Infected

By groupinfected

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Vencedor The Wattys 2016, na categoria "Inovação". #4 em Aventura (21/01/2017) SAGA INFECTED - LIVRO I Nu... More

Recado do Group Infected para você
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Um (novo!) convite do Group Infected para você
Capítulo XIII
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Epílogo
Agradecimentos
No próximo livro...
Aguenta Coração!
É amanhã! (e não é pegadinha de 1º de abril)
Wanted no ar!
Todo nosso amor
5 anos de Infected com novidades!
Antes tarde do que... bem, do que mais tarde
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Capítulo XIV

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By groupinfected

Anippe Mahlab

Passo as mãos novamente pela pele dos meus antebraços, sentindo o frio da noite me arrepiar. Não importa quanto frio eu sinta, não é seguro nem inteligente deixar a fogueira acesa aqui agora, já que só eu estou em condições de lutar, e não seria nada bom chamar a atenção dos rebeldes agora.

Acendo a última das pequenas lâmpadas que o piloto conseguiu para mim de tão bom grado. São quatro diminutas lâmpadas elétricas recarregáveis, com bateria que suporta até uma semana de funcionamento. Arrumo-as cuidadosamente ao redor da clareira onde nossas barracas estão armadas, e cubro-as com tecido, para que a luz seja suficiente apenas para não me deixar totalmente cega nesse breu.

Desamarrei o refém da árvore e o coloquei para deitar num pequeno colchão inflável que me pertence, e também lhe dei meu cobertor. Encostada numa árvore, observo o pobre homem. Ele está no meu campo de visão, no local mais iluminado daqui, e preso por um pé na árvore mais próxima; assim, mesmo que tente, o sujeito do nome complicado não vai fugir. Mas o pobre merece ao menos ter uma noite de sono decente.

Me sento no chão de arco em punho e fico montando guarda, enquanto o resto do pessoal foi à procura de Bernard.

Exceto Akira.

Assumo que estar ao lado dele me causa emoções conflitantes. Eu o odeio, sem dúvida nenhuma. E tudo que ele faz me irrita. Até seu jeito charmoso de andar, de sorrir e de ajeitar os cabelos lisos usando apenas dois dedos.

Não que eu tenha reparado nele.

É claro que não.

O japonês está sentado relativamente perto de mim, e mantém os pequenos olhos fixos na vegetação que nos cerca. Embora eu tenha insistido que ele fosse dormir e me deixasse montando guarda sozinha, ele teimosamente discordou, e eu acabei desistindo de tentar convencê-lo. Engulo em seco levemente, perdida num desconforto sem fim.

Olho de relance (mais uma vez) para Akira, e vejo que seu rosto se franze de dor. Dirijo o olhar à sua perna, e constato que seu ferimento voltou a sangrar.

Sem dizer nada, entro em uma das cabanas e pego a bolsinha de primeiros socorros que montei.

Sento-me ao seu lado. O silêncio parece denso e pesado, como se fosse capaz de nos esmagar a qualquer momento. Não há sons de insetos, de animais noturnos caçando, ou nenhum sinal da vida que provavelmente enchia essas florestas à alguns séculos atrás. No lugar do ruído de vida, agora só há uma quietude mórbida.

Ponho um pouco da pomada coagulante na lesão, e em poucos segundos, a hemorragia para. Estranhamente, sua pele parece quente em contato com meus dedos.

Limpo o ferimento com um antisséptico, o que arranca um suspiro de dor dos lábios de Akira. Seu peito se move rapidamente, e alguns fios do seu cabelo se espalham pela sua testa, por causa da brisa gelada que nos açoita. Uso um pouco de gaze e esparadrapo e cubro o ferimento.

- Belo trabalho. - Ele diz, num tom sarcástico, como se tivesse sido obrigado a dizer aquilo.

O som de sua voz me assusta, por interromper o silêncio puro da noite. Sinto que seu elogio está carregado de algum sentimento oculto. Me lembro que ele está assim desde que fui jogar charme para o piloto, então decido provocar:

- Você está falando do curativo ou do trabalho de convencer o piloto? Por que eu sei que fiz muito bem as duas coisas - digo, olhando nos seus olhos.

- A sua modéstia me encanta. - Akira revira os olhos, e olha para o curativo na perna. - Falo de ambos.

Faço uma pequena pausa antes de responder, desejando ardentemente a volta do silêncio mórbido de alguns minutos atrás. Coloco os itens de primeiros socorros na sacolinha de volta, e murmuro:

- A sua discrição também me encanta, tentando disfarçar enquanto olha para meu decote neste exato momento.

Ele parece se surpreender pelo fato de eu ter notado, e arregala levemente os pequenos olhos. Em uma fração de segundo, sua expressão natural de escárnio retoma seu lugar, e ele diz, com um sorriso de canto de boca:

- Não pareceu se importar com isso quando foi falar com o piloto. Deveria fechar os botões. - Ele olha para o meu decote descaradamente, e pisca para mim. - Ou deixá-los assim mesmo. Estão ótimos.

Balanço a cabeça, e sorrio com escárnio. Típico. Faço menção de fechar mesmo os primeiros botões da minha camisa, mas não o faço. É muito desaforo. Endureço a expressão facial, erguendo uma sobrancelha e falando baixo:

- Já notou quanto os homens são estúpidos? Sempre acham que estão à nossa frente, que nos enganam, que nos dominam, que nos logram. Mas só nos basta saber usar o que temos, e vocês comem na nossa mão feito cachorrinhos.

- Talvez o cachorro se deixe alimentar pelo simples prazer da saciedade. Não pelo fato de ter fome.

- Isso soou baixo até pra você, conquistador de prostitutas de cassino e ruivas falsas. - cuspo.

- Eu adoro a capacidade humana de explanar diversas vertentes à julgar por ações esporádicas. Não te culpo. Mas também fico aqui perguntando, quantos homens você já fez "comerem na sua mão" usando o que tem?

Ergo novamente a sobrancelha. Por que ele se importa com isso?

- Provavelmente a mesma quantidade de pessoas nas quais você já passou a perna num cassino. Afinal, nós dois sabemos muito bem: quando se trata de dinheiro, vale tudo.

Ele me olha de viés. No escuro, seus olhos roxos parecem acender. Desejo ter sua habilidade, e poder ver, pelo menos uma única vez, o que se passa dentro da cabeça dele.

- Imagino que foram muitas, então. - ele diz, torcendo as mãos. - Mas cada um se vira como pode. Dinheiro não cai do céu.

Seu olhar vago é carregado de nostalgia. Sentado aqui ao meu lado, com o uniforme azul escuro como o meu, pela primeira vez não o vejo como um ladrãozinho conquistador. Vejo-o como um alguém que deve ter um passado doloroso, assim como o meu. Percebo que não preciso de telepatia para ver o que se passa na sua cabeça; preciso de sensibilidade para sentir o que está em seu coração.

Assim, pela primeira vez, sorrio para ele. Não um sorriso carregado de sarcasmo e malícia, mas um sorriso de condolência pela nossa história triste.

Akira me olha, surpreso. Timidamente, ele retribui o sorriso, sem a sedução forçada que carrega seus atos.

- Até que você não é de todo detestável. - digo. No mesmo instante, me arrependo do que disse.

Akira cai na gargalhada, até ficar com os olhos úmidos. Nunca o vi rir desse jeito, então fico furiosa.

Foi um elogio!

Fico carrancuda e desvio o olhar.

- E quem disse que eu sou? - ele pergunta, quando para de rir.

- O bom senso! E já voltei a acreditar nele.

Meu coração bate acelerado. As emoções conflitantes retornam, e desejo (não pela primeira vez) sair correndo daqui. Essa atração esquisita vai me causar problemas, sempre causam.

Ele passa a mãos nos cabelos, e se sobressalta como se tivesse ouvido algo. Olho ao redor, procurando algo na mata.

Sou eu! Me dou conta. Ele está ouvindo a mim. Lendo minha mente. Eu posso sentir.

- Eu posso não saber, exatamente, o que vejo. Mas eu sinto. - Ele faz uma pausa, e se inclina na minha direção. Mantenho uma expressão séria e indiferente, enquanto ele continua: - Aquilo que acreditamos ser só mascara o que existe em nós. As coisas que ansiamos ter em nós mesmos exala em nossos sentimentos. Não guarde o que sente, Anippe.

Recuo, com a boca levemente aberta. Meu rosto queima! Há quanto tempo um homem não me causa esse rubor?

Me preparo para responder, quando uma lâmina aparece no pescoço de Akira.

***

Antes que possa calcular as consequências dos meus atos, já estou de pé, com o arco armado e a flecha apontada para a cabeça da pessoa que segura uma lâmina perto no pescoço de Akira. Mal consigo vê-la, até que ela chuta a base de uma das lâmpadas e o tecido que a forrava cai. A luz da pequena lâmpada me proporciona a visão do rosto da invasora.

É uma mulher, na faixa de trinta anos. Seus olhos e cabelos são escuros, e ela tem uma cicatriz de corte no rosto.

- Pzcherwodovsky. - ela diz.

- Me xingou de quê? - pergunto.

Anippe!

A voz do Akira?

- Não seja ridícula. Meu cunhado. - a mulher olha ao redor, e vê o tal cara do nome difícil algemado pelo pé na alça da raiz de uma árvore. Então, endurece o semblante pra mim, e ordena: - Solte-o.

- Ou o que?

- Ou eu mato seu amiguinho aqui.

Ela aperta a lâmina contra a pele de Akira, e ele me olha, suplicante.

Anippe!

Ouço novamente na minha mente. Franzo a testa para ele, e abaixo o arco.

- Ah sim. Seria um favor que você faria pra mim. Poderíamos até ser amigas se você fizesse isso. Sou Anippe. Qual o seu nome?

Ela me olha, confusa.

- É o quê?

Focalizo Akira, que aperta os lábios, quando ouço novamente sua voz na minha cabeça:

Anippe! Pensa que está falando comigo. Me responde.

- Seu nome. - digo, erguendo as sobrancelhas.

Espero que valha meu tempo. O que é?, mentalizo em direção a ele.

Vejo um leve esboço de sorriso no rosto dele, quando ouço um suspiro profundo atrás de mim. O homem acorda, e esfrega os olhos, murmurando:

- Alycia?

- Estou avisando. - Alycia diz, com a voz grave. - Eu o mato antes que você possa armar seu arco.

- Sinceramente Alycia, não me importo com o que você faz com ele. Só comigo que eu me importo, com certeza.

- Olhe, eu não estou aqui para conversar. Solte-o agora, ou mato seu colega e tiro a chave das algemas á força de você. Última chance.

Vamos lá, Ani, você com certeza quer algumas coisas comigo, mas me ver morto com certeza não é uma delas, Akira fala na minha cabeça. Meu sangue ferve.

Esteja certo que a única razão para eu não te deixar morrer agora é a Aisha, penso em resposta.

Penduro o arco no ombro, sem tirar os olhos da mulher com olhos de serpente. Tiro lentamente a chave das algemas do pequeno bolso que há na altura do busto na minha camisa.

- Ok, não precisamos ficar tensas, não é? - dou dois pequenos passos para trás, na direção do homem deitado, e sacudo as chaves no ar.

- Deixe de brincadeira, garota. - Alycia cospe.

Paro de caminhar. Assim que der, corra para perto da barraca maior, penso para Akira. Se sua cabeça estiver no meu caminho, não me responsabilizo.

- Garota não. - sorrio, balançando a cabeça. - Mulher.

Me concentro em me camuflar na noite, e percebo que desapareci quando vejo o olhar perdido de Pzcher-sei lá o quê. Tiro meu arco das costas e ponho uma flecha na linha, ao mesmo tempo que Alycia vacila com a faca no pescoço do Akira. Ele, rapidamente, empurra o braço dela para longe de si e dá uma pancada na mão que segura a faca, fazendo com que a arma caia no chão. Akira tenta seguir minha instrução e faz uma tentativa de correr para a barraca, enquanto Alycia tenta recuperar a faca. No meio do caminho, porém, ele vacila e solta um gemido de dor, segurando a perna baleada.

Ele fechou minha linha de tiro, e não tenho mais do que alguns segundos antes que Alycia recupere sua lâmina. Amaldiçoo em pensamento, por que se eu der um passo para o lado, denunciarei minha localização. Há uma pilha de folhas secas ao meu lado, que a Aisha juntou para alimentar a fogueira, e não posso pisar nelas.

- David! - Alycia grita. Ela empunha a faca, e vai na direção de Akira, murmurando: - Você está morto, rapaz. Vou sangrar você até a garota aparecer.

A mulher avança devagar, saboreando o momento. Akira mantém a cabeça erguida, e vejo que ele realmente acha que eu fugi e o deixei para morrer.

Puxo a flecha, e sinto a linha fria do arco em contato com meu rosto. Lembro do meu pai falando comigo: "Anippe, sinta a presa." Expiro. Solto a flecha.

Atirei no tempo certo.

A flecha se crava na mão que segura a faca, e Alycia dá um grito de susto e de dor. O refém começa a gritar:

- David! A Alycia está ferida! David!

Me arrependo instantaneamente de não ter colocado uma mordaça naquele sujeito. Recupero minha visibilidade e caminho na direção de Alycia, que parece tentar decidir se tira a flecha da mão ou não.

- Eu garanto a você: a próxima vai ser no seu coração. Saia de perto dele.

A mulher recua, tremendo. De repente, os pelos da minha nuca se eriçam, e Akira grita:

- Atrás de você!

Me abaixo, quando uma pequena lâmina voa acima de mim. Giro o corpo, e me deparo com meia dúzia de rebeldes, todos armados.

Ok, penso para Akira. Contra esses aqui eu não vou me meter não.

Não esperava que você fizesse isso, ele me diz em resposta.

- David! - Alycia grita para um homem corpulento, que usa um chapéu surrado. - Ele está ali!

O tal do David olha de relance para o nosso refém, e estende a mão para mim.

- A chave. Não vou pedir de novo.

, a voz de Akira ressoa na minha mente. Esse cara vai te matar se você não der.

Coloco o arco no ombro, e retiro a chave do bolso. Dou um sorrisinho para ele, que não retribui, e solto a chave na palma da sua mão.

David entrega a chave para um adolescente, que deduzo ser seu filho, pela semelhança.

- Diego, solte seu tio.

O garoto corre até o cara do nome difícil, e o solta.

- Agora... - David murmura para mim, apontando o revólver para a minha cabeça - eu vou te mostrar o que acontece com quem machuca minha família.

Sophia Medeiros

Encontramos Bernard. Estou muito feliz em vê-lo, o abraço forte e lhe dou meu melhor sorriso, e ele me retribui de forma tímida. Malika lhe dirige um pequeno sorriso e Vladmir apenas lhe lança um olhar de preocupação, mas logo volta a olhar para frente, e mesmo com pequenas demonstrações, sei que estão felizes por ele estar bem.

- Melhor voltarmos. Anippe e Akira estão sozinhos, podem acabar se matando. - diz Malika.

Concordamos e seguimos de volta. Bernard ficou surpreso por termos um cachorro ao nosso lado, e enquanto andamos de volta para o acampamento, Aisha conta como o encontrou, e ele nos conta como passou as últimas horas :

- Parecia um vilarejo, mas não tive muito tempo para observar. Eles são espertos, já devem estar perto de nós. Temos que ter cuidado, porque eles devem ir buscar o homem que capturamos.

Nos apressamos mais para chegar e, quando estamos perto, ouvimos vozes e ruídos.

Droga, já chegaram.

Em passos lentos, nos aproximamos.

Vejo um homem com uma arma apontada para a cabeça de Anippe e dois homens segurando os braços de Akira, que tenta ao máximo não demonstrar dor, mas seu rosto denuncia que está prestes a desabar. Alguns homens liderados por uma mulher com um ferimento profundo na mão estão investigando nossas coisas, e nosso prisioneiro, que agora está solto, de repente faz um barulho muito alto, como um grito de dor horrível, e todos olham em sua direção, para ver, provavelmente, a cena mais grotesca de suas vidas. Ele ajoelha e começa a cuspir sangue, não parece acabar nunca, e todos estão atônitos. Ele engasga, cai para o lado, e se faz silêncio.

Estão todos imóveis. Sabemos o que aconteceu: ele devia ter por volta de quarenta anos e, nas condições de hoje, podemos dizer que viveu muito.

Relutante, Vladmir sussurra:

- Vamos cercar a clareira, são apenas sete agora, podemos dar conta.

Nos afastamos uns dos outros e nos olhamos. Todos tem medo e expectativa em seus rostos. Vladmir acena e todos entramos na clareira.

Ao nos ver, o homem que está com a arma dispara em nossa direção, mas Vladmir faz as balas ficarem pesadas e caírem inofensivas no chão, e faz o mesmo com a arma do homem que nos encara surpreso, assim como todo o resto deles. Aproveitamos a surpresa para atacar. Disparo minha arma na direção dos homens que seguram Akira. Acerto o braço de um, e erro o outro, mas isso já ajuda Akira, que desfere um soco no outro homem com seu braço livre e, com um movimento rápido, pega sua katana e perfura a perna do mesmo, que cai no chão.

Faço cerca de três clones. Alguns homens vão na direção deles, e um tem uma arma. Ele dispara e acerta meu braço, minha visão fica turva, meus clones se desfazem, a dor percorre meu corpo e só consigo disparar mais um tiro, que não acerta nada. Malika acerta sua lança nele, que cai. Ela parece apavorada, mas mesmo assim corre em sua direção e tira a arma de suas mãos, acertando outro deles. Aisha corre na direção de Akira, que luta contra um deles, e joga sua faca, que se aloja na perna do homem, que perde o equilíbrio e Akira acaba com ele.

Vejo Anippe com uma pequena faca lutando contra uma mulher. Elas parecem inimigas mortais de muito tempo, e o ódio entre elas é quase palpável. Bernard corre na direção do homem corpulento que carregava a arma, pois eles tem contas a acertar.

Enquanto brigam, o homem parece não se importar com os golpes que leva. Apenas encara o vazio e tenta acertar Bernard. Vladmir dispara um tiro em sua perna, ele se deixa cair e não se movimenta. Todos nos aproximamos, exceto Anippe, que ainda luta com a mulher. Elas não parecem perceber o que se passa ao redor.

Fazemos um círculo ao redor do homem, que não esboça nenhuma reação. O silêncio é constrangedor, e então ele fala:

- O que estão esperando? Me matem logo. Já vi meu irmão, meu filho e meus amigos partirem, não quero ver minha mulher também.

O peso de suas palavras atinge a todos: estamos matando pessoas. Claro que elas estão fazendo algo errado, mas são pessoas com famílias. Abaixamos as armas sem saber o que fazer e olhamos uns para os outros, até que Akira, devagar, pega a arma que pertencia ao homem. Ela já está em seu peso normal e, com o olhar amedrontado e triste, ele dispara.

O silêncio nos perturba. Anippe consegue matar a mulher com uma facada e vem até nós, olhando ao redor. Estamos sentados no meio de corpos, pessoas que eram amigos e tinham uma comunidade, se defendiam com o que podiam, e tudo isso para morrer no final. Aisha levanta e faz algo para melhorar o ferimento na perna de Akira, e logo vem olhar o meu braço. Não presto atenção em seus cuidados, pois estou pensando.

Eu tinha uma vida triste no orfanato: não tinha amigos, passava o dia todo na biblioteca, pensando em como seria a vida fora dos portões e se meus pais estavam em algum lugar, lá fora. Ao sair de lá, pensei que as coisas iriam mudar, que eu talvez fosse ajudar a organização a fazer algo e em troca eles poderiam me dizer mais sobre minha família, mas nunca passou pela minha cabeça que eu teria que matar pessoas, e conviver com outras que eu nunca vi.

Um barulho muito alto: ficamos de pé e vemos o jato pousar. Vamos em sua direção, mas antes de entrar, ouvimos um latido, olhamos para trás e lá está ele, Carl. Ele vem em nossa direção, e não faço ideia de onde ele esteve enquanto tudo aconteceu. Aisha consegue abrir um pequeno sorriso quando ele pula em seu colo.

Após pedirmos muito, deixaram ele vir conosco. Nos acomodamos e partimos de volta, deixando para trás a morte e levando conosco a confusão.



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