Antologias

By RoseaBellator

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Guerras entre dragões e demônios? Conversas de bruxas? Ou mulheres poderosas mostrando a que vieram? Amores m... More

A Irmã
Au Revoir
O Peregrino
Friendzone
O Príncipe Dragão
O Sacrifício
Feitiço de Amor
Fighter
Entre Bruxas
O Julgamento das Amazonas
A Senhora do Lago
Carreguem-me para Valhalla
Sonata de Inverno
A Domadora de Pesadelos
A Cigana da Meia-Noite
Viagem entre as Brumas...
No Basic Bitch
A Sombra Dentro de Mim

Um Professor do Além

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By RoseaBellator

Stephen era um cara gente boa. Chegou a trabalhar até os 40 e poucos anos, casou, teve uma menina. Aprendeu muito com a família e com os amigos. Acreditava que tudo poderia ser estudado, analisado, padronizado. Até mesmo o amor. Ele escreveu algumas teses sobre isso. Foram boas, mas nenhuma conclusiva. E aí, certo dia no bar, após contar uma piada sobre o sobrenatural, ele aceitou uma aposta dos amigos da universidade: Quem morresse primeiro voltaria para ajudar o amigo a escrever uma boa tese.

É claro que era brincadeira, porque Stephen era ateu.

Só que a vida é uma coisa engraçada. Você fala e ela vai lá e faz.

Ele saiu do bar, rindo, nem tinha bebido álcool. Entrou no carro, virou a esquina. Esperou o sinal ficar verde e seguiu. Um caminhão apareceu, desgovernado, e bateu nele. O bom é que ele não sentiu dor.

Desorientado, Stephen retomou a consciência.

No começo foi difícil para entender que estava de olhos abertos, de tão escuro que estava o local. Irritado, chamou a esposa.

- Helen?! Acabou a luz? Estou no hospital?

Ninguém o respondeu.

Levantou e foi tateando. Bem, tateando o ar... Stephen não achava nada, nem o chão! "É um sonho", pensou. "E que sonho inconveniente". Fechou os olhos e apenas permitiu sua mente vagar. Aos poucos ele sentiu seu corpo encher-se de ânimo. "Ah, deve estar amanhecendo!".

Abriu os olhos. Escuridão. "O que está acontecendo!?"

Stephen gritou o mais alto que pode, esperando que acordasse sendo estapeado por alguém. Aconteceu muito mais do que isso. Uma luz tênue passou como uma onda suave, clareando todo o ambiente ao seu redor. Ele estava do lado de fora do carro amassado. Seu corpo estava ali, dilacerado.

Por alguns segundos Stephen ficou chocado. Que brincadeira de mal gosto! Teria sido o Jack ou o Hernando? Um bombeiro passou correndo, com ferramentas para abrir o carro. Stephen tentou tocar-lhe o braço, para perguntar algo... e atravessou!

Tentou tocar mais uma ou duas vezes. Estava... estava...oh! Impressionado!

- Eu morri!?

Calma. Stephen não ficou desesperado. Não, não senhor.

Ele afastou-se e ficou a analisar sua casca de carne e osso sendo removida. Como sentiu falta de um bom estudo sobre anatomia. Estava então na forma de um espírito! E onde esse espírito estava antes? Seria dentro do coração? Ou em alguma partezinha do cérebro?

Cruzou os braços, chateado.

- Bem que poderia ter alguém por aqui.

Cof! Cof!

Espantado, virou-se ao som daquela tosse cavernosa. Era um rapazinho, de seus 16 anos, franzino.

- Billy!? - Stephen não sabia se abria os braços para um abraço ou se ficava só observando o rapaz se aproximar.

- Olha só, com apenas 40 anos, hein?

Era ele mesmo. O coitado tinha morrido em casa, por causa de uma maldita tuberculose. Tinha sido um dos melhores amigos de Stephen no colégio.

- Eu observei você a vida toda. Adorei a sua carreira. Estava indo muito bem.

Sorrindo, e ainda mais impressionado com aquilo tudo, Stephen não pode se conter:

- Então eu morri mesmo? E você está aqui por quê?

Billy deu um tapinha nas costas do amigo.

- Vem comigo.

Pacientemente, Billy caminhou pela avenida ao lado do amigo cheio de perguntas. Primeiro falaram sobre o que Stephen havia acertado em vida. Sobre seus estudos e como colaborou para a evolução de muitos alunos da universidade. Falaram sobre algumas teses de mestrado e doutorado. Até esgotar o papo e finalmente conseguir aproximarem-se novamente, como amigos.

- Meu caro, eu ouvi a sua aposta.

Stephen riu.

- Ah, aquilo! Há!

O amigo parecia sério.

- O que tem de mais numa simples aposta? - dava de ombros. - Espere! Alguém me matou por causa disso?

Billy acabou deixando a cara séria de lado.

- Não! Antes de você nascer, você mesmo decidiu que estudaria muitas coisas, e que morreria e estudaria novamente para então passar tudo isso para seus amigos. Mais especificamente o amigo que sempre levou esse assunto à sério.

Nosso amigo ateu ficou de boca aberta.

- Sim. Então vou te levar para dar um passeio no Vale das Almas. E prometo ensinar como voltar para cá e cumprir sua parte na aposta. Beleza, meu chapa?

Ainda de boca aberta, Stephen concordou, apenas balançando a cabeça.

Aos poucos o horizonte se perdeu novamente naquela onda de luz... até desfazer completamente tudo ao redor, levando-os por um caminho de aspecto leitoso, e enfim desvanecer da mesma maneira repentina que apareceu, deixando-os numa estrada de terra. Pequenas árvores lhes serviam uma sombra refrescante, assim como também serviam de portal de entrada para um campo maravilhoso, onde muitas pessoas conversavam.

- Meu amigo, fiz tudo que pude por você. Esta é minha última missão.

Stephen o encarou, assustado. O que ele queria dizer com aquilo? Não teve chance de perguntar. Billy o arrastou para o meio daquela multidão, chamando seus novos futuros amigos.

E foi ali que Stephen se transformou. Ele relembrou-se de suas várias vidas, relembrou de todos os estudos que fez. Reconheceu a mulher que havia sido sua mãe e também seu pai.

Stephen fez muitas outras coisas por lá, mas isso você só saberá quando for sua vez...

E no devido tempo, foi visitado por Billy novamente.

- Então, meu caro, preparado para cumprir sua parte na aposta?

Rindo, Billy estendeu a mão.

- Está na hora de voltar. - antes que o amigo fizesse perguntas, antes que olhasse para trás... adiantou-se - Não se preocupe, terá todo tempo depois.

Ao tocar a mão do amigo, as ondas de luz voltaram.

Billy deu-lhe algumas instruções. Stephen seria um professor agora.

Assim que voltaram, estavam de frente a casa de Hernando. O rapaz estava no segundo doutorado. Era algo sobre a necessidade humana em buscar o espiritual, em buscar o amor.

- Vai lá... - olhar para aquele rapaz de 16 anos falar como um adulto deixava Stephen um pouco desconfortável ainda. Era tudo novo demais... - Não tenha medo. Vou logo atrás.

Hernando chorava, enquanto falava ao celular.

- Jack... eu não sei cara... estou chocado ainda...

O assunto era o próprio Stephen. Hernando não conseguia levar a tese adiante. Eles estavam trabalhando juntos naquilo. Bem, não oficialmente... Stephen gostava de ajuda-lo em algumas pesquisas de campo e também nas entrevistas com pacientes no consultório de psicologia.

- Eu olho para aquele monte de papéis dele...

Quantas vezes não brincaram chamando Hernando de maricas? O homem era sensível. Dizia acreditar em lendas como La Llorona ou qualquer outro tipo de fantasma.

Sentindo-se péssimo, Stephen tocou o ombro do amigo, pedindo desculpas.

Qual não foi sua surpresa quando Hernando quase largou o celular, arrepiando-se todo.

- Jack, obrigado por me ouvir... vou tentar fazer algo. Valeuzão mesmo, cara.

Desligou. Olhou ao redor. O ar condicionado. Desligou também. Ficou parado, olhando para a mesa lotada. Ele não estava desesperado para concluir o doutorado, ele estava triste por ter perdido um grande amigo.

Billy apareceu ao lado de Stephen.

- Ele vai te ouvir, não como estamos conversando, mas vai. Confie em si, lembre-se da amizade entre vocês.

Nervoso, e também sem palavras para tudo aquilo que acontecia, uma coisa atrás da coisa, Stephen tentou pedir ajuda. Tentou convencer Billy a dar algum exemplo. Billy só riu, abraçou-o, e voltou a falar... dessa vez num tom muito sereno.

- Desculpe, amigo, mas fiz o meu melhor. Agora só quero... nascer novamente.

Envolto de uma luz multicolorida, Billy desapareceu aos poucos, até nada sobrar. Então era isso. Cumpriria seu papel também... até renascer? Não precisava respirar, mas ainda era como se estivesse vivo. Bem, estava vivo, só que não em um corpo. Evitou pensar nos termos. Era confuso demais.

- Hernando?

Hernando arrepiou-se novamente, dessa vez levantou-se da cadeira num pulo.

O amigo era mesmo bem sensível. Uma pena que nenhum dos dois havia buscado aprender sobre isso. Suspirou. Podia ter muito tempo naquela forma espiritual, era imortal. Hernando, não.

- Hora de arregaçar as mangas! - disse animado.

- É, é hora de arregaçar as mangas! - repetiu Hernando, sem saber.

Enfretou as papeladas, separando coisas aqui, coisas ali. Assuntos diferentes, entrevistas por nível de escolaridade. Evitava ler o nome do amigo. Quase um assistente inseparável. Como brincava Jack: Eram Batman e Robin.

A lembrança o fez fraquejar, mais uma vez.

Stephen viu e tentou anima-lo:

- Você tem um trabalho a fazer! Eu realmente quero ver isso feito! Você consegue... cara...

A voz ficou fraca. Sentia vontade de pedir desculpas por aquilo tudo. Não era o que queria! Sem saber - será que foi coincidência mesmo? - Hernando bateu a mão na mesa.

- Eu vou terminar! Tenho certeza que o Stephen ia ficar feliz!

Aos poucos, sem pressa, Stephen percebeu como influenciava o amigo. Cada palavra, expressões, desejo.

Conforme os minutos se passaram, Hernando conseguia se posicionar, focar. Escrever. Organizar-se. Ele falava sozinho também, como se o amigo estivesse ali. Bem, ele estava, mas jamais imaginaria...

A noite chegou e precisou largar tudo. Hernando não tinha esposa e nem filhos. Ninguém com quem conversar em casa. E fazê-lo parar de pensar na morte de Stephen...

Na cozinha, cuja luz havia pifado, Hernando apenas entrou para pegar um copo de café e algumas torradas. A escuridão o tomou.

- Meu Deus, o que estou fazendo?

De longe, olhou para sua mesa de trabalho, questionando a si mesmo... se deveria mesmo continuar. Stephen entendeu que precisava agir rápido... Antes que o amigo entrasse em pânico ou desistisse do trabalho, tentou tocar as folhas, tentou derrubá-las. Mas... só atravessava. Era um espírito.

Tentou lembrar de todas as coisas que havia lido ou ouvido falar. Muitos falavam em "força interior". E o que era isso afinal? Bem...

Existem coisas que você precisa parar de tentar achar explicações. Foi o que Stephen fez.

Sentia uma angústia terrível percorrer por todo o corpo... porém não a deixou dominar. Resgatou toda admiração que sentia pelo amigo e o desejo de vê-lo feliz e enfiou as mãos, jogando-se por cima dos papéis, tudo de uma vez. E funcionou!

Hernando veio correndo, e ficou pasmo, sem entender como aquilo tinha acontecido. Estava assustado. Só conseguia imaginar se algum animal ou ladrão havia invadido sua casa. Stephen sentiu os pensamentos amedrontados, precisou agir novamente. Disse, como se fosse uma ordem:

- Hernando, não se preocupe. Apenas volte aos seus estudos, vou te ajudar!

O amigo juntou os papéis, calado. Ia pegar o telefone e ligar para Jack...

- Não, Hernando! Não! Foque aqui!

Segurando o telefone, Hernando falou consigo mesmo, em voz alta:

- Eu preciso terminar meu trabalho hoje... mas... o que está acontecendo comigo? Será que... que... - ele sempre travava, sempre buscava elaborar bem as palavras, faria de tudo para evitar pensar em algo sobrenatural... afinal, como diria Stephen: espíritos não existem.

E sabendo disso, Stephen relaxou. Continou usando suas palavras, agora de forma dócil:

- Eu vim cumprir minha promessa.

Ah...

Quando Stephen percebeu, Hernando já ria sozinho, ao mesmo tempo que chorava.

- Stephen... seria possível ser você? Cara... seria possível?

Aos poucos, terminou de ajeitar os papéis. Stephen ia chamando sua atenção para documentos específicos, dando-lhe inspiração para o trabalho.

Em dado momento, em plena madrugada... Hernando chegou as tais questões que nunca puderam responder...

Afinal, o amor existe? É só um hormônio? Por que gostamos de pessoas que muitas vezes aparecem do nada?

Sempre tentavam arrumar um resposta científica, e sempre esbarravam num "porém" aqui, em outro "mas" ali... Nada respondia completamente, e quando respondia... era algo forçado, que não se encaixava em qualquer situação.

Só que dessa vez foi unânime.

Falaram ao mesmo tempo:

Sim, o amor existe. Está dentro de nós, em cada célula. Está ao nosso redor e até onde não podemos ver com os olhos. Está muito além do nosso entender. Amor é amizade. Amor é união. Amor é aprender e ensinar. E nós estamos no caminho certo.

- Obrigado, meu amigo!

Stephen, subitamente, entendeu. Não importava o que pensava em vida, o que valeu foi toda boa vontade que depositou nas pessoas. Hernando foi dormir contente. Estava chorando e, mesmo sem saber, ele agradecia ao amigo... acreditava de verdade que ele viera cumprir a promessa. E tudo em uma só noite.

Não sei bem o que aconteceu com o Stephen... acho que ele foi inspirar outros professores. Hernando, por outro lado, parou de negar seu lado sensível. Passou a somar forças com os cientistas que acreditam que há muito mais do que apenas equações e planetas a serem descobertos. Em cada aula, ele sempre pede aos alunos que confiem em seu professor... e no professor do além.

;)

Baseado numa história real


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