Crepúsculo - Amanhecer | Jenl...

By ryupler

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[FINALIZADA] A pequena felicidade de Lisa e Jennie acaba mais rápido do que começará. Enquanto Jennie se amag... More

PRÓLOGO.
1. NOIVA
2. LONGA NOITE.
3. O GRANDE DIA
4. GESTO
5. ILHA DE TAEYEON
6. DISTRAÇÕES.
7. INESPERADO
8. TORTURA
9. POR QUE NÃO DEI O FORA? AH É, POR QUE SOU UM IDIOTA.
10. UM MÉTODO
11. ATO MONSTRUOSO
12. DOENÇA
13. NÃO É UM MONSTRO?
14. NÃO EXISTE PALAVRAS PARA ISSO.
15. PROLOGO
16. QUEIMANDO
17. NOVIDADE
18. PRIMEIRA CAÇADA
19. PROMETIDA?
20. LEMBRANÇAS
21. SURPRESA
22. FAVOR
23. BRILHANTE
24. PLANOS DE VIAGEM
25. FUTURO.
27. IRRESISTÍVEL
28. TALENTOS
29. COMPANHIA
30. FALSIFICAÇÃO
31. DECLARADOS
32. PRAZO FINAL
33. DESEJO DE SANGUE
34. ARTIFÍCIOS
35. PODER
36. FELIZES PARA SEMPRE

26. DESERÇÃO

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By ryupler


Ficamos ali sentados a noite toda paralisados, estatuas de horror, Jisoo não voltou.

Estávamos todos no limite — frenéticos na imobilidade completa. Baekhyun mal fora capaz de mover os lábios para explicar tudo a Bambam. Contar a história toda pareceu torná-la pior; até Changbin ficou em silêncio e imóvel a partir daí.

Foi apenas quando o sol nasceu e eu percebi que Ahyeon logo estaria se agitando sob as minhas pernas que me perguntei pela primeira vez o que podia estar retardando tanto Jisoo. Eu esperava saber mais antes de enfrentar a curiosidade de minha filha. Ter algumas respostas. Uma minúscula esperança para eu poder sorrir e evitar que a verdade a apavorasse também.

Meu rosto parecia para sempre fixo numa máscara rígida que exibira a noite toda. Eu não sabia se ainda tinha a capacidade de sorrir.

Jackson sabia de tudo — os lobos estavam se preparando para o que viria. Não que essa preparação fosse servir para alguma coisa além de matá-los, com o restante de minha família.

O sol entrou pelas vidraças dos fundos, cintilando na pele de Jennie. Meus olhos não haviam se desviado dos dele desde a partida de Jisoo. Nós tínhamos nos olhado a noite toda, fitando o que nenhum de nós suportaria perder: o outro. Vi meu reflexo cintilar em seus olhos agoniados quando o sol tocou minha pele.

Suas sobrancelhas se moveram infinitesimalmente, depois os lábios.

— Jisoo— disse ela.

O som de sua voz era como gelo rachando à medida que derretia. Todos nós nos fragmentamos um pouco, relaxamos um pouco. Nos movemos de novo.

— Ela está fora há muito tempo — murmurou Sooyoung, surpresa.

— Onde poderia estar? — perguntou-se Chengbin, dando um passo para a porta.

Taeyeon pôs a mão no braço dele.

— Não queremos perturbar...

— Ela nunca levou tanto tempo — disse Jennie, Uma nova preocupação estilhaçou a máscara que seu rosto assumira. Suas feições estavam vivas de novo, os olhos subitamente arregalados por um novo medo, um pânico a mais. — Baekhyun, não acha... uma medida preventiva... Jisoo teria tido tempo de ver se eles mandassem alguém atrás dela?

O rosto de pele translúcida de Aro encheu minha cabeça. Aro, que tinha examinado todos os cantos da mente de Jisoo, que sabia tudo de que ela era capaz...

— Fique com Ahyeon! — eu quase gritei para Sooyoung enquanto disparava porta afora.

Eu ainda era mais forte do que os outros, e usei essa força para me impelir adiante. Ultrapassei Tayeoen em alguns saltos e Sooyoung com algumas passadas a mais. Corri pela floresta densa até estar bem atrás de Jennie e Baekhyun

— Será que eles poderiam surpreendê-la? — perguntou Baekhyun, a voz estável como se estivesse parado e não correndo a toda velocidade.

— Não vejo como — respondeu Jennie. — Mas Aro a conhece melhor do que qualquer outro. Melhor do que eu.

— Será uma armadilha? — gritou Changbin atrás de nós.

— Talvez — disse Jennie. — O único cheiro é de Jisoo e Rosé, Aonde eles foram?

O rastro de Jisoo e Rosé descrevia um grande arco; estendia-se, primeiro, a leste da casa, mas ia para o norte na outra margem do rio, depois voltava para oeste, após alguns quilômetros. Cruzamos o rio de novo, os seis saltando com um segundo de diferença. Jennie corria na frente, totalmente concentrada.

— Sentiu o cheiro? — perguntou Taeyeon alguns momentos depois de saltarmos o rio pela segunda vez. Ela estava mais atrás, na extremidade esquerda de nosso grupo de busca. Ela apontou na direção do sul.

— Fiquem na trilha principal... estamos quase na fronteira quileute — ordenou Jennie, sucinta. — Permaneçam juntos. Vejam se viraram para o norte ou para o sul.

Eu não estava familiarizada com a fronteira do tratado como o restante deles, mas podia sentir o cheiro de lobo na brisa que soprava do leste. Jennie e Baekhyun reduziram um pouco, por hábito, e pude ver suas cabeças virar de um lado a outro, esperando que o rastro virasse.

Então o cheiro de lobo tornou-se mais forte, e a cabeça de Jennie se ergueu. Ele parou subitamente. Todos também ficamos paralisados.

— Jackson? — perguntou Jennie numa voz monótona. — O que foi?

Jacksom saiu das árvores a algumas centenas de metros, andando rapidamente em nossa direção na forma humana, flanqueado por dois lobos grandes — JB e Youngjae. Levou algum tempo para que Jackson nos alcançasse; sua velocidade humana me deixou impaciente. Eu não queria ter tempo para pensar no que acontecia. Queria estar em movimento, fazer alguma coisa. Queria ter meus braços em torno de Jisoo, ter certeza absoluta de que ela estava em segurança.

Vi o rosto de Jennie ficar lívido enquanto ela lia o que Jackson pensava. Jackson o ignorou, olhando diretamente para Baekhyun quando parou de andar e começou a falar.

— Pouco depois da meia-noite, Jisoo e Rosé vieram a este ponto e pediram permissão para atravessar nosso território até o oceano. Eu lhes dei a permissão e os acompanhei até a costa. Eles entraram imediatamente na água e não voltaram. No trajeto até lá, Jisoo me disse que era de máxima importância que eu não contasse nada a Bambam sobre tê-la visto até que eu falasse com você. Eu devia esperar aqui que você viesse procurá-la e então lhe entregar este bilhete. Ela me disse para obedecer como se a vida de todos nós dependesse disso.

A expressão de Jackson era sombria ao estender a folha de papel dobrada, coberta por um texto em letras pretas miúdas. Era uma folha de livro; meus olhos afiados liam as palavras impressas enquanto Baekhyun abria para ver o outro lado. O lado de frente para mim era a página de copyright de O mercador de Veneza. Meu cheiro preencheu levemente o ar enquanto Baekhyun abria o papel. Percebi que era uma folha arrancada do meu livro. Eu trouxera algumas coisas da casa de Baekhyun para o chalé; algumas mudas de roupa normal, todas as cartas da minha mãe e meus livros preferidos. Minha coleção surrada de brochuras de Shakespeare estava, na véspera, de manhã, na estante da pequena sala de estar do chalé...

— Jisoo decidiu nos deixar — sussurrou Baekhyun.

— Como é? — gritou Changbin

Baekhyun virou a folha para que todos pudéssemos ler.

𝔑𝔞̃𝔬 𝔭𝔯𝔬𝔠𝔲𝔯𝔢𝔪 𝔭𝔬𝔯 𝔫𝔬́𝔰. 𝔑𝔞̃𝔬 𝔥𝔞́ 𝔱𝔢𝔪𝔭𝔬 𝔞 𝔭𝔢𝔯𝔡𝔢𝔯. 𝔩𝔢𝔪𝔟𝔯𝔢𝔪: 𝔗𝔞𝔫𝔦𝔧𝔞, 𝔖𝔦𝔬𝔟𝔥𝔞𝔫 𝔄𝔪𝔢𝔫 𝔄𝔩𝔦𝔰𝔱𝔞𝔦𝔯, 𝔱𝔬𝔡𝔬𝔰 𝔬𝔰 𝔫𝔬𝔪𝔞𝔡𝔢𝔰 𝔮𝔲𝔢 𝔭𝔲𝔡𝔢𝔯𝔢𝔪 𝔢𝔫𝔠𝔬𝔫𝔱𝔯𝔞𝔯. 𝔙𝔞𝔪𝔬𝔰 𝔭𝔯𝔬𝔠𝔲𝔯𝔞𝔰 𝔓𝔢𝔱𝔢𝔯 𝔢 ℭ𝔥𝔞𝔯𝔩𝔬𝔱𝔱𝔢 𝔫𝔬 𝔠𝔞𝔪𝔦𝔫𝔥𝔬. 𝔏𝔞𝔪𝔢𝔫𝔱𝔞𝔪𝔬𝔰 𝔪𝔲𝔦𝔱𝔬 𝔱𝔢𝔯 𝔡𝔢 𝔡𝔢𝔦𝔵𝔞𝔯 𝔳𝔬𝔠𝔢̂𝔰 𝔡𝔢𝔰𝔱𝔞 𝔣𝔬𝔯𝔪𝔞, 𝔰𝔢𝔪 𝔡𝔢𝔰𝔭𝔢𝔡𝔦𝔡𝔞𝔰 𝔫𝔢𝔪 𝔢𝔵𝔭𝔩𝔦𝔠𝔞𝔠𝔬̃𝔢𝔰. 𝔈 𝔬 𝔲́𝔫𝔦𝔠𝔬 𝔧𝔢𝔦𝔱𝔬 𝔭𝔞𝔯𝔞 𝔫𝔬́𝔰. 𝔑𝔬𝔰 𝔬𝔰 𝔞𝔪𝔞𝔪𝔬𝔰

Ficamos paralisados de novo, o silêncio completo, exceto pelo som do coração dos lobos, sua respiração. Seus pensamentos deviam ser altos também. Jennie foi a primeira a se mexer, falando em resposta ao que ouvia na mente de Jackson.

— Sim, as coisas estão perigosas assim mesmo.

— O bastante para abandonar a família? — perguntou Jackson em voz alta, em tom de censura. Estava claro que ele não lera o bilhete antes de o entregar a Baekhyun Agora estava aborrecido, como se estivesse arrependido por ter dado ouvidos a Jisoo.

A expressão de Jennie era rígida — para Jackson devia parecer raiva ou arrogância, mas eu podia ver a dor nas linhas de seu rosto.

— Não sabemos o que ela viu — disse Jennie. — Jisoo não é nem insensível, nem covarde. Só tem mais informações do que nós.

— Nós não... — Jackson começou.

— Vocês são ligados de forma diferente de nós — rebateu Jennie — Nós ainda temos nosso livre-arbítrio.

O queixo de Jackson se ergueu, e seus olhos de repente adquiriram um negror completo.

— Mas vocês devem dar atenção ao aviso — continuou Jennie. — Não se trata de algo em que queiram se envolver. Ainda podem evitar o que Jisoo viu.

Jackson deu um sorriso sombrio.

— Nós não fugimos.

Atrás dele, Paul bufou.

— Não leve sua família a um massacre só por orgulho — interveio Baekhyun em voz baixa.

Jackson olhou para Baekhyun com uma expressão mais branda.

— Como Jennie assinalou, não temos o mesmo tipo de liberdade de vocês. Agora Ahyeon é parte da nossa família — Seus olhos pousaram no bilhete de Jisoo e os lábios formaram uma linha fina.

— Você não a conhece — disse Jennie.

— Você conhece? — perguntou Jackson bruscamente.

Baekhyun pôs a mão no ombro de Jennie.

— Temos muito que fazer, filha. Qualquer que tenha sido a decisão de Jisoo, seríamos tolos de não seguir seu conselho agora. Vamos para casa e pôr mãos à obra.

Jennie assentiu, o rosto ainda rígido de dor. Atrás de mim, pude ouvir o choro baixo e sem lágrimas de Taeyeon

Eu não sabia como chorar naquele corpo; não conseguia fazer nada a não ser olhar fixamente. Ainda não sentia nada. Tudo parecia irreal, como se eu estivesse sonhando de novo depois de todos quatro anos, Tendo um pesadelo.

— Obrigado, Jackson — disse Baekhyun

— Eu lamento — respondeu Jackson. — Não devíamos tê-la deixado passar.

— Você fez o que era certo — disse-lhe Baekhyun — Jisoo é livre para fazer o que quiser. Eu não negaria a ela essa liberdade.

Eu sempre pensara nos Kim como um todo, uma unidade indivisível. De repente, lembrei-me de que nem sempre tinha sido assim. Baekhyun havia criado Jennie, Taeyeon, Sooyoung e Changbin; Jennie me criara. Éramos fisicamente ligadas por sangue e veneno. Nunca pensei em Jisoo e Rosé como diferentes — como adotadas na família. Mas, na verdade, Jisoo havia adotado os Kim. Ela havia aparecido com seu passado desconectado, trazendo Rosé com o dela, e se ajustou à família que já estava lá. Tanto ela quanto Rosé haviam conhecido outra vida fora da família Kim. Será que ela realmente escolhera seguir outro caminho depois de ver que a vida com os Kim tinha chegado ao fim?

Estávamos condenados, então, não estávamos? Não havia esperança nenhuma. Nem um raio, uma chama que pudesse ter convencido Jisoo de que tinha uma chance ao nosso lado.

O ar luminoso da manhã de repente pareceu mais espesso, mais escuro, como se enegrecido fisicamente pelo meu desespero.

— Eu não vou desistir sem lutar — rosnou baixo Changbin — Jisoo nos disse o que fazer. Vamos fazê-lo.

Os outros concordaram com expressões decididas, e percebi que eles estavam apostando em qualquer possibilidade que Jisoo nos dera. Que eles não iriam se entregar à desesperança e esperar a morte.

Sim, todos iríamos lutar. O que mais poderíamos fazer? E, aparentemente, envolveríamos outros, porque Jisoo assim dissera antes de nos deixar. Como não seguiríamos o último aviso de Jisoo? Os lobos também lutariam conosco por que os Volturi eram ameaça a Cidade.

Nós iríamos lutar, eles iriam lutar, e todos morreríamos.

Eu não sentia a mesma determinação que os demais pareciam sentir. Jisoo conhecia as probabilidades. Ela estava nos dando a única chance que podia ver, mas a chance era ínfima demais para que a própria Alice apostasse nela.

Eu já me sentia derrotada quando dei as costas aos olhos críticos de Jackson segui Baekhyun para casa.

Agora corríamos automaticamente, não com a mesma pressa apavorada de antes. Quando nos aproximamos do rio, a cabeça de Taeyeon se ergueu.

— Havia aquele outro rastro. Era fresco.

Ela fez um gesto com a cabeça indicando o caminho à frente, na direção de onde tinha chamado a atenção de Jennie no caminho para cá. Enquanto corríamos para salvar Jisoo

— Deve ser anterior. Era só de Jisoo, sem Rosé — disse Jennie, desanimada.

O rosto de Taeyeon franziu-se, e ela concordou.

Eu vaguei para a direita, ficando um pouco para trás. Tinha certeza de que Jennie estava com a razão, mas ao mesmo tempo... Afinal, como o bilhete de Jisoo acabara na página de um livro meu?

— Lisa? — perguntou Jennie numa voz sem emoção enquanto eu hesitava.

— Quero seguir o rastro — eu disse a ela, farejando o leve aroma de Jisoo que se afastava da trilha de sua fuga. Eu era nova nisso, mas o cheiro era o mesmo para mim, só não havia o de Rosé

Os olhos dourados de Jennie estavam vazios.

— Deve levar de volta à casa.

— Então encontrarei vocês lá.

De início pensei que ela me deixaria ir sozinha, mas depois, quando avancei alguns passos, seus olhos inexpressivos ganharam vida.

— Vou com você, Ahyeon ja deve esta sentindo nossa falta.. — disse ela baixinho. — Encontramos vocês em casa, Baekhyun

Baekhyun assentiu, e os outros partiram. Esperei até que eles estivessem fora de vista, e então olhei interrogativamente para Jennie.

— Eu não deixaria que você se afastasse de mim — explicou ela em voz baixa. — Dói só de imaginar.

Entendi, sem mais explicações. Pensei em estar separada dela agora e percebi que teria sentido a mesma dor, por mais breve que fosse a separação.

Havia muito pouco tempo para ficarmos juntas

Estendi a mão e ela a pegou.

— Vamos correr — disse ela. — Ahyeon vai estar acordada.

Eu assenti, e estávamos correndo outra vez.

Provavelmente, era tolice perder tempo longe de Ahyeom só para matar minha curiosidade. Mas o bilhete me incomodava. Jisoo poderia tê-lo entalhado numa pedra ou tronco de árvore se não tivesse onde escrever. Poderia ter roubado um bloco de Post-its de uma das casas na estrada. Por que meu livro? Quando ela o pegou?

De fato, o rastro levava ao chalé por uma rota tortuosa que se mantinha afastada da casa dos Kim e dos lobos no bosque próximo. As sobrancelhas de Jennie se estreitaram em perplexidade quando ficou evidente aonde levava a trilha.

Ela tentou raciocinar.

— Ela deixou Rosé esperando e veio aqui?

Estávamos quase no chalé e eu me sentia inquieta. Fiquei feliz por ter a mão de Jennie na minha, mas também tinha a impressão de que devia estar ali sozinha. Arrancar a página e levá-la de volta a Rosé era uma coisa estranha para Jisoo fazer. Era como se houvesse uma mensagem em sua atitude — um recado que eu não entendia. Mas era o meu livro, então o recado devia ser para mim. Se fosse alguma coisa que ela quisesse que Jennie soubesse, não teria arrancado uma página de um dos livros dela...?

— Me dê um minuto — eu disse, soltando a mão quando chegamos à porta.

Sua testa se vincou.

— Lisa?

— Por favor. Trinta segundos.

Não esperei que ela respondesse. Entrei rapidamente, fechando a porta depois de entrar. Segui direto para a estante. O cheiro de Jisoo era fresco — tinha menos de um dia. Um fogo que eu não havia acendido ardia lentamente na lareira. Peguei O mercador de Veneza na estante e abri na folha de rosto.

Ali, ao lado da borda irregular deixada pela página arrancada, debaixo das palavras “O mercador de Veneza, de William Shakespeare”, havia um bilhete.

𝙳𝚎𝚜𝚝𝚛𝚞𝚊 𝚒𝚜𝚝𝚘

Abaixo lia-se um nome e um endereço em Seattle.

Quando Jennie passou pela porta depois de treze segundos, em vez de trinta, eu olhava o livro queimando.

— O que está havendo, Lisa?

— Ela esteve aqui. Arrancou uma folha do meu livro para escrever o bilhete.

— Por quê?

— Não sei.

— Por que o está queimando?

— Eu... Eu... — Franzi a testa, deixando que a frustração e a dor transparecessem no meu rosto. Eu não sabia o que Jisoo estava tentando me dizer, só que ela fizera um grande esforço para esconder de todos, menos de mim. A única pessoa cuja mente Jennie não podia ler. Então ela devia querer mantê-la afastado, e provavelmente por um bom motivo. — Me pareceu adequado.

— Não sabemos o que ela está fazendo — disse ele em voz baixa.

Olhei as chamas. Eu era a única pessoa no mundo que podia mentir para Jennie. Era o que Jisoo queria de mim? Seu último pedido?

— Quando estávamos no avião para a Itália — sussurrei, mas não era uma mentira, talvez só no contexto —, a caminho de resgatar você... ela mentiu para Rosé para que ele não viesse atrás de nós. Sabia que ele morreria se enfrentasse os Volturi. Estava disposta a morrer, em vez de colocá-la em perigo. Disposta a morrer por mim também. Disposta a morrer por você.

Jennie não respondeu.

— Ela tem suas prioridades — eu disse. E perceber que minha explicação não parecia mentira fez doer meu coração imóvel.

— Não acredito nisso — disse Jennie. Ela não disse isso como se discutisse comigo, mas como se discutisse consigo mesmo. — Talvez só Rosé esteja em perigo. O plano dela funcionaria para o restante de nós, mas ela se perderia se ficasse. Talvez...

— Ela podia ter nos contado isso. Mandá-lo embora.

— Mas Rosé teria ido? Talvez ela estivesse mentindo para Rosé de novo.

— Talvez — fingi concordar. — Precisamos ir para casa. Não há tempo.

Jennie pegou minha mão e corremos.

O bilhete de Jisoo não me deu esperanças. Se houvesse alguma maneira de evitar a carnificina que estava por vir, Jisoo teria ficado. Eu não via outra possibilidade. Então era outra coisa que ela estava me dando. Não uma maneira de escapar. Mas o que mais ela pensaria que eu iria querer? Talvez uma maneira de salvar alguma coisa? Haveria alguma coisa que eu ainda podia salvar?

Baekhyun e os outros não haviam ficado ociosos em nossa ausência. Tínhamos estado separados deles por apenas cinco minutos, e eles já estavam preparados para partir. No canto Sooyoung estava sentada do lado de Ahyeon no colo as duas nos fitando de olhos arregalados.

Sooyoung tinha trocado o vestido de seda por jeans que pareciam resistentes, tênis de corrida e uma blusa feita do tecido grosso que os mochileiros usam em longas excursões. Taeyeon estava vestida da mesma forma. Havia um globo na mesa de centro, mas eles já o haviam olhado e só estavam à nossa espera.

O clima era mais positivo agora do que antes; era bom para eles estar em ação. Suas esperanças dependiam das instruções de Jisoo.

Olhei o globo e me perguntei aonde iríamos primeiro.

— Vamos ficar aqui? — perguntou Jennie, olhando para Baekhyun. Ela não parecia satisfeito.

— Jisoo disse que teríamos de mostrar Ahyeon às pessoas e que precisávamos ter muito cuidado com isso — disse Baekhyun. — Vamos enviar quem conseguirmos encontrar para você aqui... Jennie, você será a melhor nesse campo minado em particular.

Jennie assentiu rapidamente, ainda não satisfeito.

— Tem muito terreno para cobrir.

— Vamos nos dividir — respondeu Changbin — Sooyoung e eu procuraremos pelos nômades.

— Você ficará muito ocupada aqui — disse Baekhyun — A família de Joohyun chegará pela manhã, e eles não têm ideia do motivo. Primeiro, você tem de convencê-los a não reagir como Chaeyeon. Segundo, tem de descobrir o que Jisoo quis dizer sobre Eleazar. Então, depois de tudo isso, será que vão ficar para testemunhar por nós? E recomeça tudo quando os outros vierem... se conseguirmos convencer alguém a vir aqui, em primeiro lugar. — Baekhyun suspirou. — Sua tarefa pode ser a mais difícil. Voltaremos para ajudar assim que for possível.

Baekhyun pôs a mão no ombro de Jennie por um segundo e me deu um beijo na testa. Taeyeon abraçou nós duas e Changbin nos deu um soco no braço. Sooyoung forçou um sorriso para mim e Jennie, soprou um beijo para Ahyeon

— Boa sorte — disse-lhes Jennie.

— Para você também — disse Baekhyun. — Todos vamos precisar.

Eu os observei partir, desejando poder sentir a esperança que os animava, e desejando poder ficar sozinha com o computador por alguns segundos. Eu precisava descobrir quem era J. Jenks e por que Jisoo tinha se esforçado tanto para dar esse nome só a mim.

Ahyeon se retorceu.

— Não sei se os amigos do vovô virão. Espero que sim. Parece que agora somos bem poucos aqui na casa — murmurou Ahyeon para Mim.

Então ela sabia. Ahyeon já entendia perfeitamente bem o que estava acontecendo.

Olhei com cuidado o rosto dela. Ela não parecia assustada, só ansiosa e muito séria

— Não podemos ajudar; temos de ficar aqui?— continuou ela. — As pessoas virão para me ver?..

Ahyeon franziu a testa para Jennie

Jennie hesitou.

— Os vampiros que virão nos ajudar não são como nós, filha — disse Jennie. — A família de Joohyun é a única além da nossa que tem respeito pela vida humana, Acho que pode ser mais seguro...para você  — continuou Jennie — Acho que eles precisam ser pacientes e tolerantes em circunstâncias normais. Mas você precisa entender...  que eles ainda vão aceitar você, Ahyeon, não vai ser uma coisa simples para nenhum deles.

— Jennie, por que você esta despejando isso tudo em cima da Ahyeon? não é muita coisa pra ela lidar?

— Ela precisa saber, deixar ela no meio sem saber de nada não seria pior? — ela me olhou, e ela tinha razão, mas falar para ela como se ela fosse uma aberração, não era a melhor forma de lidar..

— As crianças imortais eram assim tão ruins assim? — perguntou Ahyeon

— Você nem imagina a profundidade das cicatrizes que deixaram na psique coletiva dos vampiros.

— Jennie... — Eu estava realmente preocupada com o que aquilo seria para Ahyeon.

— Eu sei, Lisa, mas, precisamos falar tudo a ela, apesar dela ja saber da maioria das coisas. — Ela suspirou — alternadamente nas próximas semanas. Você vai precisar ficar no chalé até o momento certo de a apresentarmos para os outros, ta bom, filha?

— Tudo bem.

— Você deve contar a Jackson o que está acontecendo. Pode haver estranhos no bosque em breve, ligue para Jackson, Lisa — Ela disse.

— Bem lembrado. Embora ele merecesse o silêncio depois da noite passada.

— Ouvir Jisoo em geral é o certo a fazer.

Depois da ligação curta com Jackson e Bambam, Encostei a cabeça na parede que se curvava a partir da sala de estar, levando à sala de jantar, ao lado de uma das mesas de computador. Corri os dedos pelo teclado enquanto olhava para a floresta, tentando fazer parecer uma atitude distraída. Será que os vampiros faziam coisas de forma distraída? Não achei que estivessem prestando atenção em mim, mas não me virei para ter certeza. O monitor ganhou vida. Passei os dedos pelo teclado novamente. Depois tamborilei os dedos suavemente na mesa de madeira, só para parecer ao acaso. Mais um afago no teclado.

Examinei a tela com minha visão periférica.

Nenhum J. Jenks, mas havia um Jason Jenks. Advogado. Rocei o teclado, tentando manter um ritmo, como quem, preocupado, afaga um gato esquecido no colo. A firma de Jason Jenks tinha um site sofisticado, mas o endereço na página era outro. Em Seattle, mas com um código postal diferente. Anotei o número do telefone e depois toquei o teclado no ritmo. Dessa vez procurei o endereço, mas nada apareceu, como se o endereço não existisse. Eu queria olhar um mapa, mas concluí que estava forçando demais a sorte. Mais uma dedilhada, para deletar o histórico...

Continuei olhando pela janela e rocei a mão na mesa algumas vezes. Ouvi passos leves vindo em minha direção e me virei com o que eu esperava fosse a mesma expressão de antes.

Ahyeon me estendeu os braços e eu abri os meus. Ela se atirou neles,  aninhou a cabeça em meu pescoço.

Eu não sabia se podia suportar aquilo. Por mais que temesse por minha vida, pela de Jennie, pelo resto da família, não era a mesma coisa que o terror esmagador que sentia por minha filha. Devia haver um jeito de salvá-la, mesmo que fosse a única coisa que eu pudesse fazer.

De repente, eu soube que isso era tudo o que eu queria. O resto eu suportaria, se fosse necessário, mas não a vida dela em risco. Isso não.

Será que Jisoo sabia como eu me sentiria?

A mão de Ahyeon tocou meu rosto de leve.

Ela me mostrou meu próprio rosto, o de Jennie, de Sooyoung, Taeyeon, Baekhyun, Jisoo, Rosé, e foi passando cada vez mais rápido pelos rostos de toda a família. Jeongin, Minho e Sue, Repetidamente. Preocupada, como o resto de nós. No entanto, ela estava só preocupada. A parte sobre não termos esperança, sobre todos morrermos no prazo de um mês.

Ela parou no rosto de Jisoo saudosa e confusa. Onde estava Jisoo? não quero perguntar em voz alta por que a Mamãe, parece esta prestes a enloquecer

— Não sei — sussurrei. — Mas ela é Jisoo, Está fazendo a coisa certa, como sempre.

A coisa certa para Jisoo, em todo caso. Odiava pensar nela dessa maneira, mas de que outra maneira a situação poderia ser compreendida?

Ahyeon suspirou, e a saudade se intensificou.

— Também sinto falta dela.

Senti meu rosto tentando encontrar a expressão que combinasse com o pesar que eu sentia. Meus olhos estavam estranhos e secos; eles piscaram contra a sensação desagradável. Mordi o lábio. Quando respirei novamente, o ar se prendeu em minha garganta, como se eu estivesse sufocando.

Ahyeon se afastou para me olhar e vi meu rosto espelhado em seus pensamentos e em seus olhos. Eu tinha a mesma expressão de Taeyeon esta manhã.

Então chorar era assim.

Os olhos de Aheyeon cintilaram úmidos enquanto ela olhava meu rosto. Ela o afagou, sem me mostrar nada, só tentando me acalmar.

Eu nunca tinha pensado em ver o vínculo mãe-filha invertido entre nós, como sempre fora com Yoona e comigo. Mas eu não tinha uma visão muito clara do futuro.

Uma lágrima se formou na borda do olho de Aheyeon. Eu a enxuguei com um beijo. Ela tocou o olho com surpresa e depois olhou a ponta do dedo molhada.

— Não chore — eu disse a ela. — Vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem. Eu vou encontrar uma maneira de tirar você dessa.

Mesmo que não pudesse fazer mais nada, eu salvaria ela, tentaria salvar Jennie tambem. Eu estava mais certa do que nunca de que era isso que Jisoo me daria. Ela saberia. Ela teria me deixado uma saída.

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sei fazer esses bagulho não, leiam ❤️‍🩹