Cup of Tea

By shaneoli

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"Eu estava de volta. Aquela era minha vida mais uma vez. Eu havia tentado fugir, ser uma pessoa normal, mas f... More

Sinopse & Breve Explicações
{Segunda} - Boa Noite
{Terça} - De Filósofos a Pintores
{Terça} - Não ria
{Quarta} - Amizade em Pratos Quebrados
{Quarta} - Carona
{Quarta} - Velhos Hábitos
{Quarta} - Até Logo
{Quinta} - Surpresa!
{Quinta} - Nada de Chá
{Quinta} - Óbvio Demais para se Chamar Epifania
{Sexta} - 3 Dias
{Sexta} - Entrega Especial
{Sexta} - Uma Nova Reunião
{Sábado} - Vs.
{Sábado} - Bicicletas
{Domingo} - (?)
{O fim}
{Uma Segunda} - De Volta a Copos de Café

{Segunda} - O Segundo Copo

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By shaneoli

O vapor quente subia dançando, trazia o doce aroma do chá até mim. Era um cheiro que retomava a minha infância. Eu sempre odiei chá, mas minha tia me ensinou a gostar, assim como sushi, ou caviar. Eu precisava ter um "paladar refinado", ela costumava dizer.

Bebi um gole do sabor que ainda me era estranho, mas aprendi a apreciar.

O dia estava ensolarado, sem nuvens, o que ainda me deixava um pouco incômoda. O céu cinzento de Londres começava a fazer falta.

Coloquei os óculos escuros que estavam sobre a mesa olhando para o enorme jardim que me rodeava. Eu havia ida ali diversas vezes, corrido por todos os hectares daquela casa de campo que meus pais tinham tanto apreço. Nada tinha sido modificado desde que eles morreram. As flores eram as mesmas, as árvores, a mesa onde tomavam o chá das cinco e discutiam sobre trabalho.

Me levantei dando alguns passos para a frente. Olhei para o infinito que seguia o jardim até meu olhar tocar a grande escadaria subia para a sacada da casa. A sacada, por si só, era maior do que meu antigo apartamento. Eu poderia ter minha própria pequena monarquia e criar uma corte naquele lugar. Não pelo tamanho, mas pelo excesso de quartos e empregados, ainda que meus pais chamassem aquele lugar de casa de campo. Eu sempre o vira como um pequeno castelo.

Eu estava de volta. Aquela era minha vida mais uma vez. Eu havia tentado fugir, ser uma pessoa normal, mas fui puxada de volta para aquela vida onde tudo era exagerado e nunca se sabe as verdadeiras intenções de pessoa alguma. Eu tinha me transformado numa pessoa melhor, mas ao voltar para aquele lugar, eu não sabia por quanto tempo ainda conseguiria me manter assim.

Peguei o bule enchendo meu copo mais uma vez, de longe eu podia ver um garoto descer as escadas até o jardim. Ele estava dentro de um blazer azul escuro e arrumado no ponto certo entre trabalho e casual.

Eu o conhecia, havíamos ido à escola juntos, mas não fomos grandes amigos. O encontrei certa vez, depois de anos, no café onde trabalhei em Londres. Ele não me reconheceu, e nossa conversa foi bem curta, mas, por alguma razão, mexera comigo.

Ele se aproximou devagar e quando finalmente estava a minha frente disse:

– Você era a garçonete? – foram as primeiras palavras de David para mim.

Desta vez, ele havia se lembrado. Coloquei de volta o bule sobre a mesa e o olhei em dúvida. Seu olhar tinha deboche, desdém quase. Ele apoiou uma mão sobre a mesa e se inclinou em minha direção:

– O que você tá fazendo aqui? – agora ele sussurrava como se fosse um segredo que ninguém pudesse descobrir – Você tá trabalhando?

Baixei o olhar reparando em mim mesma. Eu estava vestida com uma blusa branca e um jeans, meu cabelo estava preso num coque pelo costume de trabalhar com comida. Quis acreditar que eram minhas roupas que o fizeram concluir que eu estava trabalhando (ou talvez, por eu estar de pé servindo o chá (para mim mesma)). 

Contudo, foi um pouco difícil para mim acreditar que aquilo era só um mal-entendido. Ele queria me ofender, mas não era pessoal, ele não queria ofender a mim, ele ofenderia qualquer um que não estivesse nadando em dinheiro como ele. Eu não me envergonhava de ter sido garçonete, me orgulhava, na verdade, o que me incomodava era o tom que ele usou e usaria com qualquer outro.

– Esse lugar vai ser meu – eu sussurrei de volta continuando nossa conversa secreta.

– Você vai se casar com o dono da casa?

Meu olhar o fuzilou. Aquela havia sido a gota d'água, não seria mais insultada em minha própria casa.

– Vai embora – disse apontando em direção a ponta de onde ele viera – Sai, agora! – gritei irritada.

Ele me olhou confuso como seu eu não tivesse autoridade para fazer algo assim.

– Aurora! Eu te ensinei a ter bons modos – minha tia se aproximava da mesa em um de seus modelitos Chanel – Não seja mal-educada com nosso convidado.

– Você é a filha dos Ashworth? Porque você tava trabalhando de garçonete? – as palavras de David soaram tanto preocupadas quanto surpresas.

– Tempos passados – minha tia disse antes que pudesse me defender, ou começar uma briga – Ela esteve numa fase de revolta adolescente, mas já voltou ao normal.

– Éh! – soei exageradamente feliz cheia de deboche – Agora, eu posso ser mais uma vez uma garota mimada que compra seus amigos. Quanto você vai cobrar David? Podemos começar com um passeio no meu iate ou acha melhor irmos a Paris fazer compras primeiro? – as palavras escaparam minha boca, quando percebi o arrependimento tomou minha face, conseguia ver como eu estava sendo terrível. Esse lugar não me fazia bem.

– Aurora! – ela reprimia meu comentário.

– Foi você quem disse que eu podia agir como uma garota mimada, se voltasse a ser uma – minha fúria se reacendia, não podia evitar minha vontade de irritá-la e me arrepender no instante seguinte pelo comportamento deplorável.

– Você não é mais uma criança, pare de agir como uma. David vai assumir como CFO como você pediu. Eu estou te dando alguém jovem e como uma mente aberta para você trabalhar.

– Ele vai trabalhar pra mim? – olhei para ele vendo como suas expressões mudaram – O quão arrependido você está dos últimos segundos?

David mordeu o lábio desejando nunca ter aberto a boca.

– O que aconteceu nos últimos segundos? – perguntou minha tia.

– Nada, Sra. Brooks – eu dizia ainda olhando para ele – Nós estudando na mesma escola, eu nunca esperei que ele tratasse bem alguém que ele acreditasse estar abaixo da realeza.

Sim, naquele momento eu já havia percebido que estava agindo como uma idiota, mas não conseguia evitar. Aquele lugar tinha um efeito sobre mim, como uma droga que eu não me cansava de usar. Havia tanta raiva dentro de mim e eu só queria descontá-la em quem quer que fosse.

– Me desculpa, eu não pretendia te desrespeitar – ele bufou irritado como se desculpas não lhe soassem naturais.

– Não, você não queria me desrespeitar, só a garçonete.

Sim, mais uma vez eu tentei me segurar, mas eu havia levado aquilo para o lado pessoal.

– Os dois! Chega dessa besteira, vocês são adultos – ela colocou várias pastas sobre a mesa do jardim – Relatórios de lucros, despesas, tudo que precisam saber sobre a empresa. Parem de brigar e comecem a trabalhar. Aurora – ela me fitou – Você quer tudo o que foi dos seus pais para continuar a ser essa pessoa desagradável? Então, siga as exigências do testamento. O David é o melhor que você vai encontrar – ela então virou-se para ele e continuou – David, você sabe que precisa do trabalho, então não siga o exemplo dela.

Minha tia saiu nos deixando a sós. Tia Brooks podia até ser horrível na maior parte do tempo, mas estava certa naquele momento.

O testamento dizia que eu precisava cuidar da empresa dos meus pais por 15 anos para poder herdar tudo. Enquanto eu estivesse na empresa, tudo era meu, se estivesse fora, eu não tinha nada. Essa era a medida de quanto meus pais me amaram. Acho que toda a razão pelo qual decidiram me ter foi porque precisavam de alguém para carregar o legado da família.

Nos entreolharmos envergonhados, ao lado da Sra. Brooks éramos crianças implicantes, terríveis e mimadas crianças implicantes. Assistimos minha tia voltar para a casa e sentamos a mesa em silêncio.

– Porque você precisa do emprego? – Perguntei sem olhá-lo ainda envergonhada.

– Eu terminei a faculdade há dois anos e meus pais acreditam que depois desse tempo, eu já deveria estar me virando sozinho. Então, eles me cortaram como um incentivo. Tough love, se é que entende.

– Eu não entendo. Meus pais morreram quando eu tinha 7 anos. Não precisa me dar seus pêsames – disse ao ver seu olhar mudar – O que você tem feito nesses dois anos?

– Festas? – ele dizia não querendo se gabar com a ideia.

– Por isso você vive quintas como se fossem quartas... – disse mencionando o que era uma piada interna.

– Exato. Você acha que agora os dias da semana vão fazer alguma diferença pra mim? – ele dizia brincando de volta.

– Provavelmente não. Você acabou de conseguir um emprego que não acredita em fins de semana.

– Então, eu estava certo – ele sorriu – Vamos começar a fazer dinheiro?

– Claro, vamos começar.

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