Acalla

By AllePereira

791 151 1K

Três nações disputam poder em um mundo mágico tomado por guerras políticas. Quando vê sua nação ameaçada, a r... More

🍃 Bem-vindas a Acalla 🍂
Episódio 01 - Origens I
Episódio 02 - Liera: O Início do Fim
Episódio 03 - Dranô: A Cidade em Chamas
Episódio 04 - Agda: Possessão I: Inconsequência
Episódio 05 - Liera: Pacto
Episódio 06 - Agda: Possessão II: Violação
Episódio 07 - Origens II
Episódio 09 - Agda: Conexões I: Rompimento
Episódio 10 - Liera: Testemunhas
Episódio 11.1 - Dranô: A Palavra de Ordem
Episódio 11.2 - Liera: Anciã
Episódio 12 - Agda: Conexões II: Reconexão
Episódio 13 - Origens III
Episódio 14 - Liera: Traição
Episódio 15 - Dranô: Contato
Episódio 16 - Liera: Sacrifício
Episódio 17 - Agda: Decadência
Episódio 18 - Origens IV
Episódio 19.1 - Liera: Cisão
Episódio 19.2 - Dranô: Intrusa
Episódio 20 - Agda: Sentença
Episódio 21 - Liera: Impugnação
Episódio 22 - Agda: Morte
Episódio 23 - Liera: Preservação
Episódio 24 - Leona: Exilados

Episódio 08 - Dranô: Dualidade

26 5 13
By AllePereira

- Está escurecendo, precisamos achar abrigo.

Eu ainda não sabia como responder. Na verdade, eu não queria responder nada a Tagi desde o momento em que fui salvo. O diálogo me forçava a revisitar o instante em que fui afastado da minha casa enquanto minha irmã morria nas mãos do executor.

- Aquela rocha parece grande o suficiente para nos abrigar, posso tentar abrir uma toca nela. O que acha?

Eu não respondi. Ela entendeu o recado e fez o que tinha que ser feito, performou a magia dos combatentes e potencializou sua força física. Um soco foi desferido contra a rocha abrindo uma espécie de caverna que nos serviu de abrigo.

- Eu vou procurar comida, se abrigue na caverna e tente acender uma fogueira se conseguir.

Tagi entrou na floresta escura com a mesma agilidade com a qual me tirou da cidade em chamas. Nós estávamos há vários ciclos perambulando pelas matas de Acalla, os crescentes ataques nos levaram a crer que nos afastarmos da civilização seria a melhor opção naquele momento. Meus sentimentos estavam bagunçados, Tagi me salvou e eu sabia que deveria ser grato, mas seu gesto de salvação também me condenou a carregar dor e culpa pela morte da minha irmã. Cora deveria estar viva no meu lugar.

Eu entrei na caverna improvisada naquela rocha que era grande e maciça, seu interior passava a segurança que precisávamos. Nós tínhamos alguns tecidos e peles de animais que caçamos pelo caminho, eu as organizei de forma que pudéssemos repousar nossos corpos cansados com um mínimo de conforto. Eu tinha certa ideia de como acender a fogueira, aquilo era conhecimento comum entre os não praticantes de magia. Localizei duas pedras grandes o suficiente para tentar produzir alguma fagulha com seu atrito. Eu estava na entrada da caverna e fiz um pequeno amontoado com mato e galhos secos que encontrei nos arredores, então, segurando firme as pedras comecei a bater uma contra a outra.

Encarar aqueles instrumentos enquanto eu fazia movimentos repetitivos fez minha mente voar. Os estalos das pedras se chocando me remeteram ao momento em que me deparei com aquele processo pela primeira vez, ainda na infância, quando Cora e eu estávamos tentando produzir fogo para o que quer que fosse. Eu estava feliz, talvez estivéssemos brincando de algo. Mais estalos e mais lembranças emergiram. Eu me lembrei do último momento em que vi o rosto da minha mãe, me lembrei de como ela estava mais animada do que de costume quando... quando nossa casa foi invadida.

Novos estalos e eu já não enxergava mais as pedras, as lembranças estavam tão vividas que me tomaram a visão. Me lembrei de novo daquele ciclo. Eu revi meu aposento, revi o momento em que acordei. Eu podia ouvir os passos dos Executores ali, sincronizados com as batidas das pedras. Meu coração começou a acelerar e a minha respiração ficou ofegante, o meu corpo reviveu a mesma sensação de perigo. Aparentemente, sobreviver a uma experiência de quase morte deixa sequelas que vão muito além de uma mente perturbada.

Eu não aceitava aquela situação, não aceitava aquela parte da minha história porque ela não deveria ter sido assim. Eu não a fiz assim e era por isso que sempre que aqueles pensamentos voltavam a mim, eu já não conseguia sentir angústia ou tristeza, não, tudo havia se transformado em raiva. Um sentimento tão latente e perturbador quanto as lembranças que invadiam minha mente a despeito de qualquer esforço que eu fazia para mantê-las afastadas. Ardente como a cidade em chamas da qual eu fui levado contra a minha vontade, como as labaredas nos galhos secos que começavam a queimar diante de mim.

- Dranô...

Péssima hora. Tagi havia retornado e eu não a percebi se aproximando. Meus pensamentos eram tão massivos que não fui capaz de notar quando as chamas se acenderam na minha frente em meio ao ciclo escuro, então não era exatamente uma surpresa eu não notar a aproximação de uma caçadora versada na arte da furtividade. Eu senti em minhas mãos que uma das pedras estava suficientemente afiada para causar danos em alguém. Que chances eu teria contra uma jovem performista das magias do combate? Eu não sabia quanto às possibilidades de sucesso em feri-la de forma significativa, mas sabia muito sobre a raiva que eu alimentava contra a minha salvadora.

- Dranô?

Ela insistiu, sua voz me fez sentir ainda mais raiva. Aquela situação estava se tornando insustentável e eu precisava fazer algo por mim. Eu estava ajoelhado em frente à fogueira recém acesa que era o único obstáculo entre mim e Tagi. Eu podia sentir seu sangue em minhas mãos.

- DRANÔ, SUA MÃO!

Seu grito me trouxe de volta à realidade, eu baixei os olhos. A tensão do momento me fez apertar a pedra contra a mão que a segurava, abrindo um corte profundo que fez o sangue escorrer pelos meus dedos em abundância. Só então eu senti a dor.

- Vem, vamos fazer um curativo. Eu devo ter algo aqui que ajude. - Tagi revirou alguns de seus pertences até encontrar um emaranhado de folhas do que parecia ser uma planta quase apodrecida e viscosa, seu cheiro era insuportável.

- Aqui, isso deve ajudar. Eu ainda tenho um pouco de água no cantil, vamos lavar para tirar o excesso de sangue e depois aplicar um pouco dessa seiva, ela tem propriedades cicatrizantes, sabia? Mas quando está verde pode até ser venenosa. Um amigo curandeiro que me contou sobre ela para que eu cuidasse dos meus ferimentos de combate. - Tagi esboçou um sorriso ao citar aquela lembrança enquanto cuidava da minha mão ferida.

- Pronto, agora é só colocar um pouco de pressão com essa tira de pano e você deve ficar bem. Quando eu não estiver por perto, é assim que você deve se cuidar caso precise. Esse corte foi proposital?

Eu neguei com a cabeça. Aquela situação me confundiu ainda mais.

- Menos mal. Eu trouxe comida, encontrei esses roedores enquanto caçava. Você precisava ver os olhos deles, eram gigantes. Pareciam aqueles cogumelos bonitos que refletem a lua. Trouxe algumas frutas também.

Com certa habilidade, Tagi limpou a caça para que pudéssemos assar e consumir a carne. Eu sabia que não deveria alimentar qualquer sentimento negativo contra ela, mas aprendi cedo que existem aspectos da nossa personalidade que a gente simplesmente não controla. Eu decidi manter a pedra recém afiada comigo.

- Sabe, eu estive pensando, nós estamos vagando há algum tempo e acho prudente pensarmos em algo mais concreto. Você consegue sentir a energia dos Executores no ar? - Eu assenti com a cabeça - Pois é, eu também. Acho que isso significa que os ataques estão cada vez mais frequentes. Se for esse o caso, é mera questão de tempo até que toda Acalla esteja devastada e isso inclui as florestas. Nós abandonamos as cidades pensando que não estaríamos seguros lá, mas começo a pensar que não estaremos seguros em parte alguma da nação.

Eu não tinha certeza de onde Tagi queria chegar e minhas feições devem ter expressado a dúvida. Ela continuou:

- Dranô, eu acho que deveríamos deixar Acalla. Precisamos de refúgio fora destas terras e acho que só o encontraremos em alguma outra nação.

Eu não gostava daquilo. Primeiro eu havia sido tirado da minha casa, agora seria forçado a deixar a nação?

- Acho que a Nação Exilada não seja o melhor dos lugares para se estar nesse momento também, então temos apenas uma alternativa, continuar seguindo para o sul e tentar chegar à Nação Independente.

Os Independentes estavam isolados sem ligação territorial alguma com o restante do mundo. Como se isso não bastasse, eu sempre ouvi que eles viviam em meio ao gelo e ao frio. Chegar até eles seria quase impossível e manter-se lá me parecia ainda mais difícil. Tagi prosseguiu com seu raciocínio absurdo:

- Existem três clãs lá, um deles são os Combatentes. Eu performo magias do combate então acho que de alguma forma posso convencê-los a nos aceitar. O que acha?

Aquela era uma nação conhecida por ter se afastado justamente para ficar fora deste tipo de situação. A ideia me pareceu terrível e eu não tinha intenção alguma em segui-la, mas, eu não me importava o suficiente com Tagi para me preocupar se ela viveria ou morreria tentando atravessar as águas gélidas do sul. Apenas balancei os ombros e apanhei um pequeno fruto vermelho para finalizar minha refeição.

- Olha, eu sei que você passou por muita coisa nos últimos tempos. Eu também perdi pessoas muito importantes para mim, mas nós estamos aqui e precisamos cuidar um do outro. Sei também da sua comunicação limitada, deve ser difícil viver sem a fala, mas penso que precisamos achar um meio de nos comunicarmos para que eu possa entender o que você quer, o que você precisa e o que está sentindo também. Conta comigo, tá bem?

Tagi se referiu a minha impossibilidade de falar, eu não tinha voz por algum motivo desconhecido. Desde sempre eu tive dificuldades para me expressar e aquela condição tornou o mundo um lugar muito mais desafiador. A pessoa que melhor me compreendia era Cora, melhor ainda que a nossa mãe, ela sabia interpretar minhas expressões e sentimentos mais subjetivos e traduzi-los na forma de palavras. Ela era a minha voz em um mundo no qual eu não era muito bem aceito. Perder Cora foi, dentre tudo, uma sentença a um mundo de silêncio.

- Conta comigo, tá bem? - Tagi repetiu em tom suave, embora firme, enquanto me olhava com carinho - Vá descansar, eu vou limpar o ambiente e apagar a fogueira. Restos de comida podem atrair predadores e nós não precisamos de mais problemas. Lembre-se sempre dessa informação!

Eu sabia que a limpeza não era o único motivo que a manteria acordada. Tagi nunca dormia antes de mim sob a justificativa de montar vigília enquanto eu descansava, e quase sempre despertava antes de mim também. Ela estava sempre alerta aos perigos externos e focada em me proteger, o que me passava a ideia de que eu não seria visto como ameaça quando colocasse em prática o meu plano de atacá-la.

Aquele foi mais um dos muitos ciclos conturbados dos quais fiquei refém ao longo da vida. Se as lembranças eram vívidas ao ponto de me tirarem os sentidos quando acordado, os sonhos representavam um nível ainda pior de experiência dos meus próprios terrores. Fechar os olhos em geral significava ouvir os gritos da minha mãe clamando pela própria vida. Eu via a janela e o aposento onde Cora esteve pela última vez. Suas palavras de ordem para a performance do seu feitiço de mutação se repetiam em minha mente como uma mensagem indecifrável. Eu tentava retornar ao aposento e me culpava por ter saído. Em algumas variações do meu inferno pessoal eu via o executor com a face de Tagi, mesmo que ela também estivesse me afastando para longe todas as vezes. Eu acordei com a claridade e Tagi já estava de pé, algumas frutas que sobraram da refeição anterior nos serviram como o primeiro alimento do novo ciclo.

- Eu sinto muito pelo sono difícil, você se agitou bastante. Se não se importar eu gostaria de partir. Para chegar à Nação Independente precisaremos caminhar o máximo possível sob a luz da claridade solar.

Eu não iria até a Nação Independente, mas permanecer com ela estava me mantendo vivo e eu precisava daquilo naquele momento. Terminei de comer e, sem esboçar grandes reações, comecei a pegar minhas coisas expressando concordância com aquele plano. Tagi então se levantou e começou a fazer mesmo. Não demoramos para iniciar a caminhada. O percurso pela mata não era difícil e a luz era abundante, na maior parte do trajeto caminhamos por trechos de vegetação baixa.

- Então nós manteremos a rota ao sul. Acho que esse é um bom plano, eu tenho um bom pressentimento quando penso nos Independentes. Quero dizer, eu sei que lá deve ser basicamente um monte de gente vivendo no meio do gelo, mas deve ser melhor que isso aqui.

O tratamento de silêncio continuou, eu apenas segui andando e olhando para a trilha. Tagi acrescentou:

- Olha, a gente precisa estabelecer algum tipo de comunicação. Eu me lembro das vezes que estive na sua casa, Cora era quem melhor te compreendia, certo? - Ouvir ela citar minha irmã fez meu coração disparar - Eu acho que você pode tentar me ensinar algumas técnicas de comunicação que sejam eficazes. Como vocês faziam?

Tagi era uma amiga da família e, em especial, da minha irmã. A amizade das duas era anterior à minha existência, eu me lembro dela frequentando a minha casa desde sempre. Eu não conheci meu pai, ele faleceu antes do meu nascimento e minha mãe adoeceu após a sua morte. Ela não comia direito e era muito frágil, era como se nunca houvesse se recuperado da dor da perda. Tagi sabendo disso nos ajudou muito, sendo uma das poucas companhias externas aceitas pela minha mãe. Me passou pela cabeça que Tagi sabia de muitas coisas sobre a minha vida e, devido a sua proximidade com Cora, sabia também como eram nossos métodos de diálogo sendo perfeitamente capaz de reproduzi-los, o que me fez concluir que ela só questionou sobre algo que ela já sabia como fazer por puro respeito.

- Você está ouvindo isso? - Eu emergi das lembranças para ouvir o som do que parecia ser um grande volume de água corrente - Acho que estamos próximos de algum rio.

De fato, demos mais alguns passos para encontrar em nosso caminho um rio cortando a mata. Eu consegui avistar a outra margem sem dificuldades já que aquele trecho era relativamente estreito, mas as águas agitadas dificultariam a travessia mesmo que ela fosse curta.

- Você sabe nadar? - Eu neguei com a cabeça - Certo. Bom, eu não vejo nada deste lado que te ajude a atravessar, mas acho que aquela árvore na outra margem pode te servir de ponte então eu vou até lá.

Tagi começou a concentrar energia com os olhos fechados, ali se iniciava a performance de alguma magia. Concluída a concentração ela fez movimentos suaves como quem preparava o corpo para algum feito físico, ao passo que sussurrou palavras de ordem clamando para que a energia dos combatentes potencializasse sua força física e agilidade. Aquilo deu certo, eu senti a energia daquela jovem guerreira aumentando consideravelmente. Tagi me olhou e a dilatação de seus olhos me causaram estranhamento.

- Se afaste. - Sua voz estava mais firme de alguma forma. Tagi se afastou da margem dando alguns passos para trás. Tomada a devida distância, ela correu em direção ao rio e saltou para o outro lado com uma velocidade absurda. A jovem combatente alcançou altura suficiente em seu salto para chegar à parte mais alta da árvore que pretendia utilizar como ponte, a planta se curvou com a força empregada. Eu a perdi de vista e ouvi um forte impacto no solo antes da árvore ceder. As raízes expostas estavam na outra margem, a copa caiu nas águas turbulentas. Tagi apareceu do outro lado levantando o tronco pesado com ambas as mãos e, sem qualquer dificuldade, o posicionou para que a folhagem alcançasse o lado onde eu aguardava. Em poucos instantes a ponte improvisada estava a minha disposição. Acompanhar aquela performance por parte de alguém tão jovem me fez questionar o que um clã inteiro seria capaz de fazer com as magias do Deus da Guerra se atuassem em conjunto. Eu estava impressionado.

- VOCÊ SE SENTE SEGURO PARA VIR? - Tagi gritou, eu assenti com a cabeça - NÃO SE PREOCUPE, EU ESTAREI ATENTA E SE ACONTECER QUALQUER COISA, EU TE PEGO!

Eu iniciei minha travessia e a correnteza pareceu ainda mais forte quando olhada de cima. Apesar da confiança que eu sentia dei um passo de cada vez com muita cautela. Meus pertences estavam comigo e minha mão doía, o que atrapalhou um pouco a concentração no breve percurso sobre o tronco irregular. Eu corri algum risco ali, mas a ideia de sofrer o impacto de uma aterrisagem ao ser carregado por Tagi me pareceu bem pior. Eu mantive os pensamentos calmos tentando não deixar a mente voar para além da travessia. Sucesso, eu cheguei ao outro lado sem que meus sentidos fossem dominados pela situação.

- Fantástico! Você tem um autocontrole incrível! Você seria um bom combatente.

Eu questionei aquela frase com uma expressão facial. Nós retomamos a caminhada enquanto Tagi me respondeu:

- De tudo o que aprendi, descobri que os Combatentes são um povo pacífico e extremamente controlados, exatamente como você foi agora. O fato deles terem se afastado da guerra já diz muito e isso é incrível! Quero dizer, imagina o que um exército de combatentes seria capaz de fazer se eles se voltassem contra alguém?

Eu olhei para Tagi e fiz um gesto de força com os braços, seguido de uma expressão de questionamento com as mãos.

- Sim, nós somos muito fortes sim, mas a força não é tudo. Ainda não sou capaz de performar todas as magias do combate, sou melhor naquelas que me ajudam na caça. Eu quero continuar treinando para ficar mais forte, quero muito aprender as outras magias do combate que ainda me faltam.

Não era exatamente o que eu havia perguntado, mas ela respondeu algo interessante e eu estava gostando daquele assunto. Eu pensei em questioná-la sobre outras coisas relacionadas aos combatentes, mas não o fiz por me lembrar de tudo o que ela representava para mim naquele momento.

- Espera! - Tagi disse me detendo com o braço - Tem alguém aqui! - Eu não ouvi nada, mas notei uma energia diferente. Ficamos alertas e seguimos com cautela até avistarmos alguém que vestia verde e se aproximava.

- Identifiquem-se! - Ordenou uma voz. Percebemos que se tratava de um guarda de Acalla com sua armadura padrão.

- Identifiquem-se, por favor! - Repetiu o guarda. Tagi respondeu:

- Somos apenas dois jovens vagando pela floresta.

- A Floresta da Fronteira é um ambiente restrito e com circulação controlada. Retornem para suas casas.

Minha casa... pensei.

- Nós não somos daqui, estamos apenas de passagem. Se nos permite gostaríamos de seguir o nosso caminho.

- Não são daqui? De onde vocês são?

- Somos... - Tagi hesitou - Somos sobreviventes do ataque em Astandor, nós fugimos e nos mantivemos afastados da civilização temendo outro ataque.

- Vocês são... sobreviventes do ataque a Astandor? - A expressão do guarda mudou, ele se mostrou surpreso com a notícia. Eu me questionei se aquela era uma informação que deveríamos ter compartilhado. - Vocês agora estão sob custódia da Grande Nação de Acalla!

- Espera, o que?

- Por favor, peço que me sigam. Não é seguro aqui.

Eu olhei confuso para Tagi que não estava gostando daquilo.

- Nós não vamos te seguir.

- Eu não posso permitir que sigam desacompanhados, soldados treinados já morreram aqui. Por favor, eu preciso levá-los para um local seguro!

Tagi não estava convencida. Eu sabia que a Floresta da Fronteira ficava no extremo sul de Acalla e aquele era um território vulnerável. Ir além daquelas terras para fora das fronteiras da nação nunca foi meu objetivo, cruzar o mar para chegar aos Independentes não era um desejo meu. Aquele homem estava me oferecendo uma garantia de proteção e eu não tinha razões para recusar. Eu lancei um olhar firme para a jovem caçadora e suspirei aliviado ao caminhar até o guarda.

- Você também, por favor, venha comigo.

- Dranô...

Contrariando a mim mesmo tomei a decisão improvável. Já ao lado do guarda, me virei para Tagi e fiz um movimento com a cabeça convidando-a para se juntar a nós. O que mais me surpreendeu naquele gesto foi a minha tentativa de convencê-la com o olhar de que tudo estaria bem se ficássemos juntos. Estranhamente eu não estava disposto a deixá-la sucumbir buscando socorro em outra nação, aquela era a minha forma de cuidar dela.

- Certo. Para onde vamos?

- Para o Vilarejo da Fronteira onde vocês passarão por uma audiência com a regente da nação.

***

Continue Reading

You'll Also Like

4.2K 971 23
「Crônicas da Magia」 「 • Volume Um」 Durante nove séculos, as Nações Unidas de Grannus viveram sob forte influência da magia desde sua fundação. O mun...
17.5K 1.6K 14
「𝘚𝘦𝘯𝘥𝘰 𝘳𝘦𝘦𝘴𝘤𝘳𝘪𝘵𝘢」 Ivy Dorothea O'Brien, abandonada aos doze anos de idade por sua mãe, Morgana O'Brien, e filha perdida de Aro Volturi...
3.2K 240 10
A garota com rosto de anjo e figura de demônio atravessou o mundo dos homens-fera e se tornou filha de um deus que todos roubaram. Todos os homens-fe...
44.2K 173 14
[C O N T O S] ❍ [ E R O T I C O] ❍ [ E M A N D A M E N T O] Ah eu acho que enganei os curiosos. Se perca no prazer. Quando as luzes se apagam, é...