Impossível Resistir - Serie P...

By ValKaline

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Muito jovem, Julianne Saunders, sofreu uma perda inesperada e aprendeu do jeito mais difícil que a vida pode... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
AVISO
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo

Capítulo 23

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By ValKaline

QUATRO ANOS E MEIO ANTES

Jude

Eu não me lembrava da última vez que senti tanto medo. Era madrugada quando Pete me ligou dizendo que Kieran havia se envolvido em um acidente de carro. Um frio congelou minha espinha. Eu não conseguia me mover. Ainda pior, foi o momento que ouvi que ele não estava sozinho no carro. Julia estava com ele.  Foi então que eu vi meu pior pesadelo ganhando vida bem a frente dos meus olhos.

- Cadê eles? - perguntei atônito, assim que vi Pete na sala de espera do hospital de Austin.

- Kieran está no quarto, em observação. - respondeu ele.

- Como ele está?

- Nenhum ferimento grave. Quebrou um braço. - só percebi a presença de Melanie, esposa de Pete, quando sua voz surgiu por detrás de mim.

- E quanto a Julia? - perguntei. Ao mesmo tempo em queria saber, eu tinha medo da resposta.

Pete respirou fundo. - Ela está na UTI.

- UTI?

- Sim. O estado dela é um pouco mais grave. Ela foi arremessada para fora do carro, Jude. Chegou desacordada, e levaram-na direto para lá.

- Deus do céu!

Minhas pernas ficaram dormentes como o resto. Deixei o peso do meu corpo cair sobre uma cadeira próxima, incapaz de me equilibrar em pé por mais tempo. O assento duro e frio me recebeu de má vontade. Segurei a cabeça entre as mãos, na tentativa de acomodar o milhão de imagens terríveis que ameaçavam explodir meu cérebro. UTI. Isso não podia significar boa coisa.

- O que aconteceu? Alguém disse como foi o acidente? - questionei.

- Pelo o que a polícia disse, Kieran tentou desviar de um animal na pista, e perdeu a direção. O carro capotou algumas vezes depois disso. Julia não usava cinto de segurança, por isso voou para fora do carro. Sua sorte - Pete riu sem nenhum pingo de humor da palavra que escolhera, e então continuou. - foi ter caído em um monte de feno uns oito metros de distância. Se não fosse isso, se ela... Meu Deus, não consigo imaginar.

Isso tudo não parecia real. Era um pesadelo. Tinha que ser. Essas coisas eram exibidas em manchetes de jornais. Aconteciam com desconhecidos. Não com pessoas próximas a nós. Com nossos amigos. Eu me sentia incapaz. Não tinha a menor ideia do que fazer.

Pelo canto do olho vi que alguém se aproximava de nós. Ao erguer os olhos constatei que se tratava de um funcionário do hospital. As roupas brancas e o andar altivo lhe conferiam o título de superioridade.

- Vocês são os responsáveis por Julianne Saundres, certo? - perguntou, com o olhar direcionado a Pete e Melanie.

- Sim. Somos nós. - respondeu ela, de imediato. 

Prontamente me coloquei de pé, aguardando as notícias que o médico traria. Ele franziu a testa, quando me olhou interrogativamente.

- E você quem é?

- Ele está conosco. - disse Pete.

- Tudo bem. Sou o Dr. Matthew Blake. Eu trago boas notícias. Ela abriu os olhos há alguns minutos. - o suspiro coletivo foi audível. - Ela estava um pouco desorientada, o que é normal em casos assim. Fizemos uma tomografia, já que ela tem alguns traumas visíveis, mas, nenhuma lesão mais séria ou hemorragia foi constatada.

- Graças a Deus. - disse Melanie. - Podemos vê-la?

- Sinto muito, mas não. Nós ainda estamos mantendo Julianne na UTI. Quando ela puder receber visitas vocês serão avisados. Embora isso ainda vá demorar um pouco. Precisei administrar uma dose de tranqüilizante. Ela ficou bastante agitada ao receber a notícia, e temos que evitar esse tipo de emoção agora.

- Espera. Notícia? Que notícia?

A confusão estampada no rosto de Melanie era claramente um reflexo da minha própria. Logo pensei em Kieran, e que alguma coisa teria acontecido. Mas, segundo nossos amigos, ele estava se recuperando bem.

Um olhar confuso tingiu a face do médico, mas este foi rapidamente substituído por outro. Consternação. - Imaginei que alguém já tivesse vindo avisá-los. Bem, não existe jeito fácil de dizer isso. - ele respirou fundo e olhou para nós desolado. - Julianne perdeu o bebê que esperava.

Ah, meu Deus!

Estávamos em choque. Os três. Outra vez eu não sentia minhas pernas. Não. Não. Não. Minha cabeça ficava repetindo, na esperança de que pudesse mudar aquela realidade. Por que, era isso. Realidade. E não havia nada que pudéssemos fazer a respeito.

- Meu Deus. - incapaz de conter as lágrimas, Melanie apoiou as costas em Pete, que envolveu seus ombros com as mãos, confortando-a.

- Sinto muito, mas, não houve nada que pudéssemos fazer. - disse o médico, mantendo o rosto impassível, embora fosse possível ver que isso requeria muito esforço.

- Kieran já sabe? - perguntei. Ele desviou os olhos de Melanie, que continuava chorando, e me encarou. - O rapaz que estava com ela no carro. Ele era o pai do bebê.

Era. Por que não existe mais bebê. Não existe mais Jill.

- Não. Eu estava indo falar com ele, mas preferi tranqüilizá-los a respeito da garota primeiro.

- Obrigado. Eu posso ir junto?

Ele pensou um pouco, e então assentiu.

Com um ultimo olhar para Pete e Melanie, segui o médico pelo corredor iluminado de onde chegara minutos atrás. Ele me levou por entre milhões de salas. Um labirinto infinito. O cheiro frio comum em hospitais atingiu minhas narinas, trazendo uma sensação desagradável. Subimos um lance de escadas e depois uma rampa larga. No terceiro andar, o homem a minha frente parou diante de uma porta e fez um sinal para que eu me aproximasse.

- Como é o seu nome? - perguntou.

- Jude.

- Jude, não sei como seu amigo vai receber a notícia. É bom estar preparado para qualquer reação. - Eu assenti, e ele continuou. - Vou entrar e ver como ele está. Só então saberei se posso falar sobre... Desculpe, com a urgência dos acontecimentos não tive de tempo de saber. Eles são casados? Não me lembro do sobrenome que consta no prontuário de Julianne.

- Eles moram juntos. - respondi.

- Certo. Namorados então. - o médico sorriu amavelmente, e logo depois suspirou - Já tive que dar inúmeras notícias como essa antes. Mas, você ficaria surpreso em saber que é a primeira vez que lido com um casal tão jovem. Eles com certeza sentirão essa perda. Mas, como eu disse, são jovens. Eles poderão tentar novamente quando sentirem que estão prontos. Talvez você possa ajudá-los a ver isso em longo prazo. O que eu disser hoje pode não servir para muita coisa.

Não sei o que ele pretendia com aquela conversa fiada. As palavras entravam e se avolumavam formando conexões que não apresentavam grande sentido. Se o objetivo era me preparar para o que eu encontraria do outro lado, e me deixar calmo, talvez ele ficasse surpreso em saber que não estava funcionando. Por que demônios ele não abria logo a porta? Eu queria ver Kieran. Precisava ter certeza que ele estava bem.

Como se guiado pelos meus pensamentos, ele assim o fez. Abriu cuidadosamente a porta, e espiou pela abertura que se mostrava maior aos poucos. Kieran estava deitado, com a cabeça apoiada em travesseiros, encarando o teto. Quando ouviu o barulho da porta, ergueu a cabeça. O jeito como ele a moveu, parecia que pesava cinqüenta quilos. Meu amigo estava um pouco pálido. Não sei o que ele viu quando olhou para nós, mas suas sobrancelhas caíram em peso sobre seus olhos.

- O que aconteceu? - a voz fraca que saiu por entre seus lábios em nada parecia com a voz do cara que eu conhecia.

- Kieran, - disse o médico - Como você se sente?

Ele ignorou descaradamente a pergunta, e se voltou para mim. - Jude?

Forcei meu rosto a esconder o turbilhão de emoções que ameaçava emergir a cada instante. - E aí, cara. Você nos deu um baita susto.

- Onde está Julia? Você a viu?

Diferente de nós, Kieran não estava preocupado em esconder nada. O medo estava lá, estampado em suas feições, escurecidas pela incompreensão.

- Não. Mas o Dr. Blake nos disse que ela está fora de perigo. - apontei para o médico, forçando um sorriso tranqüilizador.

Aquela resposta não fora suficiente, é claro.

- Em que quarto ela está? Preciso vê-la. - sem se importar com o braço que pendia enfaixado a frente do seu peito, jogou o lençol que o cobria para o alto, e levantou-se.

O Dr. Blake fez um sinal com a cabeça para que eu o deixasse passar. Achei aquilo estranho. Ele estava mesmo deixando Kieran ir até Julia? Kieran continuou caminhando e seguiu pelo corredor vestindo apenas uma camisola verde clara do hospital. Ignorando os olhares curiosos dos poucos enfermeiros que passavam por nós, Kieran andava como se soubesse exatamente para onde estava indo.

- Ele sabe onde está indo? - perguntei ao médico, que acompanhava Kieran de perto. Enquanto eu escoltava os dois

- Contei que ela estava perto da primeira vez que fui vê-lo.

- Isso é estranho. Ele pode fazer isso? Pode entrar lá?

- Achei que seria pior se eu não deixasse. Vou me responsabilizar por ele. Fique por perto, por via das dúvidas.

Coincidentemente Pete apareceu naquele andar nesse exato momento, e se juntou a nós.

Um segurança alto bloqueava a porta que dava acesso á UTI. As portas eram transparentes e nos proporcionavam uma visão - mesmo que limitada - de dentro. Dr. Blake conversou rapidamente com o segurança, que relutantemente permitiu a entrada de Kieran. Meu amigo entrou as pressas procurando por Julia, até encontrá-la em um dos leitos dispostos naquela ampla sala. Pete e eu mantivemos certa distância, apenas perto o suficiente para ajudar em alguma coisa caso fosse necessário.

Ele a observou por um momento, e depois se sentou numa cadeira que estava ao lado da cama. Kieran segurou uma de suas mãos, e permaneceu ali por um momento. A cada minuto as batidas do meu coração ficavam mais aceleradas e minha respiração acompanhava o ritmo. Eu também queria vê-la de perto. Comprovar que ela estava bem ou perto disso. No entanto, esse era o momento deles. Eu precisava esperar o meu.

De repente Kieran se levantou bruscamente. Só então percebi que sua voz estava exaltada enquanto ele perguntava alguma coisa para as duas enfermeiras que cercavam Julia. Envolvido pelos pensamentos sobre ela, eu não conseguia entender o que estava acontecendo. O médico estava lá agora, dizendo alguma coisa com a voz baixa. Foi quando o cenho de Kieran caiu. Então, eu soube. Ele sabia. Sabia sobre Jill.

Foi como tentar conter uma fúria da natureza. Kieran estava desolado. Ele gritou e então se pôs a correr para fora dali. Pete o segurou no meio do caminho, e eu também me aproximei.

- Kieran.

- Ela se foi. Eu a perdi. Eu a matei. Minha menininha. A culpa foi minha. - ele repetia amargurado, mas não se direcionava a ninguém em particular. - Não sei o que fazer. Eu... Eu Preciso chamar os pais de Julia.

Olhei para Pete, que assentiu e o levou para fora. O médico os acompanhou.

Certificando-me que Pete tinha Kieran sobre controle, entrei furtivamente no quarto de Julia. Arrastei meus pés em silêncio, aproximando-me para observá-la melhor. Eu sabia que não podia demorar muito. Seus pais chegariam logo. Minha presença aqui seria tão indesejada quanto a de Kieran. Os pais de Julia não estavam muito felizes com os novos amigos que a filha escolhera. Eles já haviam deixado isso claro de inúmeras maneiras.

O corpo imóvel de Julia repousava no meio da cama branca. Seu rosto estava coberto por cortes e hematomas arroxeados. O lábio inferior estava um pouco inchado, e os olhos fechados permaneciam inertes, indiferentes ao número de vezes que eu sussurrava seu nome, na esperança de que ela acordasse.  Aparelhos monitorando seus sinais vitais, emitindo bips altos e constantes, era a única evidência da vida em seu corpo.

Meu cérebro se recusava a entender como esta garota poderia ser a mesma que estivera comigo pela manhã na faculdade. Julia estava brilhando e sorrindo como sempre. Almoçamos juntos e conversamos por horas.

Droga. Eu estava assustado. Não. Eu estava apavorado.

Eu não podia acreditar que Julia havia perdido seu bebê. O bebê deles. Dela e de Kieran. Ela estava tão feliz, apesar das circunstâncias. Julia amava Jill. Ela se recusava a chamá-la de outra forma também. Kieran estava arrasado. Pude ver em seus olhos. Eles precisariam de mim agora mais do que nunca. 

Seu peito subia e descia numa lentidão exagerada e quase imperceptível. Aproximei meu rosto dos seus lábios entreabertos, apenas para me certificar de que ela estava respirando. Alívio me atingiu quando um hálito fraco aqueceu minha face.

- Julia, sou eu. Pode me ouvir? - sussurrei perto do seu ouvido, apertando sua mão de leve. Apenas o suficiente para lhe dar segurança.

Desejei que acontecesse como nos filmes: que suas pálpebras se movimentassem ou que ela movesse um pouco a mão, sinalizando que sabia que eu estava ali. Que podia me ouvir. No entanto, nada aconteceu. Eu queria acreditar que ela estava me ouvindo quando falei:

- Não precisa ter medo, Julia. Sei que você está sofrendo e isso está me matando. Mas, nós vamos cuidar de você. - acariciei levemente sua mão, tomando cuidado com os arranhões no dorso. - Eu não vou te deixar sozinha. Eu preciso que você volte para nós. Somos a sua família. Está ouvindo?

Senti uma lágrima quente escorrer pela minha face. Eu só sentira uma dor como aquela uma vez. Há muito tempo quando eu ainda era uma criança e estava perdendo o herói da minha infância. De nenhuma maneira eu estava pronto para perder outra pessoa que eu amava. Eu sabia que ela só estava dormindo, mas vê-la daquele jeito reviveu sentimentos em mim aos quais eu não estava preparado para recordar.

- Sinto muito, mas você não pode ficar aqui. - uma voz às minhas costas me alertou. Olhei para trás e me deparei com umas das enfermeiras que estava ali antes.

- Eu sei. Já vou sair. Me dê só mais um minuto com ela, por favor.

A mulher dividiu olhares entre mim e Julia, e assentiu com relutância. - Um minuto.

Voltando-me para Julia, estudei seu rosto com cuidado, esperando que ela me desse algum sinal de que tudo ficaria bem. Meu coração batia mais alto a cada bip emitido pela máquina. Aproximei-me ainda mais, até meus lábios quase tocarem sua orelha.

- Fique boa logo, Pequena. - pedi - Estou aqui esperando você.

Em seguida deixei um beijo suave em sua testa e me virei para sair. Sabendo que metade do meu coração ficaria ali. Com ela.

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