*** Chad ***
- JOSH! ATENDE O TELEFONE!
- NÃO DÁ, AMOR! TÔ ARRUMANDO AS CRIANÇAS!
- E EU ESTOU LAVANDO LOUÇA! O TELEFONE ESTÁ MUITO LONGE DE MIM, JOSHITOOOO!
Ele entrou na cozinha, parou do meu lado e tirou o telefone do gancho.
- Muito longe, né? - ele disse, antes de colocá-lo na orelha. - Alô?... MÃE?
Uepa! Parei tudo o que estava fazendo e comecei a tentar ouvir.
- O que ela tá dizendo? - perguntei, sussurrando. Ele fez sinal para eu ficar quieto.
- Ah... Sim... Por que?... O papai vai estar aí?... Sei... Que horas?... Tá, vou ver... Tá, beijo, tchau mamãe... Também te amo. - Ele me encarou com uma cara estranha.
- O que foi?
- Minha mãe quer que a gente passe o natal na casa dela - ele disse, batendo o telefone na mão.
- Ah, legal, e ela fala isso BEM NO DIA? Eu não vou, Josh! Pra que? Pra passar vergonha? Pra eles me humilharem? Sua mãe e seu pai não foram nem no nosso casamento! Só os seus irmãos foram! A gente não vai!
- Amor... Ela quer se redimir por isso.
- Não adianta, Josh. Não vou.
- Por mim. - Ele me deu um beijo. - Por favor.
- Já disse que não.
- Por que sempre temos que passar o natal na casa do Zack e da Ariel?
- Porque ELES são a nossa família, Josh! ELES nos apoiaram! ELES nos ajudaram nas dificuldades! TODOS ELES! Ariel, Zack, Lucy, Andy e até o Owen! E até a Melissa e o Tom e Jerry, que entraram depois pra essa família! Aí vem do nada a sua mãe, que não dá as caras desde que você saiu de casa, pedindo pra gente ir comer um peruzinho lá na casinha dela, com o seu paizinho sentado na cadeirinha e uma espingardinha do lado!
- EXISTE ARREPENDIMENTO, CHAD. E PERDÃO TAMBÉM. É VÉSPERA DE NATAL, PORRA! ARRUMA UM ESPAÇO PRA MINHA FAMÍLIA NESSE SEU CORAÇÃO DE MERDA!
- Coração de merda?
- Desculpa, eu não quis dizer isso.
- É, mas você está certo. Por que eu só consigo amar pessoas que me amam, né? Tudo culpa desse coração de merda! Eu tenho que amar até a sua família, que praticamente me apedrejou! Eu tenho que amá-los! Mas eu não consigo, porque eu tenho um CORAÇÃO DE MERDA! Pode ir, Josh. Não tô te impedindo. Vai passar a véspera de natal com a sua família. E eu vou passar com a minha família, na casa do Zack e da Ariel.
- Tudo bem. Mas eu vou levar as crianças.
- Isso quem decidirá serão elas.
Fomos para o quarto das crianças e as vimos brincando de montar um quebra-cabeça.
- Filhos - Josh disse e eles o olharam. - Vocês preferem passar o natal na casa da tia Ariel ou na casa da vovó?
- A vovó-guaxinim? - Ike perguntou.
Ele resolveu dar esse apelido à minha mãe, pois a primeira vez que a viram, ela estava usando um cachecol de guaxinim. Ike é fogo.
- Não - eu disse. - A outra vovó.
- A gente não tem outra vovó - Kene disse.
- Tem sim. Querem conhecê-la hoje? Ou preferem ir na casa da tia Ariel?
- Na casa da tia Ariel - Kainene disse e Kene concordou.
- E você, Ike? - Josh perguntou.
- Pai, eu não gosto nem da vovó-guaxinim, não vou gostar da outra vovó. Quero ir na casa da tia Ariel.
- Certeza? - Eles assentiram. - Ok. Pode ir, Josh, as crianças vão comigo.
- Beleza.
Ele saiu do quarto das crianças e eu o segui. Ele foi para o nosso quarto e eu fui também. Foda-se que nós brigamos, eu tenho que me arrumar! Vi que Josh tinha colocado a "jaqueta especial", que é uma jaqueta de couro fedida pra caralho, que nunca foi tocada por outras mãos a não ser as dele. A única vez que o vi usando isso foi quando ele me pediu em casamento. Então quer dizer que essa noite está sendo tão especial quanto a noite em que ele me pediu em casamento? Hum, interessante, muito interessante. Quer saber? Vou arrasar também. Coloquei tudo novo. E ainda fiz questão de tirar as etiquetas na frente dele e largá-las em cima da cama. E como eu previ, Josh deu aquela espiada nos preços. Ele quase teve um enfarto quando viu o preço da minha maravilinda calça skinny azul-escura de camurça. É camurça, meu bem. Coloquei também uma camisa social amarelinha com uns troços desenhados. Não tenho tempo pra ver o que é. E mocassins. Preciso dizer o quanto eu amo mocassins? Eles são muito confortáveis! E lindos!
- Você tá parecendo um motoboy - falei. - Quando voltar, não esquece da minha pizza, ok? Calabresa, por favor. - Ele me mandou o dedo do meio e foi embora. Pude ouvir o som da moto dele. Não falei? Motoboy. - CRIANÇAS. SE ARRUMEM LOGO.
- Papai - Kainene me chama. - Posso escolher minha roupa?
- Claro!
*** Ariel ***
- Ah, Deus. Que porra é essa? - Lucy perguntou, vendo pela janela que fica ao lado da porta.
- O que foi? - perguntei.
- Chad acabou de chegar com seus filhos. O Ike está vestido de Capitão América, a Kene está de... Ei! Ela tá de demônio?
- OI?!? - Grudei na janela pra ver. - Não, Lucy, ela tá de Mamãe Noel. E a Kainene tá de... O que é isso?
- Ela tá de princesa.
- Disso eu sei, Lucy. Mas por que ela está branca na cara?
- Efeito Michael Jackson? É isso que acontece quando um gay deixa seus filhos escolherem suas roupas. A criança vem de Demônio Noel.
Não aguentei e comecei a rir. Chad não percebeu que a gente tava na janela e passou reto, indo pra porta. Ele tocou a campainha e o Tom foi atender. Eu não conseguia cumprimentar Chad de tanto que estava rindo.
- Oi, migaaaaaaaaaaaa! Tá linda! Se eu roubar esse vestido, por quanto eu consigo vender?
Ele estava se referindo ao vestido verde claro que eu estava usando. Ele era cheio de pedras. Zack havia me ajudado a escolher. Às vezes, Zack tem mais bom gosto do que Chad Loens. É uma coisa muito estranha.
- Por nada, porque você não vai conseguir roubá-lo.
- Onde está o Josh? - Lucy perguntou.
- Ai, daqui a pouco eu conto. Só vou dar oi pra todo mundo e já falo com vocês duas. Ah, o Andy não chegou ainda. Nem o Owen. Legal.
Depois que ele cumprimentou todos (Zack, Tom, Théo, Ekena e as milhares de crianças da Lucy {zoando [tô zoando não]}), ele voltou.
- O que aconteceu pro Josh não estar aqui? - Lucy perguntou.
- A mãe dele ligou e perguntou se ele não queria passar o natal lá e tals... E aí ele quis ir e eu não quis.
- Por que? - eu perguntei.
- Ah, Ariel, a família dele nunca gostou de mim, e agora, do nada, quer me chamar pra passar o natal com eles? Até parece que eu iria!
Andy chegou com Melissa e Johanna quase ao mesmo tempo que Owen chegou com Anthony. Sentamos todos na sala de TV e ficamos conversando, falando da vida, do trabalho, das viagens... Depois de um tempo, nós jantamos. Depois, às 22:30 mais ou menos, nós fizemos nosso Amigo Secreto. Todos os anos, ao invés de cada um dar um presente para cada pessoa, você tira uma pessoa no Amigo Secreto e dá presente só pra ela. Criamos isso em um ano que teve uma crise muito foda.
Começou com Chad, que tirou o Owen e lhe deu um perfume; Owen tirou o Anthony e lhe deu uma guitarra; Anthony tirou o Théo e lhe deu uma touca; Théo tirou o Andy e lhe deu um relógio; Andy tirou o Ike e lhe deu um lego; o Ike tirou o Zack e lhe deu uma camisa. Agora era a vez do Zack.
- Então, é, no Amigo Secreto desse ano, eu tirei a melhor pessoa que eu podia ter tirado - Zack disse.
- Tomara que seja eu. Zack, você lembra do que eu pedi, né? Aquele perfume importado lá - Chad disse.
- Eu não te tirei, Chad. Então... Eu amo muito essa pessoa, mais que tudo no mundo...
- É a Ariel. Não gostei. Foi armado isso aí. Era pra ser eu! Como eu vou comprar essa porcaria de perfume? Não vou! Esperava ganhar de alguém, mas né!
- Acertou, Chad, é a Ariel. - Zack me entregou uma sacolinha azul... Tiffany! - Pra você, amor. - Ele se sentou do meu lado e me deu um selinho.
- Uma jóia? Ah, amor, não precisava, sério. - Lhe dei um beijo. - Te amo. Bom, o meu presente era pro Josh. É uma camisa. - Entreguei a sacola para o Chad.
- É, bom, o presente do Josh é pra você, Kai - Chad disse, entregando um presente pra Kainene.
- E o meu presente é pra Kene - ela disse.
Os presentes das duas eram bonecas. Kene tirou a Ekena e lhe deu uma saia preta... Ah, gente, chega. Eu sei que vocês não estão interessados nisso. A questão é que depois, alguns ficaram conversando, outros brincando... E eu percebi que o Chad estava sentado, mexendo no celular.
- Recebeu alguma mensagem do Josh? - perguntei, me sentando ao seu lado.
- Não. Parece que ele não tá nem aí.
- Chad, ainda dá tempo. Pega as crianças e vai pra casa dos pais do Josh. Qual é, é quase natal. Vai passar o natal sem o seu amor?
- Será que devo, amiga?
- Sim. Mas é óbvio que sim!
Ele se animou. Pegou as crianças e foi embora todo feliz. Não deu vinte minutos, tocaram a campainha.
- Chad, eu não acredito que... Josh?!?
- Oi. É... Posso entrar?
- Claro, mas... Cadê o Chad?
- Ué, como assim? - Ele fez uma cara de confuso. - Eu vim aqui justamente pra vê-lo! Ele não está?
- Não. Ele foi te ver... Vou ligar pra ele. - Peguei meu celular e disquei o número dele. Demorou um pouco, mas ele atendeu. Chorando. - Chad, o que foi?
- Ele não está. A mãe disse que foi pra um bar. Tem uns cinquenta mil bares nessa porcaria de cidade... Calma, Kene, tô falando no telefone... JÁ MANDEI PARAR, CARALHO.
- Vem pra cá, então. Não passe o natal sozinho.
Ele terá uma surpresa quando vir o Josh aqui! Escutei a parte do Josh da história também, e não dei razão pra nenhum dos dois. Sei lá, os dois estão certos, os dois estão errados... Ah, não sei.
Depois de mais um tempo, escuto o carro de Chad. Ele tocou a campainha e eu fui atender, mas o Josh me parou. Ah, entendi. Fui pro quintal, onde todo mundo estava.
*** Josh ***
Assim que Chad tocou a campainha pela segunda vez, eu abri a porta.
- Josh?
- Não, o Super-Homem. - Ele me abraçou.
- Por que está aqui?
- Não aguentei ficar lá, sabendo que minha família não estava junto comigo. Não quis passar o natal longe de vocês.
Fomos até o quintal também e logo começaram os fogos de artifício. Me virei pro Chad.
- Feliz natal - ele me disse.
- Feliz natal, amor. - Eu o beijei.