Manual (muito útil) de como s...

By VictoriaTerra

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O fim do Ensino Fundamental é algo lindo. Formatura, festas, amizades que acreditamos que irão durar por todo... More

Nota inicial da Autora.
Apresentação de Personagens
II - Não pegue o ônibus. Nunca. Sério. Não faça isso.
III - Cuidado com o Almoço. Ele morde.
IV - Garotos do Instituto de Artes são legais.
V - Batatas fritas são as melhores amigas que uma garota pode ter
VI - Uma noite regada a seriados e comida.
VII - Fred claramente não sabe flertar
VIII - Esqueça tudo, não saia da cama. Esse é o meu melhor conselho.
IX - O amor está no ar... Pois então chame o Controle de Doenças.
X - O problema não sou eu, é você. Você é o problema de tudo.
XI - Algumas pessoas nasceram na época errada, Lorena é uma delas.
XII - Bibidi-Bobidi-Bu
XIII - Carol ama a aula de Química.
XIV - Lorena precisa de um namorado.
XV - Esqueça o capítulo anterior... Lorena esta melhor sozinha.
XVI - A felicidade dificilmente é a longo prazo.
XVII - Chamem uma ambulância, Carol esta tendo um ataque cardíaco.
XVIII - Camila faz uma nova amiga
XIX A - Festa de sábado - Carol
XIX B - Festa de Sábado - Lorena
XIX C - Festa de Sábado - Camila
XX - As consequências da festa de sábado.
XXI A -Férias - Camila
XXI B - Férias - Lorena
XXI C - Férias - Carol
XXII - Educação Física ou Prova de Sobrevivência?
XXIII - Romeu, Julieta e a melação sem fim.
XXIV - A única certeza que se pode ter na vida é pizza... e amigas, é claro!
XXV - "16 Candles" é o cacete!
XXVI - Matemática e gatinhos fofos
XXVII - Molho Barbecue
XXVIII - Precisamos falar sobre Bianca
XXIX - Verdade ou Consequência
XXX - Boas decisões são sempre tomadas depois do jantar
XXXI - Algumas amizades são laços que nunca devem ser desfeitos
XXXII - Lorena quebra uma lei do Código de Amizade.
XXXIII - Carol tem guarda compartilhada.
XXXIV - O fim do mundo se aproxima.
XXXV - Átomos
NOTA FINAL DA AUTORA

I - Como tudo começou.

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By VictoriaTerra

Estou encarando essa porcaria de folha já faz, no mínimo, uns vinte minutos e ainda não faço ideia do que fazer. Ou de, ao menos, como dar início a esse manual.

— Comece do começo — sugeriu Camila ao ter sua grande ideia. — Fale um pouco sobre você e depois explique como chegamos até aqui.

Ok... Então, lá vou eu.

Meu nome é Lorena de Souza Gomez. Tenho 15 anos, completados em agosto do ano passado. O ruivo do meu cabelo é mais falso que nota de 3 reais e, graças a família de postes do meu pai, tenho 1,74 m de altura. Minha miopia é tão forte que se meu grau aumentar só mais um pouco eu posso dispensar os óculos e arranjar um cão guia. Sou extremamente viciada em café, desde o aroma do pó ainda na embalagem até o calor confortável e a sensação dele descendo pela garganta. Adoro basquete, mas pareço uma mosca morta jogando. Estou solteira desde... Bem, desde sempre. E eu não posso dizer que sou popular — não como a Camila — mas ao menos as pessoas sabem meu nome.

Acho que isso é tudo sobre mim, bem... Tudo o que é, no mínimo, um pouco interessante.

Essa manhã acordei sem nenhuma — sério, nenhuma, nada, 0, nadica de nada, menos que nada — vontade de ir para escola. Vamos combinar que, no terceiro dia de aula, é esperado que eu já tivesse feito algum amigo. Mas não, eu não fiz. Então, mesmo que eu estivesse rodeada de pessoas que me conheciam e eram meus colegas, eu me sentia extremamente sozinha.

Já que fingir pra minha mãe que eu estava com dengue ou algo do tipo não tinha funcionado, fui obrigada a passar todo o tempo entre ela ter me deixado na escola e o sinal tocar acompanhada de Britney Spears, Warrant, Fifth Harmony, É o Tchan e Elvis — sim, eu tenho um gosto musical um pouco estranho.

Digamos que usar o celular dentro da escola, mesmo que o horário de aula ainda não tenha começado, é proibido e, como sou a pessoa com a maior falta de sorte que conheço, fui pega pela inspetora. Consequentemente, tive de passar toda a primeira aula na detenção.

— Isso não é justo — reclamei.

Em toda minha vida escolar, nunca havia recebido nem mesmo uma advertência. Era a criança prodígio da família. Aparentemente, garotos e garotas inteligentes durante a infância tinham uma grande tendência a se tornarem delinquentes juvenis e desajustados que são pegos por burlar regras bobas.

— A vida não é justa, meu amor — alertou a inspetora. — Aprenda a seguir as regras que isso não acontecerá de novo.

— Mas... — Tentei.

— Sem "mas", sinto muito — disse ela, saindo da sala logo em seguida e me deixando com o meu sofrimento sem fim.

Não foi preciso muito para que eu ficasse entediada e dedicasse toda minha atenção ao quadro negro à minha frente por no mínimo uns 15 minutos até que a inspetora voltasse com mais duas meninas.

— Virou festa isso aqui agora? — Reclamou a mulher, ajustando os óculos que teimavam em escorregar até a ponta do seu nariz. — Vocês não podem ficar chegando a hora que quiserem. O sinal toca às sete horas em ponto. Entendam isso.

— Mas, senhora... — Protestou a garota mais baixa de cabelo castanho, que eu reconheci como uma das minhas colegas de sala. — Eu moro longe e tive de vir andando até aqui. Por favor, deixe passar. Só dessa vez.

— Eu sei que se deixar passar você vai fazer de novo, Caroline. — A inspetora apontou para as cadeiras do meu lado. — Da próxima vez acordem mais cedo ou peguem um ônibus.

Carol se sentou atrás de mim e a outra garota ao meu lado. Eu já havia visto aquela menina algumas vezes, mas até aquele momento não fazia ideia de qual era o seu nome. Por isso tratei de me esticar o máximo que pude quando a inspetora nos entregou um caderno para assinarmos. Não podia controlar minha curiosidade, infelizmente era um traço de personalidade incurável. Ao menos, graças a ele, descobri que ela se chamava Camila.

Caro leitor, você já assistiu ao filme Barbie o Castelo de Diamantes? Camila era basicamente a amiga da Liana, a Alexa, só que com olhos pretos em vez de verdes. Seu corpo era tão escultural que aparentava ser de mentira e seus cabelos, escuros como uma noite sem estrelas, eram lisos e compridos. Ela é o tipo de pessoa que é bonita e sabe disso, o que torna a um tanto metida.

Já Carol, é mais o tipo de garota que passa totalmente despercebida em qualquer lugar. O corpo esguio, completamente escondido em um moletom preto, era um dos principais responsáveis por isso. Ela era pequena como um hobbit e seu o cabelo castanho caia todo bagunçado ao redor do rosto arredondado enquanto os olhos ficavam escondidos atrás de uma armação um pouco grande de mais pra ela.

— Eu tenho algumas coisas pra resolver — anunciou a inspetora. — Não quero ouvir nenhum pio.

Então a mulher saiu da sala e desapareceu no corredor, nos deixando completamente sem supervisão. Eu admirava a ingenuidade dela em acreditar que realmente ficaríamos em silêncio.

— Pio — exclamou Carol em alto e bom tom.

Comecei a rir imediatamente e me debrucei na carteira em uma tentativa inútil de parar.

— Tão infantis — reclamou Camila, rolando os olhos.

Me virei pra ela com as sobrancelhas juntas e uma voz cheia de indignação.

— Me desculpe, senhorita Madura — debochei.

— Sou claramente mais madura do que vocês duas — rebateu ela, dando de ombros.

— Aparentemente não é madura o bastante pra escapar de uma detenção — observou Carol.

Olhei pra ela com um sorrisinho tímido e ela sorriu de volta, percebi que compartilhávamos o mesmo tipo de humor bobo.

— Lorena — anunciei, esticando a mão para cumprimentá-la.

— Eu sei. — A garota deu de ombros. — Estamos na mesma sala.

— É que... eu achei que não tínhamos sido devidamente apresentadas e...

— Tudo bem. — Ela sorriu. — Eu sou a Carol.

— Eu sei. — Ri.

Me virei pra frente de novo e comecei a morder a minha unha enquanto cantarolava uma melodia que estava presa na minha mente o dia todo.

Senti o olhar de Camila no meu ombro e me virei pra ela com uma cara de duvida.

— O que foi?

— Você tá cantando Eduardo e Mônica? — Ela perguntou.

Ouvi um estalo em mim. Finalmente consegui me lembrar da letra da música. Assenti, ainda com a minha expressão de duvida.

— É que... você não tem cara de quem curte esse tipo de música.

— Que "tipo de música"? — Perguntei.

— Você sabe... MPB e músicas um pouco mais antigas — explicou. — Eu achei que você gostasse de coisas tipo... sertanejo universitário.

— E você tem cara de quem escuta funk o dia inteiro — rebati. 

— Eu não... eu não faço isso — defendeu-se ela.

— Gente — comentou Carol, mais para si mesma —, isso é preconceito musical.

— Eu sei. Viu? — Disse eu, com um sorrisinho de deboche. — As pessoas, na maioria das vezes, não são do jeito que você pensa que elas são.

Camila tornou a encostar as costas na cadeira e encarou o quadro por um tempo.

— Desculpe — murmurou ela.

Parabéns, Lorena, ótimo jeito de fazer novos amigos.

— E-eu não estava sendo rude, juro — engasguei.

— Não foi por isso, foi... — Ela fitou pro chão. — Por antes. Ter chamado vocês duas de infantis e tals...

— Tá tudo bem, sério, isso não é nada. — Sorri. — Carol?

Carol, que estava brincando com uma mecha da própria franja, levantou os olhos pra mim e então os desviou para Camila.

— Hum...? — Resmungou ela, tentando voltar à realidade. — Oh, é. Na boa, nada que o meu melhor amigo não diga pra mim todos os dias.

Então, Camila sorriu. Um sorriso de verdade, do tipo que vai de orelha a orelha. E continuou sorrindo em silêncio, olhando para o nada até que o sorriso se tornou — se é que isso é possível — maior.

— Eu tive uma ideia — compartilhou ela, se levantando.

— Que medo — provocou Carol, fazendo careta.

Olhei para traz e balancei a cabeça de forma afirmativa para Carol.

— Cala a boca — cantarolou Camila.

Camila desfilou pela sala e sentou-se em cima de uma das mesas.

— Isso não é justo — disse ela, apontando as unhas recém pintadas de azul dos indicadores para o chão.

— É... — Juntei minhas sobrancelhas. — Nós sabemos.

— Ou você acha que nós queríamos estar aqui? — Carol se debruça sobre a carteira dela até seu queixo encontrar o meu ombro. — Na detenção?

— Vocês são burras? — Bufou Camila, mas não parecia estar dizendo para ofender. — Eu não estou dizendo aqui... Aqui. — Ela gesticula desesperadamente pra tentar fazer com que entendessemos. — Eu estou querendo dizer o Ensino Médio. — A voz dela se tornou um pouco mais séria. — É difícil. E eu não estou falando de provas, professores, química, matérias de exatas e coisas do tipo. Quem dera fosse. Eu estou falando sobre aceitação, família, crescer, responsabilidades. A nossa vida.

— O que você tá querendo dizer? — Perguntei apreensiva. — Qual sua ideia?

Camila mordeu o canto do lábio inferior e ficou nos encarando por um tempo, pensativa, mastigando a ideia por um tempo.

— Fazer um manual — disse ela, por fim. — Um Manual sobre o Ensino Médio. — E então explicou. — Basicamente, uma vez por semana, uma de nós escreve um capítulo falando sobre o que aconteceu naquela semana ou naquele dia, tanto faz. Então... no dia da nossa formatura, no final do tão aguardado Terceirão, nós escondemos o manual em algum lugar da escola. Eu não sei... até aqui, talvez, onde tudo começou. Onde alguém pode achar. Essa pessoa pode ver por tudo o que passamos e não dar a minima ou isso pode ajudar ela a passar pelas mesmas experiencias que nós passamos.

— É uma boa ideia — comentou baixinho Caroline. — Mas nós mal nos conhecemos.

— Sim, e isso é simplesmente perfeito. — Camila sorriu cheia de animação. — Nós somos diferentes, pontos de vista totalmente diferentes. E... Nós podemos ser amigas.

Troquei olhares desconfortáveis com Carol, ambas pensando se essa podia ser realmente uma boa ideia. Parecia loucura? Sim, definitivamente. Parecia loucura da mais louca desvairada — como diria a minha avó — possível, mas acho que uma loucurinha de vez em quando faz bem para os nervos.

— Meninas? — Camila desceu da mesa em que estava sentada e se ajoelhou em frente a minha carteira fazendo carinha de cachorro que caiu da mudança. — Por favor.

— Tanto faz. — Fiz cara de pouco caso. — Tô dentro.

— Também — concordou Carol, dando de ombros.

Camila riu e voou na nossa direção, abraçando nós duas ao mesmo tempo. Em outra situação, aquilo talvez acabasse sendo um ato desesperado e constrangedor graças ao fato de termos acabado de nos conhecer, mas abraçá-las pareceu algo tão certo que eu não queria outra coisa para toda a minha vida. 

Carol tentou se esquivar empurrando Camila e saindo do abraço.

— Ok, ok. — Ela levantou os braços. — Se vamos ser amigas, entendam que não podem ficar fazendo isso. Sem abraços, eu não gosto de braços, eu...

Mais uma coisa sobre mim, não diga para eu não fazer algo porque as chances de eu fazê-lo se tornam ainda maiores. Portanto, me joguei em cima dela e a abracei o mais apertado que conseguia.

— Me solta — reclamou ela.

— Me obrigue — retruquei.

— Não tem como, você tem quase o dobro da minha altura — resmungou Carol, desistindo de tentar se desvencilhar de mim.

— Não, não tenho. — Torci o nariz, soltando-a. — Sou no máximo dez centímetros mais alta.

Ela pareceu pensar um pouco.

— Bem, você ao menos deve ser mais baixa que o Frederico — disse ela, por fim.

— Frederico é o seu melhor amigo, certo? — Perguntei, me sentando de volta na minha carteira.

— Sim, e ele também é tipo... A melhor pessoa no universo inteiro — falou ela, rindo. — Fica com a gente no recreio, daí eu te apresento pra ele.

— Você tem certeza? — Tentei esconder meu entusiasmo. — Não vou acabar incomodando?

— Claro que não — garantiu Carol. — Aliás, ele é meu melhor amigo desde sempre, mas não é muito legal ser a única menina.

— Eu iria ficar sozinha, então... — Disse eu, sorrindo. — Obrigada.

Carol riu e deu um soquinho no meu braço.

—Então, Camila, quem vai ser a sortuda que vai escrever o primeiro capítulo? — Perguntou Carol.

— Ah, sei lá... — Camila deu de ombros. — Acho que não há nada mais justo do que a pessoa que ficou de detenção primeiro escrever o primeiro capítulo.

— Merda!

E foi assim que eu cheguei aqui, cara pessoa misteriosa que encontrou este Manual.

Mais uma coisa sobre mim mesma que eu havia esquecido de mencionar anteriormente, eu sou completamente apaixonada por filmes do século passado. Sério, chego quase a ser obcecada por eles. Não é que eu não goste dos filmes atuais, pois gosto. Muito. Muito mesmo. Mas filmes antigos tem uma certa magia que eu não sei explicar. Talvez sejam os efeitos ruins, os figurinos sempre iguais ou os roteiros mega sem noção. Mas alguns deles não são tão ruins assim, como "What's Eating Gilbert Grape" com o Johnny Depp e o Leonardo DiCaprio — na minha humilde opinião de telespectadora, o DiCaprio merecia ter ganhado um Oscar desde este filme —; e o meu filme favorito em todas as galáxias: The Breakfast Club — ou como foi traduzido para o português: O Clube dos Cinco.

Depois da minha pequena aventurazinha na detenção, ouso roubar parte da redação feita pelo Brian a pedido do senhor Vernon em "O Clube dos Cinco".

"...Em termos mais simples e com definições mais convenientes. Você nos enxerga como um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso. Correto? Essa é a maneira que nós nos víamos, às sete horas desta manhã. Passamos por uma lavagem cerebral."

Esta manhã eu realmente nos via como a anti social, a esquisita e a popular. Fico feliz em dizer que mudei de ideia e sei que nós somos, que podemos ser, bem mais que isso.

Nós realmente vamos fazer isso.

Esse vai ser o nosso ano.

Sinceramente seu,

O Clube das Três.

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