Um mês de domingos

By benderboys

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Tudo parecia estar dando certo para Felicity Johnson. O seu primeiro livro de ficção científica, escrito com... More

Prólogo

Capítulo 1 - Você tem que crescer.

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By benderboys

Capítulo 1 - Você tem que crescer.

"-Mesmo que o espaço se rompa em guerras, a maior delas sempre estará a acontecer dentro de você. - Disse Andrômeda antes de fincar sua espada, de um metal brilhante e escuro, no estômago de Paul. - E agora eu estou somente te fazendo um favor enquanto acabo com isso" As crônicas de Andrômeda: Os guerreiros das galáxias.

-Felícia Jones! Você é a pessoa mais irresponsável que eu conheço. Nós temos uma reunião e você está dormindo.

Ignoro a voz e viro-me mais uma vez em meio ao edredom, só que agora para o lado esquerdo.

-Existem executivos da ABC nos esperando para uma vídeo conferencia e você ainda está jogada nessa cama!

Ele grita mais uma vez pausadamente como se quisesse destacar cada uma de suas palavras.

E é quando recebo um beliscão que sou obrigada a , ao menos, tentar abrir meus olhos. Quem precisa de uma mãe, um despertador ou passarinhos cantando quando se tem o desespero disfarçado como seu melhor amigo?

-Eu vou contar até três Felícia Jones...

Exclama, enquanto a claridade invade meu quarto. Phill provavelmente acha que abrir as cortinas vai fazer com que eu me levante em dois segundos.

-Não é Felícia, é Felicity! Felicity Johnson, nada de Jones.

Resmungo o suficientemente alto para que ele escute. Mesmo que com dificuldade, afinal minha boca está encostada no travesseiro.

Uma risada completa de cinismo toma conta de sua voz e eu até imagino a maneira a qual ele deve estar me observando.

Provavelmente prestes a arremessar a primeira coisa que encontrou sobre minha escrivaninha.

Quero dizer, ele sempre faz isso. São incontáveis as vezes que fui acordada com canetas, clipes, souvenires, e até mesmo livros vindo em direção à minha cabeça.

-Ah então você não acorda quando eu falo sobre trabalho, mas quando eu te chamo de FE-LI-CIA, sim?

Phill se abaixa e quase encosta seu rosto no meu, enquanto parece me filmar com seus olhos arregalados. Se fosse outro cara eu provavelmente ficaria assustada por causa da distância que permanece entre nossos lábios, mas é só Phill.

E como ele sempre faz questão de dizer "City eu não teria nada com você mesmo se eu fosse hétero!".

-Sim, nada de Felícia. Foi um direito que conquistei. Então me chame de Felicity.

Minha frase vem junto a um gritinho realmente dramático, mas que expressa o quanto eu lamento ter que levantar.

Tento abrir meus olhos, mesmo sabendo que segundos depois eles se fecharão automaticamente. Espreguiço-me levantando meus braços e milésimos de segundo depois sinto o baque do meu corpo contra o chão. Dessa vez meus olhos não escapam e têm de se abrir rapidamente ignorando qualquer sinal de sono.

Grito mais alto agora, não como um sinal de protesto, mas por causa da dor que sinto se espalhar por minhas costas.

-Eu não acredito que você me empurrou da cama. Porque você sempre faz isso comigo? - O encaro provavelmente exibindo uma daquelas feições quase ensaiadas: Sobrancelhas erguidas, uma boca semiaberta e olhos esbugalhados.

-Eu tenho um contrato para fechar e você e sua preguiça não vão me impedir. Coloque uma roupa decente. - Ele me encara enquanto abre meu armário. - Decente. Isso significa nada de vestidos com estampas de gatinho. E nem Onesies.

-Porque eu não posso colocar um Onesie? Eu fico adorável neles.

Eu realmente fico adorável neles.

-Não vou discutir com você sobre sua falta de senso do ridículo.

Ele não quer discutir, mas perguntou se eu queria?

Porque realmente não me importo de passar a manhã inteira defendendo o fato de eu ter um gosto excepcional.

Um gosto vanguardista.

E defender o fato de que todos deveriam pelo menos uma vez na vida se vestir da maneira que realmente querem, sem se importar com o correto e nem com tendências impostas pela indústria da moda.

Um olhar zangado no relógio me avisa que pra ele isso não é mais uma brincadeira.

-Você tem cinco minutos City. - Seus olhos verdes me analisam. - E, por favor, dessa vez penteie seus cabelos.

Do lado de fora tudo parece mais frio: o clima, a feição das pessoas, meu nariz, Phill e até mesmo a maneira que ele fala comigo.

Phillipe tem a mania de sempre querer ter a razão.

Eu sei que muitas vezes, ou melhor, que na maioria das vezes ele realmente a tem. Porém, herdei algo de minha mãe: Teimosia. Não saber dar o braço a torcer e mesmo estando errada sempre querer convencer ao mundo todo de que estou correta.

Basicamente, insistir demais e forçar pra que as coisas deem certo. Eu tenho essa mania de insistir desde que eu me entendo por gente. Como todas as coisas, minha teimosia tem seu lado bom e seu lado ruim: Mesmo que eu me torne insuportável enquanto insisto pela quinquagésima vez em somente dois minutos, esse sempre foi um bom atalho pra que eu chegasse aos meus objetivos.

A única coisa que não tem um lado bom e somente um lado ruim (muito ruim) é estar aqui.

Parece que algo me impede de enxergar qualquer que seja o resíduo positivo de estar vivendo nessa cidade. Quando Phil falou sobre irmos escrever nosso livro em uma cidade chamada Dortmund, eu soltei uma risada.

Uma risada totalmente irônica.

Quem vai querer ir para uma cidade aleatória na Alemanha quando se tem a possibilidade de passar alguns de seus meses em Paris, ou até mesmo Nova Iorque?

Mas Phillipe fez de tudo para que eu aceitasse a ideia de partir em rumo a "inexplorada terra" com a mesma proposta de (quase) sempre: "Nós vamos nos divertir demais!".

Eu deveria adicionar mais alguns pontos de exclamação, pois Phill realmente gritou isso no meu ouvido por três semanas sem interrupção. Ele me mostrou guias de viagem, tradições do lugar, fotos dos habitantes, ou melhor, ele me mostrou possivelmente todas as coisas relativamente positivas daqui.

Mas é claro que eu estou me divertindo.

Ao menos que se divertir signifique se sentir trancada junto ao seu computador e boas xícaras de chá preto. Sem se esquecer dos telefonemas e das cartas que surgem em grande quantidade na minha casa, fazendo-me cogitar milhares de possibilidades para que isso esteja acontecendo. Sendo que entre dez dessas possibilidades somente duas não são por causa de algum evento sobrenatural.

Essa é a pior parte de ser escritora.

Minha imaginação realmente não tem limites. E não falo isso porque eu escrevo um livro sobre uma guerreira amazona que viaja por diversas galáxias salvando diversos povos das garras de um alienígena malvado e quebrando corações.

Mas é porque eu sempre complico situações cotidianas.

Aqui vão alguns dos motivos para eu poder afirmar o porquê complico tipo, tudo:

Primeiro motivo: Eu imagino que pessoas são como personagens. Quando escrevemos temos alguns "protótipos de personagens". O conjunto de características comuns para alguns tipos de pessoas, o porquê delas serem assim e mais algumas questões. Pelo menos é dessa maneira que acontece comigo.

Pode ser estranho, mas eu vivo colocando estas "etiquetas" nas pessoas. Pensando em como é a vida amorosa da atendente da cafeteria, o porquê de sua feição cansada, no que aconteceu para que ela viesse a trabalhar em um café, se ela já encontrou o amor da sua vida, e até mesmo se ela é feliz. E assim eu acabo inventando retratos sobre as pessoas que esbarro na rua, fazendo algumas suposições e criando explicações pra todas as minhas perguntas.

Segundo motivo: Eu imagino demais.

É como se eu desse um adeus pra qualquer explicação racional possível e sempre abrisse uma lista de possibilidades bizarras pra explicar acontecimentos comuns. Sabe quando acabamos de assistir um filme de terror e uma porta bate? Aquele frio na barriga de pensar que algo de outra dimensão veio bater a porta ou até mesmo assoprar a e assim fazer com que a porta batesse e aquele baque ensurdecedor surgisse?

Basicamente isso acontece o tempo todo comigo. Diversas explicações sem sentido, sem pé nem cabeça. Explicações que aparecem de uma hora para outra. Algumas vezes assustadoras, algumas vezes dramáticas, algumas vezes (realmente) alternativas, e poucas vezes práticas.

Terceiro motivo: O fato de eu (Talvez gostar de) viver minha vida como se ela realmente fosse um livro.

Talvez eu imagine trilhas sonoras para todas as coisas que eu faço. Talvez eu ainda ache que estou no começo da estória da minha vida, somente numa introdução e esperando pelo meu (futuro marido) amante muito inteligente, bonito e que goste de Guerra das estrelas. Talvez eu saia distribuindo frases de efeito por todos os lugares que vou. Talvez eu acredite que fazer drama seja a resposta para maioria das coisas. Talvez eu goste de escolher a qual gênero meu dia pertencerá. Comédia, drama, suspense, ação ou até mesmo terror. Talvez eu ache que a maioria das respostas para meus problemas estão impressas nas folhas até mesmo um pouco encardidas dos meus livros de romance, nos filmes que já assisti mais de vinte vezes e em series de televisão.

Esses motivos são o suficiente?

-O que você tem na cabeça pra ir dormir às seis da manhã, sendo que você sabia dessa entrevista? - É a primeira vez que Phill fala diretamente comigo durante o percurso.

Nos outros dois momentos ele falava com o taxista.

O que ele falava? Isso eu já não sei.

Olho mais uma vez para rua. O cinza do fim de agosto, os casacos vermelhos que se destacam em meio das pessoas que andam como se admirassem a paisagem pela rua, as folhas que caiem sem aviso prévio das arvores seguindo em curso o outono, a confusão dos carros, e a marca das gotas de chuva que caiem como lágrimas pelo vidro do táxi.

-Quem disse que eu dormi às seis da manhã?

-Você me mandou uma mensagem a esse horário. O que você tem na cabeça? - Ele me fita e balança a cabeça.

Eu odeio o decepcionar.

-Phill, eu estava sem sono. - Digo, mas ele não parece querer me olhar. Ele provavelmente sabe que é somente mais uma desculpa. A quem eu vou enganar, eu realmente sou irresponsável. - São esses problemas. Eles ficam na minha cabeça rodando sem parar. Vinte e quatro horas por dia sem interrupção.

Os segundos que seguem após minha voz invadir o ambiente se passam com o som da chuva e do motor do carro.

Óbvio, ele está puto da vida.

-Pare de fazer drama, Felicity. - Seus olhos reviram irritados, nervosos, impacientes, e um tanto quanto exaltados. - Quais são os problemas que você tem? Diga-me, porque eu não vejo nenhum problema batendo na sua porta.

-Você quer saber quais são meus problemas? - Pergunto e dessa vez ele me encara com as sobrancelhas arqueadas. Sobrancelhas arqueadas de quem sabe que tem toda a razão. - Os telefonemas, as cartas, e o fato de eu só ter conseguido escrever cinco páginas. Repito, cinco páginas em um mês.

Ele permanece calado, a mesma expressão convencida ainda habita seu rosto.

-Eu estou vendo uma bola de demolição vindo em minha direção e destruindo tudo em câmera lenta. E eu não posso fazer nada. Eu estou em um bloqueio constante e insistente.

-Você já tentou ao menos sair uma vez da sua casa? Tomar uma brisa no rosto? Conhecer algo novo? - Abro minha boca à procura da tarefa perfeita, mas ele logo coloca um dedo sobre os meus lábios. - Não precisa achar uma boa resposta. Eu sei que você não fez nada disso.

-Quer saber? - Não, essa não é uma pergunta. - Eu odeio esse lugar, Phill! A única coisa que diferencia esse lugar de Oxford é o fato deles falarem uma língua diferente. Aqui continua sendo um lugar frio, minha vida continua a ser monótona e eu não consigo encontrar inspiração em lugar nenhum.

-Você reclamaria se estivéssemos em outro lugar também. Não vou levar nada do que você disse em consideração.

-Se eu estivesse nas Bahamas não iria reclamar. Não iria estar com esse bloqueio irritante me massacrando. Nem presa numa casa onde o telefone não para de tocar e cartas brotam. - Ele respira fundo e bate seus dedos contra o banco de couro. - Se eu estivesse nas Bahamas eu iria estar com dançarinos, sem camisa, me cercando, bronzeada e tomando drinks.

-Felicity, você não bebe álcool. - Enfurecido, Phill espreme seus olhos e morde seu lábio inferior. - Sabe o que você precisa fazer, City? Você precisa crescer. De nada adianta ter sucesso nas coisas que você faz se você continuar se comportar como se ainda fosse uma garota de quinze anos de idade.

Parece que a responsabilidade aperta ininterruptamente a campainha.

E a decisão de abrir, ou não, a porta está em minhas mãos.


//

Oi, tudo bem?

Esse é primeiro capítulo de UM MÊS DE DOMINGOS e eu espero que vocês tenham gostado!

UMDD é uma comédia romântica, mas seu enredo não gira só em torno do casal principal, e sim de um mistério envolvendo essas cartas.

Não se como vocês chegaram através da história, mas sei que enchi o saco de muita gente na ask, então eu peço desculpa e espero que tenha valido a pena entrar no link e ler.

Não tenho muito o que falar, mas queria dizer que torço para que gostem!


OUTRA HISTÓRIA - www.e404fic.com

Para falarem comigo é só entrar:

Na ask- www.ask.fm/amonthofpit

No twitter - www.twitter.com/pietraalteratss


QUALQUER ERRO NA HISTÓRIA, É SÓ ME DIZER POR MENSAGEM!


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