Escolhida || Livro 2 da Trilo...

By gabsel_

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Em um futuro distante, Claire Roberts é forçada a enfrentar uma cidade apocalíptica em busca de uma vingança... More

Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Capítulo Quarenta e Quatro
Capítulo Quarenta e Cinco
Capítulo Quarenta e Seis
Capítulo Quarenta e Sete
Capítulo Quarenta e Oito
Capítulo Quarenta e Nove
Capítulo Cinquenta
Capítulo Cinquenta e Um
Capítulo Cinquenta e Dois
Capítulo Cinquenta e Três
Capítulo Cinquenta e Quatro
Capítulo Cinquenta e Cinco
Capítulo Cinquenta e Seis
Capítulo Cinquenta e Sete
Capítulo Cinquenta e Oito - FINAL
Agradecimentos e Última Obra
ÚLTIMO LIVRO SAI HOJE

Capítulo Vinte

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By gabsel_

Estou em um prédio. Em um dos andares mais altos. Em um corredor onde as paredes são de vidro e o chão de um metal tão branco e limpo que eu vejo meu reflexo.

Pelas janelas, eu consigo ver os prédios da cidade. Mas a cidade não está destruída. Pelo contrário. Está limpa. Alguns aviões passam por cima dos prédios. O sol ilumina tudo e o céu azul me dá uma sensação de relaxamento. Vejo dirigíveis. Sorrio ao ver tudo aquilo.

Mas não é real. Eu sei que não é real. Dias assim acabaram.

Suspiro. Olho para frente. Meu sorriso se vai. Ela. A de olhos vermelhos. Ela está fazendo esse sonho. Ela está fazendo isso e sua presença arruina meu único sonho bom em anos.

Quando olho para a cidade novamente, vejo uma enorme nuvem negra começar a cobri-la. Raios caem dela e fazem sons ensurdecedores. Bom, o momento feliz acabou.

Olho novamente para ela. Olho para baixo e vejo o piso começar a rachar. Os pedaços rachados começam a subir e flutuar no ar ao nosso redor. Olho para a outra de mim, cercada por pedaços do chão.

Os pedaços vão se multiplicando. A outra de mim começa a correr entre os milhões de pedacinhos brancos no ar que até alguns segundos atrás era o chão. Vejo o corpo dela colidir contra os pedaços sem gravidade e fazer eles girarem no ar. Cada vez mais pedaços vão subindo e cada vez mais rápido. O chão agora se encontrava no ar e os pedaços batem no meu corpo. Vejo a outra Claire se aproximar cada vez mais e então, pular em minha direção.

Meus olhos se abrem. Não estou suando ou com a respiração ofegante. Não estou nem um pouco assustada. Eu estou bem. Eu já sabia que iria acordar. Eu já sabia que estava sonhando.

Tento me lembrar o que aconteceu antes de eu adormecer. Eu estava em meio a um campo de um parque no Brás. Me lembro do ataque da LPB. Me lembro da mulher enfiando a seringa em mim.

Meus batimentos cardíacos aceleram. Eu fui capturada pela LPB?

Olho para o teto. Vejo um cano de ferro segurando um tecido marrom. Um pouco de luz do sol entra por alguns furos no tecido. Sinto meu corpo afundado em um colchão e minha cabeça em um travesseiro.

Uma cama? Luz do sol? Com toda a certeza eu não estou no Centro.

Então eu me lembro do homem que estava com Niall. Me lembro que ele atirou contra os soldados do Centro. Onde estou? Para onde eles me levaram?

Me sinto estranha. Insegura, mas confortável. Essa cama é a coisa mais gostosa que eu já deitei na minha vida. Por um momento, tenho vontade de ficar aqui para sempre.

Então, me lembro de Harry. Me lembro do tiro que ele levou.

Isso é o suficiente para que eu erga meu corpo e sente na cama. Quando olho para baixo, me vejo com roupas limpas. Minha camisa está do avesso. Alguém me trocou? Olho ao redor e percebo que estou em algum tipo de barraca. Vejo o chão em grama. Vejo uma cadeira. E vejo uma pessoa sentada nela.

Levo um susto ao ver a pessoa. É uma garota. Ela tem um cabelo vermelho forte, como se tivesse pintado. Sempre achei muito bonito cabelos pintados, mas pensei que nunca mais iria ver um assim. A garota aparenta ter mais ou menos a minha idade ou ser até mesmo um pouco menor. Seus olhos são castanhos e ela veste roupas escuras. Por mais de suas vestes e seu cabelo serem mais do estilo de quem não tem sentimentos, seu rosto e sua altura a deixam fofa. Suas bochechas são rosadas e redondas. Ela é bem bonita. Com certeza não é da LPB.

Quando ela percebe que eu acordei, ela se levanta da cadeira e sorri. Suas bochechas ficam mais vermelhas em instantes e a deixam mais fofa.

— Oi! — ela diz com a voz meiga.

Eu tento sorrir, mas o máximo que consigo fazer é mexer a boca um pouco.

— Oi — falo.

Ela fica um tempo sem falar nada. Parece estar com vergonha. A menina coloca as mãos para trás e balança o corpo para frente e para trás.

— Está se sentindo bem? — ela pergunta.

Balanço a cabeça, afirmando. Me sinto um pouco segura, mas ao mesmo tempo desconfio do que esteja acontecendo.

Ao perceber minha confusão, ela começa a explicar:

— Meu nome é Anne. O seu é Claire! Seus amigos me falaram.

Eu levanto as sobrancelhas. Sinto meu coração apertar um pouco. Continuo confusa. Anne para de balançar seu corpo e começa a mexer no cabelo com uma de suas mãos.

— Anne... — falo, balançando a cabeça. — Onde meus amigos estão? Eles estão bem?

Ela é bem sorridente e simpática. Isso é um pouco estranho pelas roupas que ela usa. Pensei que ela fosse mais do estilo que não gostava de demonstrar felicidade. Mas seu rosto e sua fofura falam mais alto que suas roupas escuras. Eu gosto quando tenho uma primeira impressão de alguém e depois descubro que era outra coisa. É como uma nova descoberta. E eu amo descobertas.

Seu sorriso continua intacto e suas bochechas enrubescidas também.

— Eles estão bem sim! — ela fala. — Dois deles estão na barraca hospitalar, mas não é nada de grave. Um deles levou um tiro no ombro e o outro levou um tiro de raspão no braço. Acho que um deles se chama Harry e o outro Dylan.

Meu coração se alivia. Estão todos bem. Respiro fundo, deixando toda a tensão ir embora.

Ao menos ninguém morreu.

Me levanto da cama e olho para o final da barraca, onde está a saída dela. Olho para Anne novamente. Ela continua sorrindo. Por mais que eu tenha gostado de Anne, ainda não me sinto totalmente segura aqui. Me sinto estranha.

— Não se preocupe — ela fala. —, você está segura aqui.

Suspiro, tentando me relaxar.

— Onde eu estou? — pergunto, finalmente.

— Veja você mesma — ela fala.

Eu olho novamente para a saída da barraca. Começo a caminhar na direção dela, pisando nas folhas mortas e na grama macia. Posso sentir meu coração acelerar um pouco. Me sinto um pouco tensa.

Onde está meu arco? Droga... Estou desarmada. Será que eu vou precisar de armas? 

Quando eu chego na saída, ponho as mãos no tecido e o empurro, dando visão da passagem. A iluminação forte do sol invade a barraca com brutalidade e sou forçada a colocar as mãos na frente dos olhos. Quando me acostumo com a claridade, eu olho ao redor.

Vejo pessoas. Algumas estão armadas. Algumas comem algo. Outras conversam e dão risada. Não são muitas pessoas, pelo menos por perto não são.

Vejo barracas com tecidos normalmente da cor marrom e iguais ao que eu acabei de sair. Vejo árvores e grama. Vejo um cachorro — provavelmente um Pinscher — correr alegremente entre as flores no meio da grama. Uma lembrança de Andy vem em minha mente. Sinto meu coração apertar.

Anne sai da barraca e fica ao meu lado.

— Estamos no Ibirapuera? — pergunto.

— Sim! — ela responde.

Uma sensação de objetivo atingido percorre pelo meu corpo. Nós chegamos onde queríamos chegar. Hora de iniciar a fase dois do nosso plano.

Abro um imenso sorriso ao ver toda aquela vida. Ao ver uma sociedade novamente. Dessa vez, uma sociedade feita sem a LPB interferir em nada.

Me sinto muito bem ao ver tudo aquilo.

— Vem, eu vou te levar à barraca hospitalar — Anne fala, pegando em minha mão e me guiando para uma direção.

Levo um susto quando ela pega em minha mão, mas não faço nada. Pelo menos assim sei que não vou me perder dela.

Enquanto passamos por diversas barracas, eu vejo as pessoas interagirem umas com as outras como se estivessem todas se divertindo muito. Como se não houvesse destruição do lado de fora do parque. Como se fosse apenas um dia de passeio no parque.

Fazia muito tempo que eu não via pessoas vivas de verdade. Mesmo no condomínio, todos normalmente estavam com uma expressão de sofrimento ou pavor no rosto. Eles não. Eles não temem. Eles se sentem seguros.

Seja lá quem for a pessoa que comanda tudo isso, parece ter o controle de tudo.

— Como vocês nos acharam? — pergunto.

Quando olho por cima das árvores, eu vejo edifícios pequenos de concreto dentro do parque. Os edifícios não estão destruídos. Quando olho mais atentamente, vejo edifícios de fora do parque. A situação deles também não está tão ruim assim, apenas os andares mais altos estão destruídos. É como se essa parte da cidade tivesse sido a menos atacada por bombardeamentos. Talvez eles tentaram tirar os civis daqui antes de bombardearem tudo.

Não foi isso que fizeram com a outra parte da cidade.

— Ouvimos o tiroteio. Acordou os sobreviventes que dormem nos prédios próximos. Tomás enviou tropas de Buscadores para investigar o que era. — ela explica.

Eu fico um pouco confusa com sua explicação. O nome Tomás gruda em minha cabeça, mas eu resolvo não perguntar quem é.

— O que são Buscadores? — pergunto. — Vocês habitam os prédios ao redor do parque também?

Ela solta minha mão e começa a caminhar com passos lentos, para não me deixar para trás. Um garoto andando para nossa direção acena para ela.

— Oi, Anne! — ele diz sorrindo quando passa por nós.

— Oi, Mike! — ela sorri para o garoto que agora tem um nome.

Passamos pelo garoto e ela volta a me explicar:

— Os Buscadores são como soldados. Nós enviamos transmissões de rádio para todas as frequências. Quando há alguma resposta de algum sobrevivente, os Buscadores vão socorre-lo. E os prédios próximos ao parque e que ficam para o leste são ocupados por alguns sobreviventes que escolhem dormir dentro de apartamentos ao invés de cabanas.

Continuamos nossa caminhada pelo parque. Entramos em uma trilha com o chão de concreto. Nós andamos por ela e passamos por um edifício de um andar e não muito grande. Deduzo que seja o banheiro ou algo do tipo.

— Tem um apartamento no leste que Tomás conseguiu fazer com que os sistemas hidráulicos voltassem a funcionar. É o prédio que serve para usar apenas o banheiro e os filtros de água. Chamamos de Goteira. Se você quiser ir tomar um banho depois de ver seus amigos, eu te guio até o prédio.

Não me sinto ofendida, mas algo me diz que ela está sentindo o meu fedor e isso foi um pedido para que eu tome um banho logo. Ela — ou alguém — me trocou — de uma maneira bem mal feita, pelo visto de que minha camisa está do avesso — mas continuo com o meu fedor. Bom, eu realmente preciso de um banho.

Então, percebo que o nome de Tomás foi citado novamente. Provavelmente, ele deve ser algum líder daqui.

— Vocês saem para buscar suprimentos? — pergunto.

— Claro que sim! — ela fala. — Os Caçadores servem para a caça de animais que aproveitam que as ruas de São Paulo estão vazias e vêm para cá. Os Saqueadores saem em busca de suprimentos pela cidade. Os Curadores são os médicos. E os Guardas rodeiam diversos cantos por perto do parque, garantindo que nenhum zumbi passe por aqui.

Um Déjà-Vu me ocorre. É como se eu estivesse entrando no condomínio novamente e eles estivessem me explicando como funciona.

— Onde eu morava, também era mais ou menos assim — falo. — Tínhamos os Sinistros, que iam às ruas em busca de suprimentos. Os Guardas, que faziam a mesma coisa que os Guardas de vocês. E os Maléficos, que eram como policiais que colocam ordem no lugar...

Me lembro de como o Maléfico bateu em Justin aquele dia. Um aperto no coração me ocorre. Aqui parece ser bem mais calmo.

— Interessante — ela comenta. — Também temos pessoas iguais Maléficos aqui, mas na verdade elas trabalham para o Tomás e meio que fazem absolutamente tudo que ele mandar. Ah, Tomás é o nosso Presidente. Ele não gosta que chamamos ele de "senhor", "Presidente" ou outra coisa mais respeitosa. Ele gosta que chamamos ele pelo nome.

Tento absorver tudo que ela me explica. Como eu imaginei, Tomás é o líder daqui. Ele parece saber organizar tudo muito bem. É com ele que precisamos conversar para ver se conseguimos formar nosso exército para invadir a LPB. Será que ele vai se convencer?

— Depois que eu visitar meus amigos e tomar um banho, posso falar com Tomás? — pergunto.

— Ele queria falar com você — ela fala. — Seus amigos disseram a ele que você queria falar com ele.

Não posso deixar de soltar uma risadinha. Eles disseram que eu queria falar com ele. Querem que eu explique todo o plano. Por que nenhum deles explicou logo de uma vez? O que teria demais?

Decido ignorar isso por enquanto.

Andamos bastante. Analisei bem o parque e vi tantos sorrisos estampados nos rostos das pessoas que me senti bem apenas de estar aqui.

Estão todos seguros aqui... Eu estou segura.

Anne me contou que eles chamam aqui de Parque-Refúgio. Me lembro de já ter ouvido falar sobre algo assim no condomínio. Talvez algumas pessoas sabiam sobre esse refúgio e espalharam pelo Condomínio. Deve ser por isso que Ari sabia sobre esse lugar.

Quando Anne me diz que estamos perto da barraca hospitalar, eu resolvo perguntar:

— Se nós estamos indo para a barraca hospitalar, por que eu acordei em outra barraca? — percebo que minha pergunta ficou confusa e tento reformula-la. — Quer dizer... Vocês não deveriam ter me deixado na barraca hospitalar? De quem era aquela barraca que eu dormi?

Ela olha para mim. A luz do sol reflete em seu rosto. Consigo ver algumas sardas em sua face. Não havia reparado nelas antes.

— Ah, sim! — ela fala. — Você dormiu na minha barraca. Pediram pra colocar você sob observação e eu me ofereci para a função. Quando eu fizer 18, quero ajudar na parte da medicina aqui e já estou tentando ajudar alguns Curadores para agrada-los com meu desempenho. Eles queriam que um Curador ficasse te vigiando, mas eu me manifestei e disse que queria ajudar. O que eu achei estranho foi que você não tinha nenhum ferimento quando eu e outros Curadores te analisamos. Suas roupas estavam rasgadas, sujas e cheias de sangue. Mas não havia nenhum machucado. Havia também furos de balas em sua camisa. Foi bem estranho.

Engulo em seco. Não falo nada. Eu me curei de todos os ferimentos, enquanto todos estão com pelo menos alguns arranhões no rosto. Eu não tenho nada. Eu estou sem nenhum machucado.

É claro que eles achariam estranho. Todos achariam. A camisa que eu estava tinha milhares de furos e rasgos enormes. Era impossível que eles não achassem estranho.

— Quantos anos você tem? — mudo de assunto bruscamente.

Ela acha um pouco estranho eu perguntar de repente isso. Bom, eu só queria sair desse assunto. Não quero que ela fique me perguntando o que aconteceu para eu ter tantos furos e tanto sangue na minha camisa e estar sem nenhum ferimento.

Então eu percebo uma coisa. Ela não perguntou a nenhum instante o que aconteceu ontem à noite. Ela não perguntou o motivo de haver milhões de soldados atirando contra mim e contra meus amigos. Será que alguém já explicou o que estava acontecendo ontem?

— Tenho 17 — ela fala. — Faço 18 esse ano. É com 18 que começamos a trabalhar aqui.

— Onde eu morava também era... — falo.

Me lembro de como eu queria chegar aos meus 18 desesperadamente para me tornar uma Sinistra. Me sentia uma inútil quando eu era uma Menor. Sempre quis ajudar os Sinistros. Eu nunca imaginaria que hoje eu estaria em uma guerra contra o grande causador pela destruição de tudo.

— Meu pai é um Caçador — fala ela. — Ele não quer que eu saia de jeito nenhum. Ele me apoiou na escolha de Curadora.

Me surpreendo.

— Seu pai também está aqui? — pergunto.

Me lembro da barraca dela. Só havia uma cama. A que eu estava deitada. Ela mora em uma barraca separada do pai? Por quê?

Se eu ainda tivesse meu pai, eu dormiria até mesmo na mesma cama com ele. Meu coração aperta ao pensar isso.

— Está — fala ela. — Ele mora em um dos prédios. Eu disse que preferia dormir em uma das barracas algumas semanas atrás. Então, passamos a morar separadamente. Mas continuamos tão grudados como antes. Ele está caçando agora. Não sei o porquê dele ter escolhido ser da turma da manhã.

Ergo as sobrancelhas, surpresa novamente. Turma da manhã? Quer dizer que há uma turma para cada parte do dia? Será que foi a turma de Buscadores noturna que nos encontrou?

Isso é bem mais organizado que o condomínio. Provavelmente eles nunca tiveram problema de escassez, já que há pessoas buscando suprimento o tempo inteiro.

Me lembro do protesto que ocorreu no condomínio. É quase impossível não comparar esse lugar com o condomínio e ver que lá era muito ruim comparado a aqui.

Como seria se eu tivesse encontrado esse refúgio ao invés do condomínio? Como estaria minha vida agora? Eu estaria fugindo da LPB? Eles nunca iam descobrir que eu era a Escolhida. Então, nunca iriam atrás de mim. Eu seria livre deles.

Mas... E o condomínio?

Eles estão sofrendo lá. Eles precisam de ajuda. E nós, do lado de fora, somos os únicos que podemos liberta-los da LPB. Por algum motivo, eu me sinto responsável pelo condomínio. Por todos eles. Me lembro de quando eles se arriscaram por mim. Chegou a hora de eu me arriscar por eles.

Chegou a hora de nós revidarmos.

Meus pés já estão doendo quando nós chegamos na barraca. A barraca é enorme. Parece ter uns três metros de altura e eu nem sei quanto de largura. Estou ansiosa para ver Harry e Dylan. Estou ansiosa para ver Demi e Niall. Estou ansiosa para ver Ari e...

Bom, o outro nem tanto. Louis... O que será que fizeram com ele?

— Quando vocês nos encontraram, estávamos com um garoto chamado Louis conosco. Você sabe onde ele está? — indago.

— Sim! Seus amigos disseram que ele era perigoso e nós o trancamos na Prisão, onde as pessoas que descumprem as regras ficam. — ela explica.

Nós paramos na frente de uma das aberturas para a barraca. Ela se vira para mim.

— Pode ir, os Curadores irão te guiar até seus amigos. Preciso avisar Tomás que você acordou e logo vou voltar para te guiar até a Goteira.

Por um segundo, eu esqueço o que é Goteira e me assusto com a palavra. Mas então, me lembro que é o prédio onde os sistemas hidráulicos estão funcionando.

Balanço a cabeça, afirmando. Anne me dá um abraço e sai correndo para outra direção.

Olho para a abertura da barraca. Antes de entrar, tento entender tudo o que aconteceu hoje. Eu acordei e sofri um enxurrada de explicações sobre esse parque. Explicações que eu ainda nem consegui entender direito.

No meio de toda essa explicação, acabei esquecendo de perguntar onde está meu arco. Mesmo sabendo que estou segura aqui, eu quero estar com meu arco para caso de qualquer surpresa aparecer. Já me cansei de surpresas desse tipo. Quero estar preparada. Eu preciso estar preparada.

Quando estou quase entrando na cabana, me lembro de Harry. Será que ele vai querer que eu entre aqui? Será que ele quer me ver?

Nós terminamos. Mas ele me salvou. Bom, terminamos mas não nos odiamos. Ainda podemos salvar uns aos outros. Mas será que é uma boa ideia entrar? Será que ele vai gostar de me ver?

Pela primeira vez, tomo a decisão pensando apenas em mim.

Passo pela abertura da cabana.

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