Office-boy em Apuros

By marisback

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Aguentar a constante perseguição de Plínio, supervisor dos boys do escritório, não é fácil! Mas isso é o de m... More

Ed Onda
Fígado com goiaba
As gêmeas mingau
Onde é que está o cisne?
O patrãozinho
Você já contou essa história
Eu sabia...
O convite, por favor
Um boy que caiu do céu
Um curativo bem temperado
Eugênio vai cair nas minhas mãos
O batismo de Eugênio
O senhor não gostou do bolo?
Quem vigia Edmundo?
Preciso tomar banho?
Um problema de português
Tarde de vento e de espanto
Quem?!
Coisas que a gente não sabe
Vou fazer tudo sozinho?
Quarta-feira negra
Cílios batendo feito leque
Justa causa
Tem vaga?
Fiz bobagem?!
Pai e filho
Esse negócio arde mesmo!
Situação difícil de explicar e de entender
A última aventura de Eugène Flammarion

As bolhas assassinas

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By marisback

No jardim, a ansiedade de Eugênio aumentava. Os gases se acumulavam em seu estômago. A temida aerofagia estava à espreita. De repente, um certo murmúrio chegou de dentro. O homem de terno verde-garrafa entrou esbaforido, dizendo para as cantoras:

- Mister Fairfax chegou! Mister Fairfax chegou!

- O trio passou a tocar "Good Save the Queen". Em ritmo de bossa nova. Fairfax era magro como um alfinete. Trajava um conjunto safári bege e passava o tempo todo com um lenço na nuca, enxugando o suor. Entrou no salão, acompanhado de grande comitiva.

Eugênio pensava no que fazer a respeito do contrato, quando viu a namorada de Plínio se aproximar. Em sua direção. Sem lugar melhor, jogou a pastinha por baixo da mesa do cisne de gelo.

- Plínio ficou tão alvoraçado com a chegada do inglês, que eu achei melhor dar uma volta aqui fora - disse Maria Isabel, puxando conversa. - Parece que ele é o convidado especial!

- Parece.

- Fizeram essa festa toda pra ele?

- Não.

- Por quê, então?

- Aniversário.

- Quem faz anos?

- Eu.

- O Plínio não me disse nada!... Parabéns!
Disse isso e chamou o garçom. Pegou os copos e entregou um a Eugênio.

- Você se importa de brindar com água mineral? É que eu não bebo refrigerante - revelou Maria Isabel.

Eugênio olhou, apavorado, a água em seu copo. Era água mineral. Com gás.

- Agora... Feliz aniversário!

Levantaram os copos para a saudação e beberam tudo. Em seguida, Maria Isabel se aproximou e deu um beijo no rosto do aniversariante. Eugênio sentiu os gases querendo subir.

- Agora você me dá licença - disse Maria Isabel. - Vou ver se o Plínio está mais tranquilo.

E se foi. Eugênio não pôde acompanhá-la nem com os olhos. Travava um luta inglória contra seus gases. Só depois de alguns minutos conseguiu murmurar, baixinho:

- Você é tão bonita...

Mas ela já estava bem longe.

No salão, as coisas não andavam nada bem para o lado do doutor Ignácio. Não encontrava um dos tais contratos - o mais importante. Tinha remexido todas as suas coisas: nada.

Seu sobrinho era um fracasso como intérprete; dizia yes ou no para tudo. Mister Fairfax começava a dar mostras de irritação. Gesticulava nervosamente. Doutor Ignácio não sabia mais o que fazer.

Foi aí que avistou Eugênio. O menino chegava do jardim. Andava muito devagar - passo a passo - e tinha uma expressão concentradíssima.

- Filho!

Eugênio estancou. Voltou os olhos na direção do pai, devagarinho. Doutor Ignácio acenava para que se aproximasse. O garoto obedeceu.

- Não pode andar mais rápido?

Eugênio não conseguiu responder. Os gases estavam em revolução dentro dele. Seu pai gesticulou para o inglês, indicando seu rebento.

- Comprimente o nosso convidado.

O garoto estava mudo. Sentia-se quase hipnotizado com as bolinhas que rebentavam na taça de champanhe de Mister Fairfax.

- Como é, filho? Não diz nada?

O inglês estava sério. O garoto tentou dizer "boa noite": abriu a boca e o que se ouviu foi uma espécie de rugido selvagem ecoando das profundezas; começou baixinho, quase imperceptível; depois veio crescendo, crescendo...

- Rrrrrrrrrroooaaaaaarrrrrgh!

Estava feito. Eugênio tinha arrotado. "A aerofagia venceu a batalha final", pensou.

Um silêncio tumular caiu sobre sala. Todos os convidados fixaram os olhos no filho do doutor Ignácio. Uma longa pausa se fez. Ouvia-se apenas, vindo do jardim: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..."

De repente, um cheiro de queimado penetrou no salão. Alguns convidados chegaram a perguntar: "Minha nossa, que foi que esse moleque andou comendo?" O homem de paletó verde-garrafa entrou, gritando:

- Fogo! Fogo no jardim!

Houve um alvoroço. Todos correram na direção do jardim. Só Fairfax ficou. Bebeu o resto do champanhe em sua taça. Levantou-se. E saiu, calmamente, pela porta da rua.

Eugênio chegou a tempo de ver o fogaréu. Uma fagulha tinha caído dentro do ponche. A labareda atingida o toldo. Os garçons tentavam inutilmente controlar o incêndio.

O cisne de gelo ia se dissolvendo entre as chamas: o longo pescoço foi encolhendo.

- Meu cisne... - choramingava o homem de paletó verde-garrafa de um lado.

- O ...rrrroooaarrgh... contrato... - murmurava o Eugênio do outro lado, arrotando mais uma vez.

O fogo consumia tudo. Inclusive a pastinha de Edmundo onde estava o contrato que o doutor Ignácio tanto procurava. Eugênio percebeu que arranjara uma grande encrenca com seu pai.

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