Cup of Tea

By shaneoli

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"Eu estava de volta. Aquela era minha vida mais uma vez. Eu havia tentado fugir, ser uma pessoa normal, mas f... More

Sinopse & Breve Explicações
{Segunda} - O Segundo Copo
{Terça} - De Filósofos a Pintores
{Terça} - Não ria
{Quarta} - Amizade em Pratos Quebrados
{Quarta} - Carona
{Quarta} - Velhos Hábitos
{Quarta} - Até Logo
{Quinta} - Surpresa!
{Quinta} - Nada de Chá
{Quinta} - Óbvio Demais para se Chamar Epifania
{Sexta} - 3 Dias
{Sexta} - Entrega Especial
{Sexta} - Uma Nova Reunião
{Sábado} - Vs.
{Sábado} - Bicicletas
{Domingo} - (?)
{O fim}
{Uma Segunda} - De Volta a Copos de Café

{Segunda} - Boa Noite

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By shaneoli

Dinheiro. Esse foi o assunto do qual falamos durante todo o tempo. Brunch, almoço, chá, jantar. Durante aquele dia me senti fazendo um trabalho de última hora para apresentar a um professor que já havia me pedido para entregar 5 anos atrás (acho que no final não era muito diferente disso).

Eu e David tínhamos um prazo. Eu iria assumir como CEO, ele como CFO. Tínhamos que mostrar no domingo nosso plano de ação para a empresa. Mostrar aos acionistas que eu não destruiria tudo quando minha tia me passasse o comando.

Eu sabia o que estava fazendo, havia sido criada para seguir esse caminho. Todas as aulas extras e horas de verão perdidas seguindo minha tia pela empresa haviam me ensinado a coordenar tudo aquilo. Só me restava convencer a todos de que eu ainda estava apta a lidar com milhões e duplicá-los.

Mais do que provar minhas habilidades, eu precisava provar as de David. Eu estava seguindo as condições do testamento, mas fiz algumas exigências antes. Pedi à minha tia para trabalhar com alguém jovem, alguém estivesse aberto ao novo e que pudesse amenizar um pouco a seriedade da empresa.

Eu estava apostando tudo em David. De acordo com a Sra. Brooks, ele foi o melhor de sua turma e se formou com honras. Seu currículo era impecável e cheio de cartas de recomendação anexadas. Qualquer empresa teria a sorte de trabalhar com ele, ainda assim ninguém o queria. David e suas festas marcavam a internet de forma que todos passaram a questionar sua credibilidade. Eu o estava dando uma chance de provar seu valor, de mostrar quem ele era de verdade (o que não estava me surpreendendo até aquele instante).

Minha preocupação era quem eu estava contratando, o garoto de Oxford bem recomendado com estrelinhas douradas, ou o garoto que só esperava a próxima chance para sair em mais dois anos percorrendo o mundo em festas.

Respirei fundo olhando para o céu, o dia ensolarado se perdera na noite cheia de estrelas. Não era nada como o céu de Londres.

Envolvi minhas mãos na xícara quente de chá enquanto escutava David falar e digitar. Meu medo não era que os outros acionistas não gostassem de nós, que achassem que éramos jovens e inexperientes. Não importava o que eles achavam, eu teria o controle da empresa. Eu, ironicamente, estava preocupada em não destruir todo o legado que meus pais deixaram.

Respirei fundo sentindo o aroma da canela no ar. Seria uma longa semana e eu estava presa naquela casa com David até o fim dela (Minha tia não nos queríamos andando por aí gerando especulações).

Tentei me lembrar do porquê eu estava fazendo isso. Sim, eu podia morar num apartamento minúsculo, continuar com meus sonhos de escrever e nunca me importar com o que pensavam de mim. Ao invés disso, eu voltei. Voltei para assumir uma empresa multimilionária, voltei para me preocupar em como minhas ações afetavam o mercado, voltei para um mundo do qual já havia fugido, voltei para um mundo o qual jurei nunca mais voltar.

– Está ficando tarde, acho que podíamos continuar amanhã – digo cobrindo minha boca quando o bocejo me escapa.

– Sim, claro – ele pressionou uma última tecla com intensidade antes de fechar o computador – Que horas você quer começar amanhã?

Eu o olhei sem ter ideia alguma, ou vontade. Era entediante, números e mais números voando na tela. Gostava mais de trabalhar no café, de me deparar, mesmo nos dias mais entediantes, com novidades, me divertir em observar senhorinhas resmungando da juventude transviada.

Tudo que queria era voltar correndo de volta para Londres e ser outra vez a garçonete invisível com a qual ninguém se importava.

– Então? – ele insistiu.

– Às 10? – respondi incerta.

– Por mim tudo bem. E, me desculpa, mais uma vez. Às vezes, eu sou um babaca.

– Às vezes, eu também sou. Acho que estamos quites.

David se levantou pegando suas coisas, mas voltou a se sentar.

– A gente estudou mesmo juntos?

– Por cinco anos. Até a quinta série. Você era muito popular por causa do seu irmão.

– É verdade! O seu motorista era o Johny P. – ele dizia abrindo um sorriso como se lembrasse de algo divertido.

– Você se lembra de mim por causa do meu motorista?

– Ele costumava dividir comigo as balas dele, mas eu lembro de você. A gente conversava enquanto você esperava o Johny – ele riu como se outra memória engraçada viesse a mente – Porque você saiu do colégio?

– Minha tia se divorciou naquela época, nós moramos na França por um tempo. Ela acabou se divorciando de novo e nós fomos para Itália quando ela achou outro marido, mas os casamentos não são para sempre com ela então voltamos para França com mais um divórcio quando eu estava no ensino médio, mas antes que eu pudesse me sentir em casa, ela me despachou para um internato na Noruega.

– Você fala norueguês?

– Aham, só não tem sido muito útil esses dias.

– Veja o lado bom, você não precisou viver na sombra do seu irmão nunca tendo seu mérito reconhecido.

Observei seu olhar entristecer, seu sorriso se desfez. Um novo David se apresentava a mim, um que tinha sentimentos e ressentimentos, um que guardava rancor. Não lembrava muito do irmão dele, mas lembro que sempre foram muito parecidos. Mesmo não sabendo como Patrick estava, agora um adulto, podia imaginar que se ainda fosse parecido com David.

David com seus cabelos amendoados e ar de bom garoto (ainda que não fosse a melhor forma de descrevê-lo). Seus olhos castanhos sempre pareciam felizes, menos quando falava de ser ofuscado pelo irmão.

Talvez as coisas tivessem sido diferentes se eu tivesse tido um irmão. Ele teria assumido o controle, me ofuscado por completo e tudo que eu precisaria fazer era ser uma socialite sem objetivos (não que isso soasse como algo que eu queria).

– Você pode me mostrar o meu quarto?

Ele me acordou do devaneio me fazendo sentir mal por não ter dito nada. Eu costumava saber o que dizer às pessoas, mas minha mente havia ficado em branco. Não queria dar a ele um conselho genérico de livro de autoajuda, então preferi ficar calada.

Levantei-me e caminhamos de volta para casa. Era uma noite quente e o som dos insetos eram um pouco irritantes.

Enquanto subíamos as escadas procurei pelo irmão de David na internet, o que não foi difícil de achar no instagram. Ele era o típico homem de negócios bem-sucedido e só de imaginar uma conversa com ele já ficava entediada. No entanto, ele era mais bonito que David, não muito mais, só o suficiente para o ofuscar em mais alguma coisa (porque não bastava a mulher linda e grávida do primeiro filho naquela foto de família feliz).

Guardei o celular de volta no bolso enquanto cruzávamos o salão de jantar.

– Como você não se perde por aqui? – ele andava ao meu lado olhando cada um dos detalhes.

Os candelabros e o grande lustre iluminavam a longa mesa de jantar que parecia infinita. A madeira escura dava ao cômodo o ar de antigo e os quadros com meus antepassados estranhos nos observavam com olhar de reprovação.

– Eu sei que é grande, mas você eventualmente se acostuma – Abri a porta que dava para a escada principal – Eu tenho um mapa que eu fiz aos cinco se você quiser posso fazer uma cópia.

– Você era boa em cartografia aos cinco?

– Não, mas eu gostava de esconder coisas pela casa fazer mapas do tesouro e encontrar elas. Eu sempre encontrava – sorri não tentando parecer feliz demais com a lembrança de minhas brincadeiras solitárias.

– Eu não sei se isso é bonitinho ou triste - ele disse.

– Eu cresci vindo aqui nas férias, eu era uma criança com um castelo, não é triste. 

– Então porque você abandonou tudo?

Eu parei na base da escada sentindo uma pontada no coração pela pergunta.

– No início, eu só queria provar para minha tia que eu não precisava dela. Eu estava cansada das pessoas, de como todos esperavam que eu seguisse cegamente o livro de instruções que meus pais deixaram. Eu queria ser mais do que uma órfã seguindo um caminho no qual eu sequer podia admirar à vista.

Voltei a subir as escadas.

– Eu não tive esse problema – disse ele me seguindo – Meu irmão lidou com todas as expectativas. Meus pais só queriam que eu não os envergonhassem.

– Mas agora você vai ser o meu CFO. Você pode esfregar na cara do seu irmão.

Ele riu como se realmente fosse algo que pretendia fazer.

– Você deveria convidar ele no domingo. Depois da reunião, minha tia planejou uma festa.

– Talvez... Agora me diz, porque garçonete?

– Eu podia observar e não ser vista. E me dava tempo livre suficiente – senti a nostalgia me tomando o cheiro do café voltava a tomar minha mente.

– Como você conseguiu viver assim depois que você teve tudo? – ele perguntava intrigado como se eu fosse um caso digno de estudos.

– Não foi fácil, mas depois que me disseram que lamentar não ajudaria em nada, eu meio que parei para ver as coisas dessa forma.

– Como assim?

– Minha maior preocupação, antes de ir embora, era que lugar eu ia viajar nas férias. Eu aprendi, de uma forma nada suave, que eu o mundo não girava a minha volta, que pessoas tem nomes e uma vida por si só. Eu não tive uma babá que me amou como uma mãe, ou empregados que brincavam comigo na cozinha. Eu sequer sabia os nomes deles, muito porque a gente se mudou bastante.

– E agora você é uma pessoa melhor que vai salvar o mundo? – ele perguntava sem o sarcasmo que a frase sugeria.

– Não, eu estou tendo uma recaída agora que eu voltei. Talvez, até o fim da semana, eu vou ser a antiga Aurora e nós vamos pegar o avião da minha tia para ir para uma festa em Ibiza – disse abrindo a porta do quarto para ele.

– Uhn... – ele sorriu com a ideia – Talvez, até o fim da semana eu sabia como chegar ao meu quarto.

David entrou no quarto olhando sua bagagem alinhada no canto. Aquele era o melhor quarto de visitas, onde eu costumava brincar quando pequena. Costumava imaginar que ali era um reino misterioso cheio de perigos e saltar nos móveis evitando o chão de lava.

– Nós vemos amanhã – caminhei para trás saindo do quarto.

– Eu me lembrava de você – David disse me fazendo parar antes que eu pudesse sair – Na verdade, Patrick disse que te viu trabalhando no Blue Cup. Eu posso ter ido até lá com um propósito.

–Quanto ao drama mais cedo. Você fingiu que não me conhecia e me insultou com algum propósito? – a ideia me parecia ridícula.

– Me desculpa, eu disse: "às vezes eu sou um babaca". Eu lembrava de você do colégio, mas eu não sabia que a Sra. Brooks era sua tia, não liguei que você é uma Ashworth. Eu não teria feito aquele comentário. Não que isso seja uma justificativa.

– Porque você foi no café? Pra ver como a garota rica se deu mal? – eu havia perdido minha paciência com ele.

– Não – ele dizia come se eu o tivesse ofendido – Eu só queria ver você. Patrick disse: "Você precisa ver como ela ficou. Muito gostosaaa." – ele engrossava a voz teoricamente imitando o irmão – Daí eu estava passando por perto e decidi ir ao café. Você não me reconheceu, então eu decidi ir embora.

Eu não respondi. Fiquei em silêncio o encarando. No dia em que ele foi ao café, nós trocamos algumas palavras e quando ele saiu eu fui até a porta com intenção de segui-lo, dizer que me lembrava dele. Fiquei grata por não ter ido.

– Então... você foi no café achando que se nós revivêssemos os velhos tempos, eu dormiria com você?

– É... não soava tão ruim assim na minha mente.

– E como soava? – pergunto indignada.

– Eu vou no café ver a garota que eu gostava no colégio e talvez eu tenha uma chance de levar ela pra cama. Com todo respeito considerando que você é minha chefe, agora.

– Você tá certo – eu o olhei séria falando com ironia – Na sua cabeça soa bem melhor. Eu vou dormir.

– Boa noite – escutei David dizer depois de fechar a porta a porta atrás de mim.

Preparei para andar em direção ao meu quarto, mas parei. Virei de volta para o quarto dele e abri de novo a porta o vendo ainda na mesma posição que o deixara.

– Eu sempre achei que o Patrick era idiota se serve de consolo.

Ele segurou o sorriso.

– Eu sempre achei você a mais legal – ele retrucou.

– Boa noite.

Andei pelo longo corredor passando por várias portas antes de chegar ao meu quarto. Me joguei na cama exausta e, ao mesmo tempo, me sentindo ridícula por ter deixado as palavras dele me afetarem. Coloquei as mãos em minhas bochechas comprimindo meu sorriso bobo.

Afundei o rosto no travesseiro abafando meu grunhido frustrado. Eu era melhor que isso.

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