❝Fico feliz em saber que ainda faço seu coração bater mais rápido❞
CHERYL BLOSSOM
A noite estava só começando, mas eu já sentia o peso de estar ali. Eu estava na premiação do futebol feminino, e, sinceramente, não estava com muita vontade de estar lá. Tudo o que eu queria era acompanhar Betty, que estava indo com Verônica. Eu não teria ninguém com quem ficar, já que Betty ainda não tinha se enturmado com as namoradas de outras jogadoras, e eu me perguntava até quando ela me levaria como "chaveirinho" dela e de Verônica.
Apesar de não ser exatamente o tipo de evento que me animava, eu não queria perder a oportunidade de passar um tempo com ela. Betty estava radiante, toda animada e cercada por gente conhecida, enquanto eu tentava não me incomodar demais com as conversas que se desenrolavam ao meu redor. Eu sabia que não fazia sentido continuar me forçando a participar de algo que não me empolgava, então apenas observei, meio distante, o que estava acontecendo. De repente, senti uma presença que me fez congelar um pouco, mesmo que eu não quisesse admitir: Toni estava ali também.
Ela estava no centro,conversando com algumas jogadoras e outros membros da organização. Não consegui evitar olhar de relance na direção dela. Toni estava tão... natural, como se fosse parte daquele ambiente, tão confortável e confiante. Tentei afastar os pensamentos que surgiram, pois sabia que minha mente poderia brincar comigo naquela noite. Respirei fundo e voltei a me concentrar em Betty, que estava rindo com Verônica. Eu tentava me convencer de que não me importava com a presença de Toni, mas, na verdade, era difícil ignorá-la.
A noite seguiu e, entre um brinde e outro, percebi que estava ficando um pouco entediada, até que alguém apareceu ao meu lado: Laila. Ela usava um vestido preto, com os cabelos soltos, e veio com um sorriso hesitante, como se soubesse que estava prestes a tocar em um assunto delicado. Ela parecia desconfortável, e logo percebi que provavelmente era sobre o que tinha ocorrido naquele dia.
— Cheryl. – Laila começou, com uma voz baixa, quase como se estivesse fazendo uma pergunta em vez de uma afirmação. – Será que podemos conversar um pouco?
Ela parecia genuína, mas eu não sabia o que pensar. Senti um certo receio, mas sabia que não seria justo ter raiva dela também.Olhei para Betty, que estava ocupada com Verônica, e então assenti.
— Claro, vamos sair um pouco. Vai ser melhor – respondi, tentando manter a calma, apesar de tudo o que estava se passando na minha cabeça.
Saímos para o lado de fora da premiação. A noite estava fria, e o ar fresco foi um alívio. Laila ficou em silêncio por um momento, aparentemente tentando escolher as palavras certas, até que finalmente se virou para mim.
— Olha, Cheryl – começou, com um tom de voz mais sério. – Eu realmente quero pedir desculpas por como tudo aconteceu. Sei que fui completamente insensível e, de alguma forma, eu me culpo muito pelo que aconteceu.
Observei-a por um instante, refletindo sobre suas palavras. Já sabia que ela se sentia mal e que provavelmente estava arrependida de tudo aquilo. Respirei fundo, pensando que, se fosse me aborrecer, seria apenas com uma pessoa.
— Olha, Laila, está tudo bem. Eu entendo que você tenha agido impulsivamente – disse, tentando sorrir tranquilizadora. – Mas, para ser honesta, o problema não é com você. O problema é com a Toni.
Ela ficou em silêncio por um instante, digerindo minhas palavras.
— Vocês não estão se falando, não é?
Balancei a cabeça lentamente, tentando controlar a raiva que se agitava dentro de mim. Queria ser racional, mas não podia negar o que sentia.
— A gente deixou tudo para trás, para ser mais exata.
— Nossa, me desculpa. Eu realmente estraguei tudo!
— Laila, às vezes há males que vêm para o bem. Se eu não soubesse que era uma aposta, provavelmente teria ido mais longe com Toni e só descobriria isso quando estivesse muito mais apegada a ela.
— Mas mesmo assim, fui uma idiota.
Observei-a por um momento. No fundo, sentia que as palavras dela eram sinceras.
— Laila, o problema é com a Toni, entende?
Laila respirou fundo, olhando para mim com uma expressão de quem queria falar algo importante. Ela parecia escolher as palavras com cuidado, o que me fez sentir que algo estava prestes a acontecer. De repente, ela me olhou com aquele olhar sério, que nunca é um bom sinal.
— Cheryl, sei que isso pode parecer intrometido da minha parte, mas... queria te pedir uma coisa. – Ela fez uma pausa, ponderando se deveria mesmo continuar. – Gostaria que você voltasse a falar com a Toni.
Naquele momento, quase deixei escapar uma risada nervosa. Não queria nem ouvir aquele pedido, muito menos lidar com a possibilidade de reconciliação. Só de lembrar de tudo o que aconteceu entre mim e Toni, meu estômago já revirava.
— Laila, você está falando sério? – perguntei, franzindo a testa. – Depois de tudo o que aconteceu, você realmente acha que eu deveria voltar a falar com ela? – Laila assentiu, parecendo determinada.
— Sim, Cheryl. Sei que ela errou, sei que o que fez foi horrível, mas... ela realmente está arrependida. Não estou dizendo isso para te convencer de algo que você não quer, mas porque vejo a diferença nela.
Cruzei os braços, ainda resistente.
— E o que exatamente mudou, Laila? Porque, para mim, parece que ela só está colhendo as consequências do que plantou.
Laila suspirou, frustrada, mas persistente.
— Cheryl, você não faz ideia de como a Toni está. Ela... está muito diferente, e não falo de uma mudança pequena. Está distante, fechada, e até mesmo nos treinos, ela não se concentra como antes.
Observei-a atentamente, tentando entender o que realmente estava acontecendo. Toni sempre foi a mais focada e determinada, e pensar que estava deixando os treinos de lado era algo novo para mim.
Laila continuou, parecendo mais preocupada a cada segundo.
— Todos nós percebemos isso. Ela não se importa mais com as conquistas dela como antes, não está motivada, e honestamente, não sei se vai aguentar continuar assim por muito tempo. Nunca a vi desse jeito. Ela... realmente está sofrendo, Cheryl.
Suspirei, sem saber exatamente o que responder. Não queria me deixar levar por essas palavras, mas, ao mesmo tempo, era difícil ignorar o que Laila dizia. Uma parte de mim queria acreditar que Toni estava realmente arrependida, mas outra parte ainda estava cheia de mágoa e ressentimento.
— Laila – disse finalmente. – Entendo o que você está dizendo. Mas só porque ela está sofrendo agora, isso não apaga o que fez. Ela me machucou, brincou com meus sentimentos e me fez sentir como se fosse só uma aposta. Como posso simplesmente esquecer tudo isso?
Ela assentiu, compreendendo.
— Eu entendo, Cheryl. E não espero que você esqueça. Só... estou te pedindo que talvez... pense em dar uma chance para ela se explicar. Sei que ela está arrependida, e precisa de você, mas tem medo de te procurar.
Suspirei, abaixando o olhar, tentando esconder o tumulto de emoções que surgiam dentro de mim. Por mais que tentasse negar, uma parte de mim ainda sentia falta dela, e talvez fosse por isso que as palavras de Laila me afetavam tanto. Mas ainda tinha medo de me machucar novamente.
— Laila... vou pensar nisso, mas não posso prometer nada – murmurei, sentindo o peso de cada palavra. – Ainda estou muito machucada, e talvez isso nunca vá embora.
Ela sorriu levemente, com um brilho de esperança no olhar.
— Tudo o que peço é que você pense. Só isso.
Ela me deu um breve abraço, e voltamos à premiação, onde o ambiente estava um pouco mais tranquilo. Mesmo assim, eu sabia que a noite ainda não havia acabado para mim. Ainda precisava lidar com tudo o que estava acontecendo. Laila se afastou e foi em direção à mesa, e eu voltei para onde Betty estava.
Observei a plateia por um momento, encontrando o olhar de Toni brevemente. Ela estava lá, ao longe, com um sorriso no rosto, talvez achando que eu não me importava, mas, na verdade, eu estava dividida entre o que sentia e o que sabia ser certo. Só queria que a noite terminasse logo.
A noite da premiação de futebol feminino estava chata, e um after era perfeito. Betty, Verônica e eu estávamos lá aproveitando a festa juntas, rodeadas por luzes, música alta e várias jogadoras gatas.
— Acompanhar vocês duas foi a melhor decisão de hoje – comentei, segurando minha taça. Elas riram, e nós brindamos novamente.
— Mas você queria estar com a Toni, eu sei – Verônica disse.
— Aff, vocês não esquecem essa mulher, não é? Até eu já esqueci – revirei os olhos e me afastei.
A música nos envolveu, e não demorou para que estivéssemos dançando, rindo e brincando. Eu me sentia mais solta e livre a cada música. De vez em quando, sentia o olhar de Toni em mim. Ela estava do outro lado, mas não conseguia disfarçar seus olhares, e eu percebi isso. Nossos olhares se cruzaram várias vezes, mas logo eu desviava, voltando a me concentrar em Verônica, Betty e nos drinks.
Então, Verônica apareceu e sussurrou algo para Betty, que logo se aproximou de mim.
— Cheryl, eu e a Verônica vamos indo.
— Por que você não diz que está indo embora pra transar?
— CHERYL! – a loira me deu um tapa leve.
— É verdade, ué, conheço vocês duas. Isso é a desculpa que todo casal usa pra ir transar.
— Mas vai ficar bem sem a gente?
Eu sorri, tentando não demonstrar decepção.
— Vão lá, aproveitem. A gente se fala amanhã.
Depois que Betty e Verônica foram embora, senti aquela leve solidão bater, mas não deixei que isso atrapalhasse. Foi aí que uma garota se aproximou, sorrindo e puxando assunto. Era bonita, simpática, e, depois de algumas palavras trocadas, ela me beijou. Eu correspondi, esperando que aquele beijo pudesse me fazer sentir algo, qualquer coisa que fosse.
Mas... nada. Não era que o beijo fosse ruim, mas faltava algo. A textura dos lábios dela não me causava o frio na barriga que eu esperava, e, enquanto a beijava, me peguei pensando em outra pessoa. Em como, com a Toni, um beijo era como uma explosão. Lembrei de cada detalhe dos lábios dela, do jeito único que me segurava, como se só aquele instante importasse.
Quando nos separamos, sorri educadamente para a garota, tentando ignorar o vazio que sentia. Mais tarde, outra mulher se aproximou, e o ciclo se repetiu. Eu tentava, de verdade, mas era como beijar o ar. Por mais que eu quisesse seguir em frente, cada beijo me lembrava do que faltava. Faltava a intensidade, faltava aquela conexão que parecia impossível de replicar.
Eu sentia falta do beijo de Toni. Da maneira como nossos lábios se encaixavam, como se fossem feitos um para o outro, e da forma como ela conseguia, com um simples toque, me fazer esquecer tudo ao redor. Não importava o que eu fizesse ou com quem estivesse, era sempre o rosto dela que surgia na minha mente. Eu me sentia incompleta, e isso me irritava profundamente, porque Toni era a última pessoa em quem eu queria estar pensando agora.
Depois de um tempo na festa, entre música alta e copos vazios que eram trocados rapidamente por novos drinks, eu já estava com aquela leve sensação de embriaguez. As luzes vibrantes e as risadas ao meu redor pareciam quase em câmera lenta, enquanto eu me movia. Estava dançando quando, de repente, senti o salto ceder. Foi como se o mundo parasse por um segundo, e eu, cambaleando, me segurasse para não ir ao chão. Olhei para baixo, indignada, e lá estava o salto, torto, pendendo sem nenhuma chance de conserto.
— Ah, só pode estar de brincadeira comigo! – murmurei, revirando os olhos.
Tentando absorver o absurdo da cena, tirei os sapatos, segurando-os na mão, e fui em direção à saída. Já era tarde, e não fazia mais sentido ficar ali.
Que escolha eu tinha?
Enquanto caminhava descalça pelo lado de fora da festa, decidi chamar um Uber para ir embora. Estava com o celular na mão quando, de repente, ouvi uma voz atrás de mim.
— Indo embora já, Cheryl? Que visão, hein.
Aquela voz. Eu sabia de quem era, mas revirei os olhos antes mesmo de me virar para olhar. Toni.
— Sim, e sozinha, Toni.
— Deixa que eu te ajudo, pô.
— Ah, olha só,acha mesmo que eu preciso da sua ajuda? – retruquei, ainda de costas para ela e tentando não dar muita bola.
Ela deu uma risadinha debochada, e eu já podia imaginar a expressão no rosto dela. Aquele sorriso convencido e divertido.
— Sei lá, você já tá parecendo uma Cinderela moderna, sem o sapatinho e tudo mais. Mas eu acho que tá faltando um príncipe... Ou seria uma princesa? – Ela fez uma pausa proposital. – Sorte sua que eu tô aqui.
Revirei os olhos de novo e continuei andando, tentando ignorar o som dos passos dela se aproximando. Mas ela claramente não ia desistir.
— Sério, Cheryl. Vai mesmo pedir um Uber descalça? Quer que eu chame uma carruagem, ou será que quer carona?
— Toni, pelo amor de Deus, me deixa em paz – falei, tentando soar séria, mas a situação já estava me fazendo segurar o riso.
Ela gargalhou, e pude ver pelo canto do olho que ela estava andando praticamente colada atrás de mim.
— Nossa, grossa assim? Depois dessa noite inteira você vai mesmo dispensar uma ajudinha minha? Aposto que tá é louca para aceitar – provocou.
— Louca? Eu tô é louca pra você sumir da minha frente. Volta lá pra sua festa, Toni. Aproveita e vê se acha alguém pra implicar.
Ela riu de novo, claramente se divertindo com a situação.
— Ah, Cheryl, mas onde tá a graça nisso? Eu me divirto muito mais implicando com você. Deixa eu cuidar de você, vai.
— Eu não preciso de babá, sabia? Me viro sozinha. Vai, volta pra festa.
— Olha, deixa de drama. Me deixa te levar, vai. Ou quer que eu te carregue no colo até o carro?
Eu não pude evitar uma risadinha debochada, mas logo voltei à minha cara de desdém.
— E eu não sou nenhuma princesa pra você carregar, Toni. Sabe o que eu quero? Que você vá atrás de outra pessoa, tipo... bem longe de mim.
— Ah, beleza. Eu te deixo ir, mas depois não adianta chorar e dizer que eu fui a pior "carona" da sua vida.
Fingi desinteresse, mas antes que eu pudesse responder, Toni não hesitou por mais um segundo. Antes que eu pudesse reagir, ela me segurou com firmeza e me jogou sobre seu ombro, como se eu fosse leve como uma pluma. Em um segundo eu estava de pé, no próximo, estava de ponta-cabeça, jogada no ombro dela. Eu só conseguia ver as costas dela e o chão virado de cabeça para baixo. Um som de surpresa escapou da minha boca, seguido por uma mistura de indignação e risadas involuntárias, tanto pela surpresa quanto pela audácia dela.
— TONI! Me solta! O que você acha que tá fazendo? – gritei, dando leves tapas nas costas dela, mas tentando conter o riso, porque, por mais que fosse frustrante, a situação era hilária.
Ela riu, completamente despreocupada, como se aquilo fosse algo absolutamente normal.
— Toni! – protestei, me debatendo. – Você enlouqueceu?! Me solta agora!
Ela apenas riu, se divertindo com o meu desespero.
— Relaxa, Blossom. Já que você não quer ajuda de ninguém, eu pensei que assim fosse mais prático, já que você não está colaborando.
Eu tentei empurrá-la para ver se ela soltava, mas Toni continuava andando como se nada estivesse acontecendo, ignorando minhas tentativas frustradas.
— Prático? Você me colocou no ombro como um saco de batatas! Eu não sou nenhuma boneca, Toni, me coloca no chão agora! – falei, exasperada, tentando não me irritar ainda mais com o tom de deboche dela.
Ela deu uma risada baixa, claramente adorando cada segundo.
— Que drama, Cheryl. Só tô fazendo o que é necessário. E até parece que você não tá gostando de ter alguém te carregando assim... Eu sabia que você não resistiria. Me diz se tem algo mais romântico que isso? – Ela riu de novo, provocando ainda mais.
Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia ver, e continuei protestando.
— Romântico? Toni, eu tô é morrendo de vergonha! E, sinceramente, você só tá me dando mais motivos pra querer me livrar de você – retruquei, mas sabia que a voz soava menos firme do que eu queria.
— Sei, sei. Quer mesmo se livrar de mim? Olha, eu acho que quem tá se enganando aqui é você. No fundo, no fundo, você adora uma confusão – respondeu, aumentando o tom provocador.
Tentei me soltar de novo,mas sem sucesso.
— Eu não tô adorando coisa nenhuma! Você é irritante, sabia? Agora, me coloca no chão!
Toni fez uma pausa, fingindo pensar, e depois respondeu:
— Hm, deixa eu pensar... Acho que... não. Sabe por quê? Porque você é teimosa demais pra aceitar minha ajuda de boa. Então, agora eu decido, e só te coloco no chão quando a gente chegar no carro.
Respirei fundo, tentando manter a calma, mas confesso que o jeito brincalhão dela me pegava de um jeito difícil de ignorar.
— Eu te odeio, Toni – murmurei, quase rindo da situação absurda.
Ela apenas deu uma última risadinha, carregando-me como se nada no mundo pudesse fazê-la mudar de ideia.
— Odeia nada, Blossom. No fundo, você me ama mais do que qualquer pessoa que já foi capaz de amar na vida.
Quando finalmente chegamos ao carro, Toni me colocou no banco de trás com uma facilidade que me fez me sentir ainda mais impotente. Eu queria protestar mais, mas sabia que não adiantava. Ela parecia estar se divertindo demais com a situação.
— Você é insuportável! – reclamei, batendo os pés no banco, claramente irritada.
Toni, ainda com aquele sorriso de marra no rosto, ficou em pé ao lado do banco de trás, ainda com a porta aberta, olhando para mim com uma expressão sarcástica.
— Fico feliz em saber que ainda faço seu coração bater mais rápido – respondeu ela, com aquele tom provocador que ela sempre usava, e eu só queria pular em cima dela para fazê-la parar de brincar.
Eu revirei os olhos, me jogando ainda mais no banco, tentando me afastar dela, mas não consegui evitar o sorriso que escapou. Mesmo com toda a raiva, era difícil não sentir algo por ela.
— Você acha que eu vou te perdoar por tudo isso? – falei, tentando manter o tom de voz firme, mas a irritação estava começando a se misturar com a saudade. – Me deixa em paz, Toni. Não tem mais volta.
Ela deu uma risadinha baixa e, sem sequer hesitar, entrou no banco de trás do carro, sentando ao meu lado, de maneira tranquila, como se não tivesse feito nada demais. A tensão no ar aumentava.
— Vai continuar com esse teatro, ou finalmente vai admitir que tá com mais saudades que nunca, Cheryl? – ela perguntou, se aproximando um pouco, e o espaço entre nós parecia diminuir a cada segundo.
Eu tentei resistir. Queria manter a minha postura, queria não ceder. Mas o olhar dela, aquele olhar tão intensamente familiar, me fazia perder qualquer resistência. O clima dentro do carro estava pesado, denso, e, sem que eu percebesse, nossos corpos estavam mais próximos.
Ela se inclinou lentamente em minha direção, e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela me beijou. Era um beijo de saudade, de tensão reprimida, e algo muito mais forte do que eu tinha sentido em muito tempo. Suas mãos roçaram suavemente pela minha cintura enquanto ela me puxava mais para perto, e foi como se o tempo tivesse parado. O beijo foi intenso, urgente, como se ambas soubéssemos que a raiva de antes não passava de um pretexto para esconder tudo o que realmente queríamos.
À medida que a intensidade crescia, a conexão entre nós se tornava mais profunda. Eu abri um pouco os lábios e senti o calor da língua dela tocar a minha. Foi como se um fogo acendesse dentro de mim; nossas línguas se entrelaçavam delicadamente, explorando cada canto da boca uma da outra. Era uma mistura perfeita de saudade e tesão acumulado.
Ela se acomodou entre minhas pernas, e eu segurei seu rosto, sentindo a conexão intensa que havia entre nós. Nossos olhares se cruzaram, e tudo ao nosso redor parecia desaparecer.
Quando Toni colocou a mão por dentro da minha calcinha, com aquele sorriso travesso, não pude deixar de me sentir atraída. Ela não fazia nada, apenas estava com sua mão na buceta, sentindo a região ficar cada vez mais quente e molhada com o toque da ponta dos seus dedos.
Tentei manter o controle, mas hesitei por um instante.
— Toni... não... – comecei a dizer, mas minhas palavras falharam quando ela começou a beijar meu pescoço. Cada toque dela era como uma onda de prazer que me envolvia.
Foi impossível resistir. Eu me entreguei completamente ao momento, permitindo que os beijos de Toni me levassem a um lugar onde nada mais importava além de nós duas. Era como se estivéssemos em nosso próprio mundo, e eu não queria que isso acabasse.
Segurei os cabelos de Toni com firmeza e dei uma puxada suave, fazendo com que ela descesse seus beijos ainda mais. Fechei os olhos, entregando-me completamente àqueles toques intensos. O calor do corpo dela contra o meu era eletrizante, e eu mal conseguia conter a ansiedade.
Toni começou a explorar minha pele com seus lábios, descendo pelos meus seios e fazendo meu coração acelerar.
— Caralho, que saudades – ela disse.
Cada beijo era como uma onda de desejo que me envolvia, e eu podia sentir a química entre nós crescendo. Ela não hesitou em aprofundar os beijos, e eu me perdi na sensação de suas mãos deslizando pelo meu corpo.
Meu corpo respondia a cada toque dela, e eu deixei escapar um suspiro involuntário. Era difícil pensar em qualquer outra coisa além do prazer que ela estava me proporcionando. A conexão entre nós era intensa, e eu sabia que estávamos criando algo inesquecível. Com cada movimento, Toni me deixava mais ansiosa, mais desesperada por ela, e eu estava completamente disposta a me entregar àquele momento.
Sua língua deslizou pelo meu mamilo, o chupando como se fosse pela primeira vez, joguei a cabeça para trás e só senti meu coração acelerar, naquele momento eu não pensava mais em nada. Toni deslizou dois dedos até a minha entrada, me fazendo abrir a boca de surpresa,os dedos entraram com felicidade devido a umidade, Toni os retirou quase por completo e voltou a me penetrar, me fazendo ter a sensação de ser preenchida novamente.
A jogadora voltou a me beijar com intensidade, eu agarrava seu cabelo como se ela fosse fugir de mim,mas Toni não ia a lugar algum, ela colocou mais um dedo dentro de mim e focou em um lugar específico, e que ela sabia,em ritmo lento,fazendo eu gemer e revirar os olhos e implorar por mais e mais,até eu atingir um orgasmo.
No silêncio do carro, só o som da respiração ofegante preenchia o espaço entre nós. Depois do sexo,a tensão parecia ter diminuído, mas ainda restava algo no ar, algo que me fazia sentir como se estivesse prestes a explodir a qualquer momento. Toni se ajeitou em cima de mim, deitando a cabeça em meus seios, os olhos fechados, respirando profundamente, como se estivesse tentando acalmar seus próprios pensamentos.
Eu acariciava sua cabeça com a mão, sem saber exatamente o que dizer, tentando fazer com que a confusão que se formara na minha mente se dissipasse. Mas, por algum motivo, não conseguia parar de pensar em tudo que aconteceu. Ela parecia tranquila demais, como se nada tivesse realmente mudado.
Por mais que eu tentasse ignorar, imagens das mulheres que Toni havia beijado durante a festa surgiam na minha cabeça como uma cena incômoda que se recusava a ir embora. Eu não queria pensar nisso, mas era impossível não lembrar.
Eu mordi o lábio, tentando disfarçar o incômodo, mas não consegui evitar que uma leve tensão surgisse.
— Você ainda me faz perder a paciência... – comecei, sem saber ao certo o que estava acontecendo comigo. O silêncio só fazia a tensão aumentar, então comecei a falar, mas, sem querer, eu estava me deixando levar.
Toni levantou a cabeça um pouco, mas não falou nada de imediato. Apenas me olhou com um olhar profundo, como se estivesse analisando cada palavra que eu dissesse.
— E você... – continuei, mais nervosa agora. – Como é que foi beijar aquelas outras mulheres hoje?e depois se fazendo de... arrependida?
Ela se sentou um pouco mais, ainda com um sorriso irônico no rosto, e cruzou os braços. O tom dela estava calmo, mas as palavras, de alguma forma, fizeram meu sangue ferver.
— Ah, Cheryl... Você me acusa, mas sabe o que é engraçado? – Ela riu, e o som saiu com um toque de deboche. – Você foi a mesma que beijou outras mulheres lá também, lembra?
— Isso é totalmente diferente, Toni! – exclamei, minha voz mais alta, cheia de indignação. – Eu... eu estava me divertindo, mas isso não significa nada! A gente não tem mais nada, você não tem o direito de me cobrar! Ainda vem com papo de que estava arrependida.
Eu estava tentando me controlar, mas tudo dentro de mim estava explodindo. Ela simplesmente me olhava, sem se mover, com aquele sorriso imutável no rosto.
— Não temos mais nada, é? – Ela repetiu, desafiadora. – Você e eu sabemos muito bem que essa história não é tão simples quanto isso. Eu sei o que você sente. Sei o que você está tentando esconder de você mesma, esse ciúme já diz tudo.
Eu me afastei um pouco, tentando me controlar, mas era impossível. O calor da raiva queimava minha pele.
— Você acha que tem direito de falar assim comigo? – continuei, a voz falhando de raiva.
Ela deu de ombros, não se importando com minha fúria. Era como se fosse tudo um jogo para ela.
— Ao contrário de você, eu não fico te cobrando nada! Mesmo você me dando todos os sinais de que não vai voltar comigo, ainda quer me cobrar algo? Nunca te cobrei, e nem vou cobrar, eu cansei também.
Eu olhei para ela, sentindo uma mistura de dor e raiva. Aquele sorriso dela me fazia querer explodir, mas eu não conseguia mais controlar meus sentimentos. A raiva parecia tomar conta de mim, e eu não queria mais estar ali.
— Você errou comigo, Toni, ainda acha que pode me comparar com você? Até uns dias atrás você estava arrependida,mas hoje...nem pareceu aquela Toni arrependida beijando aquelas outras pessoas.
A tensão no carro era quase palpável. Toni mantinha o olhar fixo no volante, os dedos apertando-o com tanta força que os nós estavam brancos. Eu sabia que estava mexendo com a paciência dela, mas não ia ceder. Não dessa vez.
— Quer saber, Cheryl? – disse, a voz carregada de exasperação. – Sai logo da porra do meu carro, vai!
Aquelas palavras me acertaram como um tapa. Ela estava realmente me mandando embora assim, com esse tom cheio de desdém e raiva. Tentei me controlar, mas minha indignação transbordou.
— Tá falando sério? – perguntei, tentando esconder o quão machucada eu estava.
Ela revirou os olhos, impaciente, como se estivesse falando com uma criança.
— Sério? Acha que eu tô de brincadeira? Se você vai ficar aqui só pra me encher, faz um favor e some. Sai dessa porra de carro e me deixa em paz, Cheryl.
Engoli em seco, sentindo meu orgulho berrando para eu não ceder. Mas, ao mesmo tempo, o nó no peito só aumentava.
— Não acredito que você tá falando assim comigo, Toni... – murmurei, incrédula. Mas ela apenas soltou um suspiro impaciente, quase debochado.
— Ah, você não acredita? Pois pode acreditar. E faz logo isso. Sai daqui antes que eu perca o resto da paciência que me sobrou.
Sem conseguir me controlar, saí do carro, sentindo o vento gelado bater no meu rosto. O desejo de sair dali e não olhar para trás foi mais forte do que qualquer outra coisa. Mas, antes que eu pudesse dar mais um passo, Toni acelerou o carro, saindo em alta velocidade, sem se importar com nada.
Eu fiquei parada ali, sentindo a raiva crescer dentro de mim, sentindo o peso da decepção, mas, mais do que tudo, a sensação de que tudo aquilo estava além do meu controle. Ela havia saído com o carro, sem nem pensar duas vezes, e eu só fiquei ali, sem saber se deveria ficar ou seguir em frente.
A última coisa que eu vi foi o carro de Toni se afastando, se perdendo na escuridão da noite. E eu fiquei ali, sozinha, sem saber o que pensar, com um turbilhão de sentimentos rodando na minha cabeça.
Eu finalmente consegui voltar para casa depois de tudo o que aconteceu na noite anterior. Meu corpo estava exausto, e minha mente, uma bagunça completa. Eu não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido com Toni, no sexo,no beijo, nas palavras que trocamos... Eu só precisava desligar. Então, me joguei na cama e tentei dormir. Não queria pensar mais em nada, nem nela nem em mim. Só queria apagar por um tempo.
Acordei com o som do meu celular vibrando, mas logo adormeci novamente. Só quando ouvi a porta do meu quarto se abrir, acordei de verdade. Fui tirada do meu sono profundo de forma brusca e, de repente, me vi sentada na cama, ainda com o corpo pesado e os olhos turvos. Olhei para o lado e vi Betty, com um olhar preocupado e o rosto pálido. Algo não estava certo.
— Cheryl! Cheryl, acorda! – Betty disse, sua voz trêmula e apressada. Eu me espreguicei, tentando entender o que estava acontecendo. Não sabia se ainda estava sonhando ou se era real.
— O que foi, Betty? – perguntei, minha voz ainda rouca do sono.
Ela olhou para mim com os olhos arregalados, claramente assustada.
— Toni... Ela sofreu um acidente, Cheryl! – Betty falou, quase sem conseguir respirar. – Aconteceu hoje de madrugada, logo depois do after. Eles não sabem ao certo o que aconteceu, mas o carro dela capotou...
Eu congelei na cama, minha mente falhando em processar aquilo. Aquelas palavras pareciam não fazer sentido. Eu tentava entender o que estava acontecendo, mas minha cabeça não conseguia absorver tudo de uma vez.
— O quê? – minha voz falhou. – Não... não é possível...
Eu me levantei da cama, sentindo minhas pernas tremerem, uma onda de choque tomando conta de mim. Um nó se formou na minha garganta.
Toni... Toni estava no hospital?
Eu sabia que as coisas entre nós estavam complicadas, que estávamos brigando, mas nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer.
Betty deu um passo à frente, seus olhos cheios de preocupação. Ela parecia ainda mais assustada, mas não me deixava sair de perto. Eu não sabia o que fazer, o que pensar. Todo o ódio e raiva que senti ontem à noite estavam se transformando em algo completamente diferente, um medo que eu nunca havia experimentado.
O medo de perdê-la.
— O que aconteceu? Como... como ela está? – perguntei, sem saber o que fazer com minhas mãos trêmulas.
Betty me olhou com pesar.
— Eles não sabem ainda, Cheryl. Não conseguimos muitas informações. O que eu sei é que ela foi resgatada sozinha e agora está em estado grave. Eles estão tentando estabilizá-la, mas o acidente foi feio. Eu... eu sei que você está chateada com ela, mas... talvez seja hora de ir até o hospital, se você quiser saber como ela está.
Aquelas palavras soaram como um soco no meu estômago. Eu queria estar brava, queria não me importar, mas o que estava acontecendo com Toni parecia maior do que qualquer discussão que tivéssemos tido. Algo dentro de mim não conseguia deixar de se preocupar com ela.
Sem pensar, eu me levantei da cama, peguei minha roupa rapidamente e saí de casa com Betty, sem saber o que esperar do hospital. Eu só sabia que precisava estar lá, perto de Toni, mesmo que não soubesse o que a esperava e como as coisas entre nós iam terminar.
FIM.
Brincadeira mores,e não teve reconciliação de novo 💋 até o próximo suas passivas patéticas,amo vcs, beijinhos 🫶🏻