Jogos da Ascensão - Livro 1 d...

By fakelbarros

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O mundo de Danitria já foi dividido em camadas. Mesmo que essas teoricamente já não existam, ela e sua famíli... More

Jogos da Ascensão
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10 (Bônus)
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25 (trecho bônus)
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Fim
É oficial: o livro 2 vai sair!!!!

Capítulo 18

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By fakelbarros

— Noiva? Do príncipe? Como isso aconteceu?

— Acontecendo. Ele pediu minha mão e estamos noivos — respondi dando de ombros.

Meu irmão não estava engolindo aquela história muito bem. Era verdade que ele não tinha vindo me questionar logo após o pedido, graças às obrigações dele e à mudança que fizeram de meu quarto para outra ala, longe das outras peças.

O quarto era maior e muito mais bonito que o anterior. Em vez de uma, tinham duas portas para uma varanda ainda maior que a anterior, assim como o espelho, o banheiro e todo o resto. Eu havia ganhado roupas novas, nada de azul, e como eu já não era uma peça, por algum motivo aleatório as outras foram automaticamente desconvidadas da festa de aniversário de Liam, por "motivos internos dos jogos".

Mateus veio à minha procura assim que conseguiu arranjar um tempo, depois que a notícia se espalhou. Estávamos ali, sentados no chão da varanda, enquanto eu tentava convencer meu próprio irmão de que estava tudo bem, quando era mais que óbvio que isso era mentira.

— Ele é legal. Ele me trata bem e isso vai mudar as coisas lá em casa — expliquei, mas não foi suficiente para tirar do olhar de Mateus aquela pergunta que não parava de martelar dentro de minha cabeça.

Quem eu queria convencer? Ele ou a mim mesma?

— E é por isso que você vai casar com ele? Pela titia e nossos primos? E você como fica?

— Serei princesa e morarei num palácio. O que mais posso querer?

— Que tal, ser feliz? É o que geralmente as pessoas querem, sabia? E você não parece muito feliz para mim.

— Você abriu mão de se casar com aquela garota que você gostava para se alistar no exército por nós. Não está numa posição muito boa para puxar minha orelha, Mateus — reclamei me levantando e indo em direção ao parapeito. — E não é como se eu gostasse de outra pessoa. Então que mal tem?

Daquela posição eu podia ver os funcionários do palácio arrumando a área ao ar livre destinada especificamente para festas. Estruturas de ferro eram carregadas de um lado para o outro enquanto ordens eram dadas.

— Fiz o que fiz para poupar vocês, mas você não precisa fazer o mesmo. Esse noivado... isso não me cheira bem — disse passando um de seus braços pelo meu ombro.

Minha vontade era mandar que ele se calasse, pelo simples motivo de não querer ouvir dele as mesmas coisas que eu me dizia a todo instante. Eu odiava estar com raiva de meu irmão por algo que não tinha nada a ver com ele.

Felicidade. Desde quando eu poderia sonhar com felicidade? Eu ia ser de Branco se não viesse para cá e, talvez, mesmo com o dinheiro que supostamente eu ganhasse nos jogos, eu poderia não conseguir quitar as dívidas da casa. Casando com Thomas eu poderia cuidar de minha família, ter um lar e um bom marido que prometeu ser o melhor que pudesse ser, mas claro que Mateus não sabia dessas coisas. A impressão que tive foi de que ele esqueceu o que é viver no gueto. Casar por amor era um luxo que nunca pude me dar. Precisava casar com alguém que pudesse colocar comida na mesa e um teto sobre nossas cabeças. Thomas era capaz de me dar muito mais que isso. Então por que meu irmão não podia ver isso? Por que eu não me sentia bem com minha decisão?

Eu sabia um dos motivos e ele tinha nome: Victória. Casar com Thomas acabava com todos meus problemas, mas roubava os sonhos de uma das duas únicas amigas. Mas que escolha eu tinha? Eu podia casar com ele, ou então poderia enfrentar o pelotão de fuzilamento por trair a coroa.

Ele faria isso? Eles me mataram mesmo por dizer não? A raiva tomou conta de mim quando me lembrei de quem era a culpa de tudo aquilo. Se Liam não tivesse me escolhido e me obrigado a isso, eu não estaria nessa situação. Ele salvou a mim e a minha família, mas fez com que eu fizesse papel de vaca.

— Nitria? Você ainda está aí?

Ouvi Mateus perguntar, parecendo estar se divertindo por eu me perder em meu devaneio.

— Ainda.

— Ei. Não fica assim, tá? Sou seu irmão e mesmo que não goste muito disso, se é o que você quer, estou aqui por você — ele prometeu beijando minha testa, da mesma maneira que costumava fazer em casa, o que me fez fechar os olhos e desejar voltar para o tempo em que éramos crianças e um beijo desses curava todos os meus males. — Tenho que ir. Se precisar conversar, sabe onde me achar.

Então ele se foi, me deixando sozinha com todos aqueles sentimentos em conflito dentro de mim.

Deixei a varanda, voltando minha atenção para o resto do quarto, procurando pela flor do dia. Eu estava guardando todas num caderno que Aliena tinha arrumado para mim, onde eu anotava detalhes sobre cada flor. Era a parte mais relaxante do meu dia. Eu me sentia como eu mesma, a garota que amava plantas, e não essa que convive com a família real e tudo mais. A formiga, e não a futura onça. Só que a flor não estava ali. Thomas tinha se esquecido e com isso tinha roubado a melhor parte do meu dia.

Respirei fundo para não explodir ali mesmo e saí com a intenção de ir para o jardim e arrumar uma flor eu mesma. Peguei o caderno e segui pelo corredor. Lógico que Adam veio atrás de mim, o que me deixou ainda mais irritada. Lancei um olhar mal-educado para ele e quando me virei esbarrei em algo, o que quase me fez cair com tudo no chão.

— Vic?

— Está fugindo de alguém? — perguntou ao massagear seu ombro que ela havia batido em mim.

— Victória, eu...

Só que ela me interrompeu, no momento exato que percebeu o que eu iria dizer. Com sua mão levantada ela queria dar aquilo como assunto encerrado, mas eu não conseguia.

— Desculpa. Mesmo. Eu não queria te magoar. Te juro. Se eu pudesse te explicar...

— Não tem nada para ser explicado. Você vai se casar com ele. Fico contente por você.

— Victória...

Não tinha como ignorar a mágoa em sua voz. A dor era mais transparente que a água. Tão transparente como as lágrimas que resolveram brotar de meus olhos.

— Espero que vocês dois sejam felizes juntos.

Um soco no estômago teria doído menos que suas palavras. Com as lágrimas já escorrendo pelo meu rosto, saí pelo palácio quase correndo, ignorando tudo e todos no meu caminho. Surtar não era uma das liberdades que eu, como peça, poderia ter, mas meu noivado deveria servir pelo menos para isso.

Passei por uma das portas que dava para os jardins e a partir desse ponto realmente saí correndo para o mais longe que eu consegui. Adam deveria ter se perdido de mim ainda dentro do palácio, em meio a tantos funcionários que entravam e saíam com coisas para a grande festa. Então, quando parei, estava realmente sozinha em meio a arbustos e flores, onde me joguei no chão e chorei, com a cabeça apoiada em um banco.

Chorei tudo que queria, tudo que podia. Sentia-me perdida e confusa. Apenas deixei fluir todo o peso que eu andava carregando em minhas costas há muito tempo, tudo de uma única vez.

Não sei quanto tempo passei ali, daquele jeito, e a sensação que tive quando as lágrimas cessaram era de ter sido anestesiada. Meus problemas pareciam terem sido lavados de minha mente e nem mesmo conseguia me sentir zangada.

Olhei para minhas mãos e vi meu caderno, já com algumas páginas amassadas. Sentei-me direito ao lado do banco e o coloquei no colo, na esperança de não ter perdido nenhuma das flores na minha correria. Meu vestido estava todo amassado e pela primeira vez me vi com algo que não era preto, branco ou azul desde que cheguei ao palácio. Um pequeno sorriso me escapou ao perceber que a estampa do vestido era florida, o que combinava com tudo em minha volta.

Com o caderno aberto comecei a andar pelo jardim em minha busca pela flor que Thomas não havia me dado. Cheguei a um quadrado onde só havia tulipas, de todas as cores possíveis e eu não tinha nenhuma delas em meu caderno.

A cor, o perfume, a textura do caule e das pétalas. Anotava cada detalhe de informação que eu conseguia extrair daquela flor. Não era a mais bonita, nem a mais cheirosa delas, mas era a minha eleita.

Estava tão concentrada que nem vi quando Liam se aproximou e quando o vi, toda minha raiva anestesiada voltou à tona. Levantei do banco em que mal havia sentado e marchei em direção ao palácio, sem conseguir ir muito longe. Em poucos passos ele me alcançou e segurou-me pelo pulso, o que fez com que eu freasse instantaneamente.

— O que você quer? — rosnei.

— Esqueceu o caderno — ele explicou o estendendo em minha direção. — Do que se trata?

— Não é da sua conta!

— Está zangada.

Soou como uma pergunta, mas não era. Em seus olhos, aqueles olhos que à luz do dia eram quase verdes. Sim, nesses olhos havia confusão e eu podia jurar que também tinha dor. Não conseguiria continuar zangada depois daquele olhar.

— Não é nada. Ficarei bem.

— Posso? — disse apontando para meu caderno ainda em suas mãos.

— Você é as Garras de Etama. Pode fazer o que quiser — respondi dando de ombros.

— Quem me dera que as coisas fossem assim, Danitria — disse tão baixo que por pouco não o ouvi.

O perfume de cada flor tomava conta do meu nariz enquanto Liam as passava, mas eu não tinha certeza se eram mesmo as flores ou meu cérebro me pregando peças.

— Quantas flores têm aqui? — perguntou.

Ele estranhamente parecia radiante e um sorriso havia brotado em seu rosto, era tão vivo que não acabei por imitá-lo.

— Já perdi a conta. Uma por dia.

— Guardou todas...

— Sim. Thomas me leva uma todos os dias.

Como em um piscar de olhos o seu sorriso sumiu e sua sobrancelha se arqueou.

— Thomas?

— Sim. Todos os dias uma flor aparece no meu quarto. Guardei todas aí. Aliena me ensinou. Disse que eram assim que as jovens guardavam esses tipos de presentes nos séculos mais distantes.

— Ela disse que eram de Thomas? — perguntou fechando o livro e o segurando firme com a sobrancelha inalterada.

— Não. Agora devolve meu caderno e arruma essa sobrancelha.

Ainda me divertindo com a cena, me aproximei e tentei tirar o caderno de suas mãos. Em vão. Tentei agarrar seu braço e arrancar o caderno, mas Liam era obviamente mais forte e me envolveu com um dos braços enquanto esticava o outro, mantendo o caderno longe de meu alcance.

— Você o quer? — provocava.

— Me devolve ele!

— Nossa! Está me dando ordens?

Seu tom era brincalhão. Só que era realmente complicado rir ou entrar na brincadeira estando tão próxima a ele. Seu braço era forte. Eu havia esquecido aquela sensação. Lembrei de quando estávamos na piscina e de quando ele me levou para andar de cavalo. Era desconcertante.

— Por favor...

— Como está sua perna? — perguntou me soltando um pouco.

— Está boa. Por quê?

— Hoje à noite poderá ter o caderno de volta. Se me acompanhar — respondeu com um olhar sério.

— À noite? Acompanhar em quê?

— Até, Senhorita Bilac.

...

A noite veio e nenhum sinal de Liam.

Eu já não era mais uma peça, então fui convidada a jantar com a família real, mas nem Liam, Felipe ou Sara apareceram naquela noite. Com o número de pessoas reduzido, tive finalmente a oportunidade de interagir com a rainha e com a convidada da Alemanha.

— Sinto como se estive em viver um conto de fadas — Evelyn disse com um forte sotaque e parecendo ainda não entender direito como o português funciona. — Sem dúvida vocês são o assunto de amanhã. A festa do Príncipe Willard vai parecer festa de noivos.

— Tentaremos não chamar muita atenção, Evelyn. Não quero roubar a noite de meu irmão — Thomas falou enquanto eu me mantinha calada.

— A festa vai chamar muita atenção por si mesma, Thomas. Willard resolveu fazer a vontade de Sara e a festa será um Baile de Máscaras — explicou a rainha tomando um gole de sua bebida, não parecia muito contente com aquilo.

— Creio que será um baile muito agradável. Lembro dos Bailes de Máscaras que mamãe fazia. Sempre foram minhas festas preferidas. Talvez seja esse o motivo de April querer há tanto tempo um — o rei comentou com um grande sorriso.

A conversa seguiu e comentamos sobre nossas roupas. Aliena tinha providenciado um vestido branco para mim, que lembrava os cisnes que ela me mostrou em algumas fotos.

Mas o jantar não durou muito graças ao humor da Rainha Cassandra, que não parecia dos melhores.

Thomas resolveu que seria uma boa ideia me deixar no quarto, então me acompanhou até a porta. Ele parecia contente por seus planos terem dado certo. Então não quis perturbá-lo com meus "problemas" pessoais.

— Não quero falar de meu noivado, certo Aliena? Isso tudo só me trouxe dor de cabeça — soltei depois de um bom tempo de silêncio no quarto.

Sei que aquilo soou exatamente como eu queria. Um apelo desesperado por ajuda.

— Vem cá — ela disse sentada no sofá, estendendo os braços em minha direção.

Arrastei-me em sua direção e desabei em seu colo. Não havia mais lágrimas para chorar, mas a angústia ainda estava ali em mim.

— Você perdoaria uma amiga sua que ficasse noiva do cara que você gosta? — perguntei.

Aliena me afastou um pouco e ficou me encarando desconfiada. Ou era minha voz que estava que nem de uma criança, ou era algo que eu tinha dito.

— Está brincando comigo, não é? Quem te contou?

— Me contou? Me contou o quê? Estou falando de Victória. Do que você está falando?

— Victória Castro? — perguntou parecendo surpresa.

— Sim. Ela me contou que era apaixonada por Thomas no mesmo dia que Liam disse que eu teria que casar com ele. Não fiz por mal. Se eu pudesse eu diria não, mas Liam não me deu opção. Minha vida e da minha família estavam em jogo. O que eu podia fazer? E o pior de tudo é que ela não sabe, não faz ideia e nem posso contar pra ela.

— Não fica assim. As coisas vão melhorar... — ela respondeu passando a mão no meu cabelo, mas eu sabia que ela só estava querendo me consolar.

— Por que perguntou se eu estava brincando? Aconteceu com você?

Não perguntei com intenção de me intrometer em sua vida. Nem mesmo achei que ela iria me responder, mas, para meu espanto, ela continuou alisando meu cabelo.

— Eu gostava de um rapaz. Ele era muito bonito, gentil... Ele também gostava de mim. Encontrávamo-nos escondido e ele me fazia poemas. Éramos jovens e não pensávamos nas consequências de nossos atos. Uma coisa levou a outra e me entreguei a ele. Nunca houve outro homem na minha vida. Só que as coisas mudaram. Com o tempo ele foi se afastando e uma "amiga" minha disse que eu tinha sido burra por ter me deitado com ele. Eu fiquei apavorada. Tinha só 14 anos. Então eu fugi e quando voltei dois anos depois, ela estava pronta para casar com ele.

— Mas que vaca!

— Concordo — disse com um sorrisinho tímido —, mas ele também não tinha ido atrás de mim. Então... tanto faz agora.

Ela soltou um suspiro, o que acabou me fazendo esquecer minhas preocupações. Não sei se reagiria muito bem a uma situação como essa. Eu mataria, ele e a amiga falsa.

— Você o amava?

— Eu o amo.

Não sabia se eu tinha pena dela ou se admirava seu amor. No fim, as duas únicas coisas em que conseguia pensar eram que Victória poderia nunca esquecer Thomas, o que faria ela me odiar para sempre, e um sentimento de inveja que brotou em meu peito por saber que nunca teria alguém para amar como Aliena.

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