Tenho a minha secretária coberta de papel amachucado e copos vazios descartáveis de café. O meu stress subiu desde o início da semana. Tenho feito horas atrás de horas a fim de terminar o meu trabalho e não consigo. Perfeito! Criar algo de inovador e diferente daquilo que os outros criam é uma tarefa extremamente difícil por vezes.
Levanto-me da minha cadeira com o objetivo de colocar ordem na minha secretária, começando por pôr os copos descartáveis no lixo e todas as folhas amachucadas.
Olho para o relógio na parede e apercebo-me rapidamente que tenho que ir ter com a Alana à editora.
- Hey, Madison. - digo à nova assistente do escritório enquanto coloco uma capa com documentos em cima do balcão grande à entrada. – Vim falar com a Alana. - e nesse momento aparece Alana ao meu lado.
Alana abraça-me e quando se afasta aperta-me as bochechas. Dou um revirar de olhos e aliso os meus fios de cabelo.
- O que é que era assim de tão importante que não podia esperar? – pergunto-lhe.
Ela puxa-me pelo longo corredor que leva à sala de reuniões.
- O diretor. – ela responde com um sorriso.
- O diretor? O que tem o diretor?
- Ele pediu para falar contigo. – ela dirige-me para a sala de reuniões.
- Comigo? Porquê?
- Eu penso que ele te vai contratar.
Paro de andar e olho para ela de queixo caído.
- Como é?
- Ah, Vicky! Nem precisei de falar com ele sobre ele te contratar, ele veio ter comigo a pedir-me que te ligasse para vires até cá. – ela responde penteando a sua franja.
- E como é que ele sabe que nos conhecemos? – pergunto curiosa.
- Viu-nos juntas na apresentação do livro em Tóquio. – ela olha para uns papéis que tem na mão e depois olha para mim. – Ele é o homem mais bonito que já vi, Vicky. Todas aqui na editora se andam a babar por ele e por aquilo que ouvi, é descomprometido. – ela suspira. – Juro que se eu não tivesse conhecido o Thomas, tentaria a minha sorte.
Dou-lhe uma palmada no ombro e arregalo os olhos.
- Tu irias-te meter na cama com o chefe? – questiono obviamente chocada mas sabendo já a resposta.
- Ah qual é? Que mal tem? A vida pessoal não tem que ser misturada com a profissional.
- Oh meu deus! Tu és mais louca do que eu pensava. – dou uma risada leve.
- E tu és mais certinha do que eu pensava. – ela diz num tom de humor. – Vamos, entra. – ela empurra-me literalmente para dentro da sala de reuniões.
A sala está diferente. Agora tem uma longa mesa em madeira, cadeiras pretas que mais parecem cadeirões, a decoração está em tons de castanhos e cinzentos. Tem um candeeiro no teto que acompanha a mesa no comprimento. Tem um visor grande colocado na parede de frente para a porta e para o topo da mesa. É elegante e intimidante.
Olho para todos os lugares apreciando e dou um pulo quando ouço a porta a abrir atrás de mim. Viro-me rapidamente apercebendo-me que é Liam. Liam? O que faz aqui? Ele dá-me um sorrisinho enquanto os seus olhos dançam pelo meu corpo.
- É um prazer vê-la de novo, Miss Renner. – Hunter diz-me fazendo o gesto para eu me sentar.
Não pode ser... Ele é o novo diretor? Puta merda! Porque é que a Alana não me disse que o chefe era a pessoa que estava ao seu lado na apresentação do livro? Saberia logo que era Liam e eu nem teria entrado nesta sala.
- Estou um pouco apreensiva, Liam. – respondo-lhe.
Ele senta-se na outra cadeira perto de mim.
- Eu disse-lhe que gostava do seu trabalho, Victoria.
Os seus olhos brilham quando pronuncia o meu nome e eu posso dizer que o meu coração quase parou.
- Não posso trabalhar para si, Liam. – sou-lhe sincera.
Ele abre um dos botões da sua camisa branca perfeitamente engomada. Só agora reparei que ele não está a usar gravata e que o seu paletó lhe assenta que nem uma luva. Ele é bonito que se farta que até dói de ver.
- Eu não quero que seja apenas a melhor ilustradora. – Não?
- N- Não? – a minha voz falha.
Ela dá um sorrisinho parvo e aperta a minha mão na sua.
- Eu quero que seja a diretora de design editorial.
O quê? Como assim diretora de design editorial? Ele disse mesmo isso?
- Sente-se bem, Victoria? – digo que não com a cabeça. - Água? – Liam pergunta-me. Assinto levemente com a cabeça.
Ele abre a garrafa de água à sua frente e deita a água no seu copo não utilizado. Coloca o copo delicadamente na minha mão e é como se um raio me tivesse atingido assim que sinto os seus longos dedos tocarem-me. Não que não me tenha tocado antes, mas desta vez foi... estranho!?
Levo o copo aos lábios dando pequenos goles sob o olhar atento de Hunter.
- Sente-se melhor? – sou interrogada assim que pouso o copo em cima da mesa.
- Sim. – sou breve. – Não tenho competência para esse cargo, Liam. – admito-lhe.
- Ainda bem que quem decide essas questões são os seus superiores, não acha? – ele humoriza.
Cruzo os braços bem abaixo dos seios.
Mas que merda! Por que é que ele tem que ser tão lindo? Tão sexy?
- O que fazia em Tóquio? - curiosidade soa na minha voz.
- Sempre tão ansiosa por informação, senhorita. Vamos com calma. - reviro o olhar.
O que é que ele está a fazer comigo?
- Primeiramente devia deixar de revirar o olhar e de morder esse lábio. - isso soa-me a desafio.
Não tinha noção de que estava a morder o meu lábio. A minha racionalidade está simplesmente a ir-se.
- Eu acho que sinto uma atração por si, Victoria. – O quê? Como assim? Oh, não, não, não!
Suspiro. Não consigo pensar quando estou com ele. Isso é desconcertante para caramba.
Levanto-me num impulso, fazendo ele a mesma ação meros segundos depois. Vou andando para trás e quando dou por isso, estou encostada à parede. Ele caminha até mim e o seu perfume desperta novamente os meus sentidos.
Ele leva os seus dedos aos meus lábios, entreabrindo-os de forma cuidadosa mas extremamente quente. Fecho os olhos e respiro fundo.
- Eu gostaria de puder beijá-la. - oh deus. O quê? Eu estou a alucinar, com certeza. Eu já disse, o meu cérebro com ele não consegue raciocinar.
Pisco umas duas ou três vezes para ele e desta vez ele repete o que disse mas perto do meu ouvido. O seu hálito quente e mentolado faz um arrepio percorrer a minha espinha.
- Então faça-o, Hunter. – murmuro.
Ele ergue-se ligeiramente, visto que sou mais baixa que ele, mas continua a olhar-me nos olhos.
- Não posso. - ele responde.
Por que não? Ele não tem aliança. Talvez seja comprometido?
- Quantos anos tem, Liam?
Ele sorri.
- Isso interessa? – ele pergunta afastando os meus cabelos dos olhos.
- Sim. – assinto.
- No momento certo saberá, Miss Renner.
Procuro evidências da sua idade no rosto mas ele parece-me em excelente forma e sem provas visíveis da idade que tem, como raio vou saber?
- Mais uma vez, não está a jogar limpo comigo. - estou amuada.
- Eu nunca disse que iria jogar limpo, Victoria. - ele está a provocar-me? – Agrada-me a ideia de a senhorita vir a ter um caso com o seu chefe.
Arregalo os olhos. Oh meu deus, não.
- Não vou aceitar essa função. – retruco. – Ficarei muito satisfeita se me contratar apenas como ilustradora, essa sim é a minha profissão.
- E eu quero dar-lhe mais. – ele passa as mãos pelo meu rosto e instintivamente fecho os olhos absorvendo o seu toque.
Mas depois tomo juízo e afasto-o de mim.
- As coisas estão a fugir do controlo. – digo-lhe.
- Do seu controlo. Nós temos química, Victoria.
- Temos química? – pergunto atordoada.
- Química é aquilo que existe entre nós, como os nossos corpos reagem um ao outro, como os nossos pensamentos ficam desconcertados. Não pode ser mais evidente. – ele responde com uma mão na minha cintura.
- Não estou preparada. – confesso a Liam num sussurro.