SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDO

By bellscolors

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Amber Hunger, Amélia Torn e Anika Suen são amigas inseparáveis desde a 5º série. Criaram laços impossíveis de... More

| Trailer |
Prólogo
Capítulo 1 | Festa
Capítulo 2 | Suspeitos
Capítulo 3 | Pistas
Capítulo 4 | Descoberta
Capítulo 5 | Encontros
Capítulo 6 | Paranoia
Capítulo Bônus - Festa
Capítulo 7 | Inércia
Capítulo Bônus - Paranoia
Capítulo 08 | Amélia
Capítulo 10 | Assassina (Parte 1)
Capítulo 10 | Assassina (Parte 2)
Epílogo
AGRADECIMENTOS
Prólogo (Olhos de Vidro)

Capítulo 09 | Confissão

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By bellscolors

Quando você é diagnosticado com qualquer tipo de doença mental a primeira coisa que pensa é que está louca. Que sua sanidade está perdida para sempre e que terá que viver a base de remédios para continuar lúcida.

Eu nunca pensei assim quando soube que tinha distúrbio de personalidade, sempre encarei essa doença como algo normal que eu conseguiria manter controlada e que jamais tiraria minha sanidade.

Estava completamente enganada.

Essa doença não só tirou minha sanidade como minha capacidade de saber o que é ou não real.

Eu estava há minutos sentada abraçando os joelhos e encarando o corpo inerte de Amélia na chuva. Pelo menos agora as gotas eram finas e só faziam uma leve cócega em meu rosto. O corpo de minha amiga estava começando a ficar azulado, uma coloração estranhamente bonita, eu podia contar as veias ao redor de seus olhos verdes que estavam ficando brancos, sem contar as pequenas poças de água que haviam neles por causa da chuva. Não consegui fechá-los.

Eu não quis.

Amélia estava tão bonita morta que sorri sentindo vontade de estar bonita daquele jeito. Suspirei ao ser iluminada por um novo clarão, mesmo depois da chuva forte os relâmpagos não cessaram. Encolhi-me sentindo frio, o tecido de meu vestido fino não ajudava em nada, mas não me importei. Amélia não estava com frio, mesmo estando horrivelmente gelada, então por que eu estaria?

Então eu a matei.

Morte.

Matar.

Essa palavra fazia minha língua embolar, mas de um modo estranho eu gostava de sua sonoridade.

Eu era louca e havia matado minha melhor amiga.

Não!

Foi ela.

Ela que fez tudo isso e está tentando pôr a culpa em mim.

— EU SEI DE TUDO! – Gritei comigo mesmo. – PODE SAIR! Eu sei que está aí.

Apertei com mais forças minhas pernas e chorei sentindo meu peito rasgar.

— Amber! Amélia! – Então tudo se repetia.

Comecei a rir, a gargalhar. Minha barriga doía e eu sentia as lágrimas escaparem pelo canto de meus olhos. Estava tudo no roteiro.

O circo de horrores estava completo.

— AQUI! – Gritei em meio a risadas. – Eles estão chegando, Mélia. Eles vão no salvar.

E então Sage apareceu seguido por Dylan, Brian, Yanna e toda a corja.

— Por que demoraram tanto? Amélia está com frio. – Minha voz saiu quase que em um sussurro, duvido que alguém tenha a ouvido.

— Ai meu Deus. Ela está... morta? – A voz de Yanna perfurou meu crânio.

Sage se aproximou da namorada morta e eu vi a dor passar por seus olhos, ao me encarar tudo que vi foi medo. Segurei a respiração.

— Por Deus Amber, o que houve? – Sua voz era fria feito gelo, senti ela acertar minha pele já gelada e a congelar ainda mais.

Sorri de um jeito insano e tombei a cabeça de lado.

— Eu acho que a matei.

***

Eu entendia o motivo de ficar trancafiada naquele quarto branco. Eu entendia perfeitamente.

Eu era louca. Loucos ficavam internados.

Meus dedos batucavam o colchão fino devidamente coberto por um lençol branco. Eu vestia um par de pijamas também branco, camiseta e calça. Mas de tudo isso o que eu não entendia eram aquelas correias de couro prendendo de maneira forte meus pulsos a cama de metal.

Eu não fugiria.

"Talvez devesse" Sorri sentindo que não estava só.

— Então veio me fazer companhia? – Perguntei a voz em minha cabeça. Ela me respondeu usando minha fala.

— Eu sempre estive aqui.

Abri a boca, mas nenhum som veio. Estava falando comigo mesma e achando que aquilo fazia sentido, comecei a rir histericamente.

A porta foi aberta e minha risada foi cessando até só sobrar um sorriso em meus lábios. Eu a deixei tomar o controle, não tinha mais forças, estava cansada demais.

E ela sempre foi mais forte.

Um médico carrancudo segurava uma prancheta e a examinava de maneira compenetrada. Eu o fitava com tédio.

— Então acordou. – Ele disse depois de incontáveis minutos. Sua voz era áspera e arrastada, ele não parecia a usar muito.

Dei de ombros segurando uma resposta afiada na boca.

— Sabe seu nome? – Perguntou fitando novamente a prancheta. Nunca seus olhos cor de terra pousaram sobre os meus. Aquilo me incomodou, não era por medo que ele não fazia contato visual, era porque já havia me dado como um caso perdido, mais uma jovem perdida na própria loucura.

— Ashley. – Minha voz saiu decidida e firme. Sua confusão fez meu sorriso aumentar.

— Desculpe? Vou repetir a pergunta, sabe seu nome?

Rolei os olhos respirando fundo. — Ashley Hunger.

Então seus olhos finalmente pousaram sobre os meus. Ele conseguia notar a diferença? Ele sabia qual era a diferença?

— Certo. Sua ficha diz distúrbio de personalidade moderado, precisamos de novos exames. – Ele falava consigo. Eu apenas observava entendendo perfeitamente onde ele queria chegar. Minha doença havia evoluído, eu estava mais perigosa. Mais mortal.

A imagem de Amélia apareceu vívida em minha mente.

— Amélia. – Minha voz saiu diferente. Eu era eu novamente.

— Não sei de nenhuma Amélia, desculpe. – Disse e sem esperar resposta saiu, me deixando só com meus fantasmas naquele quarto branco e escuro.

Eu estava ali há uns dois dias. Ou seriam duas horas? Eu havia me esquecido o que tinha me posto naquele lugar e isso só fez eu me sentir pior.

Minha outra melhor amiga estava morta e eu havia feito isso, como eu pude? Por quê? As lágrimas eram quentes e faziam o travesseiro molhar. Mas nenhuma delas foi o suficiente para me fazer entender.

A por foi aberta novamente e dessa vez o médico estava acompanhado: meus pais.

— Mãe. – Gemi chorando mais forte. Logo senti seus braços ao meu redor, ela também chorava.

— Ah, querida. Mamãe está aqui.

Meu pai apertou minha mão fazendo um carinho afetuoso em minha testa, meu choro veio mais forte.

— Vou deixá-los a sós, 5 minutos. – A voz do doutor soou, mas ninguém o respondeu.

— Mãe, pai. – Chamei fungando. Os dois me olharam e não consegui manter o contato visual, era demais para mim.

Me sentia tão fraca amarrada em uma cama de sanatório, ou sei lá o que isso era.

— A Amélia, ela tá.... – Não consegui terminar a frase, e nem precisava, eles haviam entendido o que queria dizer.

— Querida. – Minha mãe apertou minha mão, enquanto meu pai ainda segurava forte a outra. – Infelizmente sim, sinto muito.

Mordi meu lábio inferior tentando segurar a dor dentro de mim. Senti gosto de ferro e sabia que havia cortado meu lábio.

— Filha, nada disso foi sua culpa. – Meu pai falou pela primeira vez. Seus dedos limpavam meu lábio machucado e ele parecia tão mais velho. Os dois pareciam.

Eu estava acabando com a minha família.

— Mentira! – Falei alto, dessa vez encarando os dois de maneira decidida. – Fui eu. Eu estava lá, eu segurava a faca. Fui eu.

— Não amor, não foi você. – Minha mãe segurou meu rosto com ambas as mãos e me fitou de forma séria. Seus olhos estavam avermelhados, ela parecia ter chorado por muitos dias.

— Claro que foi, parem de me proteger. Eu só preciso lembrar, mas sei que fui eu. – Minha mãe voltou a chorar me abraçando novamente.

Por que eles insistiam em proteger a filha criminosa e doente?

Não tinha mais como me proteger.

Era hora de arcar com as consequências.

***

— Me empresta seu batom, Amélia? – Minha voz parecia mais rouca, mas ela não notou.

— Claro, ficará bonito em você. – Ela disse terminando de passá-lo nos lábios e me passando em seguida.

— Eu sei. – Ao olhar nós duas no espelho quis ter seu cabelo e até as minúsculas sardas que cobriam seu nariz que ela insistia em esconder com base.

Os olhos esverdeados dela me fitaram pelo reflexo do espelho, mas nada disse.

O batom vermelho tornava meus lábios maiores e meu rosto juvenil de 14 anos até parecia mais velho. Sorri sentindo um poder que antes eu não possuía.

— Esse é o seu preferido? – Perguntei rolando até o fim o batom no pequeno cilindro de cor preta.

— Um dos, meu pai trouxe da sua última viagem a Suíça. – Seu sorriso fez meu estômago embrulhar.

Dor, era isso que eu queria causar a ela. Mas eu não entendia o porquê. Amélia era minha amiga.

Errado.

Ela era sua, mas não minha.

E então eu quebrei o batom, fazendo Amélia adquirir uma expressão de espanto, esmigalhando-o em meus dedos que não demoraram a assumir um tom avermelhado do batom.

— AMBER PARA! Tá louca? – Ela gritou esbugalhando seus olhos.

E eu ri terminando minha obra.

— Ops, desculpa. – Dei de ombros enquanto observava ela pegar o pote de batom seco e chorar pela porcaria de um simples cosmético.

Abri os olhos sentindo a textura do batom em meus dedos, o cheiro forte em minhas narinas. Arfei pensando ter voltado no tempo e estar vivendo aquela cena novamente, mas foi apenas um sonho memória. Ainda estava presa naquele quarto, naquela cama. Ao olhar pela janela notei que já era de noite, senti a solidão me dominar. Essa seria minha realidade daqui para frente?

Assim que meus pais saíram tomei um par de comprimidos e acabei pegando no sono, sentia que daqui para frente seria assim, remédios, dormir, remédios, dormir.

Minha nova triste realidade.

Toc.

Toc.

Toc.

Era um som rítmico, apenas com intervalos de 2s, e aumentava gradativamente, da onde estava vindo? Olhei ao redor, mas tudo parecia tão estupidamente silencioso e mesmo assim o som continuava.

A janela.

Havia algo na janela, eu podia ver pela visão periférica, mas a pergunta era: eu queria me virar?

Fechei os olhos com força, era obra da minha cabeça, nada era real. Nada.

— Vai embora. – Gritei.

O som cessou, e então boom.

O vidro se quebrou e me virei. Uma pedra jazia no chão, ao seu redor estilhaços de vidro, na janela um buraco e lá fora, eu.

Abri a boca, mas nada consegui falar, meus pulsos continuavam muito bem presos contra a cama, sentia meu corpo sobre a cama.

Não podia ser eu.

Não era eu.

Fechei os olhos novamente, dessa vez os apertando.

— Isso não é real, não é, não é.

Um vento fraco bateu contra meu rosto e abri os olhos.

Eu estava na minha frente.

— Estou realmente pirando. – Falei num sussurro e meu outro eu sorriu parecendo se divertir com a minha atual situação.

— Abra sua.... Amber. – Eu, ela disse. Sua voz parecia distante, mesmo ela estando em minha frente. Era como se estivesse presa dentro da água, então lhe ouvir era difícil.

— Quê?

— Sua mente. – Ela repetiu dessa vez mais nitidamente. Seus cabelos negros flutuavam ao redor de sua cabeça, vestia um vestido branco e longo.

— O que é você? – Estava falando comigo mesmo em uma alucinação, meus dias de sanidade haviam chegado ao fim mesmo.

— Eu sou – Ela se aproximou fitando-me com os olhos azuis opacos e fazendo com que me perdesse neles – a sua loucura. Agora abra a mente.

Abri os olhos e notei que estava presa em um sonho, ou melhor, pesadelo.

Ao meu lado uma enfermeira pegava umas três pílulas brancas e enchia um pequeno copo com água.

— Pesadelos? – Perguntou sorrindo de forma maliciosa.

Eu arfava e sentia todo meu corpo dolorido, dormir na mesma posição era exaustivo demais.

— Quando vão tirar isso de mim? – A ignorei fitando as amarras em meus pulsos. Senti meus braços formigando de tanto ficarem esticados.

— Na hora certa. Você chegou aqui muito agitada, logo esse procedimento foi necessário. – Ela aproximou as pílulas de minha boca e esperou que eu separasse os lábios, o fiz sem ter escolha. – Tome seus remédios e logo vai estar livre das correias.

Sorvei a água e senti as pequenas pílulas passarem por minha garganta. Ao olhar pela janela notei que já estava de noite, assim como no pesadelo.

— Agora descanse, talvez amanhã as coisas mudem. Boa noite. – Ela saiu sem esperar resposta.

Sentia-me como um mosquito capturado por um copo de vidro, via tudo ao meu redor, mas não conseguia escapar.

Abra sua mente.

Essa frase ficava ecoando em minha cabeça sem cessar, era como um mantra e quanto mais ele se repetia, menos sentido fazia. Minha mente já estava aberta o suficiente e tudo que eu podia ver lá dentro era loucura.

***

— Como se sente hoje senhorita Hunger? – O médico de olhos cor de terra perguntou aproximando-se de minha cama. Minha vontade era de socar seu rosto sem expressão, como ele achava que eu me sentia?

— Uma droga, claro. – Respondi seca fitando a janela. Pelo menos eu podia ver o jardim. O sol brilhava intensamente do lado de fora e por um momento senti vontade de andar descalça pela grama.

— Entendo, mas tenho boas notícias, seu estado melhorou o suficiente para lhe soltar das amarras. Terá consulta com a psicóloga da clínica no fim da tarde. – Ele dizia enquanto anotava rapidamente algo em sua prancheta.

Um enfermeiro surgiu atrás dele e aproximou-se da cama desatando as correias e enfim libertando meus pulsos arroxeados. Gemi ao puxar meus braços, eles doíam como o inferno.

— Sugiro que vá com calma, eles estavam sensíveis por causa da posição.

— Ah, jura? – Soltei as palavras tomadas por escarnio. Sentia uma raiva que antes nunca esteve ali, era como se algo dentro de mim houvesse se rompido, quebrado e não houvesse mais chance de reparo.

Ajeitei-me na cama pegando um pote de gelatina azul que estava ao lado de minha cama, meu escasso café da manhã.

— Quando a polícia virá? – Perguntei terminando em três colheradas a minúscula gelatina. Peguei a xícara de café e as torradas ao seu lado, meu estômago ansiava por comida.

— Perdão, polícia? – Sua expressão passou de nada para confusa. Pelo menos agora ele parecia realmente prestar atenção em minha pessoa.

— Eu cometi um crime se bem me lembro. – Senti meu coração se apertar. Meus olhos arderam anunciando a chegada das lágrimas, as segurei, não era hora para chorar.

— Ah sim, claro, o motivo que desencadeou seu surto. Não se preocupe, creio que agora que já está melhor tudo será resolvido. – Sorriu sem mostrar os dentes e virou-se indo em direção a porta.

Então era isso? Eu matava uma pessoa e ficava por isso mesmo?

— Qual a droga do seu nome? – Meio que gritei fazendo ele parar no meio do caminho.

Cada vez mais sentia que estava presa em um manicômio para loucos delinquentes, eu era culpada então merecia isso. Senti uma lagrima escorrer por minha bochecha e rapidamente a limpei antes que ele se virasse.

— Desculpe, não me apresentei, sou o Dr. Lucas Croves, psiquiatra da Clínica em que está internada, Vicent Holly. – Então ele era um psiquiatra. Então eu era uma louca.

Como não disse mais nada, ele aproveitou meu silêncio e retirou-se do quarto me deixando divagar encarando as quatro paredes brancas que me cercavam.

No fim da tarde fui ver a tal psicóloga que me encheu de perguntas sem sentido e só me fez ficar mais aborrecida. Eu queria me lembrar, mas não conseguia e não era sendo questionada o tempo todo que lembraria de alguma coisa.

— Tem visita. – Uma enfermeira me parou no meio do corredor que levava até meu quarto.

— Pode deixar que a levo. – A enfermeira que me acompanhava, de sorriso malicioso, respondeu por mim pegando meu braço e fazendo com que retornássemos o caminho.

Não me opus, afinal o que ganharia sendo rebelde? A verdade era que eu parecia uma morta viva, meus cabelos estavam presos de qualquer jeito em um elástico, meu rosto devia estar pálido e cheio de olheiras e os roxos em meus pulsos não ajudavam muito na minha aparência, desejei que não fosse ninguém de importante. Mas no exato segundo que meus olhos pousaram sobre o garoto sentado em um sofá, quis dar meia volta e me esconder na minha cama fria e dura.

Era Sage que me esperava.

Ele levantou a cabeça e me fitou de uma forma que não consegui decifrar, abracei meu corpo me aproximando, não conseguia encará-lo.

— Senta. – Indicou o lugar ao seu lado.

Sentei com o corpo rígido, até respirar estava difícil, não via um olhar acusatório em Sage, mas também não via um muito amigável.

— Hoje foi o enterro de Amélia. – Sua voz parecia longe, cansada, rouca. Olhei para seu rosto e ele me olhou de volta.

Seus olhos escuros eram um belo contraste com sua pele pálida e seu cabelo loiro quase branco. Senti meus olhos arderem, podia apostar que estavam ficando avermelhados, mas nenhuma lágrima saiu, não conseguia chorar, existia uma bola de sentimentos engasgada em minha garganta que impedia que qualquer coisa saísse, então permaneci calada o fitando.

— Eu não quero acreditar que você fez isso. – Ele falou depois de um tempo, consegui sentir o desespero em sua voz, era explícito. – Me explica o que houve naquela noite, por favor.

— Eu... não me lembro. – Minha voz saiu miúda, foi quase em um sussurro. Pude notar seu corpo ficar tenso e quando dei por mim ele já estava agachado em minha frente com as mãos pousadas em meus joelhos.

— Você tem que se lembrar pelo menos de alguma coisa, me fale. – Ele estava angustiado, preocupado. Contrai o cenho me perguntando o que estava acontecendo.

— Por quê?

Engoliu em seco molhando os lábios com a língua.

— Todos acham que você surtou e matou Amélia, e o pior...

— O quê? – Arregalei os olhos me aproximando de seu rosto, assim tão de perto ele era ainda mais lindo. Imagens de olhos negros flutuando em uma xícara de chá e veias roxas se sobressaindo em uma pele alva dispararam em minha mente, tentei freá-las, mas era mais forte que eu. Mais forte que minha mente insana.

— Acham que você matou Anika também. Não quero acreditar nisso, então me ajude a te ajudar. – Ele suplicava como se estivesse sendo acusado, como se ele fosse o louco assassino.

— Shii. – Falei pousando minha mão fria com unhas mal cortadas e sujas em seu rosto tão limpo e branco. Quis arranhá-lo, por isso me afastei escondendo minhas mãos embaixo das coxas. – Talvez eu seja a assassina.

— Claro que não Amber! Você não matou ninguém. – Sua voz elevou-se fazendo com que rostos curiosos nos encarassem. Me senti exposta, Sage estava me expondo.

Estava com medo e com frio.

"Cadê você? " Eu precisava dela, ela era meu lado forte. Eu era fraca e frágil, podia sentir meus ossos prontos para se quebrarem a qualquer momento, com um simples movimento.

Então como um verme se arrastando, lentamente e sem fazer ruído, eu senti as palavras chegarem: Abra sua mente.

— Amber, está me ouvindo? – A voz de Sage soou mais alta e acordei do transe em que estava.

— Eu não lembro, desculpa. – Foi tudo que disse antes de levantar e me afastar dele. Não aguentava mais, era demais para mim.

— Eu vou voltar. – Ele disse quando comecei a andar para longe, não lhe respondi e nem me virei, só queria paz. Fechar os olhos e acalmar meus pensamentos, eles mais pareciam estar em um liquidificador, não paravam quietos, não deixavam eu me concentrar.

A enfermeira abriu a porta, esperou que eu entrasse para em seguida sair. Pude ouvir o barulho da chave na tranca. Estava presa no meu inferno particular.

Fui em direção a cama e sentei de costas para a janela, não queria ver o mundo lá fora, talvez Sage estivesse do outro lado e eu não queria mais vê-lo. Não queria que ele me visse assim. Soltei os cabelos presos e fitei o chão, foi então que eu vi.

Estava dobrado e era branco.

Levantei indo em sua direção e abaixei para lhe pegar. Não pesava quase nada e o toque era liso em meus dedos.

Desdobrei o papel e li em voz alta as duas palavras escritas ali: Foi você!

Gritei levando as mãos à cabeça jogando longe o pedaço de papel acusador.

— Abra sua mente. Abra sua mente. Abra sua mente. – Repetia sem parar balançando o corpo. - Abra sua mente. Abra sua mente. Abra sua mente.

Deve ter feito efeito, pois consegui ver. Eu vi tudo e não era nada bom.

Encostei meu corpo contra a porta e fui deslizei até o chão, meus olhos estavam abertos e fitavam a parede do outro lado, mas o que eu via era um cenário de horror.

Me via caçando Anika.

Cortando sua pele e então a matando.

Solucei e grossas lágrimas rolaram por meus olhos enquanto as cenas se repetiam sem parar em minha mente. Era como assistir um filme, um filme muito antigo em que você era o personagem central.

Me vi arrastando Amélia por seus cabelos ruivos, a jogando na terra fria e molhada e depois lhe golpeando com uma faca no peito.

Eu fiz isso? Não conseguia achar o início, o meio e o fim. Eram cenas perdidas, que não se encaixavam, mas em todas era eu.

— Eu matei as duas. Eu matei. – Confessei baixinho com medo das paredes ouvirem. Com medo de que se falasse mais alto as palavras perderiam o sentido.

Gargalhei sentindo meu corpo se arrepiar. Ri tão alto que senti duas de mim rirem. Duas risadas intercaladas, uma dentro, oura fora.

— Espero que estejam no inferno queridas amigas. – Minha voz saiu arrastada e um sorriso perverso se desenhou em meus lábios.

Nunca foi sobre mim.

Era ela o tempo todo. 





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