Marjorie e os 12 Porquês

By paulalampiasi

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Marjorie Summers tinha 12 em tudo: 12 músicas favoritas, 12 degraus para o seu quarto, 12 anos quando descobr... More

Capítulo 1 - Seja legal
Capítulo 2 - A garota dos olhos castanhos
Capítulo 3 - Dente-de-leão
Capítulo 4 - Coleções
Capítulo 6 - Cidades e mais cidades
Capítulo 7 - A ampulheta
Capítulo 8 - Garota-Estrela
Capítulo 9 - Para um pessimista, eu estou bem otimista
Capítulo 10 - A noite em que fugimos
Capítulo 11 - Eu Quero Acreditar
Capítulo 12 - Diferenças e Desavenças
Capítulo 13 - O que o coração não vê um fantasma te conta
Capítulo 14 - Os Extraordinários Contadores de Histórias chegam a Nova Iorque
Capítulo 15 - A Mentirosa e o Pessimista Contra o Mundo
Capítulo 16: Forasteiros
Capítulo 17 - Quanto mais perdidos, melhor
Capítulo 18 - A inexplicável virtude da imprevisibilidade, por Marjorie Summers
Capítulo 19 - Diferenças e Desavenças, parte II
Capítulo 20 - Um dia ruim
Capítulo 21 - A melhor parte de Nova Iorque
Capítulo 22 - Outono
Capítulo 23 - Marjorie vai para a Flórida
Capítulo 24 - Doze
Epílogo

Capítulo 5 - Fósforos

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By paulalampiasi

Não era fácil voltar para a escola na segunda-feira, depois de passar um fim de semana conversando sobre coisas mais interessantes que equações e teorias que eu nunca entenderia. Eu imaginava como seria voltar para a escola depois do verão, como todo ano - depois que você já se acostumou a ficar em casa e fazer absolutamente nada.

Sei que Noelle sempre reclamava que eu era dramático demais - mas a dor de ter que voltar a Hudson High School naquele dia era equivalente a levar umas facadas. Me arrastei para fora da cama, então me arrastei até o banheiro e a cozinha e, finalmente, me arrastei até a calçada em frente à minha casa, onde Marjorie me esperava em pé.

- Bom dia - Disse Marjorie, e eu tentei responder, mas o que saiu da minha boca parecia mais um grunhido indecifrável. - Oh, uau. Já está treinando para ser um figurante de The Walking Dead?

- Cala a boca - Resmunguei, colocando a mochila nas costas enquanto começava a andar, minha postura lembrando vergonhosamente a de um zumbi. - Você já mudou de ideia sobre Nova Iorque e tudo aquilo?

- Não. The Plain Stalkers foram confirmados no festival ontem à noite e eu estou literalmente morrendo de vontade de subir no palco e tirar a roupa de Zack Feathers ali mesmo.

Zack Feathers era o vocalista dos The Plain Stalkers que tinha uma voz tão chorosa que, quando cantava, você não conseguia realmente entender o que a letra dizia. Não era uma banda ruim, mas tudo parecia absurdamente superficial sobre eles.

Marjorie continuou falando sobre suas músicas favoritas da banda e por algum motivo eu sentia a necessidade de discordar de tudo que ela dizia. Era engraçado vê-la arregalar os olhos e olhar para mim como se eu tivesse feito algo absurdo toda vez que eu falava que preferia The Cherry Saints.

- The Cherry Saints é, tipo, a banda mais pretensiosa que eu já ouvi.

- E The Plain Stalkers é a banda mais superficial que eu já ouvi - Respondi. - Suas letras não significam nada.

- Elas não têm que significar nada, Finn. E olha que sou eu quem está sempre tentando encontrar um significado poético e metafórico para tudo dizendo isso!

É verdade: Se Marjorie Summers dizia que algo era pretensioso demais, então aquilo realmente era, porque para que ela admitisse aquilo devia ser mais pretensioso que ela, o que já era difícil.

E continuamos nossa discussão - que não era realmente uma discussão, mas mesmo assim era divertido - sobre qual das duas bandas era melhor. A verdade é que as duas bandas eram péssimas, mas mesmo assim era legal poder realmente conversar com ela sobre coisas simples.

Não era como se eu precisasse pensar sobre o significado da vida e do universo, e sobre como dentes-de-leão simbolizam pensamentos. Não que eu achasse isso ruim, na verdade toda essa conversa fazia Marjorie parecer incrivelmente sábia - e eu, incrivelmente burro.

- Então chega, não vamos mais discutir - Ela decidiu, colocando as mãos para o alto como se estivesse se rendendo, assim que entramos na escola. - Você prefere The Cherry Saints e eu The Plain Stalkers. Não é um problema tão grande. Não vai afetar nossa relação no futuro.

- Claro que não - Falei. - Ainda vamos nos casar, nos mudar para a Flórida e ser padrinhos dos filhos da Noelle e do Arwin.

- Sim, e nós podemos ter cachorros no lugar de crianças - Eu ri, concordando com a cabeça.

- Mas vamos tratá-los como crianças de verdade, com os sapatinhos enfeitados e carrinhos-de-bebê.

A imagem de um cachorro vestindo roupas de bebê dentro de um carrinho na Flórida infestaram minha mente como se fosse uma imagem que alguma tia minha compartilharia no facebook, me desejando um bom dia.

Entramos na primeira aula e descobrimos que a professora de Artes tinha empurrado todas as carteiras para os cantos da sala, alguns alunos já reunidos em um círculo bem no meio, sentados no chão. A primeira coisa que eu pensei foi: ótimo, eu não devia nem ter acordado hoje. A professora de artes era famosa por suas dinâmicas em grupo (além de ter fama de louca). Você sabe, o tipo de coisa que professores de artes fazem.

Marjorie se sentou antes que eu, cumprimentando uma garota loira que eu não conhecia do outro lado da roda, e esperamos até que a professora falasse alguma coisa.

O nome dela era Daisy e ela não gostava que a chamássemos pelo seu sobrenome, talvez porque ela gostasse de pensar que era jovem e legal o suficiente para ser amiga de todos os alunos ou talvez porque seu sobrenome era Lemonzon, e chama-la de senhorita Lemonzon era como praticar bullying ou algo do tipo. Só o fato dela ser professora de artes já dá a entender que ela não era uma pessoa normal, mas eu ainda tenho que dizer que ela tinha a mania de repetir frases duas vezes, falar com objetos e usava calças de moletom e saias floridas ao mesmo tempo.

- Crianças - Ela começou, movimentando as mãos e gesticulando abertamente a cada sílaba que falava. - Quero atenção aqui, por favor, por favor. Sei que é estranho fazermos uma dinâmica em grupo algumas semanas antes do verão começar, mas temos que fazer isso. Pela arte, tudo bem? Pela arte!

Uma vez que todos os alunos chegaram, ela trancou as portas (literalmente trancou, ou seja, estávamos presos em uma sala com aquela mulher por 50 minutos) e abriu as cortinas, voltando a roda do grupo com uma caixa de fósforos nas mãos.

- O que vamos fazer é: cada um de vocês vai pegar um fósforo, acender e dizer algumas coisas sobre você enquanto a chama ainda queima, tudo bem? Tudo bem? Então vamos lá. Isso é ótimo para que vocês se conheçam melhor e, quando voltarem as aulas depois do verão, veremos se nós mudamos ou se continuamos sendo a mesma pessoa, tudo bem?

Um garoto chamado Roman tentou convencer a professora de que, já que a maioria das pessoas naquela sala tinha estudado na mesma escola desde pequenos, não precisávamos nos conhecer mais. O que era verdade. Hudson não tem muitas escolas - então você não tem muita escolha.

- Sempre há algo novo a aprender sobre as pessoas - Ela disse, sua voz aguda. Sempre há algo novo.

Daisy fez questão de começar por Roman, que disse que seu nome era, bem, Roman - que tinha 17 anos e que queria conseguir uma bolsa de estudos na Faculdade de Artes de Nova Iorque, e como nessas dinâmicas de grupo ninguém sabe realmente o que dizer - todos só seguem o que a primeira pessoa disse.

Depois da garota loira que Marjorie havia cumprimentando no começo da aula (Nome: Karen, idade: 16, maior sonho: se mudar para a Inglaterra e se casar com qualquer um dos integrantes do One Direction), era a minha vez.

Peguei a caixa de fósforos e acendi um, sentindo o fogo subir pelo pequeno pedaço de madeira e senti o cheiro da fumaça instantaneamente, tentando mantê-lo longe do meu rosto e pensando no que eu poderia dizer.

- Meu nome é Finn. Tenho 16 anos. Meu maior sonho é sair de Ohio e ir para qualquer outro lugar.

Não pude deixar de notar o quão desinteressado eu parecia, mas não podia fazer nada sobre isso - era como se fosse parte de mim, o tom natural da minha voz, ou algo do tipo. Apressei-me para apagar a chama que se formara na ponta do fósforo, ainda queimando, viva, mas a professora me impediu.

- Pessoal, vocês têm que dizer tudo o que quiserem até o fósforo apagar. Estão falando muito pouco. Aproveitem seu tempo.

Então ela entrou em um lindo discurso sobre como o fósforo era uma metáfora para nós mesmos. Algumas pessoas realmente falavam tudo o que queriam até que o fósforo se apagasse, e eram interrompidas no meio de frases e explicações sobre si mesmos. Outras pessoas diriam três palavras e era tudo, depois disso, esperariam até que seu fósforo apagasse ou elas mesmas apagariam, assoprando.

Olhei para o fósforo nos meus dedos e simplesmente não sabia o que dizer, então olhei para a professora, provavelmente parecendo um animal assustado. Ela revirou os olhos e balançou a cabeça, fazendo um gesto com a mão para que eu apagasse o fósforo, então fiz isso e entreguei a caixinha a Marjorie.

Ela suspirou silenciosamente, pegando um fósforo e o riscando na caixa, observando-o queimar.

- Meu nome é Marjorie. Eu tenho 16 anos - Ela disse.

Então seu fósforo se apagou.

X

Nada me faria colocar os pés para dentro da escola em pleno sábado. Nem que estivéssemos em um apocalipse zumbi e a escola fosse o único prédio seguro, ou se Ellen Degeneres e oferecesse um milhão de dólares para entrar ali.

Nada além de Noelle, é claro, porque embora ela fosse umas das piores pessoas que eu conhecia, ela era minha amiga - e amigos servem para dar apoio moral aos outros enquanto um deles está recitando poesias ruins no meio do pátio da escola no sábado.

Além disso, no dia seguinte era aniversário do Arwin, e tínhamos decidido que depois do recital de Noelle, como todos os outros anos, iriamos até a sua casa, que ficava poucas ruas depois da escola para comemorar que ele estava ficando um ano mais próximo da morte. Yay.

Noelle tinha passado a manhã inteira com Marjorie em sua casa, fazendo "coisas de meninas". Eu e Arwin não estávamos acostumados com isso porque, geralmente, Noelle era a única menina no grupo, e nem era considerada tão menina assim. Quer dizer, se ela quisesse fazer coisas de meninas com a gente - como pintar as unhas e arrumar o cabelo, eu acho, nós estaríamos de acordo.

Elas chegaram na escola por volta das 10, e depois de escutar por 50 minutos algumas crianças com luvas sem dedo e maquiagem preta recitar suas poesias sobre angústia adolescente e romances não compreendidos, era a vez de Noelle.

Ela tinha feito um poema sobre o tempo e juventude, e como é triste crescer e ficar velho, ou pelo menos foi o que eu entendi. De qualquer jeito, eu aplaudi animado, sorrindo para ela como se fosse um pai orgulhoso quando terminou, enquanto do meu lado, Arwin estava de pé, aplaudindo 100 vezes por segundo, parecendo uma mãe orgulhosa.

Noelle se retirou do palco improvisado e decorado com papel cartão e tecido preto e socou o ombro de Arwin levemente, como se estivesse cansada dele - mas estava sorrindo disfarçadamente.

X

A casa de Noelle era grande e antiga, o chão era feito de madeira e parecia que tudo na casa era bordado de flores - as cortinas, as almofadas, até o tapete. Todos nós sentamos no meio do seu porão - porque a sala, segundo ela, estava muito "Sareado", o que significava que estava cheia das coisas da Sarah, a namorada do seu pai.

Então descemos até o porão, que era até bem organizado para um porão - diferente do sótão da minha casa que era basicamente repleto de movéis antigos e caixas de papelão gastas. Tinha um tapete (bordado, como se fosse uma surpresa) bem no meio, dois sofás de cor marrom afastados e uma televisão daquelas antigas apoiada em uma estante cheia de livros, dvds e bonecas riscadas e quebradas da sua época de criança.

Noelle passava mais tempo dentro daquele porão do que no seu próprio quarto, o que explicava suas poesias incrivelmente deprimentes - pensei. Noelle era o tipo de pessoa que realmente não parece nada que ela é, então você não consegue conhece-la até de fato conversar com ela.

Arwin jogou-se em um dos sofás dramaticamente, enrolando um cachecol que estava largado por lá no pescoço.

- Desenhe-me como uma de suas francesas - Exclamou, mordendo o lábio inferior e olhando para mim com uma expressão horrivelmente séria.

- Acho que meu nível artístico não conseguiria capturar toda sua beleza e graça - Respondi, observando como Arwin parecia completamente desajeitado e alto deitado no pequeno sofá marrom.

Eu me sentei no chão, apoiando as costas no sofá, e Marjorie seguiu, cruzando as pernas como se estivesse de volta à dinâmica em roda da aula de artes. Era estranho ter mais uma pessoa ali. Apesar daquele porão ser usado somente usado de vez em quando, era como se fosse uma casa para nosso grupo.

- Vocês fizeram bolo? - Perguntou Arwin, animado, voltando a sua pose normal, que era largado no sofá.

- Não, mas a esposa-perfeita-suburbana Sarah fez - Disse Noelle, fazendo uma careta descendo as escadas do porão com uma torta meio comida, caixas de pizza e uma garrafa de cerveja na mão.

A cerveja era para Noelle, a única que realmente conseguia beber mais de um gole sem parecer aqueles bebês de vídeos engraçados da internet que chupam limões. Para mim, tinha gosto de mijo, principalmente quando Noelle roubava de seu pai e deixava escondido no seu quarto por horas antes de presentear Arwin carinhosamente.

- Feliz aniversário - Ela entregou e ele sorriu, aceitando. - Eu sei que você não vai beber isso mas dane-se.

Seguimos conversando sobre como era ter 17 anos - algo que somente Arwin sabia, porque era o mais velho, e mesmo assim eu não me importava, porque percebi com 10 anos que um ano a mais não muda nada na nossa vida.

Quero dizer, quando você tem 10 anos, acha que vai ter crescido muito quando tiver 11. E então você faz 11 e tudo continua igual. É claro que não chega nem aos pés da decepção de fazer 16 - quando seu eu de 15 anos continua sendo seu eu de 16 e você percebe que tudo não passa de uma ilusão, uma mistura de números com filmes americanos que te prometem algo grandioso acontecendo na sua vida.

É decepcionante perceber que, lá no fundo, você continua esperando que as coisas realmente mudem porque ficou um ano mais velho ou alguma bobagem do tipo.

- Argh - Arwin tomou um gole da cerveja e a empurrou de volta para Noelle, que estava rindo sentada na frente dele. - Quero dizer, yum. Mijo e álcool. Meu favorito.

Ela o empurrou com força, fazendo-o deitar no chão. Os dois pareciam levemente bêbados, mas só eram naturalmente idiotas. Às vezes eu me cansava de como eles sempre agiam daquele jeito, mesmo em momentos inapropriados, tão barulhentos e exagerados.

Mas ali no porão eu não poderia me importar menos. Era como uma nova dimensão e o mundo lá fora não existisse, então eu não tinha que fingir odiar quando meus amigos agiam feito crianças.

- Sábias palavras do ancião do grupo - Exclamei, empurrando Arwin com o pé (uma ótima demonstração de carinho, na minha opinião).

- Você acha que Arwin Taylor já foi jovem um dia? - Noelle perguntou, dramaticamente, como se guardasse o segredo do universo. - Ah, eu vejo. Faz muito tempo.

Ela apertava os olhos e colocava os dedos no lado da cabeça como se fosse o professor Xavier ou algo assim.

- Antes de Cristo, provavelmente - Dei de ombros.

- Ouvi dizer que sua certidão de nascimento é um pergaminho.

- Ah, vão se ferrar, vocês - Arwin exclamou, mostrando o dedo do meio, mas rindo. - Principalmente você. Acha que só porque está doente pode se aproveitar para fazer piadas as minhas custas?

Marjorie riu, batendo palmas, o que provavelmente iria parecer uma foca com problemas mentais se não fosse ela fazendo.

- É claro - Ela empinou o nariz, esticando-se para pegar um pedaço de pizza na caixa, agora vazia. - Eu também fico com o último pedaço de pizza. Privilégios são privilégios.

- Marjorie - Disse, Arwin, juntando-se mais a nós e passando um braço pelos ombros de Marjorie, nos juntando no tapete bordado e florido. - Você o último pedaço de pizza no meu aniversário e ainda esfregou isso na minha cara. É oficialmente parte do grupo.

- Oh, uau - Noelle exclamou, levantando a mão que segurava a garrafa de cerveja quente. - Os lobos solitários.

- Já ouviu sobre Kevin McBacken?

- Ah, não - Joguei a cabeça para trás, apoiando no sofá. - Você tinha uma queda pelo McBacken ou o que?

- Cala a boca, Johnston - Arwin riu, mostrando o dedo do meio novamente. - É uma história clássica de Hudson High School.

Marjorie endireitou-se no chão como se fosse escutar uma história de terror em volta de uma fogueira, os olhos brilhando de curiosidade. Parecia feliz por ser parte do grupo, um grupo de três, agora quatro.

Quatro pessoas que estavam enfiadas dentro de um porão em pleno sábado contando histórias sobre pessoas que não conhecemos, mas consideramos nossos amigos porque afinal, frequentaram a mesma escola que nós e conhecemos suas histórias.

- Então - Arwin começou, Noelle se endireitando no seu assento improvisado para ouvir. - Você conhece nossa professora de matemática, a Pattinway, certo? Aquela que parece que esqueceu que já morreu e mesmo assim ela se levanta todo dia pra dar aula? Sim, sim, ela mesma. Uns anos atrás tinha esse garoto chamado Kevin na nossa escola, ele estava no terceiro ano ou algo assim, o tipo de pessoa que ia para escola para ficar nas escadas da quadra fumando maconha e todo esse tipo de coisa que não fazemos mas adoraríamos fazer. Todo mundo dizia que ele nunca iria se formar, e ele acreditava que ia, então ele fez uma aposta ou algo do tipo de que se ele se formasse ele iria para a escola pelado. Sim, eu sei. Um dia ele tomou uns comprimidos e ficou tipo, loucão, de verdade - e a professora o encontrou no armário da sala onde eles guardam as coisas do time de futebol. Mas espere, ele estava loucão, certo? Então ele não reconheceu a senhorita Pattinway e por algum motivo ele pensou que ela fosse o Nicholas Cage e começou a chorar muito. Nesse ponto, ele pegou na mão dela e saiu correndo pela escola, tirando a roupa, e ficou completamente pelado no meio do corredor, gritando "Eu peguei Nicholas Cage!" E você sabe qual é a melhor parte?

Majorie balançou a cabeça, negando, como se fosse uma criança de 6 anos ouvindo uma história sobre castelos e dragões - e não uma adolescente de 16 ouvindo sobre alguma pessoa fodida na vida que usava drogas na escola e confundia os professores com Nicholas Cage.

- Noelle estava lá para ver tudo.

Noelle levantou a garrafa de cerveja quase cheia, como se estivesse brindando a história.

- Estava mesmo. Imagens bem chocantes para alguém de 12 anos, mas valeu a pena.

A melhor parte, na minha opinião, era que Kevin nem estava assim tão louco. Pelo menos era o que eu gostava de acreditar. Ele podia até usar drogas, mas não do tipo tão forte que o deixaria completamente alucinado. Gostava de acreditar que ele tinha o sonho de sair pelado pela escola falando sobre Nicholas Cage, e que aquele garoto tinha realizado o sonho dele naquele dia.

Além disso, eu nunca entendera o que a aposta de aparecer pelado na escola se ele se formasse tinha a ver com ele ter ficado "loucão", e olhe que eu já tinha ouvido essa história muitas, muitas vezes.

O que será que acontecera com Kevin McBacken? Onde ele estaria hoje em dia? Sabia que ele, milagrosamente, tinha se formado no ensino médio e até entrara para a faculdade. Talvez fosse por isso que ele tirou a roupa naquele dia. Ele queria fazer aquilo mas não poderia cumprir a aposta porque ele tinha ganhado. É, fazia todo sentido agora.

- Kevin é realmente uma lenda. Quando crescer quero ser como ele.

- Você não presta, Arwin - Ela tomou mais um gole e deixou a cerveja quase inteira de lado, levantando-se.

X

Já estava escuro quando voltamos para casa, mas eu tinha prometido a Amy que Marjorie ficaria bem e ela parecia confiar em mim, agora que minha mãe estava se tornando sua melhor amiga ou coisa do tipo.

Enquando andávamos pelas ruas, agora mais vazias do que antes, chutando pedrinhas e observando as luzes das janelas das casas vizinhas, Marjorie parou de repente e olhou para mim, no meio do caminho.

- É assim que eu quero ser lembrada.

Olhei para os lados, mostrando que eu não tinha entendido.

- Como Kevin McBacken. Quero fazer algo assim.

- Não sei sobre a parte de correr pelada pela rua gritando alguma coisa sobre Nicholas Cage. Mas se quiser, podemos ir até minha casa, tomar xarope para tosse para fingir que é bebida, tomar uns comprimidos para dor de cabeça e fingir que ficamos loucos.

Marjorie riu, balançando a cabeça lentamente e olhando para baixo, para os próprios pés, enquanto voltava a andar.

- Essa foi meio que uma descrição da minha vida.

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