O Acordo Perfeito

By Mamoora

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Katherine Blake, 22 anos de idade, de uma família de nome reconhecido por muitos, Katherine sempre pode ter t... More

Prólogo
Capítulo 2

Capítulo 1

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By Mamoora

A verdade é sempre achamos que temos mais tempo, que tudo bem adiar um jantar com amigos pois poderemos remarcar para o mês que vem. Uma visita aos pais que poderá ser remarcada para outra semana ou outro mês pois ainda temos muito tempo. Somos jovens e com uma vida toda pela frente, então que mal pode haver?

Eu sempre pensei que tinha todo o tempo do mundo, sempre achei que apesar dos pesares teria o apoio e consolo de meus pais, que jamais me veria sozinha. Mas cá estou, vendo todo o tempo que imaginei que tivesse escorregando entre meus dedos.

Quantas vezes não nos perguntamos se uma decisão diferente não mudaria tudo, se as escolhas fossem outras, os resultados também seriam diferentes. Eu gostava de pensar que não ou talvez quisesse me consolar desta maneira. Sabia que seria mais fácil lidar com o dia a dia se acreditasse nessa mentira que criei em minha mente.

Fazia alguns meses que estava enfrentando um dos piores momentos de minha vida, presa nas minhas decisões prematuras escolhidas no momento de desespero e me perguntando constantemente se não haveria outra solução.

E até o momento, não há outra solução. 

— Precisamos ir, eles estão nos esperando. — A voz alarmada de minha mãe me desperta de meus pensamentos e repenso algumas vezes antes de me levantar. 

Já fazia alguns meses que meu pai estava internado, diagnosticado com lma, um tipo de câncer do sangue e da medula óssea.
No início ele só reclamava de cansaço mas sempre dizia que era por causa do estresse do trabalho, nunca passou pela minha cabeça que se tratava de algo tão grave.

— Está bem, vamos logo. — Me levanto e a sigo em direção a saída de nossa casa. Entramos no carro que estava a nossa espera.

Para a nossa sorte, o trânsito estava ao nosso favor e chegaríamos mais rápido que o esperado. Fazia algum tempo que não andava pelo centro se não fosse para visitar meu pai ou para trabalhar, acabei me distanciando um pouco das pessoas mais próximas a mim, meus amigos de infância e colegas da faculdade já não os via há meses.

   Saímos do táxi e vamos em direção a empresa, quase tão grande quanto a nossa, a diferença é que trabalhávamos com linhas de cosméticos, porém o que nos fez ficar tão consagrado no mercado foram os perfumes e fragrâncias únicas que produzimos. Já a família Dawson era uma nova marca de roupa de grife no mercado, produziam de vestidos glamourosos a sapatos e bolsas. Eles não tinham um nome reconhecido, começaram de baixo e chegaram aonde estão com muito trabalho árduo. Infelizmente as más línguas da sociedade os julgam por terem começado com uma lojinha de utilidades e que a esposa consertava roupas por um longo tempo. Meu pai sempre me criou com os pés no chão, sempre deixou claro que se eu quisesse algo deveria correr atrás. Me lembro da minha adolescência em que quebrei meu notebook, ele me disse que para ter outro eu deveria dar valor ao meu dinheiro. Trabalhei como babá por um período até conseguir comprar outro, e entendi o que ele estava me ensinando. Então eu não entendia o porquê, e se essa história fosse realmente verdadeira? Qual mal teria? Isso deveria ser algo para se orgulhar.

     — Senhora Blake, que bom que está aqui. Eles já estão a espera de vocês. — Diz a secretária nos recebendo gentilmente assim que saímos do elevador. Seguimos a mesma que nos direcionou até a sala presidencial. — Com licença. Senhor, elas estão aqui.

— Diana, Katherine! Entrem, entrem! — Diz Joseph assim que nos ver. Entramos e vamos em direção ao mesmo que se levantou para nos receber, ao seu lado estava sua esposa Elena e Robert, seu filho. Só de vê-los meu estômago embrulhava.

— Sentimos muito pelo atraso, o trânsito estava caótico. — Minha mãe diz apertando a mão do mesmo. Olho para o relógio na parede e não vejo razão para se desculpar, se passaram apenas dois minutos da hora marcada. — Olá, Elena. — Ela nos olhou como se fossemos um tipo de vírus. Elena e minha mãe não se davam muito bem, correram boatos que o senhor Dawson estava interessado por outra mulher, que no caso seria minha mãe. Eu tinha certeza da integridade da minha mãe, ela sempre me contou que só amou um homem a sua vida toda, meu pai.

Observei tudo com muita atenção mas não era a única que olhava atentamente, quando olho para Robert vejo que o mesmo me olhava curiosamente, como se pudesse ler meus pensamentos.

— Está tudo bem, chegaram bem na hora. — Ele diz se sentando e fazemos o mesmo, mesmo que não estivesse olhando diretamente, sabia que Robert ainda me olhava. E talvez eu devesse desviar o olhar mas não queria demonstrar medo ou fraqueza.

— Por que não vamos direto ao ponto? — Elena diz e seu tom de voz demonstrou impaciência. — Vocês precisam de ajuda e nós também. Querem ajuda financeira e nós temos como oferecer.

— Isso é tão ridículo. — Digo assim que ela termina de falar e minha mãe me olha rapidamente, havia prometido que não diria nada mas era difícil escutar algo assim e permanecer calada.

— Achei que sua mãe tivesse acertado tudo com você mas vejo que não. Se não é isso que quer, pode simplesmente se levantar e ir embora. Não queremos perder tempo. — Ela diz firmemente.

— Já está tudo acertado, mas temos pontos a deixar claro também.  — Elena revira os olhos ao escutar as palavras de minha mãe.

— Claro, podem falar.

— Eles irão se casar mas quero que minha filha tenha sua total segurança nisso. — Era como pedir para que andasse na chuva e não ficasse molhada. Não os conhecia mas a última coisa que deixaria é que esse homem encostasse em mim.

— Você pode ficar tranquila quanto a isso. — Finalmente Robert abre a boca, ele parecia ser um homem firme em sua palavra, seu tom de voz demonstrou isso. Robert não era um homem feio, muito pelo contrário, seu físico com certeza era chamativo para a maioria das pessoas. Ele era alto, deveria ter um metro e oitenta ou mais. Seu cabelo era castanho escuro e junto com seus olhos azuis davam um destaque ao seu rosto bem marcado. Qualquer mulher se interessaria por seu físico, não podia negar isso. Mas somente por pensar em tudo o que estava acontecendo, não conseguia sentir outra coisa se não repulsa. — Ela terá um quarto separado e quase não teremos contato, passo mais tempo na empresa e fazendo viagens. Ela estará segura.

— Como viu, nada dará errado. Mas também temos nossas cláusulas para esse acordo. — Diz Joseph se levantando novamente. — Mesmo não sendo um casamento convencional, qualquer comentário na mídia ou especulação que nos prejudique terá consequências. Fizemos um contrato, dêem uma olhada em todas as cláusulas. - Ele diz enquanto nós entregava o contrato, começo a ler atentamente e a primeira cláusula já dizia que teríamos o prazo de cinco anos para juntar todo o valor que seria emprestado pela família Dawson. A primeira visão achamos que é tempo suficiente, mas não seria apenas um empréstimo para erguer a empresa, também precisávamos de dinheiro para todo o tratamento de meu pai. Na cláusula informava que se nesse período não fosse possível ter todo o valor, setenta e cinco por cento da nossa empresa ficaria no nome de Robert. De fato não era um acordo qualquer. Havia cláusulas malucas como estar ao lado de Robert em reuniões importantes e coletivas de empresas. Porém a que mais me chamou atenção foi a de confidencialidade, se algo saísse na mídia e toda a verdade fosse descoberta, teríamos que ceder quarenta e cinco por cento da empresa.

 — Se alguém descobrir sobre esse acordo e não tivermos relação com isso, e sim talvez seu filho ou algum familiar acabe danado alguma brecha. Nada mais justo do que você também ceder uma porcentagem da sua empresa, não? - Digo enquanto colocava o contrato na mesa novamente e olhava diretamente para Joseph. 

— Vocês vem aqui precisando de ajuda e ainda querem exigir? - Diz Elena e dou um sorriso. Vi que minha mãe e Robert estavam com a mesma expressão, mas não iria me calar.

— Eu sei bem que se a nossa empresa fosse o que vocês realmente querem esse contrato seria diferente. Não haja como se também não precisasse de nós. — O tom da minha voz saiu mais ríspido do que eu queria porém já não havia mais como voltar atrás. — Afinal, na visão de vocês, do que adianta tudo isso se as pessoas ainda não vêem relevância, certo? Tudo é uma questão de interesse aqui. 

—  Calma, não precisam se estressar. Tudo será resolvido. —  Joseph diz enquanto segurava a mão de sua esposa. Era visível pelo seu rosto que minhas palavras foram como espinhos em sua pele. —  Compreendo sua indignação, jovem Katherine mas não será simples assim. Tenho olhos e ouvidos em todos os lugares. Se por acaso algo sair na mídia e não tiver relação com vocês, eu irei saber e terei como provar. Mas para deixar justo iremos alinhar nos seus termos, se por acaso aconteça isso e Robert tenha culpa, iremos ceder quarenta e cinco por cento.

— Joseph, o que está fazendo? — Elena pareceu incrédula com o que estava ouvindo mas seu marido pareceu confiante no que estava fazendo.

—  Tornando as coisas justas e mais interessantes. — Ele diz enquanto pegava os contratos. — Irei solicitar um contrato atualizado com os termos. Teria mais alguma coisa para revisar

— A última cláusula, ela diz que ainda que todo o valor emprestado tenha sido pago, eles ainda tem que ficar juntos pelo período de cinco anos? — Minha mãe pergunta enquanto ainda segurava o papel na mãos. 

— Correto. E esse casamento não poderá se desfeito em menos de cinco anos.

— Cinco anos? Você quer que fiquemos juntos por cinco anos? — Olho para a minha mãe e ela viu o desespero em meu olhar. Eu realmente achei que seria fácil assim? Me casaria com ele, ajudaria meu pai e a empresa e tudo se resolveria? 

— Exatamente. No contrato diz que caso isso não seja respeitado, que terão que ceder setenta por cento da empresa, mas irei solicitar ao meu advogado que ajuste essa cláusula como as demais. — Diz ele enquanto caminhava até uma mesa no canto e pegava um copo com alguma bebida. — Aceitam um copo? É limonada.

— Não, muito obrigada. Prepare o contrato, aceitamos o seu show. — Minha mãe se levanta e faço o mesmo. — Já terminamos aqui. — Saio daquela sala o mais rápido que posso, estava me sentindo horrível. Meu corpo parecia dormente aquela situação toda e em minha mente parecia ter mil pensamentos em apenas um segundo, sentia que iria desabar a qualquer momento.

— Aonde estava com a cabeça quando falou aquelas coisas? —Minha mãe diz assim que as portas do elevador se fecham. — Eles podiam ter desistido de tudo naquele momento e não teríamos outra solução. Não pode ser imprudente desse jeito, é a vida do seu pai que está em jogo.

— Acha que eu não sei disso? Você não me deixa esquecer disso por um minuto, sempre colocando todo o peso dessa situação em cima de mim. — No fundo eu sabia que não era correto agir daquela forma, toda a situação era tão difícil para todos os lados. Mas ainda quando eu lutava pelo o que era nosso, ainda assim não estava correto.

— Katherine, eu não quis que saísse dessa forma. — Ela tenta se aproximar porém me afastou rapidamente.

— Mesmo? Pois tem sido assim desde que descobrimos sobre o problema na empresa. — Algumas lágrimas se formam em meus olhos sem que eu pudesse evitar. — Mãe, eu entendo que seja difícil vê todo o seu trabalho indo ralo abaixo e ainda vê seu marido naquele hospital. Mas também é o meu pai, também tem sido difícil para mim e tudo o que eu fiz foi por ele, por nossa família. 

— Minha filha, me desculpe, eu sei que tem sido difícil. — Sua mão ainda estava estendida de minha direção e foi se abaixando lentamente. — Não sabe o quanto me culpo por estar fazendo minha única filha fazer algo tão horrível assim, eu me sinto como se estivesse roubando toda a sua felicidade. 

— Foi a minha escolha e irei lidar com isso. Faria qualquer coisa por vocês. — Minha voz ainda baixa, algumas lágrimas insistentes ainda rolavam pelo meu rosto. Seco assim que termino de falar e minha mãe sorri, foi um sorriso rápido sem mostrar os dentes visivelmente triste com tudo o que estava acontecendo.
Eu poderia tentar me enganar como estava fazendo por todas essas semanas, ter devaneios que iríamos achar uma solução, uma saída e assim tudo seria resolvido mas não teríamos outro caminho a percorrer, e por mais dolorosa que fosse a decisão estava tomada.  

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