O SEGREDO DA NOITE

Oleh barwless

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❝ VOCÊ TEM CORAGEM PARA DESVENDAR O MISTÉRIO?❞ Já havia tornado-se um hábito corriqueiro, de certa forma, um... Lebih Banyak

O SEGREDO DA NOITE
OS SUSPEITOS
ADAPTAÇÕES
EPÍGRAFE
PRÓLOGO: ANTES DA TEMPESTADE.
UM: O BOM FILHO À CASA TORNA.
DOIS: É UMA LONGA NOITE EM VENTURA.
TRÊS: QUANDO O PERIGO MORA AO LADO.
QUATRO: NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO.
SEIS: NÃO BRINQUE COM FOGO.
SETE: NO DESPERTAR DA MADRUGADA.
OITO: CORAÇÕES JOGADOS AO VENTO.
NOVE: FIM DE JOGO.
DEZ: O SOL NASCE AO HORIZONTE.
ONZE: PRECISAMOS FALAR SOBRE O HARRY.
DOZE: MEIA-NOITE EM VENTURA.
TREZE: VERDE ESMERALDA.
|QUARTOZE| - NOITES DE TORMENTA.
|QUINZE|- O CANTO DA SEREIA.
|DEZESSEIS| - ENQUANTO HOUVER ESPERANÇA.
|DEZESSETE| - PORSCHE 1956.
|DEZOITO| - AMOR EM VERMELHO.
|DEZENOVE| - ENTRE A LINHA DO HORIZONTE.
|VINTE| - AO CAIR DA NOITE.
|VINTE E UM| - O NASCER DA ESPERANÇA.
|VINTE E DOIS| - AS ESTAÇÕES.
|VINTE E TRÊS| - A RAPOSA.
|VINTE E QUATRO| - DISTÚRBIOS DE UMA MENTE INSANA.
|VINTE E CINCO| - FÚRIA DE TITÃS.
|VINTE E SEIS| - O GUIA DE NAVIOS.
|VINTE E SETE| - QUANDO O INVERNO CHEGAR.
|VINTE E OITO| - MARÉ TURBULENTA.
|VINTE E NOVE| - A ÚLTIMA ESPERANÇA.
|TRINTA| - O NEVOEIRO.
|TRINTA E UM| - UM PORTO SEGURO.
|TRINTA E DOIS| - REDENÇÃO.
|TRINTA E TRÊS|- NO LIMITE DO AMANHÃ.
|TRINTA E QUATRO| - UM AMOR DE VERÃO.
|TRINTA E CINCO| - AS FASES DA LUA.
|TRINTA E SEIS| - O VALE DAS BONECAS.
|TRINTA E SETE| - QUERIDO HARRY.
|TRINTA E OITO| - SOB O BRILHO DAS ESTRELAS.
|TRINTA E NOVE| - OLHOS AZUIS.
|QUARENTA| - QUANDO UM ESTRANHO CHAMA.
|QUARENTA E UM| - NO OLHO DO FURACÃO.
|QUARENTA E DOIS| - Á ESPERA DE UM MILAGRE.
|QUARENTA E TRÊS| - DEPOIS DA TEMPESTADE.
|QUARENTA E QUATRO| - SETE DE COPAS.
|QUARENTA E CINCO| - O SEGREDO DA MENTE.
AGRADECIMENTOS.
CONTO - LABETTE

CINCO: NO BICO DO CUERVO.

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Oleh barwless

É CERTEIRO AFIRMAR que entre todas as festas realizadas pelas fraternidades da faculdade de Ventura, existe uma em particular que destaca-se e consagra-se ainda mais a cada novo ano por ser a melhor festa do campus. Organizada pela fraternidade Alpha Kappa, a Sunrise é realizada no final do primeiro semestre do ano letivo, dando as boas vindas para o início das férias de verão e fazendo a alegria geral dos universitários.

Marcada pelo tema tropical, a festa tem o seu início ao pôr do sol e vira a madrugada com o intuito de que todos festejem até o nascer do sol, o que convenhamos não é uma tarefa árdua de se realizar para nós, meros universitários. Afinal, um bom universitário que se preze,  já chegou pelo menos uma vez em casa depois das dez da manhã ao fim de  uma boa festa.

O ambiente orna perfeitamente com a temática da festa, da qual é realizada na praia com diversas tochas de bambu acessas ao perímetro delimitado, assim como as roupas e acessórios ao bom estilo havaiano usado pelas pessoas. De onde estou consigo ver a grande fogueira que foi montada afastada, de modo proposital, para que as pessoas pudessem ouvir e cantar boas músicas tocadas ao violão, sem a interrupção da tenda eletrônica que está estruturada na outra extremidade do âmbito da festa.

Este ano Liam tornou-se um dos veteranos da fraternidade Alpha Kappa, o que faz dele uma das pessoas mais conhecidas da festa, em outras palavras, o bom e velho anfitrião. Já perdi as contas das vezes em que eu o vi passando apressado com sua atenção voltada a certificar-se para que tudo esteja em ordem, entretanto, na mesma proporção de atenção que ele faz questão que Claire receba. Afinal, o estereótipo de namorada ciúmenta, faz muito bem o biótipo de minha amiga.

Não que ela se orgulhe disso.

Atento-me a conversa paralela de Niall e Louis, sentados ao meu lado na areia da praia, enquanto dialogam sobre o campeonato de futebol. Fazendo com que eu perca o interesse na conversa deles no mesmo instante que descubro o assunto que está sendo tratado. Eu bebo mais um gole da minha bebida - vodka com energético - observando os copos que meus amigos tem em mãos.

Enquanto Niall está ao final de mais um copo de cerveja, o de Louis está pela metade e contém apenas água no recipiente descartável. O moreno não havia colocado um gole se quer de álcool em seu organismo desde o momento que chegou na festa. Por outro lado, Niall compensa bebendo o equivalente a três pessoas, o famosinho pé de cana. E que já apresenta alguns sinais de embriaguez nessa noite, olhos caídos, fala pausada e lenta, sem contar o fato da perda de contagem do consumo do álcool ingerido. Percebo que o assunto da conversa entre Niall e Louis mudou de foco, o que de fato atiça a minha curiosidade e eu passo a prestar atenção ao diálogo de ambos.

─ Meus pais voltaram para São Francisco para finalizar alguns assuntos pendentes da mudança, enquanto isso eu estou ficando com minha avó por precaução.

─ Ah, entendi. ─ Niall conclui após alguns segundos em silêncio. O efeito do álcool já está debilitando o seu raciocínio. ─ Vou buscar mais cerveja.

O loiro se levanta e o solo irregular de areia faz com que ele cambalei antes de manter-se em pé novamente. Niall observa o ambiente a sua volta, firmando as vistas à procura do bar, e leva alguns segundos até recobrar o sentido.

─ Ele está bêbado. ─ Louis sussurra, cutucando meu braço com o seu cotovelo e achando graça da situação de Niall, á medida que vemos o loiro distanciar-se de nós e misturar-se com a aglomeração da pista de dança, buscando seu caminho até o bar.

─ Acho que todo mundo nessa festa está levemente alterado.─ Eu afirmo, vendo Louis menear a cabeça.

─ Nem todo mundo. ─ Ele diz risonho, erguendo o próprio copo com água, porém percebo um tom sarcástico que se esconde nas intenções de suas palavras.

Eu disfarço, ficando sem jeito de continuar nossa conversa, passando a observar a movimentação das pessoas, contudo, percebo o pesar de olhos de Louis sobre mim. Sinto-me incomodada e uma sensação estranha surge dentro de mim, talvez possa ser o efeito do álcool, eu concluo. Entretanto, essa sensação não é prolongada devido a voz estridente de Catarina chamar por meu nome.

─ Miaaaaaaaa! ─ Ela grita novamente, enquanto movimenta-se ligeiramente em minha direção. Eu não tenho um tempo de resposta, já que sou puxada pela mão, não restando-me outra alternativa do que a de seguir minha amiga.

─ O que foi? ─ Pergunto, sem entender o que está acontecendo, enquanto sou levada para dentro da multidão. O copo que tenho em mãos é esbarrado em algum corpo, escapando por entre meus dedos até o chão. Bufo, revirando os olhos e irritando-me com os movimentos apressados de minha amiga. ─ Porra, Catarina, vai devagar!

─ Doses de tequila! ─ Catarina grita, animada, e tenho a certeza que as minhas palavras não foram escutadas por ela. Observo a mesa pequena e esguia, e ao reparar o ambiente a minha volta, percebo que existe mais algumas mesas como essa espalhadas sobre a areia da praia.

Claire também está presente, abraçada e aconchegada em volta dos braços de Liam, que aparentemente deu uma sossegada entre checar uma coisa ou outra da festa. Vejo Louis aproximar-se de nós, ele sorri gentilmente em minha direção e eu retribuo o gesto. Volto a observar a mesa posta a minha frente, com várias doses de tequila, o que não me faz ter um bom pressentimento do que Catarina está aprontando.

─ É o seguinte, são doze doses de tequila. Três para cada uma.─ Catarina diz empolgada, apontando para eu e Claire, deixando claro que a disputa é entre nós três. ─ Quem terminar as três doses por último, deve tomar as outras três restante. Fechado?

─ Isso não vai prestar.─ Liam se manifesta, rindo, enquanto bebe mais um gole da cerveja que tem em mãos.

Catarina o ignora, lançando um olhar persuasivo em direção a mim e Claire, sua característica manipuladora surge efeito, fazendo com que nós cedemos a proposta. Afinal, estamos nessa festa para nos divertir, o que algumas dozes de tequila pode causar de errado. Aproximo-me da mesa, vendo Catarina separar três doses para Claire e depois para mim, logo em seguida separa as suas, deixando por fim as três doses para a futura perdedora ao centro da mesa.

─ Prontas? ─ Liam pergunta, esperando que todas concordem. Catarina gesticula que devemos ficar com as mãos para trás das costas para que assim o jogo comece. ─ Valendo!

Ao ouvir a voz de Liam dando início, eu viro rapidamente a primeira dose, sentindo o gosto do álcool arder em minha garganta, fecho os olhos e chacoalho as mãos em respostas ao fim da primeira dose. A segunda dose desce ainda pior em minha garganta e a ausência do acompanhamento do limão e sal fazem grande diferença. Respiro fundo, tomando fôlego antes de iniciar a última dose, sinto o teor alcoólico mais presente dessa vez e a medida que termino de tomar o líquido amarelado, a voz estridente de Catarina grita em comemoração.

─ Eu ganhei! ─ A morena celebra empolgada, dando tapas na mesa em comemoração como se fosse um tambor. De fato, a pior versão de Catarina, é a sua versão vitoriosa.

Minha ficha cai do que está em jogo, fazendo com que de imediato meus olhos encarem Claire que para a minha total felicidade, ainda tem metade de sua última dose no copo. Ela havia perdido!. Sem coragem Claire termina o que tem em mãos e passa a olhar frustrada para as outras três doses de tequila sobre a mesa. Meu primo deixa uma gargalhada escapar ao observar as feições de sua namorada, e aproxima-se dela depositando um beijo sobre sua testa.

─ Coragem amor, só mais três doses. ─ Ele tenta conter sua risada, mas falha, fazendo com que Claire dê um tapa em seu braço.

─ As doses de tequila não vão sumir sozinhas. ─ Catarina diz risonha, aproximando as doses na direção da minha amiga perdedora. ─ Anda logo, Claire, sem frescura!

─ Não enche Catarina, eu vou tomar. ─ A morena nos lança um último olhar de misericórdia, mas não surge o efeito desejado, afinal todos ali presentes sabem que Catarina não ia deixar barato. Aquela típica frase; 'Eu perco o amigo, mas não perco a piada' , é o que exemplifica muito bem a personalidade de Catarina em algumas situações.

Sem mais delongas, Claire suspira e vira a primeira dose, sua cara de desgosto tira risadas de nós. A verdade é que ela nunca foi forte para bebidas com álcool, dois copos já eram o suficiente para deixá-la praticamente em outro mundo. O que sabemos que o resultado de seis doses de tequila não será favorável para minha amiga. Ao terminar todas as doses, Claire não aparenta estar muito bem, ela pisca algumas vezes tentando encontrar foco em suas vistas, enquanto o gosto amargo ainda deve estar presente em sua garganta.

─ Vamos dar um volta, amor. ─ Liam é gentil, escorando a namorada em seus braços a medida que ele fuzila Catarina com o olhar, que o ignora completamente, não dando a mínima para atitude de meu primo.

─ Isso foi desnecessário, Catarina. ─ Louis a repreende, enquanto vemos Liam e Claire se afastar de nós para um lugar mais calmo da festa.

Fica na sua Louis! ─ Catarina grita, mostrando sinais de alteração em seu comportamento. ─ Caralho! Aposta é aposta! ─ A morena o empurra, tirando Louis da frente de seu caminho, e andando desenfreada para o meio da multidão.

─ Cat , espera. ─ Tento pará-la, sabendo que andar sozinha não possa ser uma boa ideia, mas em questão de segundos a perco do meu campo de visão, começando a sentir a minha vista levemente turva.

As tequilas chegaram até a mim!

─ Precisava cutucar a fera? ─ Refiro minha pergunta a Louis, que está apoiado com os braços sobre a mesa. Ele ri, encolhendo os ombros e algo parece chamar sua atenção. Olho na mesma direção, vendo a aproximação de Niall.

O loiro caminha animado em meio a alguns passos de dança improvisados, com um copo de cerveja nas mãos. E eu automaticamente penso em quantos copos haviam sido tomados a mais desde a hora que ele afastou-se de nós.

─ Essa festa está boa pra cacete! ─ Eu e Louis concordamos com ele em um rápido aceno de cabeça.

─ Sem dúvida alguma. ─ Digo, rindo dos últimos acontecimentos. Niall claramente não entende a referência e antes que ele possa questionar-me, um som de celular tocando o interrompe.

De imediato, a minha mão vai até o bolso da saia que uso e onde meu celular se encontra, certificando-me que o som emitido não pertence ao meu aparelho. Niall faz o mesmo, mas notamos que é Louis quem leva o celular de encontro ao seu ouvido, afastando-se em um falha tentativa de atender a ligação e escutar o que é dito no outro lado da linha.

─ Você e Louis, né? ─ Niall diz, apontando com o dedo indicador na minha direção e em seguida no sentido que Louis se encontra em meio a ligação do celular. Eu sei decifrar muito bem a conotação das poucas palavras que Niall usou, sugerindo que algo estivesse acontecendo entre eu e Louis.

─ Pode parar. Não tem nada rolando entre nós. ─ Niall sorri, acenando com a cabeça ironicamente, desacreditando na veracidade das minhas palavras.

─ Ainda, né. ─ Ele ergue as sobrancelhas, achando graça e eu empurro seu braço em uma tentativa de fazê-lo parar. ─ Louis está voltando. ─ Niall indica com um leve aceno de cabeça, enquanto bebe um gole da cerveja em seu copo.

─ Está tudo bem? ─ Pergunto a Louis, ao perceber a sua fisionomia de preocupação.

─ Era a minha avó no celular. Ela não está sentindo-se muito bem, vou ter que levá-la até o hospital.

─ Se precisar de ajuda, eu vou com você.─ Niall prontifica-se como o bom amigo de sempre.

─ Não.─ Louis é rápido e seco em sua resposta imediata, deixando eu e Niall surpresos e intrigados com a postura tomada. ─ Não quero estragar a sua noite, mas agradeço pela ajuda oferecida.─ O moreno remodela suas palavras, dando alguns tapinhas cordiais nas costas de Niall.

─ Qualquer coisa entre em contato com a gente. ─ Afirmo, e Louis sorri gentil em resposta. Ele acena brevemente, caminhando para a saída sem mais delongas e aos poucos sua figura torna-se distante.

Olho o ambiente a minha volta, vendo as várias pessoas divertindo-se e em uma tentativa frustada eu tento encontrar Catarina mais uma vez. Não gosto da ideia dela andando por aí sozinha e alcoolizada. Contudo meus pensamentos são interrompidos pela risada de Niall e a movimentação que se aproxima. Claire está escorada aos braços de meu primo, enquanto anda com muita dificuldade até nós.

─ Você está bem, Claire? ─ Niall pergunta irônico, achando graça da condição da morena.

─ Eu...bebi...só ─ A fala de Claire é pausada e dificultosa. Ela tenta gesticular com a mão o "pouquinho" que bebeu, mas a tentativa é em vão. Seus braços parecem ter um peso enorme e ela mal consegue erguer a mão.

Liam acomoda Claire de melhor forma em seus braços e retira os fios que caem em seu rosto. Ela tenta pronunciar mais algumas palavras, entretanto, sua fala está tão bagunçada que ninguém consegue entender o que de fato ela diz.

─ Vou levá-la para casa. ─ Liam ajeita a namorada em seus braços mais uma vez, enquanto o corpo dela tende a pesar sobre o seu. E a fisionomia de preocupação torna-se destaque ao semblante de meu primo. ─ Quer uma carona para casa, Mia?

Assinto, aproveitando a oportunidade oferecida, uma vez que a festa em sí não atrai mais o meu interesse. Despeço-me de Niall dando a ele um abraço e um último pedido.

─ Encontre a Catarina e leve ela embora, por favor. ─ O abraço caloroso de Niall é bem vindo e ele deposita um beijo em minha bochecha.

─ Pode deixar que eu encontro aquele furacão. ─ Ele sorri, dando uma piscadela. E inesperadamente o loiro retira o celular do bolso registrando a cena de Claire alcoolizada. ─ Recordação para o dia de amanhã.

─ Ela vai te matar. ─ Brinco, achando graça da situação.

Niall e Liam despedem-se com um toque de mão e brevemente conversam entre si, o timbre usado por eles é baixo e o som das batidas da música impossibilitam que eu possa entender algo. Por sua vez, Claire está com os olhos fechados rendida ao sono e sua feição está abatida deixando claro sua derrota para a tequila.

Por fim, os dois terminam de conversar e Liam inicia o trajeto até a saída, enquanto eu sigo seus passos. Não sei dizer ao certo se é o peso da areia que sobrecarrega meus passos ou o efeito do álcool que está mais presente em meu corpo, mas sinto dificuldade em locomover-me. E para ajudar, durante o percurso, Liam é parado por algumas pessoas que o elogiam sobre a festa ou perguntam sobre o estado de Claire. E mesmo com as palavras curtas e objetivas de meu primo algumas pessoas ainda tende a prolongar o assunto.

Enfim, depois de algum tempo e obstáculos chegamos ao carro de Liam. Eu o ajudou ajeitar Claire no banco de trás, enquanto ela resmunga algo inaudível em meio ao próprio sono. Liam acha graça, mas o seu lado preocupado é evidente a cada olhar e gesto direcionado a Claire.

─ Ela vai ficar bem. ─ Digo, reconfortando meu primo, que sorri gentil em resposta.

Dou a volta no veículo, entrando ao lado do passageiro, enquanto Liam ajeita o retrovisor, antes de dar partida no jipe. A orla da praia de onde ocorre a festa não é distante da minha casa e da de Claire, normalmente o percurso todo duraria cerca de dez minutos, porém, levando em consideração que estamos no meio da madrugada e sem trânsito, esses minutos serão reduzidos.

O efeito do álcool em meu organismo está mais presente, sinto uma leve zonzeira ao olhar através da janela e perceber a movimentação do carro. Fecho os olhos, em uma tentativa de recobrar os meus sentidos á medida que sinto os meus músculos relaxarem.

─ Como anda a vida em Boston, loira? ─ A voz de Liam chama-me de volta para a realidade e eu sei que é de maneira proposital, já que ele é gentil demais para apontar que estou embriagada.

─ Sem vida social, já que a universidade está ocupando boa parte do meu tempo. ─ Afirmo, sentindo certa dificuldade em formular meu raciocínio corretamente.

─ Garanto que isso não melhora com o tempo. ─ Ele ri, dando atenção ao volante enquanto cruza uma rua. ─ E a tia Grace como está? Não a vejo desde a separação.

─ Por mais que tudo foi amigável, acho que ela ainda não está pronta para voltar. ─ Encolho os ombros, sem saber ao certo o motivo que inibe minha mãe a visitar Ventura uma vez ou outra.

O jipe adentra a rua de casa e eu agradeço mentalmente por isso, o nível que eu desejo a minha cama nesse momento é altíssimo. E á medida que meu primo estaciona com o carro em frente a casa de Claire, eu avisto a minha própria casa com as luzes todas apagadas, o que certifica que o Sr. Velmonte já caiu no sono a cerca de horas.

Saio do carro, ao mesmo instante que minhas pernas bambeiam e eu perco o equilíbrio, entretanto a porta do carro serve-me de suporte para que eu me restabeleça. Respiro fundo e busco focar minha vista em algo, para que assim eu possa seguir até a minha casa.

─ Está tudo bem?─ Liam surge ao meu lado e eu automaticamente busco apoio em seus braços, o que entrega totalmente a embriaguez que eu estava tentando ocultar dele. ─ Vou te levar para casa.

─ Eu consigo ir sozinha. ─ Digo, desvinculando-me de seu braço e voltando a apoiar-me na porta do carro. ─ Cuide da Claire, ela está apagada dentro do carro.

─ Exatamente, ela não irá a lugar nenhum. ─ Liam afirma, enquanto passa um de meus braços até a volta de seu pescoço. ─ Eu vou deixar você em casa e volto para cuidar da Claire. ─ O alarme da trava do jipe é acionado, fazendo com que eu me sinta um pouco menos mal por deixar a minha amiga sozinha.

Olho para o carro percebendo que estou distanciando-me dele, á medida que a minha visão está começando a ficar embaralhada, e o meu raciocínio já não funciona perfeitamente como antes.

─ O que aconteceu? ─  Uma voz conhecida rompe com o silêncio da noite e ao erguer meu olhar, noto a figura de Harry levantar-se da pequena escadaria da varanda e aproximar-se de nós.

─ Tequila. ─ Liam justifica com o tom caçoador em sua voz.

─ Pode deixar que eu a ajudo entrar. ─ Harry prontifica-se, mas eu recuso sua ajuda em negação com a cabeça. Entretanto, minha conduta não é notada por ambas as partes ou se foi, eles a ignoraram.

Sendo assim, tendo o meu breve protesto recusado, eu sou obrigada a perceber que a ausência de meu primo tornar-se presente. Harry me escora, e meus passos são guiados em direção aos fundos da casa até ao portãozinho de grade que libera o acesso. A princípio penso que ele optou pela entrada da cozinha, entretanto sou surpreendida quando passamos reto pela porta.

Eu o encaro, notando o seu olhar esverdeado que olha-me de relance ao perceber que eu o observo. Disperso de seu rosto por alguns instantes, vendo a imagem da minha casa ficar para trás e a forma da edícula tornar-se mais nítida a minha frente.

─ Para onde você acha que está me levando? ─ Pergunto, ciente que o tom ríspido é evidente em minha voz.

─ Eu não vou entrar na sua casa no meio da madrugada só para colocar você para dormir na cama. ─ Ele é sarcástico e lança-me um sorriso debochado.

─ Então, eu vou sozinha. ─ Afronto, tentando desvincular-me de Harry.

─ Claro que você vai, e de sobra ainda é capaz de se machucar no caminho até seu quarto. ─ Ele soa calmo, e percebo que o sarcasmo esvai aos poucos de suas palavras. ─ Minha consciência não permite que eu a deixe ir embora sozinha, não nesse estado de embriaguez.

Sem dizer nada em reposta, eu tento desvincular-me dos braços de Harry. Estou cansada e minha mente está desalinhada demais para formar frases que possam surgir algum efeito favorável. Entretanto, sou surpreendida quando ele usa uma das mãos pra impedir que qualquer som seja emanado de minha boca, ao mesmo instante que o seu braço livre envolve minha cintura, impedido qualquer movimento meu que não seja guiado por ele.

A passos apressados sou levada involuntariamente para dentro da edícula. Sinto meu sangue ferver e uma imensa vontade de socar a cara de Harry pela sua maldita audácia. Tudo acontece muito rápido e o eu fato de eu estar embriagada, torna a minha reação lenta e desastrosa. Ele me solta, entretanto fica estático em frente à porta, aparentemente querendo impedir minha passagem de sair da edícula.

─ Mas que porra foi essa agora? ─ Esbravejo, e não tenho a certeza se as minhas palavras saíram com a clareza que eu desejo nesse momento.

─ Para o caso de você querer gritar. ─ Harry não altera seu tom de voz, assim como não altera sua postura diante a mim. ─ Olha, eu não me importo por onde você esteve ou o que você fez para ficar desse jeito. Eu só não quero que seu pai pense que eu faço parte dessa fuzarca toda. ─ A preocupação o predomina, mesmo que ele tente escondê-la.

É evidente o quanto Harry se importa com a opinião que meu pai tem ou possa vir a ter sobre ele. E eu surpreendo-me ao ter a consciência que pouco sei sobre essa interação que existe entre eles, mas, que aparentemente parecem ter constituído uma relação benevolente. E diante a essas circustâncias eu não desejo ser um fator que possa desencadear algo prejudicial à eles.

Além disso, eu tenho a total noção, mesmo que eu não queira dar o braço a torcer para Harry, de que não estou apta para seguir sozinha, realmente a escada para ter acesso ao segundo andar da minha casa seria um perigo eminente á minha saúde física. Sento-me ao sofá, enquanto o alívio percorre por minhas pernas e minha cabeça dói, em um misto de zonzeira e desordem.

─ Está bem. ─ Concluo, após uma longa pausa em silêncio, entregando minha redenção a Harry. ─ Mas onde eu vou dormir?

─ Você pode ficar com o sofá. Não se preocupe, ele é confortável. ─ Noto o sorriso travesso que surge ligeiro em seu rosto, mas que desaparece rapidamente na mesma proporção em que veio. ─ Estou brincando, eu fico com o sofá e você pode dormir na cama. ─ Seu olhar direciona-me para o rumo da cama, ao passo que os meus olhos o acompanham. ─ Precisa de ajuda para chegar até lá?

─ Não.─ Eu o encaro e percebo o ar provocativo nas palavras anteriormente pronunciadas por Harry.

Respiro pausadamente, contanto mentalmente até o número três e esperançosa de que minhas pernas não irão bambear ao serem forçadas a levantar e sustentar o restante do meu corpo. Dou alguns passos em direção a cama, passando por Harry que abre passagem para que eu continue. Meu corpo cambaleia, e mesmo que eu tente recobrar meu equilibro, é tarde demais para isso, meus pés tropeçam entre si. E eu automaticamente fecho os olhos esperando pelo impacto até o chão.

O que não acontece!

Eu sinto os braços de Harry segurarem em minha cintura, impedindo que eu consolidasse a minha queda e usando a sua força a seu favor, Harry ergue meu corpo de volta. Eu viro-me em sua direção, percebendo o quanto estamos próximos. Meu olhar vai de encontro aos seus, mas meus olhos atentam-se aos seus lábios carnudos e rosados entreabertos. Não nego o desejo que sinto em querer beija-lo, mesmo que eu tente afastar esses pensamentos de minha mente.

─ Você está bem? ─ Sua voz gentil dispersa meu olhar, fazendo eu voltar a encarar seus olhos esverdeados.

Assinto com um breve gesto de cabeça, enquanto o olhar de Harry analisa meu rosto e sua mão acaricia meus cabelos. Eu fecho os olhos com a sensação boa que o seu toque trás, entretanto, a distância tornar-se presente entre nós novamente. Seus braços desvinculam-se da minha cintura, e ele afasta-se de mim à medida que seu semblante torna-se pensativo.

─ É melhor você ir dormir, Mia. ─ Seu olhar evita o meu, e ele caminha em direção ao sofá.

Sem entender ao certo os acontecimentos dessa noite, eu suspiro. Frustrada e exausta. Eu tento recobrar o mínimo possível da minha concentração e coordenação a fim de seguir até a cama sem mais nenhum deslise. A passos calmos e lentos, eu chego ao destino desejado e sento na beira do colchão. Observo Harry, enquanto ele arruma o sofá para poder se deitar.

─ Precisa de algo? ─ O moreno prontifica-se, ao notar meu olhar sobre ele. Nego com a cabeça, sorrindo gentil em agradecimento. Ele termina seus afazeres e caminha até o interruptor apagando as luzes.─ Boa noite, Mia.

A escuridão sobrevalece ao ambiente, mas eu consigo escutar o som dos passos de Harry caminhar de volta até o sofá. Ele acomoda-se ao estofado, que emite sons de molas que deveriam ser trocadas, e aos poucos tudo volta a ficar em silêncio. Eu deito-me na cama, sentindo o alivio de finalmente poder relaxar meu corpo e minha mente.

─ Boa noite, Harry.

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