacordado.

— Ai meu Deus. – Ainda meio zonza consegui me por de pé e fui até ele, sentindo o pânico me dominar. – Sage, fala comigo, por favor.

O sacudi, mas ele não acordou.

Virei-me encarando aquela figura grotesca parada a nossa frente nos fitando de forma superior.

— Ele tá vivo? – Foi quase como uma súplica, não tinha mais forças para fingir que não tinha medo dele, só queria acabar com tudo isso.

— RESPONDE! – Gritei indo em sua direção.

Então com toda calma do mundo o mascarado levantou seu braço pegando a máscara do rosto e a tirando.

Não consegui fazer meu queixo ficar no lugar.

— Oi Amber.

— Yanna? Não! Cadê o Dylan? – Perguntei tentando não fazer meu cérebro danificar mais do que já era.

— Você ainda não entendeu querida? Eu fiz tudo isso. – Ela fez uma reverencia fazendo seus cabelos loiros se espalharem. — Bem-vinda ao meu circo de horrores.

Seu sorriso abriu-se ainda mais quando viu quão confusa eu estava.

— Não se preocupe, eu explico tudo. – Jogou a máscara no chão e foi até uma mesa nos fundos do quarto. Que reparei ser o seu.

Olhei para o Sage e notei um enorme corte em seu peito, sangue manchava sua camiseta.

— Ele... Ele... – Apontei para seu corpo.

Ela abria um notebook, olhou para trás quando ouviu meu gaguejar, não conseguia nem terminar a frase de tão assustada e perplexa que estava.

— Não, ele tá vivo. – Virou para o aparelho e teclou algo rápido. – Por enquanto.

— Sua louca. – Fui em sua direção sem pensar, minha raiva tomou conta de meu corpo.

Mas ela foi mais rápida e virou-se me empurrando com força contra a parede ao seu lado. Seu antebraço foi direto ao meu pescoço forçando minha traqueia, arfei sentindo o ar me faltar.

— Garota estupida. Eu sou mais forte, eu sou melhor. Como acha que fiz tudo isso? Então pare de me subestimar. – Então ela me soltou me fazendo ir ao chão enquanto tossia em busca de ar.

— Como? – Perguntei quando consegui respirar, mas ainda sentia minha garganta arder.

Ela estava perto do notebook novamente. Respondeu sem me olhar.

— Anos fazendo tiro ao alvo, arco e flecha, sendo escoteira, fazendo aulas de autodefesa e tudo que você possa imaginar. Enquanto meu irmão se esbaldava em festas idiotas eu me tornava mais forte, tanto fisicamente como mentalmente.

— Seu plano era ser assassina desde criança? – Não consegui segurar, seus olhos ferozes me fizeram ter vontade de engolir as palavras.

— Não, sua amiga fez. – Então ela deu play no vídeo que estava pausado e tomava conta da tela toda.

"— Você me ama?

— Talvez um pouco. Pare de gravar Yanna.

— Responde. Me ama? "

Não consegui segurar as lágrimas e me aproximei do notebook tentando ver melhor, tentando crer no que meus olhos viam. No vídeo Yanna e Anika estavam deitadas em uma cama, Yanna segurava uma câmera apontada para o rosto de Anika, ela parecia tão feliz. Tão ela.

"— Amo. Satisfeita? – Seu ar de desdém estava ali, firme e forte. Seus olhos não fitavam a câmera e sim quem a segurava. Desejei que ela olhasse para a lente, queria pelo menos uma última vez fitar minha melhor amiga nos olhos.

— Claro que não, você está falando porque pedi. – A voz de Yanna estava diferente, parecia estar sorrindo enquanto falava.

Anika suspirou sem tirar os olhos de Yanna e disse de uma forma tão verdadeira que até eu acreditei em suas palavras:

— Eu amo você Yanna. "

E assim o vídeo acabava.

— Vocês eram namoradas? – Depois de um bom tempo tentando digerir e assimilar perguntei.

O olhar de Yanna parecia perdido, ela parecia estar revivendo lembranças de algo que nunca mais aconteceria.

— Pode se dizer que sim. Odeio rótulos, nós só nos amávamos e pronto, isso deveria bastar. – Sua expressão se tornou sombria.

— Pelo jeito para ela só isso não bastava. – Me encostei contra a mesa e notei que ela não segurava a faca. Eu tinha que dar um jeito de tirá-la do controle, só faltava saber como.

— Não. Então a gente acabou. Mas não estava certo, não era pra ser assim. – Sua voz ficou carregada.

Quando ela se virou vi a faca em um suporte parecido com aqueles de policias para armas em sua perna esquerda, só que esse era feito especialmente para facas. Eu precisava ser rápida o suficiente.

Sage ainda continuava apagado, queria saber o que ela tinha feito para ele estar assim. Suspirei agarrando a borda mesa com força.

— Então você a matou? Só porque ela queria mais e você não? – Eu precisava ser forte. Ouvir isso não era nada fácil, saber que quem matou minhas amigas estava bem ali na minha frente e agir com sangue frio para não ser a próxima na lista, isso estava me matando.

Seu rosto carregava uma expressão amargurada, seus olhos azuis estavam escuros. Aproximou-se de Sage e segurou os cabelos dele expondo sua garganta.

— Cortar o pescoço de Anika foi mais difícil do que pensei. Eu estaria me privando de vê-la todos os dias, estava tirando o direito de tê-la por perto. Mas do que adiantava ela continuar viva se não era minha? Concorde comigo, é mais fácil ver quem você ama morto do que ao lado de alguém que não é você.

Sua mão pegou a faca e senti meu coração disparar.

— Você é doente! Você não amava ela, amor não é sobre destruir, amar é aceitar, perdoar, seguir em frente. – Não acredito que Anika tinha sido morta por um motivo tão fútil, banal. Apertei tanto a borda da mesa que senti algumas unhas quebrarem.

— O que você sabe ein? EIN? – Ela apontava a faca para mim de forma desesperada, mas como num passe de mágica recobrou a tranquilidade e apontou a parte afiada para garganta de Sage.

— Você ama ele?

— Não faz isso, por favor.

— Te fiz uma pergunta. – Ela apertou a faca fazendo uma leve pressão na pele alva de Sage.

— Ele é meu amigo, claro que o amo. – Respondi me aproximando. Não podia fazer nada enquanto ela estava a ponto de matá-lo.

Sua risada me assustou e me perguntei até que ponto Yanna estava normal. Olhando para ela assim, eu me via. Era fácil notar padrões semelhantes.

Eu nunca desejei tanto que minha outra personalidade tomasse conta de mim, mas não era assim que funcionava e eu não sabia o que ela faria, então era somente eu.

— Amigos, sei. – Ela afastou a faca dele e se aproximou de mim, não me mexi, era a minha chance.

— Sabe por que matei a Amélia? – Seu sorriso ampliou-se. – Ela foi apenas um peão. A culpa tinha que cair nas costas de alguém e porque não em você? A garota com problemas psicológicos que não sabia o que fazia? Foi tão fácil que é até engraçado.

Ela era mais alta que eu, por isso quando parou bem próximo tive que levantar um pouco a cabeça para lhe fitar, eu precisava ser rápida e ter sangue frio, não haveria segunda chance.

— Outro motivo sem noção para se matar alguém. – Disse tentando não tremer.

Ela continuou com o sorriso sádico nos lábios, a faca agora estava a centímetros do meu peito. Engoli em seco, sentindo a garganta arranhar.

— Mas quase deu certo, não é? Você acreditou não foi? As pílulas ajudaram, tenho que admitir.

— O quê? – Minha expressão demonstrou minha surpresa e por um instante esqueci o que deveria fazer.

— Eu subornei uma enfermeira, ela é estagiaria, então foi como tirar doce de criança, umas doses a mais de remédios e pronto, você perdeu total capacidade de pensar com lucidez. Pena que o idiota ali, entrou no meu caminho. – Ela olhou para Sage dizendo em seguida: - Eu deveria ter matado ele a invés da Amélia.

Era minha chance, me joguei contra ela e consegui lhe levar ao chão, o produto surpresa ajudou, segurei com toda minha força sua mão que segurava a faca. Mas ela conseguiu se virar e se pôr contra mim.

— Você se acha a esperta né? Mas deixa eu te contar uma coisa, você não é nada. – Senti uma forte dor tomar conta de meu nariz quando ela o socou, me socou novamente fazendo todo o quarto rodar.

— Hora de dizer adeus. – Vi quando ela levantou a faca com as duas mãos. Iria ser uma apunhalada certeira.

Fechei os olhos me preparando para a dor que viria.

Mas não veio nada, abri os olhos e luzes vermelhas e azuis iluminavam todo o quarto, e ele parecia mais cheio do que antes.

— Me soltem! – Ouvi a voz de Yanna gritar enquanto era levada porta a fora.

Minha cabeça zunia e sentei notando que a luz havia voltado, com certeza Yanna tinha desligado o gerador de energia.

Os policias desamarravam Sage enquanto paramédicos entravam no quarto, não demoraram para lhe pôr em uma maca, eles vieram até mim também, tudo ao meu redor andava em câmera lenta, tudo parecia tão pesado. Lembro de sair andando, lembro de vários rostos do lado de fora, lembro de meus pais me abraçando forte e lembro de Dylan com um sorriso triste os lábios me fitando enquanto eu entrava na ambulância.

Acabou.

***

— Agora demos a palavra a ré Yanna Walter Tori. – Ela encontrava-se sentada ao lado esquerdo da juíza, suas mãos estavam algemadas e seus cabelos loiros presos em um forte rabo de cabelo, sua expressão não vacilou um segundo sequer, ela parecia inabalável, mesmo vestindo o uniforme verde de prisioneira.

Todos já haviam dado seu depoimento, não tinha mais como ela negar.

— Eu me declaro culpada. – Sua voz saiu firme e ela parecia dar um discurso, assim como os muitos de seu pai. Todos no tribunal soltaram expressões de horror e repulsa.

— Silêncio. – A juíza pediu batendo o martelo com força. — Pode continuar. – Disse à Yanna que me pousou os olhos sobre mim e começou a confessar todo seu crime sujo e horripilante.

— Acho que foi em setembro do ano passado que comecei a notar Anika, e ela também começou a me notar. No começo estávamos só nos divertindo, conhecendo o novo, mas depois as coisas foram ficando mais sérias e quando vimos já existia sentimento, Anika quis assumir, mas eu não podia fazer isso com meu pai, não podia destruir tudo que ele construiu assim. – Seu olhar vacilou e pareceu procurar por algo, fiz o mesmo e me dei conta do que era, seu pai não havia ido, apenas sua mãe que estava ao de Dylan e tinha uma expressão neutra, fechada, se ela estava sofrendo não dava para saber. Será que isso de disfarçar seus sentimentos era herança de família? Todos os Toris sabiam muito bem como esconder o que estavam sentindo.

— Ele é o prefeito, tem que ser o espelho da sociedade, e ter uma filha lésbica não estava nos parâmetros. Eu não estava nos parâmetros. Por isso eu disse que não podia assumir Anika, que deveríamos continuar escondidas, como havíamos feitos todo esse tempo. Ela não aceitou, me pôs contra a parede e disse que eu deveria escolher, eu escolhi meu pai. Isso quebrou meu coração, mas era o certo. Eu não me arrependo um só segundo da escolha que fiz. Mas aí Anika começou a ficar com todos que via pela frente, parecia querer esfregar isso na minha cara, eu odiava isso nela, a cada minha raiva aumentava e minha vontade era de tirar todos de perto dela, mas então me dei conta de algo. – Ela sorriu e voltou a me olhar, senti pela primeira vez o quanto Yanna era atormentada e doente. Seu olhar mudava de tal forma que era difícil decifrar suas reais intenções.

— Se você extermina o objeto de desejo, então tudo se acaba. É aquele velho ditado "Se ela não for minha, de mais ninguém será". Planejei por semanas todos os meus passos. Disse que iria viajar, mas voltei bem antes sem que ninguém soubesse, fui até a festa. Roubei a faca do faqueiro do Sr. Torn em outra festa. – Agora ela parecia animada, queria que todos soubessem cada passo do horror que ela criou. Meu estômago embrulhou, então apertei os braços contra a barriga, Sage segurou minha mão fazendo a pressão aliviar. Sorri agradecida. Por sorte seu ferimento não peito não havia sido profundo, ele me explicou que no momento que gritou no telefone tentando me avisar do que se tratava, Yanna tinha batido forte em sua cabeça com algo o fazendo apagar. Ele tinha ido até sua casa falar com Dylan antes que ele fosse levado pela polícia, mas quando chegou lá ele já tinha ido. Seus pais não estavam na cidade, participavam de uma conferência na cidade vizinha, por isso a casa estava tão vazia, mesmo sabendo que o filho havia sido preso, eles não voltaram. Sage disse que Yanna estava em casa, o recebeu e simplesmente o atacou, ele nunca iria esperar por isso, e então o resto eu já sabia. Ela devia estar muito desesperada para agir sem pensar dessa forma.

— Eu sabia o que devia fazer, já estava tudo premeditado e organizado. Na verdade, o destino me deu uma mão, Brian ter levado Anika para o lado de fora foi um trunfo, minha intenção era lhe ligar pedindo para vir me encontrar. Mas quando sentada na escuridão da floresta nos fundos da casa de Amélia vi Anika surgir, sorri sabendo que aquela era a hora. Dylan aparecendo ali foi um empecilho, tenho que dizer. Sempre me atrapalhando né irmãozinho. – Dessa vez ela sorriu para o irmão que não demonstrou nada ao lhe fitar, mas percebi seu maxilar trincando.

Ele havia me salvado, graças a ele eu não estava fazendo companhia uma hora dessas a Anika e Amélia. Dylan havia sido levado para delegacia, mas resolveu contar o que sabia, ou melhor, o que tinha descoberto dias atrás. Ele não quis entregar a irmã, quis protegê-la, mas se deu conta do mal que estava fazendo e de que iria pagar no lugar dela, então contou que tinha isso a irmã a autora dos crimes, uma simples mensagem de texto provou que ele falava a verdade: "Se você contar o que descobriu eu acabo com a sua raça".

Dylan tinha encontrado a roupa que ela usou para me assustar e as pílulas que entregava para a enfermeira me dar. A partir daí foi só somar 1+1 e confrontá-la. Se ele tivesse a entregado logo evitaria muita dor de cabeça, mas laços de irmãos é algo que nunca vou entender. Não da forma convencional.

Ele estava atormentado pela culpa, dor, arrependimento e vários outros sentimentos que eu não conseguia descobrir, creio que Dylan era um dos que mais saiu machucado nessa história. Sua família ruiu, sua amizade de anos foi por água abaixo e a garota que ele dizia amar estava morta. "O que resta para você agora Dylan Tori? "

— Mas a sorte estava do meu lado novamente, ele não ficou muito tempo lá fora com Anika, então eu pude agir. Não precisei fazer nada violento, era a garota que eu amava ali, eu tentei me desculpar pelo que faria, mas ela não entendeu, então parei de enrolar e bati forte contra seu rosto, ela arfou indo ao chão, por causa do som alto ninguém ouviu, a puxei e lhe levei para a mata. E devo dizer que amei cada segundo dos minutos que ficávamos juntas.

— CHEGA! Por favor, pare! – A mãe de Anika levantou-se e saiu do tribunal em prantos. Senti vontade de ir atrás dela, mas seu marido já havia feito isso. Minha visão embaçou e notei que estava chorando, também queria sair dali, mas eu precisava ficar até o fim.

— Por que fez isso Senhorita Yanna? – A voz do advogado saiu firme e se ele se abalou pelas últimas palavras de Yanna não demonstrou.

— Eu já disse, Anika estava começando a me deixar louca e eu não podia deixar isso acontecer, foi melhor assim, para todos. – Ela respirou fundo olhando todos no tribunal.

Sua sentença seria decidida pelo júri popular, mas cada pessoa ali já sabia que ela seria declarada culpada depois de assumir seus crimes. Nunca pensei que iria fazer isso, já que nos últimos dias mesmo com provas concretas, ela insistia em dizer que era inocente.

— E Amélia Torn? Conte como tudo aconteceu.

Seu sorriso aumentou e ela ajeitou-se na cadeira parecendo ainda mais ansiosa. Como alguém podia ficar animado por narrar um crime tão brutal? Eu realmente não sabia nada daquela garota loira de olhos angelicais sentada ali com uma expressão divertida e um tanto quanto sádica.

— Eu só matei Amélia para culpa Amber, ela não era importante para mim. – Deu de ombros e notei o corpo de Dylan se encolher enquanto Sage apertava com mais força minha mão. Ouvir isso deveria ser horrível para os dois.

— Então eu batizei a bebida de Amélia com um pequeno remédio que em altas doses causa fortes dores de cabeça e implantei um pequeno explosivo programado na caixa de luz da casa de Amélia. E mais uma vez a sorte estava do meu lado, a chuva me ajudou e muito. No instante que Amélia saiu eu fui atrás. Não precisava perder tempo, por isso acertei sua cabeça com uma pedra e lhe arrastei para a entrada da mata, posicionei seu corpo e usei mais uma das facas do faqueiro de seu pai e lhe apunhalei no coração. – Ela respirou fundo e seu sorriso vacilou. – Eu não sou um monstro, então me senti culpada pelo que fiz, mas não podia vacilar, tinha que terminar. Deixei a faca ali e voltei para dentro, nem me preocupei em tirar o moletom de capuz ou as luvas, estava escuro e tudo que eu precisava era levar Amber para fora e esperar que os comprimidos fizessem efeito. Lhe encontrei delirando de dor, ninguém parecia notar, estavam se divertindo com o acontecido, tão mesquinhos. Instrui Amber a ir para fora e ela me atendeu, quase sorri de emoção. Dei a volta pela cozinha, Sage procurava algo nas gavetas por isso não me viu. Quando cheguei onde Amber estava, ela já estava desmaiada, então foi só lhe puxar e colocar seu corpo ao lado de Amélia, peguei a faca e coloquei em sua mão. A chuva começou então dei o fora dali. E foi isso. – Terminou suspirando fundo.

Todos pareciam tão chocados quanto eu, seu sangue frio fazia tudo ficar mais assustador. Quantos mais ela teria matado em busca de seu objetivo? Ela teria matado a mim e a Sage, disse não tinha dúvida.

— Acabou. – A voz dele soou em meu ouvido. Fechei os olhos encostando minha cabeça em seu ombro.

— Acabou. – Repeti.

***

50 anos em regime fechado era a pena que Yanna teria que cumprir, seus crimes foram tantos que nem saberia listá-los. Eu não queria mais pensar sobre isso. Ainda doía e muito.

O vento frio que soprava fazia ficar pior andar por aquele cemitério vazio de corpos vivos, mas cheio de cadáveres. Segurava um girassol e um buquê de lírios. Parei em frente a lápide de Anika e abaixei deixando o girassol contra a grama verde.

— Oi, eu não sei bem o que lhe dizer. – Senti meu peito apertar. – Acabou. E eu pensava que a dor iria sumir, mas ela não sumiu. Ela continua tão forte quanto antes. – Respirei fundo limpando a lágrima que descia por minha bochecha. – Um dia a gente se encontra, prometo lhe abraçar forte, te amo.

Levantei e sem olhar para trás fui até o tumulo de Amélia. Cada passo era como pisar em cacos de vidro com os pés descalços.

— Me perdoa. – Pedi deixando os lírios em frente à sua lápide "Doce e amada filha" podia ser lido gravado no pedaço de pedra. — Desculpa por te odiar, mesmo que apenas por segundos. Me desculpa por deixar você ir. Nunca vou me perdoar, você nunca vai me perdoar.

Então as palavras fugiram de mim e só chorei sem saber mais como parar, senti braços fortes me pondo de pé, virei-me abraçando o corpo de Sage e chorando sem cessar em seu peito. Senti que ele também chorava.

Chorávamos sozinhos, mesmo estando juntos.

Chorávamos por tudo, pelo começo e também pelo fim.

A dor não cessa só porque acabou, ela continua ali, latejando feito ferida aberta, mostrando que passe o tempo que passar, ela nunca te deixará.

— Vamos para casa. – Sage disse apertando forte minha mão. Olhei para ele e sorri entre as lágrimas.

—Vamos.


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