Impossível Resistir - Serie P...

By ValKaline

217K 18K 1.3K

Muito jovem, Julianne Saunders, sofreu uma perda inesperada e aprendeu do jeito mais difícil que a vida pode... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
AVISO
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo

Capítulo 21

4.4K 421 41
By ValKaline

Jude

Assim que a porta se fechou suavemente atrás de Laura, o ar se tornou ainda mais denso. Ainda mais difícil respirar. A verdade era que o ar há algum tempo havia perdido o seu caminho até os meus pulmões. Aquele olhar no rosto de Julia, quando ela foi embora, era tudo que eu queria evitar. No entanto, eu não poderia esperar outra coisa. Eu agi como um canalha de merda. Ver seus olhos tristes e apagados, transbordando dor e aflição, era o meu pagamento final.

Por mais que eu quisesse correr atrás dela agora, e rastejar aos seus pés implorando seu perdão, eu sabia que a outra pessoa nesta sala não tinha culpa nenhuma das minhas péssimas escolhas. Eu precisava confrontar o inevitável. O momento enfim havia chegado.

Laura arrastou sua mala de rodinhas, e a deixou encostada bem ao lado da porta. Uma atitude simples, que passaria despercebida a um observador comum. Embora a mim, tenha parecido um modesto recado: ela não pretendia ficar. E como poderia?

Quando ela ergueu a cabeça, seus olhos verdes não revelavam nada. Estavam impassíveis, me encarando como se pudessem ver através de mim. Sem nenhuma idéia do estaria passando em sua cabeça, eu me mantive do mesmo lugar a que estava estagnado desde que Julia saiu.

Então, ela finalmente se moveu. Inspirou profundamente, e em seguida deu de ombros. — Então, o que eu deveria fazer? Gritar alguns palavrões? — disse ela, numa calma enfeitada, correndo os olhos pela sala — Jogar alguns objetos em você?

— Laura, eu... — gaguejei — Eu sinto muito.

Ela voltou a me encarar. Um sorriso duro e frio retorceu seus lábios pintados de rosa. — Eu também.

Eu não conseguia entender a que ela se referia.

— Sabe o que é engraçado? — ela caminhou, e se sentou sobre o sofá — Não sei explicar como, mas, eu sabia que assim que eu entrasse por aquela porta, as coisas mudariam permanentemente. — Laura estendeu a mão longa, com unhas perfeitamente pintadas de vermelho vivo, e deu dois tapinha no assento ao seu lado — Jude, sente-se. Não quero fica olhando para cima enquanto conversamos.

Ainda intrigado com seu semblante imperturbável, forcei meus pés a se dirigirem até onde ela indicava. Eu me sentia embasbacado em notar a calma e sutileza de Laura. Isso não era anda como ela. Eu estava preparado para explosões e gritos. Entretanto, essa mulher fria e contida a minha frente era uma completa estranha.

Acomodei-me ao seu lado. Não era nada fácil estar tão próximo dela depois de tudo. Tudo estava estranho e espesso. A tensão carregada no ar era palpável. Agíamos como desconhecidos.

— Laura, — comecei — Eu tentei falar com você. Liguei várias vezes. Eu... eu tentei-

— Eu não queria falar com você, Jude. — rebateu ela.

Eu a olhei. Minhas sobrancelhas caíram pesadas sobre meus olhos. — O que? Por que?

Laura olhou para baixo, encarando os dedos finos pousados sobre o colo. Ela puxou outra respiração longa e profunda, e quando voltou seus olhos para os meus, eles pareciam leves.

— Jude, eu conheci lugares e pessoas nesses últimos meses. Coisas novas que me fizeram perceber que eu estava — ela fez uma pausa sutil — perdida. Eu estava vivendo uma vida que não era a minha. E acho que você mais do que ninguém sabe o que eu quero dizer.

Eu assenti, embora estivesse um pouco perdido nessa conversa. Laura não estava soando muito coerente. Mais uma vez, isso não era comum. Ela sempre foi dada aos fatos e números. Sempre evitou o supérfluo e abstrato. Isso não fazia muito sentido.

— Eu decidi mudar algumas coisas na minha vida. — continuou — E também decidi outras coisas para trás. — ela parou e me olhou a fundo — Confesso que fiquei um pouco chocada quando me dei conta de que isso incluía você.

Se Laura poderia me surpreender ainda mais com sua atitude condescendente, ela acabara de fazer. O que significava aquilo? Ela estava me chutando? Não que aquilo faria qualquer diferença aquela altura.

— Não entendo. — disse eu, devagar, sem ter a menor idéia do que dizer em seguida. De modo que a única coisa plausível pareceu ser: — Você está diferente.

Então, ela fez uma coisa que surpreenderia a qualquer que a conhecesse. Sorriu. Não o sorriso contido a que eu estava acostumado. Laura sorriu de verdade, aquele que ela evitava por medo de causar rugas precocemente. Seu rosto se iluminou.

— Eu estou! — vibrou ela — Eu estou feliz, Jude. Nem me lembro a última vez que me senti assim.

Isso deveria ter doído. No entanto, eu só conseguia sentir alivio. Provavelmente isso faria de mim um babaca maior, mas, a verdade é que saber que Laura estava feliz e que eu não fazia parte disso, me trazia um tipo de libertação. Eu nunca quis magoá-la. Apesar de tê-lo feito.

— Eu voltei para me despedir. — disse ela.

— De mim. — não questionei.

— De tudo. Minha vida não é mais aqui.

— Já falou com seu pai?

— Não. — ela riu — Achei que eu deveria deixar o pior para o final.

— Você achou que seria fácil comigo?

— De certa forma. Eu não sou idiota, Jude. Eu sabia que estávamos no mesmo barco. Além do mais, a última vez que estive aqui percebi o jeito como você a olhava. — ela deu de ombros e olhou para a porta fechada — Não posso dizer que estou surpresa.

Apoiei os cotovelos nos joelhos, e segurei a cabeça entre as mãos. Essa conversa havia saído totalmente dos caminhos do esperado. Eu não poderia dizer que não estava satisfeito. As coisas pareciam estar indo bem. Entretanto, uma coisa apertava meu peito, me incomodando.

— Eu me sinto péssimo.

— Você deveria mesmo.

— Sou um grande babaca.

— O maior deles. — brincou.

— Estou falando sério, Laura. Você não faz ideia de como estou me sentindo.

— Eu também falo serio. — ela se inclinou, apoiando uma mão sobre o meu ombro — Você poderia ter sido honesto e me contado o que estava acontecendo.

— Eu tentei. Não me ouviu dizer que liguei mais vezes do que pude contar? Mandei e-mails. Você mesma disse que não queria falar comigo.

Laura balançou a cabeça. — Não. Quero dizer antes, Jude. Como eu disse, eu já tinha percebido que alguma coisa estava acontecendo. Você teve a chance de ser sincero comigo. Por que não foi?

Um breve silêncio foi a chave para a resposta, embora eu já soubesse.

— Por que fui covarde.

O que mais eu poderia dizer, além da verdade?

— Obrigada, por admitir isso. Imagino que deva ser difícil reconhecer suas fraquezas. — disse, de modo tolerante. — Escuta, eu não quero saber o que aconteceu. Não me interessa saber o que vocês fizeram. Tudo está no passado agora. Assim como nós.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. O único som entre nós era a vida acontecendo do lado de fora. Enquanto eu levava um tempo processando toda esta situação incomum e no que eu faria a seguir, Laura se levantou e caminhou tranquilamente até a cozinha. Serviu-se de um copo com água, e recostou-se na bancada, enquanto me observava atentamente.

Eu sabia que havíamos chegado àquela linha divisória entre duas extensões. Entre o agora e o depois. À medida que marca o fim de alguma coisa. O marco final. Tudo já havia sido dito. Exceto por uma coisa.

— Laura, eu sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas, — me levantei e caminhei até ela — Eu te peço perdão.

A mulher confiante a minha frente, vacilou. Laura demorou um tempo para assimilar minhas palavras. O que, de certa forma, me incomodou. Será que ela imaginou que eu fosse assim tão insensível, e incapaz de pedir perdão. Por um momento, ela apenas me estudou, e eu não poderia dizer o que ela via. Depois, Laura pousou o copo sobre o balcão, e passou os braços ao redor dos meus ombros. Surpreendendo-me.

— Obrigada. Isso significa muito para mim.

Por um breve instante, eu não sabia o que fazer. Mas, então, eu aceitei o abraço. Ela não disse que me perdoava. E eu não esperava que ela fizesse. Porém, esse gesto foi mais que suficiente para mim. Ficamos assim por alguns segundos, até que eu a senti fungar contra o meu ombro. Laura, se afastou e me encarou, um sorriso tímido brincando em seus lábios.

— Eu vou arrumar minhas coisas. — disse ela, antes de andar em direção ao quarto.

Eu permaneci ali, com os pés colados ao chão, meu coração batendo lentamente com pesar. Pensei em Julia.

Julia.

A dor que ameaçava explodir meu peito sempre que eu pensava no seu rosto triste esta manhã, voltara para me atormentar. Não que ela tivesse ido embora. E eu muito menos esperava que ela fosse.

Lembrar dos seus ombros curvados, como se ela fosse uma borboleta cujas asas foram arrancadas, era mais do que podia suportar. Lágrimas picavam meus olhos. Queria poder confortá-la. Queria que ela pudesse me ouvir. Queria não ter ferrado com tudo.


Julia

De: Monica Sanchez <monicasanchez@...>

Para: Julianne Saunders <julialsaundres@...>

Assunto: Mudança de vida... uhuuu!!!

(1 anexo)

July,

Tenho ótimas notícias!

Lembra aquela escola de arte sobre a qual falamos? Pois bem, eles estão fazendo uma seleção para novos alunos. É obvio que lembrei da minha amiga artista. Em anexo está a ficha de inscrição. Eles não tem vestibular. Depois de preencher a ficha, envie para o email que está na parte de cima da folha, talvez eles te chamem para uma entrevista..

Dedinhos cruzados. Eu estou torcendo. Quero você em NY!!!

Afinal, o que está te segurando aí?

Beijos, Mon.


Consegui me arrastar da cama onde passei a maior parte do dia chorando e lamentando a minha vida. Sair da casa de Jude esta manhã com os olhos secos havia sido um grande feito, se tratando da minha natureza complacente. Finalmente reuni forças para conferir minha caixa de e-mails. Era fim de tarde, e eu ainda não tinha obtido sucesso em me convencer que a coisa não era assim tão feia quanto parecia, que haveria luz no fim do túnel, que um dia eu riria disso, e todas essas bobagens que nós dizemos quando uma merda acontece em nossas vidas.

Não sei o que era mais engraçado nesse email da Monica. O assunto ou o conteúdo do email. Embora nenhum traço de sorriso tenha ameaçado se abrir.

Mudança de vida. Era difícil encontrar otimismo suficiente para pensar tão positivo assim. Você está exigindo muito de mim, Mon. Murmurei para mim mesma, atenta ao texto enviado por minha amiga. Monica tinha mesmo levado a serio essa história de arte, apesar do meu empenho em contrariá-la. Estudar em uma grande e renomada escola de arte como essa, era um passo enorme. Eu não me sentia pronta. Além do mais, eu estava vivendo uma fossa. E eu queria aproveitar esses momentos.

Fechei o notebook, sem me preocupar em olhar os outros e-mails. Talvez houvesse um de Jude... Não, Julia! Com certeza não haveria email, bem como não havia chamadas perdidas, ou sms, ou mensagens de voz. Provavelmente ele estava muito ocupado tentando convencer a futura esposa que eu não passava de um casinho qualquer. Já que seria impossível jogar aquela conversa típica: "Não é nada disso que você está pensando". Laura me viu saindo com o cabelo revirado, e vestindo aquela camiseta puída de Jude. Quem sabe, ela é daquelas mulheres modernas que aceitam tudo. Quem sabe ela não me ache uma ameaça. Já pensei em muitas hipóteses. De uma coisa eu tenho certeza, ele não me procurou. Não veio atrás de mim. Tudo que ele ficou fazendo foi ficar se defendendo. Ele que se dane.

Abri novamente o notebook, e carreguei o anexo. A ficha de inscrição era simples. Tudo que eu precisava era colocar alguns dados, e no final fazer um breve relato sobre mim e o que eu tinha a oferecer á escola. Eu teria rido, se não estivesse tão deprimida. Eu não tenho nada a oferecer. Será que eles aceitam coração partido? Fiquei encarando a tela do computador por vários minutos, imaginando o que aquilo me traria. Decidi não pensar muito a fundo nessa questão, afinal, ninguém poderia garantir que eu seria aceita. Preenchi os dados requisitados, anexei o documento e enviei aos cuidados de Jessica Lowatti. Enquanto isso, imaginei quantos outros jovens estavam fazendo a mesma coisa que eu. Outros tantos, muito mais talentosos que eu, e que teriam muito mais chances de serem chamados. Isso era uma perda de tempo. Voltei a fechar o notebook, e me joguei novamente na cama, para outra sessão de autolamentação.

No dia seguinte, eu me sentia um pouco melhor. Minha cabeça ainda estava cheia, meu coração pesava uma tonelada, e eu não tinha nenhuma perspectiva de que fosse voltar a sorrir, mas, pelo menos eu não estava mais chorando. Isso em si já um grande passo. Decidi que poderia ir trabalhar. E torci em silêncio para que Jude não desse as caras por lá hoje. No entanto, a sorte nunca estava ao meu favor mesmo.

Exatamente ás 19:48, Jude passou pela porta do bar. Vestindo seu terno costumeiro, camisa branca, gravata solta ao redor do pescoço, e com o cabelo um pouco bagunçado pelo vento. Apetitoso como sempre. Meu coração parou uma batida. Parecia que toda aquela discussão havia acontecido há dias. Entretanto, tinha passado pouco mais de 24 horas desde que esse homem arrancou o coração do meu peito e deu para os cachorros brincarem. Eu o olhei por alguns segundos, e assim que seus olhos encontraram os meus, abaixei a cabeça rapidamente. Eu não estava pronta. Eu não estava pronta. Eu não estava pronta.

Não demorou, e isso não me surpreendeu, a voz de Jude estava a centímetros de mim.

— Julia. — chamou.

Tentei identificar que sentimento deixara sua voz rouca, mas não tive sucesso. Poderia ser arrependimento, mas também poderia ser pena.

— Jude. — respondi, sem olhar para ele.

— Será que podemos conversar? — perguntou, receoso.

— Estou trabalhando.

Jude colocou o braço coberto pelo linho azul escuro sobre o balcão, e seus dedos se esticaram tentando alcançar alguma coisa invisível.

— Olhe para mim. — pediu ele.

Ergui o olhar, simplesmente por que meu corpo era incapaz de negar qualquer coisa aquele homem. Eu me odiava por isso.

— Vamos lá fora. Eu... — gaguejou — Tem coisas que eu preciso dizer. Por favor, Julia.

— Jude, eu estou trabalhando. Eu já faltei ontem. Não posso ir lá para fora com você e deixar tudo nas costas de Lissa.

— Tudo bem. — suspirou.— Depois que você sair, então. Eu vou te esperar.

— Vou sair tarde.

— Não me importo.

— Estarei cansada.

Eu esperava que isso fosse suficiente para que ele entendesse que eu não queria conversar. Minhas desculpas estavam ficando escassas.

— Julia, por que está fazendo isso? Quer dizer, eu sei, fui um cretino. Mas, eu... Droga, me dá uma chance de explicar o que aconteceu.

— Não precisa, — disse eu, tentando ao máximo soar impassível e falhando completamente. — Eu já entendi. Além do mais, já dissemos tudo ontem.

— Não. Não dissemos não. — disse, aflito. — Não faz isso, pequena.

— Não me chame assim. — Meu coração não aguenta mais, Jude.

— Porra! — esbravejou — Estou morrendo aqui, Julia.

Franzi a testa. Como ele achava que estava me sentindo? Eu por acaso parecia estar perto de feliz? Eu conhecia muito bem aquele sentimento. Sentir que a vida está se esvaindo de você, justamente porque ela não está mais com você. Ele era a minha vida.

A angústia em seus olhos era visível, e eu sabia que era apenas como olhar para um espelho. No entanto, eu não poderia fraquejar. Jude já tinha me magoado demais. E enquanto ele não resolvesse a própria vida, ele acabaria me machucando de novo.

— Algum problema aqui? — perguntou Dave,  vindo não sei de onde, e aparecendo atrás de mim, como um anjo vingador.

Olhei por sobre o ombro, e vi que ele encarava Jude com um ódio mortal. Jude retribuía de igual modo. Era melhor fazer alguma coisa.

— Nenhum problema, Dave. Está tudo bem. — assegurei. A quem? Eu não saberia dizer.

Ele não se moveu.

— Não ouviu, cara? — interrompeu, Jude. — Estamos no meio de uma conversa aqui.

— Não estamos, não. — avisei, e Jude me lançou um olhar inquisitivo. Ignorei, virando-me para Dave. — Dave, está tudo bem. — e de volta para Jude. —Nossa conversa acabou. Preciso trabalhar.

Jude não se moveu, e continuou me olhando como se uma segunda cabeça tivesse brotado na lateral do meu pescoço.

— Muito bem, você ouviu amigo, é melhor ir andando se não quiser arrumar problemas. — interveio, Dave. Para enfatizar, colocou as duas mãos sobre os meus ombros.

Oh, merda. Isso estava ficando cada vez melhor.

— Amigo. — disse Jude, testando a palavra. — Se não quiser sentir a força do meu punho na sua cara, amigo, é melhor se afastar dela.

Escutei o risinho fácil de Dave às minhas costas.

— Quem sabe é melhor irmos lá fora e resolver isso. — rebateu.

— Essa foi a única coisa inteligente que você disse até agora. — Jude trincou os dentes, de repente parecendo ficar mais alto.

Por mais que estivesse vivendo o sonho de toda a garota, sabe como é, dois caras lindos brigando por você, isso não tinha como acabar bem. Era hora de me interpor entre os dois. Ron também apareceu por ali, atrás de Jude. Com certeza, fora atraído por toda aquela comoção. A essa altura, o bar inteiro já havia se inteirado dos dois idiotas agindo como bebês.

— Não. Não tem nada aqui para ser resolvido. Qual é?! Vocês parecem crianças, pelo amor de Deus! — os dois me encararam abismados. Ron estava sorrindo, e eu queria saber onde ele conseguia encontrar alguma graça naquela bobagem toda. — Vamos, Jude.

Saí pisando duro em direção a saída, ignorando os olhares voltados a mim. Eu odiava ser o centro das atenções, principalmente se tratando de uma coisa tão estúpida. Não olhei para trás para ter certeza que Jude me seguira. Eu sabia que sim.

Chegando do lado de fora, me virei bruscamente, e quase trombei com ele, que me escoltava de perto, sem que eu tivesse notado. Contudo, não vacilei.

— Qual o seu problema? — gritei.

— Como assim que é o meu problema, Julia? O cara vem cheio de marra, se achando o dono sabe-se-lá-do-que. O que queria que eu fizesse?

— Aqui é o meu trabalho, Jude. Não me importo se seus amigos são os donos. Você não tinha o direito de aparecer aqui, a ainda por cima achar que tem algum direito sobre mim. — coloquei um dedo contra seu peito duro — Você não é meu dono.

— E você pensa que eu não sei disso? Eu só queria conversar, Julia. Não, esqueça isso, eu só queria que você me ouvisse.

— Você não pode me exigir nada. — cuspi.

Seu olhar prescrutou  meu rosto, se detendo em meus lábios por um momento. Estávamos tão perto, que eu podia sentir sua respiração saindo a baforadas sobre eles. Seus olhos de repente perderam a dureza, e assumiram aquela forma brilhante e quente que eu tanto eu amava. Sua boca se aproximou mais uma polegada, e naquele instante eu percebi que ele iria me beijar. Ele estava me beijando. Minha coluna se enrijeceu assim que nossos lábios se tocaram. Entretanto, isso durou apenas um segundo, antes que eu esquecesse os motivos que nos levou ali, toda a aflição de ontem, e o meu próprio nome. Correspondi o beijo. Com toda força e amor que eu poderia. Suas mãos agarraram firmemente minha cintura, e seu quadril pressionou o meu, reivindicando-me impetuosamente.

— Minha pequena... — sussurrou contra a minha boca, e aquilo foi o suficiente para me acordar.

— Não. — ofeguei. Empurrei seu peito com toda a força que consegui reunir. Com o impulso, cambaleei para trás, parando a uma distância segura. Se é que essa medida existe.

— Julia. Pequena. — murmurou.

— Já falei para não me chamar assim. E a sua namorada? — a palavra tinha um gosto azedo, de modo que uma careta inesperada surgiu após minha pergunta.

— Acabou. Desde ontem. Essa era uma das coisas que eu queria falar. Me desculpa pelo beijo. Eu não... planejei isso. — ela coçou a cabeça — Só aconteceu.

— E pode estar certo como o inferno que não vai acontecer de novo. — ergui o queixo em desafio.

— Você retribuiu. Você também queria me beijar. Eu... Eu senti saudade, Julia. — Jude deu dois passos hesitantes.

Elevei um dedo na sua direção. — Não se aproxime. Não ouse se aproximar de mim. Isso acaba aqui, Jude. Sinto muito pelo seu namoro. — pensei um pouco naquelas palavras. — Quer saber, não sinto coisa nenhuma. Não vou mais ficar dizendo o que eu acho que as pessoas querem ouvir. Eu quero que você vá se foder. Não pode aparecer aqui sempre quiser dar uma aliviada. Não funciona assim comigo. Você está muito enganado a meu respeito.

— Julia, — disse horrorizado — o que está dizendo? Você nunca foi isso para mim. Você é... você é o meu mundo. Meu amor.

Ouvir aquelas palavras, e saber o que estava por vir, era de longe a coisa mais dolorosa que já vivenciei. Eu não tinha ideia de que um coração poderia sofrer tantas agressões e continuar vivo. Se bem que o meu, eu não saberia dizer. Senti lágrimas quentes escorrerem por meu rosto. E eu que achei que conseguiria terminar esse dia sem chorar.

— Eu não quero mais brigar. — suspirei, exausta. — Isso acaba aqui, Jude. Por favor, me deixe em paz.

— Julia...

— Por favor. — enfatizei.

Isso o aquietou. Ele segurou meu olhar por mais alguns minutos, e então se virou. Observei enquanto ele caminhava a passos largos pelo estacionamento. Também, quando ele entrou em seu carro, deu a partida e saiu. Continuei lá parada, lágrimas – agora volumosas – escorrendo pelo meu rosto. E como no final de uma música, em que os últimos acordes vão parando até tudo ficar em silêncio, assim eram as batidas do meu coração.

Isso acaba aqui.

Tum, tum.

Por favor, me deixe em paz.

Tum, tum.

Eu perdera meu melhor amigo.

Tum... tum.

Isso acaba aqui.

Tum.


Nota da Autora:

Meus queridos leitores, devo um milhão de desculpas a vocês pela demora. Eu tive alguns problemas pessoais na ultima semana, que influenciaram negativamente minha escrita. Peço perdão. O próximo capítulo sairá ainda essa semana, não se preocupem. Enquanto isso, comentem e se estiverem gostando muito mesmo da história, convidem mais pessoas para lerem também. Um beijo afetuoso. E até muito breve!

Continue Reading

You'll Also Like

733K 43.3K 78
Sejam bem - vindos, obrigada por escolher esse livro como sua leitura atual. Nesse livro contém várias histórias, e cada capítulo é continuação de um...
335K 27.6K 48
Jenny Miller uma garota reservada e tímida devido às frequentes mudanças que enfrenta com seu querido pai. Mas ao ingressar para uma nova universidad...
9.4K 815 89
Nora está completamente apaixonada pelo seu namorado Cristian,mas a chegada do irmão dele, promete abalar esse romance. Será que ela está disposta a...
8.8K 497 23
Connor Vega teve uma decepção amorosa recentemente. Mas o traiçoeiro destino decidiu lhe pregar uma peça quando ele acaba se envolvendo com duas irmã...