Sue
Chegamos ao local da festa, um espaço muito elegante que ficava às margens da lagoa. Fernando havia alugado uma limusine para chegarmos em grande estilo ao evento, foi uma baita surpresa.
— Um brinde ao Fernando que realizou o meu sonho de me sentir como a Blair Waldorf por um dia. — Júlia ergueu a taça de champanhe.
— Só está faltando arrumar um Chuck Bass para você, amiga — Lizie afirmou. — Mas dessa noite não passa, você está um arraso.
Ela balança a cabeça em negação.
— Não tão cedo, amiga.
— Meu irmão foi realmente genial — Talita elogiou cheia de admiração.
Fernando entrelaçou nossos dedos e levou minha mão aos lábios depositando um beijo.
— Sue merece. Ela trabalhou muito por essa noite.
— Viu isso? Ele não é um doce? — Lizie brincou fazendo meu namorado revirar os olhos.
O motorista abriu a porta e Fernando desceu, em seguida ajudou-me a sair do carro. Seus dedos entrelaçaram os meus e ele olhou bem dentro dos meus olhos.
— Está pronta?
— Agora estou — respondi sentindo um gelo no estômago.
— Não fique apreensiva, vai dar tudo certo — afirmou carinhosamente e beijou de leve os meus lábios.
Na recepção, encontramos alguns fotógrafos contratados para tirar fotos dos convidados na entrada, e alguns repórteres de jornais e revistas. Pousamos para as fotos e logo ouvi alguém chamar o meu nome.
— Sue, que bom que chegou. Está tudo correndo perfeitamente bem, esta noite vai ser um sucesso — Luíza me recebeu animada.
— Fico feliz em saber, estava morrendo de medo, confesso.
— Fernando, como vai? Desculpem a indiscrição, mas vocês estão juntos, tipo, juntos mesmo?
Ele abriu um sorriso e me puxou para mais perto de seu corpo.
— Sue é minha namorada, Luíza.
— E você não me disse nada esse tempo todo, Sue? Vocês formam um casal lindo.
— Obrigada — agradeci timidamente.
— Agora entrem que a mágica vai começar.
Entramos de mãos dadas e senti minhas pernas falharem um pouco quando todos os olhos se voltaram para nós. Não imaginava que os convidados chegariam tão cedo. Fernando apertou a minha mão e seu gesto me fez sentir confortável, me deu força para caminhar e cumprimentar a todos o apresentando como meu namorado e sócio do hospital. Algumas pessoas ficaram bem surpresas com nosso novo status.
— Você foi maravilhosa, parabéns — Fernando elogiou me dando um beijo na testa enquanto caminhávamos.
Seguimos para a mesa onde as minhas amigas e a irmã do Fernando, a Talita, estavam conversando animadas enquanto um garçom servia champanhe para elas.
— Está animada, Lizie — falei apontando para as três taças que estavam diante dela.
— Peguei para você e para o Fernando, vamos fazer mais um brinde.
— Dessa vez brindaremos a quê? — perguntei recebendo a taça que ela me ofereceu.
— A minha amiga maravilhosa que organizou um evento incrível, ao sucesso da sua noite, temos muito orgulho de você.
Apertei os lábios para segurar a emoção, pois meus olhos se encheram de lágrimas.
— Obrigada, amiga, assim você vai me fazer chorar, e a noite mal começou.
Olhei pelo salão enquanto bebia um pouco do líquido borbulhante e percebi que já estava praticamente cheio. Ouvi Fernando resmungar algo do meu lado e ia perguntar o que era quando vi meu pai se aproximar com uma mulher lindíssima, loira e alta que chamava a atenção de todos.
— Quem é ela? Você conhece? — perguntei para Fernando que assentiu com um movimento de cabeça.
— Stela Torres, ela é oncologista, você sabia que seu pai iria trazer alguém? — perguntou em meu ouvido.
— Sim, ele me disse.
— E você está bem com isso?
— Por que não estaria?
Ele deu de ombros e se levantou para receber os recém-chegados.
— Boa noite, parabéns filha, está tudo incrível — elogiou me dando um beijo no rosto —, esta é Stela, uma amiga.
Sei bem o tipo de amiga.
— Que prazer te conhecer, Suellen, seu pai me contou sobre o quanto trabalhou para organizar este evento, parabéns.
— Obrigada, Stela, o prazer é meu, por favor, me chame de Sue.
Ela sorriu um pouco constrangida.
— Desculpe, seu pai me falou que gosta de ser chamada assim, mas ele fala o tempo todo de você, e quando faz isso é o nome Suellen que ele usa.
— Meu pai adora esse nome, já eu acho feio pra caramba.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça contrariado, então seus olhos foram para a minha mão entrelaçada a do Fernando franzindo o cenho em seguida.
— Concordo com o seu pai, Suellen é um nome bonito.
— Conhece o Dr. Fernando, meu namorado?
A mulher tentou não demonstrar surpresa, mas sua boca aberta meio que a denunciou.
— Namorado? Vocês estão namorando e eu sou o último a saber? — meu pai reclamou alternando o olhar sério entre mim e Fernando.
— Nós... só decidimos começar um relacionamento ontem, Saulo.
— Pai, o senhor não é o primeiro a saber, mas não é o último, não faça drama — brinquei dando um beijo em seu rosto. — Deixe apresentar a Stela para o resto da turma, já que iremos dividir a mesa esta noite.
Depois que terminei as apresentações percebi que a Júlia não estava presente.
— Lizie, onde a Júlia foi?
— Ela disse que ia falar com uma pessoa que não lembro o nome e depois ia ao banheiro.
— E eu preciso cumprimentar algumas pessoas antes de o mestre de cerimônia dar início — anunciei dando um beijo leve nos lábios do meu namorado e levantando-me em seguida. — O senhor deveria vir comigo, pai.
Ele se levantou com um sorriso no rosto.
— Claro. — Ofereceu o braço para mim. — Estou muito orgulhoso de você.
— Obrigada, pai, esse orgulho todo é só pela festa ou tem a ver com o Fernando?
— Tem a ver com tudo, filha. Você está se tornando uma mulher incrível. Tenho orgulho do seu amadurecimento. Não nego que fiquei muito satisfeito por você ter firmado compromisso com ele, é o melhor homem e pessoa que conheço, e eu só quero o melhor para você.
Algo na forma de meu pai falar me deixou com um aperto estranho no peito que tratei de espantar logo, pois nada iria atrapalhar aquela noite. Seguimos cumprimentando os convidados e minutos depois estávamos voltando para a mesa quando o mestre de cerimônia chamou o meu nome. Meu pai beijou meu rosto e segui até o palco com as pernas bambas de nervoso.
— Boa noite! Obrigada a todos vocês por estarem aqui, e principalmente a todo mundo que trabalhou para que isso fosse possível. Luíza, a maravilhosa organizadora do evento, Doutor Fernando Rissei e meu pai, muito obrigada por todo apoio. Esta noite é muito especial para mim, pois é a realização de um sonho. A construção da clínica vai salvar muitas vidas e em primeiro lugar a minha e a de vocês que tenho certeza que serão bem generosos esta noite em ajudar. Aproveitem a noite e mais uma vez obrigada.
Desci do palco ouvindo os aplausos, esperando o momento que iria desmaiar, minhas pernas tremiam e fui recebida por meu namorado que me amparou com os braços em minha cintura e beijou minha testa.
— Você foi muito bem.
— Sério, quase desmaiei de nervoso. Teria caído se você não estivesse aqui, obrigada.
Voltamos para a mesa no mesmo instante que os garçons começaram a servir o jantar. Não demorou muito para darem início ao leilão.
— O próximo item é um jantar com a top model internacional Liz Medeiros. Temos 200 mil...
O mestre seguiu leiloando a minha amiga e eu aproveitei para implicar com ela.
— Quinhentos mil já? Não queria nem de graça, eles sabem o quanto você come?
Ela arregalou os olhos quando chegou a 850 mil.
— Amiga, estou fodida. Os dois homens que estou pegando estão disputando um jantar comigo. Senhor, vou infartar, não sabia que os dois estariam aqui.
Tentei segurar a gargalhada, mas foi impossível. Eles continuaram a briga.
— Um milhão por um jantar com uma mulher que eles comeram de graça? Tá podendo amiga — impliquei, ela jogou o guardanapo em mim. — Eles estão tentando evitar que alguém saia com a mulher que julgam ser deles. Homens possessivos, possessivos e enganados. Isso está bem interessante.
— Vendido ao nosso jogador favorito, Pedro Cervilla.
— Quero ver você conseguir fugir desses dois a noite toda.
— Não vai ver, porque estou indo embora. Sinto muito, Sue, mas preciso mesmo ir, ou vai dar merda das grandes.
— Eu te acompanho até a saída — Júlia se levantou junto.
Lizie deixou um beijo no meu rosto antes de sair.
O leilão terminou e a pista de dança foi liberada.
— O que acha de dançar um pouco com o seu namorado? — Fernando sussurrou em meu ouvido.
— Vai ser um prazer.
Seguimos para o local separado. Meu pai veio em seguida com a Stela. A pista foi enchendo, e de longe vi a Júlia encarando uma multidão, muito séria. Estava a achando meio estranha naquela noite. Ia comentar isso com Fernando, mas senti seus lábios roçando meu pescoço e tudo sumiu da minha mente com o desejo que começou a formar dentro de mim. Sua boca seguiu por meu queixo e pairou sobre a minha.
— Não posso beijar você agora — sussurrou contra os meus lábios.
— Por que não?
Sua boca se aproximou do meu ouvido.
— Já estou ficando duro aqui e te beijar vai piorar tudo, será meio constrangedor ter uma ereção no meio da pista de dança — confessou.
Comecei a rir e encostei a cabeça no seu ombro. Quando abri os olhos vi meu pai olhando de forma assassina para alguém. Era como se a qualquer hora ele fosse partir para a briga. Meu olhar seguiu a direção do dele e vi Júlia sorrindo enquanto dançava com um negro lindo. Fiquei paralisada com a direção que meus pensamentos estavam me levando.
— O que foi? — Fernando perguntou olhando meu rosto de forma curiosa.
Não consegui responder, mas seu olhar seguiu o meu que alternava do meu pai para a Júlia. Nesse momento ela olhou para ele com certo ar de triunfo. Meu pai trincou o maxilar e parou de dançar falando alguma coisa no ouvido da Stela. Os dois saíram da pista de dança e foram seguidos pelos olhos da Júlia, agora com raiva, ou seria magoada?
— Meu Deus, devo estar imaginando coisas. Não é possível.
Fernando ficou calado, o que me fez ter certeza que não era imaginação minha. Algumas lembranças começaram a surgir na minha cabeça como flash. Os olhares, a forma polida como costumavam tratar um ao outro à minha frente. O jeito que ela sempre ficava quando eu falava dele. Como reagiu quando falei sobre o amor dele por minha mãe. Senti o ar faltar e foi como se o chão estivesse se abrindo sobre os meus pés. Eu precisava de ar.
Meu pai e a Júlia? Não pode ser.