Acalla

Por AllePereira

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Três nações disputam poder em um mundo mágico tomado por guerras políticas. Quando vê sua nação ameaçada, a r... Más

🍃 Bem-vindas a Acalla 🍂
Episódio 01 - Origens I
Episódio 02 - Liera: O Início do Fim
Episódio 03 - Dranô: A Cidade em Chamas
Episódio 04 - Agda: Possessão I: Inconsequência
Episódio 05 - Liera: Pacto
Episódio 06 - Agda: Possessão II: Violação
Episódio 07 - Origens II
Episódio 08 - Dranô: Dualidade
Episódio 10 - Liera: Testemunhas
Episódio 11.1 - Dranô: A Palavra de Ordem
Episódio 11.2 - Liera: Anciã
Episódio 12 - Agda: Conexões II: Reconexão
Episódio 13 - Origens III
Episódio 14 - Liera: Traição
Episódio 15 - Dranô: Contato
Episódio 16 - Liera: Sacrifício
Episódio 17 - Agda: Decadência
Episódio 18 - Origens IV
Episódio 19.1 - Liera: Cisão
Episódio 19.2 - Dranô: Intrusa
Episódio 20 - Agda: Sentença
Episódio 21 - Liera: Impugnação
Episódio 22 - Agda: Morte
Episódio 23 - Liera: Preservação
Episódio 24 - Leona: Exilados

Episódio 09 - Agda: Conexões I: Rompimento

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Por AllePereira

- Eu ainda não entendo. Não sei se serei capaz de entender. Nós te avisamos, confiamos em você!

- Eu não...

- Eu não quero te ouvir. As tuas escolhas me causam dores. Te sentir perto me causa dor!

- Mãe... - Eu disse aos prantos, ela me interrompeu uma vez mais.

- Não, uma mãe é aquela a quem a sua prole se subordina. Você nunca respeitou a sabedoria dos que vieram antes, nunca se subordinou às minhas ordens. Eu não consigo mais fazer isso. Eu rompo aqui todo e qualquer vínculo que possuímos. Eu me envergonho do laço de sangue que compartilhamos nesta vida, me envergonho de ter sido o instrumento das entidades para que você viesse à existência!

Meu pai sempre foi meu ponto de apoio emocional, perdê-lo significou a morte de todas as minhas referências sobre o que era ter uma família. A intransigência da minha mãe nos levou à ausência do diálogo, e a ausência deste, à de afeto. Sua concepção da devoção que eu deveria ter àqueles que vieram antes de mim me violentava com o silenciamento. Mais uma vez ela não me ouviria se eu tentasse me expressar, mais uma vez ela julgava a minha falta de experiência em vida como um símbolo de inferioridade.

- Eu sei da responsabilidade que eu tenho nisso tudo! Eu perdi o meu pai e agora você está me condenando a perder a minha mãe também. Se essa é a sua escolha para lidar com a situação, saiba que eu também vou lidar à minha maneira e você nunca mais ouvirá a minha voz de novo.

- Essa sim é uma decisão sábia. - Disse ela com convicção.

Eu não tinha o que levar dali. Sem tempo a perder me virei e saí pela porta da casa para a qual eu jurei jamais voltar. Os céus lavavam a vila com as águas da troca de estação, eu também me deixei ser limpa de todos os sentimentos com os quais decidi romper. Eu estava sofrendo, a perda era recente e as minhas escolhas deixaram máculas na minha alma que me acompanharam enquanto eu vivi, mas eu não precisava de alguém que tornasse aquele momento mais doloroso do que ele deveria ser.

Andando pelas ruas molhadas do vilarejo eu percebi os olhares de julgamento de todos ali. Eles me marcaram como a responsável pela morte do meu pai, mas não se esforçaram para reconhecer a menina que teve seu corpo violado por uma entidade sádica. Ninguém tentou entender como as coisas aconteceram comigo. Eu carregava mais culpa do que aqueles a quem a responsabilização era justa: A Nação Exilada.

Percorri as estradas do Norte sem ver o tempo passar, a ausência da lua no céu foi a única lembrança que eu levei daquele percurso. Minha mente se ocupou com a dor e com o desejo de me distanciar do Vilarejo da Fronteira, havia em mim o ímpeto de deixar tudo para trás. Andei sem destino até a longa estrada de terra dar lugar a um caminho coberto por pedras soltas, foi quando avistei a grande cidade iluminada que eu observava do topo da árvore.

- Identifique-se! - Um guarda ordenou. Ele estava parado próximo aos muros da cidade.

- Me chamam Agda, sou apenas uma viajante e vim do vilarejo ao sul.

- Você está viajando sozinha? O que procura aqui?

- Apenas um lugar para esperar a vinda do sol, estou de passagem. - Foi a primeira resposta que me veio à mente.

As tochas do muro iluminaram o sorriso estranho que ele esboçou:

- Pela paga certa, posso recebê-la em meus aposentos.

- Eu não tenho o que lhe ofertar em troca, apenas quero passar, por favor.

- Uma bela jovem como você sempre tem algo a ofertar.

Meu corpo não tinha atingido a maturidade de uma mulher e ele claramente me excedia em eras. Sua resposta me causou repulsa. Não havia outros guardas à vista quando a ideia surgiu. Sem tirar os olhos dele, apanhei lentamente duas pedras do tamanho do meu punho e lancei uma delas contra o oficial. Ele se defendeu com os braços e abriu guarda para questionar o ataque inesperado, foi aí que a segunda pedra lhe acertou o elmo que se chocou contra o muro. Atordoado, ele se ajoelhou procurando apoio no solo, eu me aproveitei da situação e parti para cima dele. Com um salto tomei impulso em seu corpo em uma tentativa bem-sucedida de alcançar o topo do muro. As mãos firmes nas beiras sustentaram meu peso quando lancei as pernas por cima das pedras frias. Antes de pular para o outro lado, respondi:

- Aprenda a respeitar às que vieram depois de você!

Saltei para o chão daquela cidade que era realmente imensa. Para uma garota que nunca havia deixado o Vilarejo da Fronteira, estar pela primeira vez em uma cidade daquele porte me fez imaginar a real grandeza da nação. As ruas eram largas e havia pedras bem encaixadas recobrindo o chão, era fácil caminhar ali, os elementalistas que executaram aquilo foram excepcionais em seu trabalho. As tavernas e outros estabelecimentos pareciam bem movimentados mesmo no auge do ciclo escuro. Folhas das árvores encantadas iluminavam as ruas com eficiência, elas pareciam saídas de um sonho bom. Tudo ali parecia.

Aquela experiência afastou os sentimentos ruins que eu carreguei comigo até então. Extasiada, segui por uma das ruas e por alguns instantes me esqueci de tudo pelo que eu tinha passado. Ao término do percurso me encontrei diante da figura imponente de um homem eternizado na forma de uma estátua. O cenho fechado não demonstrava simpatia, os pelos faciais perfeitamente esculpidos deixaram sua face quadrada. Preso à mão havia um cajado estendido em frente ao corpo, um instrumento da altura de seu portador. A estátua excedia em tamanho os prédios ao redor e na base estava gravada a saudação: A cidade de Verídia saúda Teór, entidade soberana da magia da Invocação.

A liberdade, as luzes, os novos começos. Aquele era o lugar que eu deveria estar. Me ocultei em um beco entre uma estalagem e uma casa e ali finalizei o ciclo lunar. Acordei com o sol e ainda cansada, mas com boas expectativas sobre as possibilidades que o lugar poderia me proporcionar. Entrei na estalagem ao lado e me dirigi a uma senhora que estava por ali:

- Com licença, eu estou de passagem pela cidade e preciso de um local para permanecer, posso trocar minha estadia por trabalho.

A senhora me olhou com afeto e disse:

- Como te chamam, minha jovem?

Pensei um instante e respondi:

- Lauri, me chamam Lauri. - Sorri.

- Eu preciso de ajuda com a preparação dos alimentos, uma companhia feminina seria bem-vinda pra isso. O que me diz?

Eu não entendi a relação entre o feminino e a preparação dos alimentos, mas aceitei sem questionar.

- Perfeito. Precisaremos preparar refeições para quatro pessoas, isso para a primeira e para a segunda refeição. - Um homem robusto entrou na estalagem – Os mantimentos estão nos fundos, me espere por lá, sim?

Eu não tive dificuldades em achar o local. Entrei no recinto e me deparei com uma jovem que se aproximava a mim em eras, dela exalava um forte odor que indicava negligência com o próprio corpo. Ao me ouvir abrindo a porta, ela deu um salto.

- Olá, você é uma hospede? – Questionei amigavelmente. Ela segurava um fruto amarelado, seus enormes olhos cor de terra acusavam que ela foi pega de surpresa.

- Não. - Respondeu a garota de maneira seca - Eu só estou procurando algo para comer. E você, quem é? - Os ossos de seu rosto se sobressaiam à pele bronzeada pelo sol, ela provavelmente não se alimentava com regularidade.

- Lau... ra, meu nome é Laura. Eu vou ajudar com os alimentos.

- Laura? Hum... entendo. - Ela mudou completamente a feição - Sabe, Lau... ra, pelo visto você não é daqui certo? Caminhou muito até Verídia? – Questionou ela ao olhar para a minha cabeça. Entendi que eu não estava em condição alguma de julgar a aparência daquela garota, meus cabelos deviam estar em um estado tão precário e descuidado quanto sua trança malfeita e suja.

- É, não sou daqui. Me desculpe, eu ainda não sei quem você é...

- É porque eu não disse. Mas vou te dizer uma coisa antes que aquela velha apareça. Ela vai se aproveitar de você. Não interessa qual seja o pagamento que ela tenha te prometido, você vai cumprir com a sua parte e ela vai te descartar depois.

- Como você sabe disso?

- Eu também vim de longe. Sabe, existe sim ajuda por aqui se você souber onde procurar. Encontrei abrigo em uma casa na ala oeste da cidade, próximo à saída do caminho das montanhas. Venha se quiser, talvez consiga o mesmo. - Ela arremessou um fruto redondo e eu não esperava aquele gesto, de modo que tive dificuldades em apanhar o alimento e, quando voltei meus olhos para a garota, ela havia desaparecido. A porta se abriu atrás de mim e a dona da estalagem apareceu.

- Nada de comer antes da hora, querida.

- Ela arrancou o fruto das minhas mãos.

- Pagamento apenas depois do trabalho. Vamos que agora temos mais um hóspede para alimentar.

Passei o período todo pensando nas palavras daquela garota. Eu consegui fazer a primeira refeição e aquilo me deu confiança para continuar trabalhando com a garantia de conseguir abrigo. Mesmo assim, por segurança, roubei um saco e estoquei nele alguns mantimentos. Pouco antes do pôr do sol servi a segunda refeição aos hóspedes no salão principal, retornei para o recinto de preparo dos alimentos onde esperava saciar minha fome e ali me deparei novamente com a proprietária, ela ameaçou chamar os guardas caso eu não me retirasse de imediato da sua estalagem.

- Mas eu cumpri com a minha parte no acordo. - Disse séria.

- Quartos só são pagos com ouro, querida.

- Então me pague pelo meu trabalho, o valor justo!

- Acho que prefiro avisar aos guardas que a menina que agrediu um deles também invadiu minha propriedade. A sua fama correu a cidade, querida! Eles vão adorar te encontrar aqui!

Propositalmente peguei a bolsa com os mantimentos e expus que eu não sairia dali de mãos vazias. A dona da estalagem ficou furiosa e gritou pelos guardas, mas ninguém a ouviu a tempo de me deter enquanto fugi às pressas pelo beco lateral, contornando a sequência de curvas irregulares que me encaminharam a uma outra rua completamente nova. Eu havia escapado daquela situação, mas estava perdida e ainda precisava de um lugar para ficar. Eu não sabia me orientar em uma cidade tão grande.

- Calla! Me chamam Calla. - Disse a garota que me alertou sobre a senhora da estalagem. Ela saiu sob os últimos raios de sol do mesmo beco que me serviu como rota de fuga - E eu não estou inventando esse nome.

- Agda. E eu também não estou inventando esse.

***

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