Pink Limonade

Por Agente0016

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Marta e seus amigos era um trio bem tranquilo, sem muitos conflitos e com uma rotina escolar relativamente co... Más

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Por Agente0016

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Nem sempre a gente toma boas decisões na vida, principalmente quando a gente tem só 13 anos de idade. A ideia de ter alguém, e ser alguém é algo perigoso. Crianças não têm que se preocupar com posição social, ou em garantir um parceiro o mais cedo possível, muito menos quando os critérios são: popularidade, e não realmente amor. Gostar de alguém por outro lado é válido, aquele sentimento estranho, aquele nó na barriga que esquenta, é tudo muito novo, é tudo muito atraente. É carinho, é admiração, é querer sem saber como ter. Um primeiro beijo, inexperiente, uma mão na bochecha, duas mãos juntas, uma praça no fim da manhã. Era proibido, era eletrizante. Era doce, legal, divertido e... Bom, de um jeito estranho. Porém, a fama sobe a cabeça, eu nunca demonstrei, mas eu sempre gostei das pessoas falando de mim, bem, eu me sentia especial, único e importante, era maneiro também. Chamar atenção é uma coisa que crianças deixando de ser crianças gostam, a aprovação dos outros. Ela era bem aprovada pelos outros, e ela não era feia, ela era linda, eu fazia ela rir, ela me fazia rir, todo mundo gostava da gente. Nunca senti aquele carinho, aquela admiração e aquele desejo doce por ela, mas eu via ela como alguém grande, alguém foda. Ela era foda, todos gostavam dela, todas queriam ser ela. Eu vi nela a aprovação dos outros, em dobro, eu vi nela a atenção, ser importante, ser único, especial, para uma massa. Eu fui burro, me deixei levar pelos elogios alheios do que pelo olhar dele. Eu era infantil, não entendia que futuramente aquele calor na barriga e o brilho nos olhos seria muito mais importante. Mas se eu não tivesse escolhido errado, a longo prazo, teria realmente dado certo?

Eu não tinha como saber, porque eu destruí tudo na manhã que eu cheguei de mãos dadas com Marina, quando encontrei ele na praça. Quando eu beijei ele mesmo estando namorando, mesmo tendo trocado ele, eu beijei, e disse que ele era "daora", e depois fui embora. Eu queria ter dito mais, eu queria ter beijado mais, eu queria ter sido inteligente o bastante pra me arrepender naquela mesma hora me ajoelhar e pedir desculpas. Mas eu era burro, e eu era uma criança, e eu não sabia o que era amor, apesar de sentir eu não sabia e não sabia que aquilo ia doer tanto depois. Depois que ela já não me fazia rir tanto, depois que ela já não ria tanto. Quando ela parou de sorrir, falando coisas como se casar e ser o casal mais bonito e feliz do mundo. Quando ela começou a querer ser mais bonita, as lentes, a progressiva, as luzes, a maquiagem, os bojos maiores do que deveriam ser. Ela perdeu o ar jovem e delicado, ela perdeu o sorriso brilhante e fácil, ela ficou muito mais viciada na atenção do que eu, ela queria o nome dela na boca dos outros, ela via em mim uma forma de conseguir isso. Qualquer ilusão de se gostar que a gente tinha acabou, foram quase 5 anos regados a uma imagem falsa de um casal feliz, diversas traições dos dois lados, noites quentes que terminavam frias e uma dor enorme no meu peito porque eu fui burro. Muito burro.

Fiquei feliz quando Marina terminou comigo, eu já não tinha mais nenhuma força para sustentar aquela mentira. A gente mal se falava. Ela se despediu com mais uma noite nem tão quente assim e um boa sorte seco, pra depois falar mal de mim. Óbvio que ela ia falar mal de mim. Mas 5 anos depois eu já não me importava com me sentir especial, único e importante pelos outros, eu não me preocupava com a aprovação ou em agradar mais ninguém. Eu tinha perdido tudo quando eu mesmo me desfiz dele, demorei pra perceber, mas perdi. Eu fui tão burro. Hoje eu sei que todo o esplendor de ser popular nunca vai se comparar ao que a gente tinha, era algo tão inocente, e tão genuíno, e tão humano, nada artificial, nada falso. Agradar aos outros ou ser feliz? Eu pensei que agradar os outros me faria feliz, e descobri da pior forma que não. Minha mãe viajou até o outro lado do continente para ser famosa, procurar agradar os outros porque achava que isso a faria feliz, casou com um homem que nunca amou, nunca gostou, ficou rica e quando ele morreu percebeu que nada daquilo realmente valeu a pena, voltou com o rabo entre as pernas pra casa, comigo, a única coisa que sobrou de um sonho vazio. Eu devia ter aprendido alguma coisa com ela, mas precisei passar pela mesma coisa pra descobrir que não é assim que as coisas funcionam. Procurar felicidade através de qualquer tipo distorcido de fama é perda de tempo, tu só vai dar de cara com o arrependimento depois, anos perdidos, amores perdidos, uma vida perdida e trocada por algo amargo. Um sentimento horrível de que... De que podia ter sido diferente.

Como que a gente consegue enganar nós mesmos tão bem? Se convencer de uma mentira? Eu me convenci por tanto tempo que era aquilo que eu queria, independente do que eu devesse fazer, deixar de lado quem eu amava por algo tão fútil, tão banal, tão passageiro e tão imbecil.

Mas eu tinha só 13 anos, eu nem sabia que amava ele de verdade, eu não tinha esperteza pra saber disso. Eu tinha 13 anos, e a garota mais bonita da escola do meu lado. Eu tinha 13 anos e perdi 5. Eu tinha 13 anos, pessoas que queriam ser como eu, pessoas que só falavam de mim, eu era amigo de metade da escola, amigo de outras pessoas que as pessoas gostavam, eu saia pra várias festas, eu jogava futebol com os guris, os professores me adoravam e eu tinha o mundo na minha mão. Eu tinha 13 anos, tudo, e então eu tinha quase 18, só dois amigos que ninguém sabia quem eram, fama de ser um soca fofo, drogado, nojento e manipulador, além de estar tirando notas baixas e dormindo quase a aula inteira. Ninguém gostava mais de mim, eu não saia mais com ninguém, não ia pra festas e não jogava mais futebol. Eu passa o dia inteiro em casa, jogando, dormindo, bebendo e fumando. Eu não comia mais direito, minha mãe não me reconhecia mais e eu tinha mais olheira que rosto. De manhã, eu acordava e tomava banho, roubei umas maquiagens da minha mãe pra melhorar minha cara, meu armário era o do quarto de hóspedes para que não ficasse o cheiro do cigarro nas roupas e eu ia para escola minimamente decente. Eu sempre fui bagunçado, desgrenhado e etc. As pessoas gostavam disso, eu era um desarrumado atraente e bonito, mas eu não queria que meus amigos me vissem como o zumbi que eu tinha virado. Eu não queria preocupar ninguém, digo, Marta e Boo. Eles eram os únicos que nunca me viram pelo que eu aparentava ser, eles gostavam de mim de verdade, como Nezumi fez, tirando a parte do romance. Eles não se importavam da onde eu vinha, se eu tinha dinheiro, ou coisas do tipo, eles gostavam da minha companhia porque sim, e isso era bom. Era inocente, genuíno e nada artificial. Eu não queria espantar as únicas pessoas que ainda estavam do meu lado, eu não queria que eles vissem como eu estava e ficassem assustados, preocupados. Por isso nunca levei nenhum dos dois lá pra casa, por isso nunca falei nada sobre mim, nunca tinha falado de Nezumi, nunca tinha falado de tudo que passei com Marina, as traições e os abusos. Nunca falei da bebida do cigarro. Eu ia pra escola, disfarçando minha podridão o máximo que eu conseguia e ficava lá, e tudo corria bem. Até a merda daquele trabalho.

Pra ser sincero, eu nunca tinha deixado de observar Nezumi de longe. Obviamente. Ele cresceu pouco em questão de tamanho, mas passava ano vinha ano e ele ficava mais bonito. Eu sempre gostei muito dos olhos dele, e do sorriso, sempre comparei ele com um gatinho frajola, ele sempre gostou. Ele tinha aquela pele dourada e o cabelo perfeito, ele era perfeito. As pessoas envolta de mim sempre falaram muito mal dele, dos dentinhos dele, do tamanho dele, da forma como ele sorria, como ele falava. Quando a gente entrou juntos na escola ele sofria muito bullying ser asiático, mas Nezumi foi criado pra ser forte, a mãe dele, tia Nezuko, era uma mulher de grande personalidade, os dois fugiam daquela ideia de que japonês é passivo e abaixa a cabeça para tudo, ele não era assim. Nezumi mordia as pessoas que faziam piada com ele, de verdade, mais tarde ele começou a arranjar muita briga por causa disso, e durante esses anos eu ouvia tudo que ele já tinha feito, as pessoas que ele já tinha mordido arranhado. Ele pulava igual um animal selvagem e arisco em qualquer pessoa que queria bater nele, ele não arregava. Ele era forte, ele era imprevisível, e ágil, e incrível. Por conta disso, não falavam só da aparência dele, que ele era esquisito, duvidavam da sanidade mental dele. Ele era violento, verdade, ele não tinha limites, é verdade, ele era louco, talvez, mas é porque essas pessoas não conheciam ele de verdade. Pra quem tratava Nezumi bem, e deixava de lado qualquer preconceito antes de interagir com ele, ele era muito amoroso. Quando a gente era amigo, e mais do que isso, ele sempre foi muito querido comigo. Um doce, ele gostava de se esfregar em mim, me abraçava e não queria soltar, ele enfiava a cara no meu pescoço, fazia cócegas, ele gostava de cafuné, ele gostava de várias coisas e ele era divertido, inteligente. Acho que nunca conheci alguém tão inteligente quanto Nezumi, mesmo Marta, ele sabia tudo sobre tudo, eu podia ficar horas ouvindo ele falar, ele falava tão bem, a voz dele era tão boa de ouvir. Ele sabia cantar, ele sabia tocar flauta, ele gostava de desenhar e fazia tricô. Mas as pessoas não sabiam disso, as pessoas não sabiam que Nezumi era gentil e surpreendentemente amável. Nezumi quase sempre recebia de cara piadinhas e xingamentos, suposições, as pessoas eram prepotentes com ele. As pessoas recebiam ele mal e ele não levava o desaforo pra casa.

O Nezumi violento, sádico e insano era resultado de uma exclusão natural. Mas nem todos tinham que lidar com esse Nezumi. Ele se envolveu com pessoas boas pra ele, Lana, Lauren e o Derick que tá com ele quase desde sempre. Existia dois tipos de popularidade na escola, a nossa, minha de Marina e mais alguns, que era baseada na nossa aparência, e na quantidade de festas e pessoas que a gente fazia e pegava, e a deles. Nezumi, Lana, Lauren e Derick representavam todo mundo que não era como nós, as pessoas que eram excluídas, não eram bonitas segundo os padrões de beleza, ou que não saíam, ou que eram alternativas, diferentes, minorias. Pessoas como Marta e Boo. E o que mais irritava meu antigo pessoal era que Lauren e Lana, que Marina já tinha tentado levar pro lado dela, não queriam andar com a gente, elas protegiam todos aqueles que Marina e meu antigo ciclo social atacava, e Nezumi era uma afronta a Marina por andar com elas. Como pessoas como Lauren e Lana se dignaram a andar com alguém como Nezumi? Era assim que ela pensava, e ela achava que era superior a ele porque ela sabia de nós dois.

Toda essa teia dentro da escola era cansativa. Quem é popular ou não, quem é padrão ou não, quem luta contra os padrões ou não. Tudo isso devia ser irrelevante, a gente tava lá pra estudar não pra ver quem era melhor. Mas pensar assim me transformava em um hipócrita, porque eu fiz parte disso, e virei vítima disso, e alimentei isso por bastante tempo. Mas cansei, cansei e a única coisa que eu queria era ter Nezumi de volta e fingir que nada daquilo era real. Mas eu não podia, porque eu não merecia, e porque eu machuquei ele, e isso ficou mais claro do que nunca quando Lana nos levou até ele, aquele dia.

Um grupo com Nezumi. A ideia já me causou arrepios, e então quando eu vi ele, olhei de perto pra ele, e percebi que eu simplesmente não podia, porque eu ia desmoronar eu fiquei completamente puto da cara com a escola. Eu queria sei lá me deitar no chão e chorar, eu queria me jogar nele e chorar, eu era um idiota, eu fui burro, burro e eu doía tanto. Eu queria pedir desculpas, eu fiquei triste porque eu vi que ele estava triste, eu queria poder fazer ele feliz de novo, eu queria poder nunca ter feito o que eu fiz e voltar pra ele, fazer cafuné nele, carinho na orelha dele e ter tudo aquilo de novo comigo. Eu não podia, mas eu queria. Eu sentia tanta falta disso, e ele também. Esse é o pior, ele também sentia falta do que a gente tinha, ele ainda gostava de mim, mesmo depois do que eu fiz, com quem eu me envolvi, com a vida que eu levei até então ele ainda queria, ou ele quisesse o antigo Gabriel, que nunca mais voltaria. E ele sabia que não voltaria, e ele estava bravo, furioso, comigo, com ele, ele com certeza se sentia traído de todas as formas possíveis porque ele nunca gostou de Marina mesmo antes de eu namorar com ela, ela andava com as pessoas que tratavam ele mal, e eu troquei ele por ela. Ele me odiava, ele me odiava até o último fio de cabelo dele, mas ele se odiava também porque mesmo me odiando e ainda queria ficar comigo.

O problema é, Lana me odiava também, ela não teria feito aquilo por pura e espontânea vontade. Marta apontou pra mim o negócio com Maria Clara, de eu estar flertando com ela na frente de todo mundo pra ele ver. Ele viu, eu sei que ele viu, eu vi que ele viu, e ele ficou... Ele é possessivo. Eu não sou dele, ele não é meu, mas ele não gostou de ver eu com Maria Clara, assim como com Marina. E se ele ainda sentir algo por ti, ele sentia, algo como posse, deixei de ser dele por tempo o suficiente. Ele me queria de volta, ele não gostava de me querer de volta, mas ele não me deixaria ser de mais ninguém. O problema é que Marina tinha o mesmo sentimento, e Maria Clara parecia bem inclinada a se esforçar.

Quando cheguei em casa achei tudo aquilo hilário, alguém como eu... O que tinha em mim, qualquer qualidade já tinha sido devorada pelo vício, pela ganância e pelo arrependimento. Eu era quase um cadáver já. Eu não fazia por onde, o que tinha de tão especial em mim? Eu não era mais especial, nem único, nem importante. A vida de todo mundo seria melhor se eu não existisse. 

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