–Ataques diretos devem ser evitados. Ele é um dragão verde, qualquer fluido em seu corpo, seja ele saliva ou até mesmo sangue, é venenoso! –Disse Alex enquanto observava o dragão verde se aproximando, lentamente. Suas escamas cor esmeralda, pareciam refletir as luzes do ambiente, dando um efeito de um brilho que em outro momento se poderia até admirar a beleza, mas agora, tal aparência e visão só resultava e apreensão por parte do jovem dragão negro.
–Eu sei disso ou esqueceu que também tive aulas sobre as raças de dragões? Não sou louco de toca-lo! –Resmungou Felix, que estava ao seu lado. Caixas de madeira próximas a ele levitaram e prontamente atacaram o seu alvo. O dragão verde recebeu o golpe, as caixas se esmigalharam-se, contudo, poucos efeitos tiveram no inimigo. As escamas esverdeadas o protegeram dos danos. Felix praguejou em uma outra língua. Alex rosnou, enraivecido.
Amélia observava toda aquela cena com sentimentos conflitantes, em parte estava deslumbrada com a batalha que tinha início, ora não podia negar o quão fantástico era ver coisas levitando e um rapaz com pele de réptil, parecia estar dentro de um filme de x-men. Contudo, também sentia pavor ao ver que os ataques dos seus amigos pouco surtiam efeito naquele estranho ser.
–Alex, pegue a Amélia e outro cara e saia daqui. –Comandou Felix.
O dragão negro mais jovem encarou o primo, surpreso, de início, depois o sentimento foi transformado em raiva.
–Você não irá lutar sozinho! Estamos em vantagem!
–Vantagem? Ele é, obviamente, um dragão treinado e somos apenas filhotes... Se não conseguimos contê-lo, quem irá salvar os humanos? No final, quem sairá ganhado será eles. Todos nossos esforços serão inúteis e mais dragões brancos serão comercializados ilegalmente.
–Então, eu fico e luto! Você salva a Amélia!
–Alex... Sabe muito bem que não seria uma boa ideia. –Amélia pode notar o ressentimento na fala de Felix, ele não queria ter que enfatizar o problema que o seu primo tinha em relação ao controle de seu poder.
Um tiro atingiu o chão, entre os primos, fazendo que a atenção retornasse ao outro dragão que sorria, não se sabia ao certo se seria mesmo um sorriso, poderia ser muito bem um rosnado. Seus dentes não eram serrilhados como os outros dragões, na verdade se assemelhavam a um vampiro, com os caninos avantajados.
"Ele é uma cobra-dragão..." Pensou Amélia.
–Que fofo... Realmente, me admira o companheirismo de vocês, mas creio que não poderei deixar que ninguém saia daqui. Minha missão é bem clara, devo eliminar as testemunhas, sinto informar que todos vocês são testemunhas. –Como para demonstrar a verdade em suas palavras, ele atacou, avançando sobre o grupo em uma velocidade surpreendente. Alex ampliou a barreira, a adolescente pode ver a neblina azulada agora envolver a dupla de dragões negros. As garras do dragão verde colidiram com a proteção mágica, fazendo surgir faíscas.
–Não podem manter isso para sempre... –Falou exibindo um assustador sorriso e lambeu as unhas agora se assemelhavam a garras, um líquido verde escuro escorria dos seus dedos escamosos – E será que o pequeno dragão negro irá resistir o impacto de toneladas de aço e madeira caindo sobre o seu escudo? Gostaria ver o quanto poderia resistir a tão famosa magia ancestral...
Felix olhou alarmado para Alex que mordeu o lábio inferior sem nada dizer sobre o assunto. Amélia não pode resistir em questionar.
–Como assim?
O rapaz apenas retirou um dispositivo da calça, mais parecia uma espécie de celular, contudo não conseguia identifica-lo com nenhum modelo atual.
–Eu vou ser bastante sucinto na explicação... –Fez um sinal que iria pressionar a tela do "dispositivo-celular" - BOMM! –Gritou assustando o grupo, até Alex soltou um baixo gemido com a dramatização do oponente.
"Isso significa que tem bombas aqui?" Desta vez Amélia foi sensata o suficiente para conter sua pergunta. Seu coração acelerou... Talvez a sua salvação de verdade esteja longe de ocorrer.
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–Interessante... Belo escritório. –Leonard conteve o rosnado ao ver aquele homem que parecia ser retirado de algum bar de motoqueiros, com direito a tatuagens intimidadores, roupas de couro e pincergs, andando tranquilamente no local, como se ali fosse a sua casa, totalmente relaxado. Perfeito! Por que os dragões púrpuros desejam ser intimidadores? Já não basta cuspirem ácido?
O dito dragão agora estava tocando um dos pesos de papel, tinha o formato de uma chama, era uma obra delicada feita de cristal. Leonard não conseguia evitar de seguir os movimentos do indivíduo.
–Fico feliz que tenham nos recebido, mesmo que essa visita seja um tanto quanto surpresa. –Uma garota falou, Leo quase tinha se esquecido da parceira do senhor Bad-boy. Ela, pelo menos, parecia mais normal, pelo menos não exalava uma aura de perigo.
–E pode botar surpresa nisso. Gostei do que fizeram com a lixeira da estação de ônibus. Interessante modo de testar nossa hospitalidade.
A garota engoliu em seco e depois lançou um olhar ao brutamonte que acompanhava.
–Besteira, até parece que alguém ligou. –Disse o "motoqueiro" pegando o peso de papel e brincando de jogar para o lado e para o outro entre as mãos.
–Eu liguei. –Leonard foi bastante rápido para interceptar o valioso objeto, interrompendo o divertimento do seu convidado – Esqueceu que devemos ser discretos? Sabe o que significa essa palavra, pelo menos?
O dragão púrpura sorriu, expondo os dentes serrilhados.
–Oh... Acho que não sei o que significa, poderia me ensinar? –Disse em um tom zombeteiro.
Leonard agora não pode ocultar o rosnado que emitiu. De todos os dragões cuspidores de ácidos que já tinha se encontrado, aquele, sem dúvida, era o mais irritante.
–Nós sentimos muito! –Novamente a garota interveio –Não foi algo intencional, as vezes não temos controle sobre a acidez de nossa saliva, sabe?
Não, ele não sabia. Dragões vermelhos não costumavam incendiar coisas a sua volta, a produção do seu fogo necessitava de um esforço, logo nem todo suspiro ou sopro que emitisse não necessariamente iria se tornar em um jato flamejante.
–Que seja...-Disse em um resmungo – Vamos tratar de negócios, sim? O que está feito está feito. Sou Leonard, vice-chefe dos dragões vermelhos deste território.
–Sou Scarlet e esse é meu irmão...
–Bolgot, mas pode me chamar de Bolt. –Falou o "motoqueiro" ainda exibindo um sorriso no rosto. Leonard não gostou nada do modo como o outro dragão o observava, sentiu um estranho calafrio percorrer a espinha.
–Já deve saber que viemos aqui devido o dragão púrpura que invadiu o seu território. –Continuou a garota, a cabeça sensata da dupla – Sei que agiram de forma correta o interceptando, mesmo que ele não pertencesse ao nosso território, estamos investigando a sua procedência sob ordens do nosso representante do conselho.
–Ele parecia ser um dragão desgarrado. –Sugeriu Leonard.
–Muitos dos nosso se classificam nesta categoria. –Falou Bolgot, ou Bolt (se preferir) – Depois da guerra, nosso clã quase de desfez em intrigas internas... Muitos preferiram simplesmente serem andarilhos sem território, descontando suas perdas e raivas em tudo que vissem pela a frente.
–Bem, então... Se esse é o caso, por que estão investigando? –Questionou, desconfiado o dragão vermelho.
–O dragão que vocês nos mandaram...-Agora era a vez de Scarlet assumir a fala –Bem... Ele era diferente.
–Era?
–Sim, era.–Bolt assumiu um semblante sério, pela a primeira vez – Quando começamos a interroga-lo... A cabeça dele simplesmente explodiu.
–Como é?! –Leonard quase caiu da cadeira em que estava sentado –Explodiu?!
–Havia um dispositivo em seu cérebro... Conseguimos recuperar apenas uma parte dele, mas acreditamos que foi implantado de forma cirúrgica e tinha como proposito, bem... Mata-lo. –Explicou a garota.
–Você acredita que fomos nós os culpados? –Inqueriu transtornado –Nunca iriamos fazer algo assim... Nem temos tecnologia para tal.
–Vocês foram os últimos que tiveram contato com o dragão desgarrado. Logo, nossa investigação deve começar de algum modo por aqui. –Bolt voltou a sorrir, parecia se divertir com a expressão confusa e irritada de Leonard.
–Vocês falaram que havia um dispositivo na cabeça dele...Por acaso, vocês o trouxeram?
–Não, mas temos fotos.
–Me mostrem! –Exigiu já pegando o seu tablet, a dragão púrpura olhou para seu irmão, como esperando um comando. Bolt apenas assentiu com a cabeça e cruzou os braços. Scarlet, então, tirou o celular do bolso e mostrou algumas fotos para Leonard.
–Interessante...-Falou enquanto mexia avidamente em seu tablet.
–Ah? –Scarlet percebeu que as suas fotos tinham sido transportadas magicamente para o dispositivo eletrônico do rapaz. Como aquilo foi possível? –Isso é uma informação confidencial você não pode...
–Esse chip não tinha uma função, unicamente, de mata-lo... –Balbuciou Leonard que agora manuseava várias janelas em seu tablet, em uma delas parecia que o jovem estava tentando reconstituir as partes que faltavam no chip danificado – Funcionaria como GPS e gravador. –Disse por fim após alguns minutos - Mas por que? Eu já vi algo semelhante usando para marcar animais silvestres para que os cientistas pudessem rastrear seus movimentos, mas nada com tamanha tecnologia. E para que gravar o que ele escutava? Provavelmente apresentava outros sensores nos ouvidos que emitiam um sinal a ser interceptado para o chip... Mas por que? Quem tinha interesse em saber o que ele ouvia e aonde ele estava?
Scarlet estava cada vez mais confusa, olhou novamente para Bolt esperando que o irmão falasse algo ou intervisse de alguma maneira, afinal aquela era a investigação deles! Dragões vermelhos não deveriam intervir.
–Então, acredita que alguém o capturou e implantou esse chip em sua cabeça? –Questionou Bolt ignorando o olhar raivoso de sua irmã –Deve ser outro dragão?
–Eu não sei... Não faz sentindo... –Leonard parecia perdido em suas próprias divagações quando o som da música do jogo do Mário se propagou pelo ambiente. O dragão vermelho corou enquanto tentava buscar o seu celular nos bolsos da calça. O sorriso divertido de Bolt retornou aos seus lábios e Scarlet rolou os olhos.
–Alo? Pablo! Eu estou ocupado...Foi você mesmo que me pediu que...-A voz de Leo se findou, sua expressão de irritação e embaraço foi substituída por algo semelhante a apreensão e medo.
–O que houve? –Quis saber Bolt ao ver o dragão vermelho desligar o celular e parecer meio perdido, como planejando o que deveria fazer.
"Isso não é problema nosso!" Quis falar a garota, o que eles deviam fazer ali era só perguntar e investigar! Só isso!
–E-eu...Eu tenho que fazer uma outra coisa. Sinto muito, mas agora eu não poderei perdurar nossa entrevista. –Disse, nervosamente, fechando as janelas abertas do seu tablet, seus dedos já estavam se movendo rapidamente, parecia estar ativando uma busca por o sinal de GPS de um celular.
–Algo está ocorrendo... O dragão púrpura veio a esse território por algum motivo. –Continuou a falar Bolt, pondo as mãos sobre a mesa – Nossa raça é conhecida não só pela acidez de nossa saliva, somos farejadores natos. O desgarrado estava caçando algo... E esse algo está dentro de seu território!
Leonard levantou os olhos do tablet e o fitou.
–E daí? O que realmente vocês estão investigando? Quem colocou o chip na cabeça do seu companheiro ou o que ele estava buscando? São duas coisas totalmente diferentes...
–Mas que estão relacionadas. –Insistiu.
–Isso é um assunto confidencial.
–As fotos de nosso chip também era algo confidencial e você as roubou. –Leo sentiu suas bochechas corarem, afinal aquilo era verdade.
–N-não foi algo intencional Eu só queria ajudar!
–E nós também queremos...
–Não posso confiar em vocês. –Resmungou já se levantando da cadeira e caminhando para a porta, já iria expulsa-los dali, não tinha tempo para aquela discussão, contudo, seus movimentos foram contidos quando sentiu seu braço ser puxado. Logo, Leo, estava de encontro a parede do escritório e diante de si, um grande e assustador dragão púrpura o encurralava.
–Se não me soltar, eu irei soltar fogo em sua cara! –Rosnou.
–Por mais excitante que seja te ver me ameaçar, creio que temos assuntos mais importante para tratarmos... –Bolt se aproximou, Leonard sentiu um tremor dominar o corpo...Não só odiava os dragões púrpuras como os temia. Não queria ser derretido por ácido! Não era uma morte gloriosa! Seria como uma gosma nojenta... Definitivamente, não seria nada glorioso. Contudo, Bolt não o atacou, apenas inspirou profundamente, bem perto do seu pescoço. Leonard não se conteve mais, o empurrou e levou a mão o pescoço, como se para proteger a área farejada. Um rubor dominava todo o seu rosto... Por que não cuspiu fogo no outro? O que estava o contendo?
–Tens cheiro doce, dragão nerd...-Analisou o dragão púrpura lambendo os lábios. Leo sentiu um novo calafrio percorrer a sua espinha, seus olhos não conseguiram parar de seguir a língua do outro que passava lentamente por seus lábios –Também tens um cheiro muito peculiar...
–Sabia que isso é quase um assedio sexual? Um dragão não pode ficar farejando o outro deste modo! –Rosnou.
–Mas eu tinha um motivo plausível para isso.
–E o que seria?
–Por que, além do seu cheiro, sinto também o vestígio do aroma de dragões negros?
Leonard paralisou, um sorriso orgulhos se fez nos lábios de Bolt, estava contente por sua descoberta.
–Então... O que acha de nós deixar participar do quer que seja que está ocorrendo em seu território? Gostaria de saber mais sobre esses dragões negros...
Leonard engoliu em seco, realmente não era algo que tinha previsto que iria ocorrer...
"Pablo irá me matar..." Concluiu em pensamento.