Anahí entrou na casa sendo arrastada por Chloe e quando deu por si já estava subindo as escadas que davam no segundo andar da casa. Chloe abriu a porta e apontou.
- Esse é meu quarto.
Any sorriu admirando o quarto lilás.
- Essa aqui é minha boneca predileta, se chama Anna. - Chloe mostrou a boneca pra ela. - Ela tem cabelos ruivos igual a Anna do Frozen por isso o nome.
- É linda! - Any sorriu.
- Aqui é onde eu durmo! - subiu na cama. - Esses são meus livros de dormir. - apontou a prateleira presa a parede em cima da cama. - Ali são meus outros brinquedos, meu armário e meu banheiro. - foi apontando enquanto falava.
- É lindo, um verdadeiro quarto de princesa. - sorriu.
- E agora está na hora da princesa dormir. - Alfonso interrompendo entrando no quarto.
- Ah! - Chloe murchou sentando na cama.
- Ah nada já esta tarde mocinha. - Alfonso se aproximou e a cobriu.
- Eu volto outro dia ta Chloe?! Se seu irmão não se importar. - encarou Alfonso acuada.
- Tudo bem! - ele assentiu e voltou-se pra irmã. - Boa noite. - beijou a testa dela.
- Boa noite tato. - sorriu. - Boa noite Any. - fechou os olhos.
- Boa noite. - sorriu olhando os dois da porta.
Alfonso cobriu a irmã e outra vez ficou acariciando os cabelos dela por alguns segundos. Anahí sorriu se sentindo uma intrusa e também com inveja de Chloe. Queria que Alfonso a colocasse pra dormir daquele jeito também. Se bem que... Ela ponderou admirando os braços dele, as costas, os músculos bem definidos... Ele poderia fazer algumas coisas com ela antes.
- Vamos?!
- Ham?! - Any piscou e viu que Alfonso estava de pé na frente dela.
- Vamos, ela já ta quase dormindo. - sussurrou apontando Chloe.
- Ta! - sussurrou de volta e deu as costas.
Alfonso apagou a luz deixando apenas a do abajur acesa. Com cuidado ele fechou a porta e os dois desceram.
- Desculpa se vou soar indiscreta, mas soube do acidente dos seus pais. - Any o olhou sem jeito.
- Ainda estamos tentando nos acostumar. - sussurrou.
- Mas você facilita as coisas pra Chloe. - sorriu. - Ela tem sorte em ter um irmão como você!
Alfonso sorriu surpreso com um elogio.
- Obrigado. - a encarou e Any abaixou a cabeça sem jeito. - Mas to curioso em saber porque você veio aqui.
- Preciso que me dê o endereço de Ramon Gardela. - respondeu indo direto ao ponto.
- O que? O que você quer com esse cara?
- Ele atropelou o potro da fazenda do meu pai, mas ninguém lá quer fazer algo a respeito.
- E você quer? - cruzou os braços incrédulo.
- Sim e você vai me ajudar! - sorriu erguendo o queixo.
- Começou a querer dar ordens de novo. - suspirou. - Olha aqui madame eu não sei onde esse cara mora, só sei que ele é sócio do Clube da Espora.
- Esse clube ta aberto, hoje, ele ta lá agora?
- Sim é um clube masculino, onde os donos das fazendas se encontram pra um tentar tirar vantagem um em cima do outro. - explicou.
- Ótimo me leva até lá ou então me dá o endereço. - sorriu animada.
- Você não entendeu só tem homens nesse lugar, você nunca vai conseguir entrar. - Alfonso respondeu.
- Hum entendi, só homens entram lá então? - mordeu o lábio pensativa.
- Sim e infelizmente é o único lugar que eu sei que aquele cara frequenta, eu não sei onde ele mora.
- Sem problemas, me empresta uma roupa sua e a gente vai pra lá.
- O que?
- Você é surdo cowboy? Me empresta uma roupa sua, eu vou ficar parecendo um homem e vou conseguir entrar lá. É simples. - sorriu.
- Não, não é simples, tem seguranças lá. E outra mesmo que você se passasse e enganasse os seguranças como homem, você só pode entrar lá como sócio ou acompanhado de algum sócio.
- Você é sócio de lá? - o encarou e Alfonso suspirou sem responder. - Com certeza você é sócio. Resolvido eu entro com você, agora anda me dá sua camisa. - se aproximou.
- Por que quer minha camisa? - se afastou quando ela fez menção de abrir seus botões.
- Porque ela ta usada, vai disfarçar melhor meu perfume feminino do que uma limpa. - explicou. - Anda Herrera, me dá logo essa camisa. - foi pra cima dele e abriu um dos botões.
Alfonso se afastou e suspirando tirou a camisa ele mesmo. Ao terminar jogou a peça pra ela.
- Hum nada mal, você cheira bem pra um cowboy metido. - Any provocou com um sorriso no rosto.
Alfonso revirou os olhos fingindo que o elogio disfarçado de ironia não o havia afetado.
- Vira de costas, por favor. - ela pediu segurando os dois primeiros botões de sua blusa.
Alfonso fez o que ela pediu, mas em certo momento a curiosidade falou mais alto e ele virou pra trás espiando-a. Anahí estava de costas ainda desabotoando a blusa.
Quando ela abriu todos os botões Alfonso viu os ombros dela sendo descobertos, revelando as costas. Ele quase perdeu a linha ao ver o fecho do sutiã preto e teve que segurar a vontade de se aproximar. Pegou-se desejando retirar o restante das roupas dela.
Anahí apoiou a blusa no sofá e pegou a de Alfonso. Ao fazer isso ele viu que ela tinha uma tatuagem na região das costelas do lado esquerdo. A visão durou poucos segundos, mas ele pode reconhecer naqueles traços negros a figura de um cavalo. Aquilo o surpreendeu e ele tratou de virar de costas.
- Pronto! - ela o chamou segundos depois.
Alfonso se virou ainda atônito com tudo que havia sentido. A blusa obviamente ficara grande em Anahí a ponto das mangas engolirem as mãos dela e cobrirem o shorts que ela usava.
- Deixa eu te ajudar! - se aproximou e enrolou as mangas da camisa.
- Obrigada! - ela sorriu ficando com as mãos estendidas.
Ao enrolar as mangas Alfonso notou que ela tinha tatuado no pulso direito a letra "E" entrelaçada ao símbolo do infinito.
- Por que você tem essa tatuagem no pulso?
- Por nada! - ela respondeu afastando as mãos e puxou as mangas escondendo a tatuagem.
- Você fez na mesma época em que tatuo o cavalo?
Anahí o olhou de cara feia e Alfonso se tocou que havia falado demais.
- Você estava olhando em me vestir?
- Foi sem querer e foi de relance. Eu só reconheci o desenho. - ele ergueu as mãos defendendo-se.
- Se eu te pegar me espiando de novo...
- Fica tranquila ta legal, você nem é tudo isso que ta pensando. Só fiquei curioso e vi a tatuagem, me interessei muito mais pelo desenho do cavalo do que... Pelo resto. - a apontou com desdém.
- Seu seine arschloch (filho da mãe)! - Any xingou ofendida.
- Olha aqui sua patricinha não vai me intimidar me xingando nessa língua esquisita.
- É alemão pra sua informação, mas posso xingar em italiano ou francês se quiser mon seigneur (meu senhor).
- Acho que gosto mais de você quando está de boca fechada. - devolveu.
- Ah é? Então pegue uma de suas calças pra eu vestir, porque não dá pra entrar no clube usando esse shorts e quanto antes formos lá, mais cedo me livro de você.
- Se eu não quiser? - cruzou os braços.
- Prefere que eu arranque as suas calças? - ergueu as sobrancelhas.
- Patricinha metida. - Alfonso xingou, mas sem escolhas acabou subindo pro quarto.
Anahí era insuportavelmente irresistível. Como ele queria amarrá-la e possui-la até que todo aquele ar de superioridade se esvaísse e ela ficasse totalmente entregue à ele e suas vontades.
Dulce encarou Christopher quando o mesmo entrou no quarto.
- Sua irmã cadê?
- Não faço ideia e o pior é que ela saiu com o meu carro. - suspirou frustrado.
- Será que aconteceu alguma coisa?
- Se tivesse acontecido já estaríamos sabendo, as noticias voam aqui. - se aproximou da cama e a beijou.
- Eu achei a Any tão diferente, você não?
- Ela esta praticamente outra pessoa, ou pelo menos assim ta tentando aparentar. - Ucker suspirou.
- Queria que ela ficasse aqui com a gente, queria que fosse como antes.
- Eu também, mas acho que ela só vai ficar o dia em que conseguir se perdoar pelo que houve.
Dulce suspirou e deitou a cabeça no peito do marido. Ucker a abraçou e acariciou sua barriga.
- Não adianta se preocupar com a Any, meu amor, ela sempre fez o que quis da vida e agora está pior.
- Tem razão! Boa noite, meu amor.
- Boa noite. - a beijou e a abraçou com força.
Alfonso estacionou o carro e Anahí encarou a fachada do prédio que parecia uma boate. O letreiro piscava em azul e as letras inclinadas formavam os dizeres: Clube da Espora. Em cima do letreiro havia um enorme chapéu de cowboy e embaixo do nome do lugar um laço circundando toda a frase.
- É aqui? - Anahí sorriu e o encarou.
- Sim, mas antes de entrarmos quero que uma coisa fique clara. - segurou o braço dela. - Se a minha vizinha ligar pra falar da Chloe, ou qualquer coisa der errado a gente vai embora no mesmo segundo entendeu?
Anahí encarou os dedos dele fechados em torno do seu braço se arrepiou sentindo as ondas elétricas a percorrerem. Lutando contra o que estava sentindo ela o encarou.
- Ok, faremos como você quiser. Eu to bem assim? - se encarou no espelho.
- Sim, se não abrir a boca ninguém vai perceber que você é uma garota. Tente agir como um homem.
- Como eu faço isso? - sussurrou quando Alfonso abriu a porta e saltou do carro.
- É só me imitar e tentar não rebolar como uma garota madame.
- Não me chame de madame. - xingou descendo do carro.
Alfonso foi na frente e Anahí foi atrás ajeitando o chapéu e se certificando que seu cabelo não estava aparecendo. Colocou a mão no cinto e numa tentativa de andar como um homem, caminhou com as pernas abertas. Alfonso olhou pra trás e ao vê-la acabou rindo.
- Boa noite Roy! - Alfonso cumprimentou o segurança de pé na porta.
Anahí parou ao lado dele de cabeça baixa pra esconder o rosto.
- E o rapaz quem é?
- E ai?! - Anahí tentou fazer uma voz grossa e masculina. - Tudo em cima? - deu dois tapinhas do braço de Roy.
- Ele esta comigo. - Alfonso respondeu nervoso e puxou Anahí pelo braço.
- Ok, podem passar. - Roy olhou Anahí desconfiado antes de liberar a entrada.
- Ficou maluca? - Alfonso sussurrou olhando-a de cara feia.
- Eu fiquei nervosa, achei melhor cumprimentá-lo. - sussurrou.
- Se continuar assim vão nos descobrir em um minuto. Fica de boca fechada. - Alfonso mandou.
- Ta cowboy, já entendi. Boa fechada! - respondeu e para enfatizar fingiu que passava o zíper pelos lábios.
- Vamos procurar uma mesa. - a puxou pelo braço.
- Achei que a gente tava procurando o tal Ramon.
- E estamos, mas precisamos de uma mesa. - respondeu e a conduziu.
- Ta não me puxa eu vou sozinha. - sussurrou puxando o braço pra longe dele.
O lugar cheirava a essência masculina, cigarro, álcool e cerveja. As mesas eram todas de madeira em formato redondo com bancos que pareciam troncos de árvore. Porém a maioria dos homens circulavam pelo local em busca de bebidas. Foi com surpresa que Anahí viu um palco onde algumas garotas dançavam de lingerie, chapéu e botas. Todas elas seguravam chicotes de montaria nas mãos e algumas batiam os chicotes no chão ou então nas mãos ou no rosto de alguns homens que estavam ali.
- Só homens entram aqui, sei dessa!
- Shiu! - Alfonso repreendeu a encarando.
Anahí fechou a cara que estava coberta pelo chapéu e seguiu atrás de Alfonso, tentando se comportar como um homem. Afastando as pernas ela caminhou fazendo um aceno de cabeça e tocando a aba do chapéu para os homens que passavam por ela e a cumprimentavam.
- E ai! - ela dizia pra alguns.
- Anahí! - Alfonso ralhou a puxando pra perto dele.
- Foi mal! - ela respondeu acuada ainda fazendo uma voz grossa.
- Para com isso que ta ridículo.
- Seu grosso, eu...
- Olha ali está quem você veio procurar. Ramon Gardela. - apontou para o segundo andar.
Anahí ergueu a cabeça e reconheceu o rosto de Ramon o tinha visto algumas vezes na fazenda do pai.
- Conheço esse cara.
- Ele já vivia aqui quando você morava com seus pais então.
- Sim. Meu pai o odeia desde que me conheço por gente.
- Bom ele deve ter suas razões. - Alfonso deu de ombros a olhando.
- Eu vou lá.
- Ficou maluco. - a puxou pelo braço de novo. - Não pode subir lá agora.
- Por que não?
- Eles se juntam ali para fazer quebra de braço. Não sei o que farão com você se te pegarem lá.
- Então o que eu faço?
- Vamos arrumar uma mesa e esperar. Quando Ramon já tiver consumido álcool o bastante e conseguido grana o suficiente, ele vai descer e ai você conversa com ele. - Alfonso orientou.
- Ta bom!
- Enquanto isso, presta bem atenção. - segurou o queixo dela olhando-a nos olhos. - Não. Sai. De. Perto. De mim. - pontuou cada palavra. - Entendeu?
- Entendi! - ela assentiu hipnotizada com aqueles olhos verdes a encarando de perto.
Alfonso sofreu o mesmo efeito com aqueles olhos azuis. Jurou a si mesmo que se não estivessem em um local cercado de homens, com Anahí vestida como um, ele a teria beijado.