Quebrando promessas? - Degust...

By adrianaramosbrasil

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Ela é a filha do amigo e sócio dele. Ele é um médico. Ela odeia médicos. Ele se apaixonou à primeira vista. E... More

Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo

Capítulo 31

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By adrianaramosbrasil

A história de Saulo e Júlia já está disponível na amazon. 


Sue

— Pai? — gritei assim que abri a porta da casa dele.

Joguei a bolsa no sofá e ia subir as escadas quando Fernando segurou em meu braço.

— Aonde você vai?

— Vou até o quarto dele, talvez esteja dormindo.

— É melhor esperarmos aqui.

— Pai? — gritei mais uma vez.

Ele apareceu no topo da escada vestido em um roupão cor de vinho.

— Duas vezes em um único dia? Deve ser seu recorde, Suellen. Fernando? Não deveria estar em São Paulo? Suellen não deveria ter...

— Sue fez o que você deveria ter feito há tempos, Saulo. Ainda não acredito que não falou comigo sobre a sua condição.

Meu pai desceu as escadas, apreensivo.

— Não quero falar sobre isso agora. Vocês dois podem ir embora e cuidar da vida de vocês. Amanhã...

— Não, pai, nós vamos falar sim. Fernando quer olhar os seus exames e avaliar... — Calei-me quando vi a Júlia descendo as escadas. — Júlia?

Meu pai soltou um suspiro longo, passou a mão nos cabelos e encarou-me com olhar suplicante. Ela estava usando um vestido solto e descalça. Seus cabelos estavam levemente úmidos e amarrados em um rabo de cavalo.

— Não é uma boa hora.

— Ela precisa saber, pai.

— O que está acontecendo? Fiquei muito preocupada com você, Sue. Não foi trabalhar, disseram que estava doente, não respondeu às minhas mensagens, não apareceu em casa. O que eu preciso saber?

A sala ficou em um silêncio constrangedor. Meu pai arrumou o laço do roupão antes de falar.

— Tenho um tumor no cérebro, é agressivo e posso ter de seis meses a cinco anos de vida, ou posso morrer amanhã.

Júlia ficou paralisada alguns segundos antes de começar a rir feito uma doida. Era uma reação normal dela quando estava em um estresse intenso. Ela simplesmente ria descontroladamente.

— Desculpe, eu... — Ela cobriu a boca com a mão e levantou indo em direção à cozinha.

Meu pai levantou para ir atrás dela, mas eu segurei sua mão.

— Deixe, ela vai ficar bem. Agora temos um assunto para resolver, onde estão os seus exames?

***

Duas horas depois, estávamos no hospital refazendo a tomografia do meu pai sob absoluto sigilo e contra a vontade dele. Isso porque não queria que ninguém soubesse que estava prestes a morrer. Patético.

Dentro da sala estávamos eu, Fernando e Júlia, que depois de rir teve uma crise de choro, em seguida ficou histérica xingando meu pai. Seria hilário se não fosse a situação trágica. Ver meu pai deitado naquela máquina, ouvir os termos técnicos que Fernando, Júlia e o Dr. Ernesto e Dr. Fabrício, amigos do meu pai, estavam falando quase me deixou com crise de pânico enquanto a máquina se movia.

— Eu vou pegar um café, uma água, alguém quer alguma coisa? Não consigo ficar aqui.

Fernando parou de falar e sorriu compreensivo. Ele tinha dito para que eu esperasse do lado de fora, mas teimosa disse que queria ficar.

— Não, obrigado. Não devemos demorar aqui.

Deixei um beijo em seu rosto e saí da sala quase correndo. Eram 2h da manhã, estava tudo calmo naquela ala. Desci para a cantina, que também estava fechada, mas tinha máquinas de café e outras bebidas. Peguei um capuccino para mim, depois acionei para pedir uma água, mas a garrafa não queria sair. Dei algumas batidas na frente e na lateral da máquina, mas nada. Estava desistindo quando Yuri apareceu e deu uma batida mais forte e a garrafinha surgiu como mágica.

— Obrigada.

— Por nada. Está fazendo o que aqui uma hora dessas? — perguntou encostando na parede com as mãos nos bolsos do jaleco.

— Tomando um café, agora uma água, e você?

Ele sorriu com a minha resposta atravessada.

— Saindo de um plantão. Vim tomar um café antes de ir embora. E você?

— Eu já disse. — Ergui a garrafa, abri a tampa e tomei um pouco da água.

— Ok, vou fingir que acredito, e que não percebi que está com cara de preocupada e com olhos inchados como se tivesse chorado muito. Problemas com o namorado?

— Não, estou esperando uma pessoa que está fazendo um exame agora. Só isso, Fernando e eu estamos muito bem, obrigada.

O sorriso dele vacilou.

— Sue, quero me desculpar pelo outro dia na festa. Não tinha o direito de te cobrar nada. Só fiquei muito... olha, é difícil acreditar que está namorando um médico quando terminou comigo por isso.

— Não foi só por isso, você mentiu por meses para mim. Não sei lidar bem com mentiras. Apesar de não ser da sua conta, Yuri, eu realmente não conhecia o Fernando, nem ele a mim quando ficamos juntos. Ele não fazia ideia de quem eu era. Foi uma coincidência.

— Tem certeza? É difícil mesmo acreditar.

— Tenho, não tinha a mínima possibilidade de ele saber, eu pulei na sacada do quarto dele em um hotel, satisfeito? Foi... o destino, digamos assim.

Ele comprimiu os lábios como costumava fazer quando estava chateado.

— O destino às vezes é bem filho da puta com algumas pessoas.

— Sinto muito, talvez tenha razão.

Ele estendeu a mão para mim.

— Amigos?

Aceitei o cumprimento.

— Amigos.

— Só quero deixar claro que caso esse namoro não dê certo e queira me perdoar, ainda estarei esperando por você.

— Yuri, eu já perdoei você, e existe uma diferença entre perdoar e aceitar. Posso compreender os seus motivos, mas não aceitar. Nesse caso, perdoo, mas não quero conviver. Sinto muito.

Ele meneou a cabeça e suspirou fundo.

— Está certo. Vou indo, foi bom te ver e desejo melhoras para quem quer que seja a pessoa que está fazendo exames a essa hora. Até mais, Sue.

Encostei na parede e fiquei olhando ele se afastar e entrar no elevador. Bebi o resto da água, joguei a garrafinha fora e voltei para a sala de exames.

Fernando estava falando quando entrei na sala.

— Neurocisticercose. Cisticercos que estão localizados no seu cérebro, este é o motivo para as dores de cabeça frequentes, as convulsões e a confusão mental.

Franzi o cenho, intrigada.

— Confusão mental? — perguntei olhando para a tela onde todos estavam encarando.

— Essa parte eu deduzi, já que andou falando umas besteiras por aí — Fernando esclareceu. — Vamos marcar a cirurgia de retirada, se tivesse sido diagnosticado antes poderia ser tratado com medicamentos, mas agora, com o tamanho que estão, não podemos arriscar, precisa ser retirado urgente.

— Não, não vou deixar você abrir a minha cabeça.

Cruzei os braços, brava.

— É claro que vai. Se Fernando está dizendo que a melhor saída é a cirurgia, o senhor vai fazer nem que seja obrigado a isso — falei já sentindo a esperança crescer dentro de mim.

— Vou reservar o centro cirúrgico para amanhã. Qual foi a sua última refeição? — Júlia perguntou firme.

— Não me lembro de ter concordado.

— Agora entendi a parte da confusão mental — brinquei passando a mão pela cabeça do meu pai. — Está mesmo acontecendo.

— Você não tem escolha, Saulo. Vou ligar para o Dr. Pablo, ele é o melhor anestesista para esse caso — comunicou o Dr. Fabrício.

— Vamos tirar esses parasitas que estão dentro da sua cabeça o mais rápido possível, meu amigo, e depois teremos uma conversa sobre você ter me escondido isso. Arrume um quarto e se interne, Júlia vai ficar com você e eu vou levar a minha namorada para casa, descansar um pouco e estarei pronto para operar você. Vou ligar para o meu amigo do Rio de Janeiro, Doutor Benjamin Fulber, ele é o melhor que conheço.

Júlia se adiantou abrindo a porta.

— Sem chance, não sou da família e nem babá de marmanjo. É melhor arrumar outra pessoa. Estou indo embora, boa noite.

Arregalei os olhos quando a vi sair e bater a porta. Meu pai estava com a mesma expressão chocada que eu.

— O que deu nela? — perguntei.

— Melhor perguntar para ela. Vamos, deixo a Júlia em casa, passamos para pegar algumas coisas para o Saulo e voltamos para cá — sugeriu Fernando. — Você pode cuidar da sua internação, voltamos logo.

Franzi o cenho fulminando meu pai com o olhar. Ele deu de ombros como se não fizesse ideia do que tinha acontecido.

No caminho para a casa da Júlia ela contou porque se recusou a ficar. Na hora do exame, o Dr. Fabrício e Dr. Ernesto fizeram comentários sobre meu pai estar saindo com um monte de mulheres, segundo eles, Saulo estava na melhor fase, um pegador de primeira. Depois ele mesmo cavou a própria cova dizendo que fez um monte de besteira porque achou que iria morrer, e só tinha parasitas na cabeça. Júlia se sentiu ofendida, pois na cabeça dela, se envolver com ela era uma dessas besteiras que ele não teria feito se tivesse uma vida normal. Deixamos Júlia, passamos na casa do meu pai para pegarmos algumas coisas pessoais dele, depois fomos em casa.

Quando estávamos voltando para o hospital, Fernando ligou para um amigo. Achei estranho ligar para uma pessoa uma hora daquelas, mas eu mesma não me importaria se uma das minhas amigas me ligasse se estivessem precisando de mim.

— Não me diga que já está com saudades.

— Você se acha mesmo, não é Fulber? Estou aqui torcendo para não ter chegado em casa ainda e não ter acordado a Fernanda.

— Infelizmente devo anunciar que sim, você acordou a fera.

— Misericórdia, estou fodido. Sinto muito, cara — Fernando brincou.

— Sente coisa nenhuma, espero que seja algo muito importante para estar ligando para o meu marido a essa hora. Recebeu o meu convite?

— Oi, Nanda, tudo bem? Recebi sim, obrigado.

— E não confirmou presença por quê?

— Não sabia que precisava, mas claro que vou no aniversário da Maressa.

— Ótimo, não me faça colocar seu nome na minha lista negra.

— Deus me livre.

— Fernando, você não ligou às 2h da manhã para bater papo com a minha esposa, tenho certeza.

— Tem razão, eu preciso da sua ajuda.

Depois de explicar tudo para o Benjamin, ele concordou em vir participar da cirurgia, mas só se Fernando admitisse que entre os dois, Benjamin era o melhor neurocirurgião. Fernando mandou ele se ferrar. Quando desligou contou que Ben e ele fizeram residência juntos, trabalharam no mesmo hospital e continuavam amigos. Sempre tiveram essa disputa de quem era o melhor.

***

Acordei com Fernando se levantando do sofá-cama que estávamos dividindo no quarto.

— Aonde vai? — sussurrei erguendo os braços e espreguiçando-me.

— Preciso verificar se está tudo em dia, se a equipe já chegou. Vamos discutir mais uma vez o caso antes da cirurgia. Volte a dormir, daqui a pouco estou de volta.

Meu pai aparentemente estava dormindo ainda. Fernando deu um beijo em minha testa e saiu do quarto. Não consegui voltar a dormir, algum tempo depois a equipe estava entrando no quarto para discutir detalhes da cirurgia. Tive o prazer de conhecer o tal Dr. Benjamin Fulber, amigo do Fernando. Que homem lindo, casado com uma advogada chamada Fernanda e uma filha que estava fazendo um ano.

Eu tinha ligado para os meus avós e eles chegaram minutos antes de levarem meu pai. No caminho da sala de cirurgia, encontramos a Júlia pronta para o evento.

— Você veio — meu pai comentou com um sorriso nos lábios e olhos brilhantes.

Ela soltou um suspiro raivoso.

— Preciso garantir que você viva muito para saber como é viver a vida sem mim — falou tão baixo que só escutei por estar muito perto dela. Segurei o riso com a ameaça.

— Meu Deus, isso aqui está cada vez melhor — Benjamin comentou piscando para o meu pai, indicando que ele ouviu o que Júlia disse.

— Vai cuidar da sua vida, Fulber — Saulo retrucou.

Eles desapareceram atrás das portas brancas e eu me sentei no sofá segurando a mão da minha avó.

— Vai ficar tudo bem, filha. Tenho fé que sim.

As horas pareceram não passar até Fernando voltar informando que havia corrido tudo bem e que logo meu pai estaria acordado e poderíamos falar com ele. Levantei aliviada e o abracei apertado. Parecia que tinha tirado uma tonelada das minhas costas, não consegui segurar as lágrimas de alívio.


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