The Rise of the Dragon

Par thekarilala

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Ambientado alguns anos após a conquista, Camyla Targaryen tem sua mente cheia por tramóias e dilemas político... Plus

Camyla, The Conqueror
Hyperosmia
The Iron Throne
The Sleeping Attack - Part I
The Sleeping Attack - Part II
Reasonable
Destination
Destination Trails
Insubmissive

Lauren, The Beauty

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Par thekarilala

Hello, conquistadoras! Aqui estou eu com o primeiro capítulo definitivo de The Rise of The Dragon. Antes de tudo, eu gostaria de falar para vocês que essa fanfic se trata de uma adaptação. Com certeza haverão inúmeros detalhes diferentes dos livros do autor George R. R. Martin. Eu não tenho nenhuma audácia de dizer que estou recriando algo parecido. Apenas reuni os detalhes que mais gosto e estou reimaginando com vocês e para vocês. Então qualquer detalhe fora da linha, não se preocupem muito, por favor! Isso ainda é sobre Camren e sempre será.

Um lembrete importante que não pode ser deixado de ressaltar, a nossa Camyla Targaryen será intersexual.

Eu espero que gostem verdadeiramente. Peço pelas curtidas, comentários e que compartilhem com os amigos! Nós autoras amamos esse feedback de vocês, porque é a única coisa que recebemos de volta desse laranjinha.

Sem mais, boa leitura!

Quando os senhores da Casa Martell ouviram o rugido estrondoso explodindo entre as nuvens acima de suas cabeças, eles olharam entre si e esconderam suas expressões intimidadas pelo orgulho que acreditavam honrar por sua casa, ao reconhecerem que estavam verdadeiramente no solo conquistado de Porto Real.

A carruagem chegou a estremecer com o som absoluto daquela criatura que rodeava os céus e vigiava a sua chegada.

Maron, filho de Nymor foi o primeiro a engolir em seco ao olhar para os familiares dentro da carruagem e se indignar por estarem realmente adentrando sem um grande exército naquele território que definitivamente poderia destruí-los em minutos. Ou melhor, queimá-los vivos.

— Por que estamos fazendo isso? Qual a razão para nos arriscarmos tanto? — Ele questionou seu pai que respirou profundamente, exasperado por ter que explicar mais uma vez ao seu filho adolescente o que estavam a fazer.

— Já lhe foi respondido o que estamos fazendo, Maron. Os nossos aliados esperam essa tentativa de nós. Precisamos demonstrar alguma consciência de que uma guerra seja evitada. — Nymor foi mais claro, ainda portando-se rabugento por ter que cooperar com o que lhe foi instruído.

— E por que? — O jovem de 20 anos resistiu, irritante.

— Porque Camyla Targaryen conquistou mais de mil espadas e criou um trono com elas. — O homem cuspiu as palavras em um nível mais alto, irritado por ter que continuar revivendo aquela realidade ao explicar para seu filho que se comportava como um adolescente mimado.

— Por essa mesma razão, não deveríamos ter vindo até aqui sem nenhuma proteção. — Ele rebateu.

— Muito se fala sobre a honra de Camyla. Ela garantiu que nenhum atentado aconteceria a nenhum de nós nesta estadia em Westeros. Sabe que estamos aqui para barganhar. — O homem garantiu.

— Ela matou centenas! — O príncipe falou e estremeceu quando um novo rugido estrondou a carruagem.

— Compreendo sua aflição, filho. — O homem apertou seu ombro, tentando afastar o temor de seu filho que também compartilhava. — Nunca devemos confiar plenamente em uma mulher, era o que meu pai dizia. Mas sua avó insistiu nisso.

Os dois homens se viraram para a senhora e princesa Meria Martell, uma velha rechonchuda e praticamente cega que entediou-se com aquela conversa. Os dorneses costumavam respeitar as mulheres de igual para igual e ela não sabia onde errou com seu filho e neto.

— Tolos. — Foi o que disse, sorrindo de lado, mostrando suas rugas. — Vocês homens, são todos cegos.

— Mãe. — O homem ofendeu-se.

— Falo verdades. Não me importa que seja uma rainha ou um rei. E vocês também não deveriam se importar.

— E o que deve importar? — Nymor perguntou.

— Devemos nos aproximar das garotas Targaryen com diplomacia. É a escolha mais sábia quando um inimigo tem um exército tão grandioso e leal quanto o dela. Chegarmos em território sem armas é a maior defesa que teremos contra seus homens. — Uma senhora como ela sabia o que dizia, já viveu muito.

O príncipe Maron calou-se e observou os outros rostos dentro da carruagem, sendo subjugado. Ele apertou os punhos e suas narinas inflamaram, seu joelho se movendo rapidamente em sua ansiedade perturbadora ao questionar-se algo que escapou de seus lábios.

— Deveríamos ter feito o que ela fez. — Ele disse ressentido olhando para baixo.

— O que você disse? — O seu pai perguntou.

— O que essa vadia fez ao conquistar os Sete Reinos! — Ele disse, surpreendendo seu pai. — Deveríamos ter conquistado tudo isso em seu lugar.

— Ela tem dragões. — Nymor respondeu, como se fosse óbvio.

— Somos insubmissos! — Ele rebateu.

— De fato, nós somos. — A princesa velha apreciou aquelas palavras, com os olhos quase embranquecidos pela idade avançada, envolvida ao sentimento de persistência que aquilo lhe causava.

— Nosso exército não é páreo para ela. — Nymor disse mesmo assim para a mãe.

O pensamento de Nymor fez a senhora se calar. Todos observaram seu silêncio sem compreender se houve uma concordância, um ressentimento por seu filho soar como um fracalhão ou os dois.

— Bom... Podemos dar um jeito de matá-los! Sem os dragões, eu mesmo cuidaria dessa puta. Aposto que quem dobraria os joelhos para mim seria ela. — Ele comentou com um sorriso malicioso, como seu pai.

Maron nem mesmo terminou a sua frase e ouviu uma risada baixa e rouca no interior da carruagem.

Ele virou o rosto em direção ao som e seu maxilar se apertou. Sua irmã, que estava silenciosa até então durante toda a viagem, não evitou rir do quão imaturo Maron poderia ser. Ela contemplou isso enquanto balançava a cabeça, olhando para o céu pela janela da carruagem, tentando avistar o dono do som que era ouvido.

— Do que está rindo?

— Do que mais eu estaria rindo? De você. — A princesa virou o rosto em sua direção. Os olhos verdes bem marcados e desafiadores pela tinta negra inquietou seu irmão.

— Você não deve rir de seu irmão. — Nymor olhou para a sua bela filha, tentando encontrar maneiras de repreendê-la, ainda que nunca encontrasse um jeito.

— Perdoe-me por isso, senhor Martell. — Ironizou a princesa que se esforçava para respeitar o seu pai. — Mas a idade apenas parece ter chegado para o príncipe Maron em seu corpo, o crescimento não acompanhou seus pensamentos.

— Como?

— Você não chegaria perto o suficiente de uma rainha como Camyla Targaryen sem perder suas mãos. — Lauren disse com mais seriedade e sem nenhum sorriso no rosto dessa vez. — E de acordo com o que dizem que você tem feito, deveria mesmo perdê-las!

O rapaz enfureceu-se pela ousadia.

— Cale a sua boca! Pelo menos eu sirvo para algo mais do que ler livros ou ser uma distração para os roinares! — Maron desbravou. Seu irmão estava constantemente dizendo que ela só servia para distrair os homens que lutavam e defendiam a Casa Martell. — Quem sabe agora não tenha mais valor em Porto Real, não é?

Lauren revirou os olhos com a insinuação.

— Chega! — O homem exclamou. — Maron, não ofenda a sua irmã.

Lauren não se abateu com aquilo porque era completamente repetitivo e virou o rosto para os céus novamente, incapaz de controlar a sensação pulsante em seu peito pela adrenalina de ver entre as nuvens com seus próprios olhos as criaturas que pareciam circular sob o sol.

Meria Martell sorriu ao reforçar seu orgulho em sua neta. Lauren era considerada a jovem mais bela de todos os Sete Reinos e dizem que milhares já ofereceram ouro para desposar a princesa que ficou conhecida como Lauren, a Bela.

Muitos diziam que os deuses desceram à terra e visitaram pessoalmente Elia Martell para agraciar a criança que ela carregava e eles ofereceram a Lauren toda a graciosa beleza que a idade comprovou para o mundo que ela teria. Comentam que no dia de seu nascimento, o mar revoltou-se em comemoração.

Por essas palavras, outras línguas falavam que todas as cores do Mar de Dorne estavam nos olhos da princesa e até mesmo era possível ver movimentos inquietantes em suas íris, como as águas se movimentando se fossem observados por muito tempo. Era um presente e confirmação de que a mão dos deuses realmente a valorizaram.

Afinal, Dorne estava localizada no maior deserto dos Sete Reinos. Lugares onde a água era abundante eram considerados preciosos para aqueles que viviam lá. Então a garota realmente tinha sinais divinos em si.

Outros afirmavam que tudo não passava de boatos de extravagantes, mas realmente era um fato de que a mistura nos mirantes de Lauren eram inquietantes, mas apenas porque a sua beleza estava compondo acima de tudo a sua personalidade voraz.

Infelizmente, a Casa Martell tinha como verdade que, por ter sentido o toque direto dos deuses, a mãe de Maron e Lauren não suportou o parto de sua filha mais jovem e faleceu horas depois. Também era um fato que pensavam que a rebeldia de Lauren, vinha dessa perda que ela sentiu durante toda a sua vida.

Agora com 18 anos de idade, Lauren era realmente considerada a jovem mais bela dos Sete Reinos e uma jovem muito rebelde ao recusar todas as propostas e cortes que lhe foram oferecidas. Nymor tentava domesticá-la, mas nunca conseguiu e por vê-la como uma serva direta dos deuses, tinha certa obsessão em mantê-la como uma beleza preciosa que ele se orgulhava, mas para sua avó Meria, ela era e seria muito mais do que isso.

— Chegamos. — Nymor avisou quando a carruagem parou, assim como mais duas com eles, onde seus aliados estavam. — Vamos logo encontrar essas criaturas.

Lauren não soube se ele estava se referindo às mulheres Targaryen ou aos dragões.

Quando a porta de madeira foi aberta, seu filho foi o primeiro a descer da carruagem com hesitação, mas orgulhosamente segurou firme a espada em sua bainha, olhando além da colina. O príncipe mais velho da família desceu e Meria o acompanhou, mas quando percebeu que Lauren estava prestes a acompanhá-los, ela ergueu um dedo.

— Você ficará aqui. — Lauren entreabriu os lábios com espanto ao ouvir sua avó.

— Eu não ficarei. — Ela tentou passar, mas sua avó a segurou pelo pulso.

— Escute esta velha senhora. Eu desejo que se resguarde até a hora certa, meu deleite. — Ela disse ao tocar o rosto, e Lauren hesitou.

— Sua avó está certa, filha. Não quero aquelas mulheres olhando para uma formosura como você antes da hora. Além disso, é um risco. — Nymor disse antes de afastar-se.

Lauren desejou revirar os olhos. Mas Meria Martell era a única que ainda conseguia disciplinar Lauren. Não era sempre que conseguia esse feito, mas a seriedade daquele momento fez Lauren repensar em sua ousada obstinação.

— Se Camyla Targaryen nos queimar vivos neste primeiro encontro, que seja apenas nós. — A velha disse com certa dissimulação.

— Acredita que ela faria? — Lauren tentou observar além das pedras acima da montanha, entre as colinas, ouvindo o som do vento ser cortado no ar.

Ela conseguiu observar as grandiosas asas de dragões entre as nuvens que se aproximavam. Novamente, Lauren não sentiu nada parecido com medo. Meria observou fascínio nos olhos de sua neta ao encarar a aproximação do monstruoso dragão negro que chegava mais perto a cada bater de asas, acompanhado de mais dois.

Um deles tinha uma pele verde musgo escura, terrivelmente perturbadora e era Vaghar, dragão-fêmea de Visenya. O outro, Meraxes, era acinzentado claro com escamas mais claras e arrepiantes, dragão da irmã Targaryen mais jovem, Rhaenys.

Os dois eram grandes, mas não tão grandioso e assustador quanto o Terror Negro, conhecido como Balerion.

— Acredito que não, mas eu confio apenas em minha Fé dos Sete. — A velha disse, fazendo Lauren piscar e despertar da visão para olhá-la ao ouvir sua avó se confiar na crença que era a única dominante em todo reino de Westeros. — Me escute desta vez, Lauren. Para esse primeiro momento, apenas observe.

Lauren encarou os dragões e suspirou, decidindo escutar sua avó porque era a única que ela respeitava por ser sábia. A senhora saiu da carruagem com dificuldade por sua velhice e peso, fechando a porta atrás de si, deixando Lauren apenas como uma espectadora.

E então, sendo apenas uma espectadora, Lauren viu quando Camyla Targaryen aproximou-se por completo da colina que agora era o seu Forte, assim que os senhores de Dorne finalmente assomaram em seu território.

Camyla observou toda a trajetória para garantir que não haveria rebeldia dos seus e também deles, desejando verdadeiramente que aquele concílio não se tornasse uma terrível história marcada por sangue desnecessariamente, como aconteceu com todos os outros.

Balerion pousou na pedra resistente, assim como Vaghar e Meraxes atrás dele. As três irmãs de cabelos prateados e olhos violeta desceram de seus dragões que, ainda que sentissem a completa tranquilidade daquele encontro para se manterem controlados, continuaram em retaguarda, os olhos de fixos naqueles que os encarava de volta com espanto e maravilhamento, ao mesmo tempo.

Mas acima de tudo, muitos sentiam medo. Porque eles pareciam completamente dispostos a queimar a tudo e todos que tentassem qualquer desígnio contra suas montadoras.

Lauren estava com os olhos verdes arregalados ao observar o quão surpreendente eram as criaturas que nunca conseguiu ver de tão perto como agora. Eram feras monstruosas e fascinantes ao mesmo tempo como leu em seus livros e era completamente visível como eles se moviam em sintonia.

Tanto em sintonia com as mulheres Targaryens, como entre os três, pareciam compartilhar um vínculo ao esbarrar um contra o outro sem uma agressividade esperada. Certamente Lauren foi a única que percebeu isso, porque ninguém nunca olhou para aqueles dragões daquela forma.

Mas sua atenção desceu para as irmãs que andavam com segurança pela terra dominada. Até que a rainha parou em uma distância segura deles. Ela portava a Blackfyre como falavam e ainda que não parecesse pronta para usá-la, sua postura era digna de uma guerreira que estava pronta para uma batalha a qualquer hora.

— Senhores. — Camyla acolheu todos os dorneses diante sim, observando os olhos desconfiados entre ela, suas irmãs e seus dragões.

Apenas um movimento com a cabeça foi feito por todos eles como reverência. Era admirável até, pensou Camyla.

Enquanto Visenya praticamente revirou os olhos demonstrando sua impaciência perante ao que tinha como certo e Rhaenys soube que a insubmissão fazia parte dos planos dos dorneses até então, reconhecendo que sua irmã do meio, Visenya, parecia ainda mais enfurecida por Camyla permitir que aproximação daqueles que não colocavam seus joelhos ao chão.

— Majestade. — Nymor falou respeitosamente, a contragosto. Manteria o mínimo do que deveria ser feito.

Os olhos violeta de Camyla foram avaliados pelo homem que engoliu lentamente, mas manteve a postura obstinada. Era bonita demais e jovem demais para ter tanto poder. Ele contorceu-se inteiramente, mas não olhou para o seu corpo como desejava, sabendo que os olhos dela estavam em si. Sabia que um olhar torto poderia definir muitas coisas.

— A viagem foi prazerosa, senhores? — Rhaenys era a mais gentil, otimista e falante delas, então tentou amenizar o clima que era sufocante.

A rainha era considerada enigmática. É incontestável que nunca se ouviu o som de sua risada e dizem que as únicas pessoas que conseguiam fazê-la rir com verdadeira vontade eram Rhaenys e Dynah Baratheon, sua grande amiga e aliada.

— Os tremores nos deixou inquietos, milady. — O homem disse, incapaz de controlar sua irritação, Meria Martell apenas virou um pouco o seu rosto para ele e houve uma inquietação.

— Sua presença é calorosa o suficiente, majestade. — Quem disse isso foi Maron, olhando Camyla impressionado. Na verdade, a beleza das três irmãs surpreendeu o jovem. Ele estava inquieto. — O que meu pai quis dizer é, precisava trazer seus dragões?

Camyla olhou para trás, observando Balerion, Vaghar e Meraxes repetirem seus sons ameaçadores, sem olhar para nada além deles. Camyla virou-se e encarou o príncipe. Visenya deu um passo para o lado de sua irmã, agarrando a ponta de sua espada Darksister e Maron recuou um passo. Ela entendeu que a presença dos dragões poderia incomodar os visitantes, caso tivessem pretensões além.

— Nossos dragões oferecem perigo apenas para quem é uma ameaça, príncipe. — A princesa Visenya Targaryen disse.

— Certamente, alteza. — Ele encarou a mulher com um tom risonho, até debochado. Elas já tinham ouvido falar que Maron era imprudente, mas não apenas isso.

— Eles estariam aqui de toda forma. — A voz de Camyla chegou aos ouvidos de todos eles. — Diferente do que dizem, nossos dragões não podem ser inteiramente domesticados e não temos a ousadia de acreditar que faríamos isso completamente, tampouco. Por isso, nem tentamos. Se eles continuam aqui, é porque querem.

Lauren observou tudo pelas frestas da carruagem com os grandes olhos verdes focalizados e estava inteiramente arrepiada pela voz que chegou aos seus ouvidos.

Sim, os dragões eram impressionantes, mas a mulher que conquistou Westeros e estava diante de seus familiares era simplesmente magnífica e inquietante. Suas irmãs eram igualmente belas. Era óbvio que suas características faziam justiça ao que falavam sobre estarem mais próximas aos deuses, mas a essência puramente dominante de Camyla Targaryen era sufocante até mesmo para Lauren.

As vestes pretas, revestidas de prata e o vermelho em suas capas, com dragões de três cabeças desenhados na prata cintilante eram realmente intimidantes.

— Curioso. — Começou a dizer Meria Martell e Lauren tentou prestar atenção em sua velha avó.

Camyla deu um passo adiante porque queria, acima de tudo, ouvir o que a princesa velha tinha a dizer, mas foi segurada por Visenya que estava completamente desconfiada sobre aqueles.

Camyla olhou compreensiva para a sua irmã e diferente do que os dorneses esperavam, Camyla apenas segurou a mão de Visenya com calma e esperou que a irmã a soltasse por vontade própria. Elas pareciam conversar apenas com os seus olhos violeta. Por fim, o aperto foi liberado e Camyla voltou a se virar para a velha senhora, dando alguns passos até estar próxima o suficiente para ouvi-la.

— Prossiga. — Foi uma ordem de Camyla Targaryen à senhora que olhava na direção da voz orgulhosamente.

— É curioso que não queira domesticar seus dragões, mas deseja fazer isso com os Sete Reinos. — Meira Martell apontou. Era uma senhora afiada que não se importava em perder a língua por falar o que pensava.

Camyla Targaryen não se ofendeu pelas palavras da velha, enquanto os dois homens temeram por suas cabeças após isso. Camyla ofereceu algo como um pequeno sorriso de lado, balançando a cabeça apenas uma vez.

— Primeiramente, qualquer desejo que eu tenha sobre os Sete Reinos, já foi realizado. — Camyla disse, a voz era imponente de uma rainha, quente como a um rugido de um dragão, mas também era estranhamente suave como a brisa que vinha das águas do oceano.

E Lauren sentiu tudo.

— E...? — A senhora esperou.

— Nossos dragões não são homens. Peço que não os ofenda desmedidamente. — A maneira que Camyla contornou a investida da velha Martell foi inteligente, diriam.

Principalmente porque aquela resposta de Camyla fez a senhora rir e se divertir com Rhaenys que a acompanhou e os homens presentes fecharam expressões.

Lauren não conhecia Camyla Targaryen I, mas era intrigante como ela desdenhava a honra de homens quando esses mesmos homens a ridicularizaram por ser uma mulher. Ela os resumiu a algo inferior às suas bestas ao dizer que diferente deles, os homens precisavam ser domesticados.

Sim, o vento que vinha do mar antes era fresco, mas a presença dos dragões deixava tudo completamente quente e a culpa era deles, pensou Lauren.

Ela sentiu-se queimar de dentro para fora naquela carruagem. Não era comum que sentisse demasiado calor, ela vive no deserto de Dorne e sua pele alva estava constantemente corada por estar mais próxima do sol do que qualquer outra que viva debaixo da Fé dos Sete já viveu.

Lauren olhou além entre suspiros confusos, tentando compreender a sua inquietação dentro daquela carruagem. Talvez se tirasse os olhos daquela rainha, seria mais fácil, pensou...

Seu olhar fez observar uma das janelas laterais e encontrar homens entre as árvores. Aquilo fez Lauren congelar no lugar, preocupada com a recepção que até então, pareceu segura o suficiente para sua família.

Lauren segurou a porta rapidamente, se perguntando se sairia para avisar. Aquilo poderia ser uma emboscada, mas seu aviso também poderia ser o que faltava para aquilo acontecer. Engoliu com dificuldade voltando a olhar para a mulher de olhos violeta, observando o rosto belo que poderia facilmente ser de um anjo, se esse anjo adorava se banhar de sangue.

Lauren estava contemplada naquele exato momento enquanto olhava Camyla pelas frestas e ela não apenas registrou, como também sentiu quando os olhos violetas de Camyla Targaryen subiram na direção específica da carruagem que repousava, ignorando completamente qualquer Martell.

Se Camyla estivesse em um campo de batalha agora, ela provavelmente receberia um golpe fatal porque toda a sua atenção foi destinada ao que ela sentiu. Parte de sua mente soube disso, mas ela não conseguiu se desligar do que estava acontecendo com seus sentidos naquele instante em que a sua mente foi completamente rendida.

Se aquela fosse a sensação que uma guerreira receberia dos deuses quando estava prestes a partir, ela aceitou. E Lauren simplesmente encarou os seus olhos violeta escurecendo para viver o que havia roubado sua atenção tão profundamente.

O quão intenso era o poder de uma dornesa que ela nem mesmo conheceu...

Lauren prendeu a respiração que tomou porque a perdeu e pareceu completamente incomum como elas enxergaram uma à outra. A princesa dornesa não teve certeza se a conquistadora conseguiu ver que ela estava ali, olhando-a através das frestas, mas viu quando os lábios de Camila se fecharam e seu ar foi inspirado por suas narinas, ao ponto de seu queixo bem simétrico se erguer.

A princesa não sabia o que pensar sobre aquela troca de olhares indireta, mas esta princesa com certeza identificava sensações parecidas com faíscas em sua pele. Ao estar escondida, se sentiu envolvida pelo o que não deveria fazer e a rainha definitivamente não aprovou que seus olhos não conseguissem identificar o que havia ali para sua averiguação. Mas estava louca para descobrir.

— Venha até mim, jovem dragão. — A mulher velha ergueu as mãos. — Não consigo vê-la completamente, estou velha e praticamente cega.

Camyla tirou a vista da carruagem e hesitou por um momento, piscando várias vezes para se situar. Lauren aproveitou para recuperar seu fôlego, perdendo algo como uma conexão indireta.

Camyla franziu a testa, sabia que aquela velha senhora era uma princesa que já viveu e matou muitos com apenas um toque. Os dorneses eram especialistas em venenos e artimanhas.

Visenya queria duas coisas: puxar sua irmã e atirá-la sobre Balerion, para bem longe daquelas pessoas e depois tirar suas cabeças de seus ombros, mas sabia que não poderia. Camyla desejava encontrar a sua conquista e sempre optou por tê-la de maneiras menos sanguinárias. Por isso, apenas observou sua irmã caminhar até a senhora e Camyla confiou que ela não iria surpreendê-la tão negativamente.

Sentiu as mãos segurar seu rosto e observou os olhos intensos e medonhos nele, se apertando para observar as feições que tiravam o fôlego de muitos e muitas.

— É uma legítima Targaryen de Valíria. — Ela disse ao tirar as mãos calmamente e só então, Camyla afastou-se, dando alguns passos para trás, com suas irmãs se aproximando.

— Até a última vez que conferi, sim. — Seriamente, ela ainda reservou seu humor para a mulher.

— Eu também pude conferir os sons dos seus homens entre as árvores em volta de nós. Devo me preocupar? — A velha senhora rompeu, surpreendendo Lauren com alívio.

— Nunca sabemos quando vão tentar contra a vida da Senhora dos Sete Reinos, conquistadora de Westeros inteira. — Visenya disse, a ênfase fez todos ficarem na defensiva.

— Apenas uma abordagem de segurança. — Rhaenys falou, surpresa que a velha conseguiu identificar os homens, mas tentando reparar imediatamente o clima de tensão.

— Você é gentil como sua reputação se espalha, princesa Rhaenys. — A senhora Martell disse, tentando enxergar melhor o rosto da Targaryen mais nova que assentiu em agradecimento.

— Como foi dito, apenas uma abordagem de segurança. — Camyla reafirmou.

Ela uniu as mãos uma contra a outra rente ao seu corpo, os anéis de prata em seus dedos nas mãos estranhamente delicadas, com veias sutilmente visíveis, observou Lauren. Observação curiosa da princesa que pensava que as mãos de uma guerreira como ela, deveria ser menos polida. Mordeu o lábio inferior ao descobrir-se enganada.

— Espero que entendam e não se importem com a pequena revista que precisará ser feita antes que entrem em nossos aposentos. — Ela completou.

— Certamente, majestade. — Nymor foi quem falou, desejando acima tudo conter o seu temperamento antes que tudo fosse perdido.

Camyla assentiu uma única vez. Não gostava nem um pouco da maneira que Nymor a olhava e muito menos do jeito que seu filho olhava para Rhaenys. Ela suspirou quando caminhou para afastar-se em direção ao castelo, mas não antes de dar uma última olhada na carruagem.

Suas irmãs a seguiram de perto e os serventes e seguranças do castelo se aproximaram para avaliá-los, revistá-los e servi-los.

Foram levados e servidos muito bem, em quartos cheios de conforto, observou Lauren. Era um fato que os Targaryens conseguiram reunir muito ouro após levar casas de muitos senhores às cinzas. E pelo o que Lauren viu durante todo o caminho, Westeros nunca esteve funcionando tão bem. Não houve tentativa de roubo às carruagens dornesas. Será que aquele ouro estava sendo fornecido de alguma maneira para o povo?

Estava inquieta e muito intrigada, era verdade, lembrando do encontro indireto que teve com Camyla Targaryen desde que se isolou no quarto que lhe foi cedido.

Lauren havia recebido um banho agradável e relaxou na água por quase uma hora após ter viajado por tanto tempo. Estava recompondo o seu próprio corpo e energia. Até ver uma servente silenciosamente colocar as roupas que ela deveria usar em sua cama.

Com estranheza, Lauren saiu da água e secou seu corpo ao observar os tecidos que lhe foram fornecidos. Era um vestido belo, mas insinuante ao mesmo tempo. Sabia que aquilo era obra de sua avó ou de seu pai.

Lauren soube que a rainha desejava realizar uma pequena reunião com a casa Martell e isso aconteceria em um jantar naquela noite, mas para qual razão um vestido como aquele lhe foi oferecido quando trouxe outros que poderia usar? Por ser lindo, Lauren optou por vesti-lo e não questionou muito.

Meria Martell adentrou o seu quarto minutos depois carregando uma caixa em mãos com certa dificuldade quando Lauren já estava preparada e se aproximou o suficiente para conseguir enxergar a beleza de sua neta. Era sempre uma surpresa que Lauren fosse tão bela.

— Espero que você seja a última beleza que eu consiga enxergar com meus olhos antes que a cegueira tome conta deles por completo, Lauren Nymeros Martell. — Ela disse fazendo Lauren sorrir.

— Ainda há muita beleza para ser vista no mundo. — Lauren apontou para sua avó.

— Eu deveria concordar, mas já vi muita desgraça nesse mundo que você conhece e acabei esquecendo-me que nem tudo é igual. — Ela deu os ombros.

— Não estamos em guerra, avó. — Lauren virou-se para o espelho, passando os dedos pelo tecido macio de cores quentes, observando como o vestido valorizou o seu corpo.

— Não estamos em guerra ainda. — Ela suspirou quando foi até a cama, sentando porque era uma velha cansada e a obesidade não ajudava. Ela colocou a caixa em seus joelhos.

— Talvez a conversa desta noite seja para um acordo pacífico. — Lauren apontou, unindo as sobrancelhas curiosamente.

— Camyla Targaryen não foi pacífica com quem se negou a colocar os joelhos no chão, minha querida. — A senhora disse e Lauren se perdeu em pensamentos.

Para uma mulher que não escutava tão bem e não enxergava muito, o som do silêncio era algo importante. Era naquele som que ela compreendia como os pensamentos de sua neta funcionavam. Falar de Camyla Targaryen a deixou sem falar nada, quando havia tanto para ser dito.

Lauren estava pensando mais em como seria vê-la naquela noite.

Nunca se questionou sobre as primeiras impressões que as pessoas tinham dela, sabia que era agraciada de muita beleza, mas o que Camyla pensaria quando a visse? Ficaria tão surpresa quanto Lauren ficou ao vê-la? Esse era o seu pensamento mais insistente porque não gostou de como se admirou pela mulher de cabelos prateados e olhos violeta que miraram em sua direção.

Suas irmãs eram belas e incomuns, talvez não se surpreendesse em nada.

Dorneses eram seres humanos completamente envolvidos pela libertinagem sexual. A áurea que os rodeava era palpável pela sensualidade excessiva. Era profundo e natural como a vaidade era acalentada quando recebia olhares admirados. Lauren não se importava com quem a admirava, mas se viu sendo uma jovem mulher de apenas dezoito anos ao alimentar pensamentos que lhe pareciam fúteis, mas ao mesmo tempo, inevitáveis.

— Você observou hoje. Qual foi a sua primeira impressão sobre a Conquistadora? — Ela incitou.

Lauren virou para a velha, libertando-se de seus pensamentos. Ela se aproximou da cama e sentou ao seu lado.

— Os dragões são mais impressionantes. — Era óbvio que Lauren estava mentindo.

— Apenas isso?

— Os cabelos das Targaryens são realmente brancos ou prateados? — Lauren continuou desviando. — Etnia deveria ser bem comum em Valíria.

Sua avó deu uma risada curta, balançando a cabeça. Lauren não soube se ela identificou a mentira ou não, então prendeu o lábio inferior.

— Valirianos podem ser sedutores, com seus cabelos prateados e olhos violeta. — A velha disse, pensativa ao olhar adiante.

— Conheceu alguns? — Lauren desviou, mas não apenas isso, ela era muito curiosa.

— Sim, mas nenhum exalava tanto poder quanto essa garota. — Ela precisava admitir. — Os valirianos que tinham tanto poder assim, se foram junto com a Destruição de Valíria. Você viu Balerion?

— O Terror Negro? — Lauren ainda sentia arrepios ao lembrar da criatura gigantesca.

— Sim. De acordo com o que se diz, Balerion é um dos menores dragões que havia em Valíria. — Ela contou e Lauren se surpreendeu.

— Se ele é um dos menores... — Suas palavras se perderam.

— Exato. Então olhar para a garota Targaryen hoje me recordou o que aquela sociedade significou antes de ser destruída. Tanta escravidão... — A velha recordava bem de tudo o que ouviu. — Se existimos hoje, é graças a Nymeria que nos mostrou o que é a resistência e coragem diante àquele tempo.

Lauren assentiu. Orgulhava-se do passado e do sangue que tinha.

Nymeria foi uma mulher que liderou dez mil navios de fuga após reunir mulheres e crianças quando todos os homens já haviam morrido quando os mestres de Valíria mataram todos eles com seus dragões e magia, dizem os cantores. Nymeria reuniu todos os roinares que poderia e fugiu, enfrentou piratas, escravistas, doenças e guerra no oceano de Essos em busca de uma terra para viver com os refugiados.

Após uma longa caminhada, encontraram apoio em Dorne, reunindo-se com a família Martell que lhe ofereceu a união das duas casas. Após encontrar seu lar, Nymeria reinventou o símbolo da Casa Martell, unindo o sol e uma lança para representar sua liberdade. Ela queimou todos os dez mil navios em um sinal de glória e determinou que a casa Nymeros Martell jamais seria escravizada ou se submeteria outra vez.

— O sangue de Nymeria corre em nossas veias. — Lauren concretizou para sua avó que fechou os olhos e balançou a cabeça, preocupando a neta. — Vovó, o que houve?

— Eu já estou velha, Lauren. Eu estou muito velha para no fim da minha vida, ver tudo o que defendemos ser jogado a vala porque uma valiriana quer voltar a nos escravizar. — Ela exclamou.

— Não vamos ser escravizados! — Lauren rebateu ao sentir seu sangue quente Martell borbulhar.

— Não? — A senhora questionou com ironia e agonizou, sentindo as lágrimas em seu rosto. Lauren sentiu seu coração doer.

— Vovó...

— Eu quero ter certeza de que quando eu me for, nossa família continuará honrando o sacrifício de Nymeria! E eu não posso confiar em seu pai e muito menos em seu irmão para garantir que nossa casa fique firme. — Ela apertou mais o pulso de Lauren. — Seu avô não foi um homem muito gentil, para não dizer o mínimo. Há muita influência em seu pai e seu irmão, mas você é diferente.

Lauren sabia muito bem o que ela queria dizer.

— Eu vou garantir que nossa casa fique em pé. — A jovem princesa disse, determinada.

— Talvez tenhamos sucesso com Camyla, mas eu tenho dúvidas que acontecerá o mesmo quando os filhos que ela terá, subirem ao Trono de Ferro. — Ela disse.

E com aquilo, Lauren ficou marcada ao compreender que a linhagem de Camyla definitivamente poderia ser completamente ou totalmente diferente dela. O sangue valiriano poderia fazer diferença em seus filhos.

A senhora balançou a cabeça, afastou as lágrimas e respirou fundo. Sua neta era jovem demais.

— Eu só quero que me prometa uma coisa. — Ela subiu os olhos avermelhados para a bela dornesa que encarou uma selvageria irracional.

— Sim, qualquer coisa.

Nunca coloque seus joelhos no chão por nenhuma delas, Lauren. — O pedido era claramente uma exigência desesperada.

Lauren entreabriu mais ainda seus olhos verdes, impressionada com o pedido que lhe foi feito. Deveria se ofender ou questionar? Lauren não soube a razão, mas era perturbador pensar demais.

— Eu não pretendo! — Lauren poderia dizer que ofendeu-se.

A velha Martell sabia que não poderia duvidar do quanto Lauren era o elo mais forte que carregava em sua família. Os homens eram bárbaros ao ponto de liderar uma guerra porque o despeito era mais forte do que eles, mas não havia muita inteligência neles, de fato. Então soube que precisava garantir.

— Prometa em nome de sua honra! — Ela foi mais fundo e Lauren estremeceu.

Pouco sabia sobre as virtudes da jovem princesa, mas aquele pedido tinha duas inclinações específicas que poderiam ser interpretadas. Ambas as interpretações surpreenderam Lauren. Mas não tinha dúvidas de que estava disposta a manteria qualquer interpretação com toda a sua honra.

— Eu prometo, em nome de minha honra e de nossa casa. — E assim, garantiu Lauren para sua avó.

Você é a nossa única chance. — A velha Martell agarrou-se àquilo da mesma forma que agarrou o pulso de Lauren. — Sempre honre o nosso lema.

— A senhora pode confiar em mim. — Lauren sorriu para ela. — Hey, está tudo bem.

A senhora sorriu e se envergonhou, encostando-se na neta.

— Pelos deuses, olhe para mim! Estou sendo uma velha dramática e chorosa. — A princesa balançou a cabeça, negando a sua timidez. — Perdoe-me por isso.

— Não há o que perdoar. Eu compreendo como a senhora se sente. — E então, Lauren olhou a caixa em suas pernas. — O que é isso?

— Oh, isso! — A velha agarrou a caixa e passou para a sua neta. — São os livros antigos que havia pedido. Demoramos para encontrá-los porque estavam perdidos há uns bons anos, mas aqui está.

Lauren sorriu verdadeiramente e emocionada ao capturar a caixa para abrir com avidez. Ela amava ler, principalmente sobre o passado e estudar ainda mais. Muitos homens dizem que a leitura enlouquecia as mulheres, mas a "loucura" que envolveu a cabeça de Lauren a deixou repleta de conhecimento, filosofias e informações que poucos sabiam. A princesa pouco se importava com o que diziam.

Quando Lauren capturou um livro de capa escura, a velha Martell exasperou-se, tomando de sua mão. Lauren se surpreendeu com a atitude da velha.

— Qual o problema?

— Perdoe-me, mas não sei se este livro deve ser lido por você, minha neta. — Ela o segurou mais firme, como se desejasse escondê-lo de Lauren, temendo pela curiosidade de sua neta.

— Mas por que? A senhora nunca me privou de ler nada. — A princesa estava intrigada.

— Digamos que essa leitura não seja de cunho muito saudável. — A mulher retorceu a expressão cautelosa.

— Diga a razão, minha senhora? — A curiosidade a fez se contorcer, principalmente pela atitude desesperada de sua avó.

— Devem ter colocado por engano no pedido que fiz aos roinares. — A senhora lamentou-se por aquele engano.

— Vovó, por favor!

— Ah, Lauren. — A senhora suspirou. — A curiosidade não é uma boa companhia, mas irei respondê-la. Neste livro, há escritas sobre as artes de feitiçaria. Além de domínios e estratégias de guerra, com essa mesma magia. Não é algo bom para ser lido por uma boa garota.

Os olhos de Lauren se abriram, completamente entusiasmada com algo que poderia soar como uma leitura estimulante para sua lista de conhecimentos. Talvez aquilo fosse tudo o que faltava para ela dominar o conhecimento necessário que precisava.

— Vovó, por favor, deixe-me ler. Nada disso irá me afetar. — Ela insistiu, erguendo a mão.

— Lauren, eu não sei se voc–

— Por favor. Sabe que eu adoro ler coisas novas. — Lauren omitiu a parte de que estava ávida por algo tão apropriado, quase como um presente dos deuses. — Vou amar falar sobre isso com Normany.

Normany Sand era a sua meia-irmã. Sand era o sobrenome oferecido para aqueles que eram bastardos nas terras de Dorne e por isso, a garota não tinha o sobrenome Nymeros Martell como a princesa e muito menos era tratada como tal.

Meria Martell sabia que Lauren tinha mais apreço por Normany do que pelo seu próprio irmão e lamentou que ela não teve permissão para sair de Dorne para conhecer Porto Real consigo, seu pai a proibiu alegando ser uma desonra apresentar uma bastarda as Targaryens.

A senhora apertou os olhos, hesitante sobre o que havia nos olhos da neta. Mas sabia que ela não iria desistir, era completamente persistente e não poderia culpá-la por isso. Estava em seu sangue. Sabia que seria melhor ter conhecimento de que Lauren estava com aquela leitura porque ela lhe deu, do que Lauren conseguir escondido de outra forma, sendo traiçoeira como as cobras do deserto de Dorne.

— Tudo bem. — Ela passou o livro com hesitação para Lauren que o segurou e dispensou os outros livros para abrir na primeira página deste.

A senhora suspirou e houve uma batida em sua porta. A permissão foi concedida pela velha e quando um dos guardas informou que a presença delas foi solicitada, a senhora Martell ergueu-se.

— Vamos, querida. — Ela chamou Lauren.

— Eu vou em um minuto. — Os olhos estavam correndo pela leitura que havia em suas mãos.

— Lauren!

— Só algum momento. — Lauren pediu.

— Não demore. Não podemos deixar a rainha esperando! — Ela lembrou a neta que revirando os olhos sobre a tal Targaryen, mas assentiu.

Sua avó partiu e Lauren ficou perdida em sua leitura por um tempo. As informações eram exatas e claras, porém as folhas eram velhas e antigas, gastas pelo tempo. Conseguiu encontrar uma leitura mais compreensível e ao ler em voz alta o que viu, sentiu a pura essência do conteúdo soar estranho, arrepiando sua pele.

Um dos guardas que estavam à sua espera aguardaram a presença da princesa Martell do lado de fora para levá-la ao salão de jantar, mas tudo o que sentiu foi impaciência pela demora.

O homem remexeu-se em sua armadura, praticamente bufando até que ele parou, paralisando e virando o rosto em direção a porta do quarto.

Um calafrio intenso percorreu o corpo do homem pelo vento frio que passou pelas brechas da porta de madeira que não permitia ser visto o que fez Lauren gastar tanto tempo dentro daquelas acomodações.

Quando a mulher saiu, o guarda não mostrou nenhuma emoção, além da surpresa pela beleza da mulher. Os olhos estavam tão verdes que ele desnorteou-se. O guarda soltou um pigarro e corrigiu a postura que vacilou, piscando algumas vezes e se encarregou de caminhar com Lauren para o grande salão.

— Por aqui, lady Martell. — Ele seguiu e Lauren o acompanhou.

A jovem princesa dornesa observou o lugar, sentindo que em cada parte tinha sinais da realeza Targaryen. Todo o lugar estava sendo construído para garantir um império que Lauren julgou como inovador. Pelas janelas, era possível observar toda cidade, como se a escolha de Camyla fosse estar acima para teus os olhos violeta cientes de tudo. E Lauren estava realmente certa.

Estava pronta para enfrentar aquele jantar e conhecer apropriadamente as mulheres que não pareciam amistosas demais. Não havia temor em Lauren, além de uma crescente curiosidade sobre Camyla pela sua quantidade óbvia de poder que ela carregava orgulhosamente. Lauren não falava sobre o poder de ouro ou o poder que seu dragão lhe oferecia, mas sobre o poder de sua presença.

Suspirou e então, quando passava pelo corredor com o homem, surpreendeu-se quando o seu corpo chocou-se contra o de uma mulher cuja pressa não a permitiu ver que Lauren e o guarda caminhavam para o mesmo lugar que ela estava a ir com pressa.

— Oh, eu–

A voz de Lauren foi perdida quando elas olharam uma para a outra, para que os pedidos de desculpas fossem ditos, mas Lauren apenas prendeu o fôlego ao admirar os cabelos prateados e os olhos violeta fixados e surpresos em seu rosto.

☀️

Assim que Camyla Targaryen I foi anunciada, todos se levantaram para receber a sua presença no salão. Até mesmo o ar mudou quando ela caminhou pela sala grande e tudo o que havia nela perdeu a atenção depois que a rainha foi adiante. Seja para proteção ou adoração. A rainha tirou o fôlego dos visitantes que estavam à sua espera, seu vestido preto com costuras vermelhas criado apenas para ela, era impressionante, mas não tanto quanto ela própria.

Os cabelos lisos desciam alinhados como cascatas por suas costas e ombros, sua coroa de rubis estava em sua cabeça, acompanhada de um colar em seu pescoço que carregava as mesmas pedras, deixando-a com uma postura e imponência digna da presença inegável como rainha de Westeros.

A rainha sentou-se em seu devido lugar, na única ponta da mesa grandiosa e farta. Apenas com a sua concordância, todos se sentaram mais uma vez. Seus visitantes estavam ali, mais alguns senhores pertencentes a ambas as casas e principalmente Dynah Baratheon que piscou discretamente para ela. Camyla respirou aliviada que a Mão da Rainha saiu com urgência da Ponta Tempestade para estar presente.

Mas quando encarou Visenya, viu que esta estava ao seu lado com uma expressão nada agradável após ter dado a ordem para que a sala fosse revertida por guardas experientes e preparados para qualquer movimento sorrateiro dos Martell. Visenya estava completamente descontente com a escolha de Camyla em receber aqueles visitantes.

Como se não bastasse a perturbação que lhe encontrou no corredor.

— Peço que sirvam. — Camyla pediu para que tudo acontecesse o mais rápido como poderia.

Logo todos estavam servidos e experimentando a refeição daquela noite. Os homens Martell estavam desconfiados com a refeição, mas perceberam que os experientes em venenos eram eles próprios e em consenso silencioso, os três dorneses se dispuseram a comer.

As conversas eram calmas sobre o vinho ou sobre o assado que estavam em seus pratos.

Nymor precisava admitir que a comida estava excelente. Mas não tirava os olhos derretidos entre ressentimento e luxúria de cima da rainha Targaryen. Ele não sabia como se sentir sobre ela, porque a aparência era delicada demais para uma guerreira sanguinária que ele provavelmente iria enfrentar. A beleza era sobre-humana. E por falar em beleza, ele virou-se para sua mãe.

— Lauren não está aqui. — Ele falou baixo, mas em uma repreensão.

— Eu percebi que ela não está aqui. — A velha Martell disse. — De certo se perdeu em uma leitura.

— Você lhe deu mais livros? — O homem suspirou resignado. — Não sei quem merece mais uma lição. Ela ou a senhora!

— Talvez seja melhor assim. Comece de uma vez! — Ela indicou.

Ele hesitou. Olhou para todos os senhores e para as mulheres, observando Dynah Baratheon falando próximo de sua majestade com uma cumplicidade insana. O homem pegou a sua taça de ouro e bebeu o vinho, como se precisasse de uma preparação para o que precisaria fazer. E ele realmente precisava.

— Vossa Graça, estamos honrados com o baquete. — Nymor iniciou uma conversa, chamando a atenção de Camyla que tirou os olhos de Dynah.

— Nossos cozinheiros são excelentes. — Ela realmente valorizava aqueles.

— Eu concordo. Agradecemos!

— É o que merecem após enfrentarem uma viagem tão longa. — Camyla segurou a taça, olhando para o homem.

Ela ainda não gostava de como ele falava, como respirava ou como cheirava. Mas sua espada havia sido justa com todos até agora, ela não poderia mudar seu comportamento ou se tornaria uma rainha instável, diria Dynah. Visenya dizia o contrário.

— Será igualmente bem recebida em Dorne, quando decidir nos visitar. — Ele disse, mas com um sorriso aparecendo em seu rosto.

— A Casa Targaryen agradece calorosamente o convite. — Ela deu um meio sorriso.

— Creio que não leve seus dragões, para contemplar a viagem como nós fizemos. — Ele sondou, presunçoso.

— Nossos dragões não tem problema com as areias do deserto de Dorne. — Ela apontou, estreitando o olhar.

— Então eles são bem vindos. Esperamos que sem um exército em retaguarda. — Ele acrescentou.

O homem estava nervoso por ter que ser civilizado e diplomático como sua mãe desejava, quando o que ele realmente gostaria era de iniciar uma guerra de uma vez por todas mesmo sabendo que não deveria, e o seu nervosismo não ajudava em nada.

O silêncio se instalou pelo salão. Camyla não se surpreendeu em nada quando encostou-se em sua majestosa cadeira, segurando a taça de vinho e o encarou por mais tempo do que ele conseguiu manter o contato visual. Ela bebeu do seu vinho, degustando dele como se fosse a sua última apreciação ao que lhe foi servido porque tinha consciência do quão desagradável se tornaria o que vinha a seguir.

— Não gostariam de esperar a refeição terminar antes de prosseguirmos essa conversa? Vossa Graça ainda está se alimentando. — Dynah, a Mão da Rainha perguntou.

— Está tudo bem, Dynah. — Camyla fez um movimento com a mão que soou gracioso para o Maron, que havia abandonado a sua comida para encará-la.

— A hospitalidade é muito agradável, mas eu realmente sei que essa visita tem apenas um propósito, Vossa Graça. — Ele disse. — Evitar ou não uma guerra.

— Isso depende unicamente da cooperação de vocês. — Camyla disse, largando a taça de vinho para apoiar os cotovelos sobre a mesa, olhando diretamente para os Martell.

— E nossa cooperação seria ajoelhar perante Vossa Majestade, eu presumo. — Meria Martell insinuou.

Precisamente. — A rainha respondeu, a voz soava sedutora como se colocar os joelhos ao chão fosse algo minimamente agradável para eles.

— Por que faríamos isso? Você não é a nossa rainha apenas porque decidiu ser! — Nymor resistiu e perdeu a paciência que estava guardando.

— Harrenhal continua insubmissa igualmente, até onde eu soube. — Meria continuou.

Camyla apertou os olhos em direção a velha espertalhona. Se perguntava se era coincidência que Harrenhal foi o motivo que a irritou nos corredores antes de seguir para o jantar. Camyla recebeu mais uma proposta de recusa.

— É questão de tempo. — Camyla simplificou, conspiratória.

— O senhor daquelas terras acredita que não há fogo que queime suas muralhas. — A velha provocou.

E viu o brilho nos olhos da rainha Targaryen. Mesmo sendo praticamente cega, não havia como apagar daquela mulher diante dela o lampejo de uma busca que lhe era prioridade.

— Aquelas muralhas não conhecem o fogo de Balerion. — Camyla sorriu ao pensar sobre. — Além disso, intimei outra alternativa mais uma vez para aquele senhor. Espero que ele prefira ser sensato.

— Talvez ele prefira a sua cabeça. — Maron disse, indiferente.

Marie revirou os olhos porque aqueles homens claramente foram desprovidos de qualquer inteligência como sua neta havia dito.

Naquele momento, Visenya estava prestes a erguer-se e usar sua espada, mas Camyla era uma guerreira ágil e previu o movimento antes que fosse feito, segurando rapidamente o seu braço. Visenya enfureceu-se e tentou resistir à tentativa de sua irmã que lhe impedia de arrancar as cabeças de todos eles pela ousadia insana e que lhe soava desrespeitosa, mas sentiu o aperto intenso e respirou fundo quando relaxou em seu lugar. Furiosamente, obedeceria a sua irmã e rainha.

Maron tentou não rir porque era a segunda vez que a Targaryen do meio era contida pela irmã. Ele adoraria mostrar aquela Targaryen como uma mulher era bem contida e era de um homem que ela precisava para tal, era o que pensava o príncipe inconsequente.

— Os que usaram suas espadas ao invés de entregá-las, foram aqueles que perderam suas cabeças, não eu. Não será diferente com este, se ele não ajoelhar perante o meu reinado. — Ela informou sem conter a enérgica essência que havia em si.

Seu sangue queimava como deveria ser e assustava o jovem Martell porque sentia que era uma ameaça bem direta. Maron gostava de brincar com assuntos que poderiam definir a sua vida, mas soube identificar o erro. Ele não queria morrer.

— Compreendo, Vossa Graça. — Maron se excluiu da conversa naquele momento.

— Eu sou a Senhora dos Sete Reinos. E Westeros apoia meu trono. Todos os que cooperaram para a minha conquista, não perderam nada além de algumas centenas de espadas. Suas vidas continuam normalmente como sempre foram. — Camyla explicou calmamente o que tinha consciência de que já era fato, mas achou melhor explicar-se.

— Você deseja a nossa submissão, não nossa cooperação. — Disse Nymor.

— Sua submissão faz parte da cooperação. — Camyla uniu o queixo acima de suas mãos unidas, a voz soava como uma melodia fria, mesmo que a sua presença fosse tão quente.

— A escravidão de sua casa não acabou para A Queda de Valíria? — Nymor questionou endurecido.

— Não iremos nos submeter! — Maron acrescentou.

Silêncio. Camyla contorceu o seu nariz, incomodada. Ela segurou a sua taça e tomou um gole de seu vinho com tranquilidade porque havia lidado com aquelas questões antes. Quando ela esvaziou a sua taça, encarou a família.

— Veja bem, príncipe. — Iniciou a Targaryen. — Minha decisão ao oferecer a submissão é algo simples e que eu desejo conseguir de uma maneira ou de outra. Homens em toda Westeros incitaram a real escravidão e tortura antes de mim e brincavam com esse poder porque não havia absolutamente ninguém por essas pessoas para ensinar que há punição para quem brinca com a ordem da vida.

Antes que Maron fizesse algum comentário, Camyla ergueu um olhar em sua direção e ele petrificou. Ela ainda não tinha acabado.

— Desde que me tornei rainha, o povo comum recebe olhares hesitantes de seus senhores ao invés de punições, porque há quem os defenda do sofrimento. Há comida e água para eles e banquete na mesa dos grandes senhores, como vocês, caso a preocupação seja perder sua valorização, porque todas as Casas de Westeros estão servindo umas às outras e recebendo mais ouro do que nunca porque há paz e não guerra desde que se ajoelharam. Então me digam, por que não cooperar? — Perguntou.

Ela os encarou, recebendo seus olhares de volta que a contemplaram virar cabeça levemente para o lado, os cabelos deslizando pelo seu ombro. O olhar inofensivo era apenas uma isca, quase como um convite. Persuasiva, ainda que fosse sincera. Meria Martell quase sentiu-se tremer porque era completamente sedutor ceder, mas jamais o faria.

— Por que não podemos pedir igualdade? — Nymor respirava com dificuldade. Havia revolta em ouvir sobre ordem, porque a única ordem que conhecia foi como governar sua casa como gostava.

Principalmente porque ele e seu filho tinham como um tipo de passatempo brincar com a vida dos seus inferiores, principalmente das mulheres roinares. Ele sonhava que Camyla não fazia ideia de sua capacidade, mas os fantoches nas ruas de Westeros falavam demais.

— Porque não há igualdade! Não é óbvio? — Visenya respondeu com zombaria.

— Princesa Visenya. — Dynah quem repreendeu sua princesa.

Camyla poderia controlar sua irmã diante de determinadas situações, mas nunca quis reprimi-la. Os deuses a criaram como era, então ela moldou-se exatamente assim e sempre seria. Então, Camyla ignorou o clima entre Visenya e Dynah, mantendo o contato visual feroz com Nymor.

— Ainda há homens perdendo suas cabeças. Há mulheres sendo estupradas, crianças sendo levadas, no final de tudo. Você não é nenhuma salvadora. — Nymor atacou a rainha. Era a maneira que ele encontrava para não dar poder a ela de pará-lo, justamente pelo o que ele próprio fazia.

— De fato, eu não sou. Não posso mudar o que os homens tornaram como banalidades em toda Westeros. Mas o que estiver ao meu alcance, eu faço. — Ela sorriu de lado. — Acredito que tenha ouvido falar sobre uma das minhas primeiras batalhas, em Ponta Tempestade, contra Argilac, o Rei da Tempestade?

— Sim. Dynah Baratheon é a senhora dessas terras agora, certo?

— Exatamente. — Dynah olhava para o homem com atenção.

— Assim que ganhamos a guerra, meus homens invadiram seu castelo para saquear seu ouro. É algo que eu poderia tolerar. Mas quando eu vi muitos deles invadindo casas e abusando de mulheres, eu fiz com que Dynah — Ela fez uma pausa para apontar para sua conselheira do peito — reunisse todos eles em uma fileira.

— E então? — Maron perguntou, engolindo em seco.

— E então fiz Balerion devorar cada um deles. Não rapidamente, não... Mas lentamente. — Ela deu uma risada curta com a lembrança, arrepiando até mesmo Meria Martell. — Apenas porque eu queria que todos eles sofressem antes mesmo da morte. Dizem que os gritos, o arrependimento e as súplicas ecoaram por todo o reino. E desde então, nenhum soldado meu abusa ou machuca nenhuma outra mulher ou qualquer pessoa indefesa e rendida.

Os homens Martell se entreolharam.

— O que você tem feito com os estupradores de Dorne, além de ser um deles? — Camyla Targaryen sentiu o seu sangue borbulhar.

Silêncio. Meria percebeu que ela sabia muito mais do que deixou saber sobre o que seu filho e neto pareciam cultivar. Encarou Nymor e Maron, vendo-os perder suas faces coradas em um tom pálido. Então olhou para Camyla, vendo como ela manuseou a cabeça, sabendo que não eles diriam mais nada.

— Se eu lhes oferecer igualdade, outros senhores iriam me exigir o mesmo e novas guerras seriam iniciadas. Minha decisão foi conquistar Westeros inteira e protegê-la na mesma medida. — Camyla determinava. — Vocês desejam igualdade? Tenham igualdade com todos os outros que já ajoelharam, não alcançaram isso comigo. Eu sou o sangue da antiga Valíria e é meu caminho ser a Conquistadora dos Sete Reinos.

Com aquelas palavras, até mesmo Visenya levou a taça de vinho à sua própria boca, triunfante por caminhar ao lado de sua rainha e irmã que jurou nunca recuar de sua decisão, o que ela muito aprovava. Dynah respirou profundamente, porque seu juramento era garantir que sua rainha e braço direito mantivesse sua firmeza até o fim.

Os Martell se silenciaram, por fim. Meria Martell soube que a conversa chegou ao fim. Maron estava louco para socar um dos guardas, roubar uma espada e matar as mulheres que pareciam debochar deles, mas sabia que Visenya o mataria antes mesmo que ele tentasse. Nymor sentia o veneno dentro de si queimar, como se a presença das Targaryens causasse aquilo.

— Então iremos à guerra. — Nymor Nymeros Martell disse para Camyla que ergueu as sobrancelhas em sua direção. Ela não estava impressionada.

Até que...

Camyla só teve um pensamento quando processou as palavras: Rhaenys.

Observou o lugar de sua irmã vazio e desejou levantar-se em busca dela. A urgência a assustou em demasia. Mas apenas chamou um de seus guardas, falando baixo em seu ouvido para que ele fosse atrás de sua irmã de imediato e a trouxesse o quanto antes. Estava a temer que sua irmã havia sido raptada e seria usada como moeda de troca naquele momento.

Entretanto, a velha Martell viu tudo aquilo como uma ordem para preparar a morte deles em seguida. Quando o guarda saiu da sala, ela agiu com rapidez, pensando sobre a última alternativa conversada com seu filho. Talvez Balerion invadisse as janelas grandiosas com fogo, então ela soube que precisava adiar o fim.

— Há uma alternativa antes de uma guerra ser iniciada. — Meria Martell conduziu antes que tudo fosse perdido.

Camyla e Dynah se viraram em direção a senhora.

— Prossiga. — Dynah assumiu o papel diplomático. Estavam dispostas a ouvir.

— Os cantores contam que a vossa Graça é incomum em sua fisiologia. É verdade? — A senhora ousou.

Era natural para os Sete Reinos que Camyla Targaryen tivesse nascido com um órgão genital masculino. Muitos dizem que os deuses mudaram a sua biologia para que ela pudesse procriar e garantir o poder e a linguagem pura. Camyla aceitou aquela verdade para si há muitos anos.

Sua vida foi protegida por seus pais até que pudesse se defender de ser mutilada ou morta durante sua infância inteira por aquele detalhe.

— Sim, é verdade. — Ela deu os ombros sem se afetar, mas queria entender aquela linha de pensamento.

Nunca deixou aquilo afetá-la em absolutamente nada. Não tinha um detalhe em si que fosse diferente de suas irmãs, além daquele. Em Valíria, a magia havia oferecido beleza sobre-humana além de outras prioridades para os senhores daquela sociedade, mas o sangue valiriano gerou questões além.

Pelo o que se ouviu, Camyla não foi a primeira, e certamente não seria a única Targaryen com aquele detalhe particular. Mas apenas ela teve a persistência em se agregar a todos os seus aspectos femininos para se manter como gostaria, ao invés do que lhe era conveniente escolher para si e aceitar o caminho mais fácil e portar-se como um homem perante aqueles que poderiam questionar qualquer coisa sobre ela.

O poder de sua casa deu a Camyla a oportunidade de se definir como mulher e não ser questionada por nada que escolhesse para ela mesma, independente do que dissessem. Quem tentasse criar questionamentos além, perderia a vida no processo. Na batalha, aquele detalhe não significava nada enquanto ela conquistava um reino inteiro com um dragão e sua espada. Aquele era o nível de poder dos Targaryens.

— Há boatos de que Vossa Majestade tenha praticado libertinagem nos bordéis destas cidades e vilas. Também é verdade? — Nymor perguntou com mais ousadia.

Fazia parte dos Martell não se importarem com e como as pessoas buscavam prazer. Ele mesmo tinha maneiras bem específicas, então não estavam surpresos em nada com a maneira que uma rainha se comportava.

Mas Camyla controlou-se para não gargalhar após ouvir aquele questionamento, porque era um apontamento que ela não entendia onde queriam chegar. Dynah apertou os olhos. Visenya parecia completamente incomodada com aquele assunto e realmente estava.

E se eu praticar? — Camyla inclinou-se desafiadora, os olhos violeta vivos.

— Pergunto-me então, porque não fez como seus antepassados que uniam-se aos seus próprios familiares para garantir uma linhagem pura. — Meria completou, curiosa, ao observar uma Visenya cada vez mais irritada.

— Isso não é da conta de nenhum de vocês. — Visenya não se controlou novamente. — Aonde querem chegar?

— Uma proposta de casamento. Uma união entre nossas casas e a guerra não precisaria acontecer. — Nymor falou rapidamente.

Camyla abriu os olhos, surpresa. Não estava esperando por aquilo de nenhum dornes, era verdade. Visenya se sentiu transtornada ao ouvir aquela oferta.

— E quem iria desposar com Vossa Graça? Seu filho?! — Dynah perguntou por mera curiosidade. Sabia que o homem tinha uma filha além de seu primogênito, mas não estava presente. — Nem mesmo haveria como uma linhagem poderia ser gerada.

— Além disso, meu interesse em seu filho ou em qualquer outro homem é completamente inexistente. — Camyla não conteve o sorriso desdenhoso, fazendo Maron ficar afetado com tamanha sinceridade. — Então prefiro que não me ofenda. Fora da zona de combate, nunca tive interesse em brincar de espadas.

A rainha estava ofendida, mesmo que pedisse para não ser. E isso a fez perder alguns níveis de educação. A Meria Martell não estava impressionada. Se uma mulher como aquela dominava os reinos sendo uma mulher e ainda sendo diferente alguns níveis além em seu corpo, suas vontades sexuais não eram recriminadas.

— Não falamos de Maron. — A velha praticamente cuspiu as palavras.

— Então de quem falam? — Dynah Baratheon perguntou.

Naquele momento, as grandes portas foram abertas e com o guarda que Camyla havia dado a ordem de procurar Rhaenys, reapareceu com ela. A presença da princesa foi anunciada para todos e a rainha respirou com tranquilidade ao ver sua irmã aproximar-se da mesa, risonha e animada, graciosa como todas as suas irmãs, afastando o clima obscuro e conspiratório da sala.

Camyla estava tão aliviada que sua garganta fechou pela sensação. Por isso, ficou claro para todos quem era a irmã favorita. Algumas coisas eram vistas de maneira bem transparentes.

— Peço sinceras desculpas, Majestade. — Ela respeitava os títulos de Camyla, que fez um sinal para que ela sentasse imediatamente.

— Rhaenys. — Camyla aproximou-se para que a repreensão não fosse ouvida por todos. — Pode me dizer onde estava?

Sua atenção estava na jovem, ignorando a presença que foi anunciada logo após a entrada de sua irmã e por isso, ela não se preparou ou até mesmo conseguiu prever o que os deuses estava exibindo para ela como um aviso prévio.

Era por amar Rhaenys demais que sua atenção estava em nela, esperava por uma resposta convincente. Só ela sabe o medo que sentiu que sua irmã não estava sob sua vista enquanto falavam em guerra, apenas por imaginar Rhaenys, uma garota brincalhona, curiosa e completamente impulsiva sendo raptada.

Rhaenys não era uma guerreira genuína, passava mais tempo voando com Meraxes apenas para desfrutar o vento em sua pele e a conexão com seu dragão do que circulando uma área de combate. Voar era o que ela amava acima de tudo. Camyla preferia assim, aceitava e a amava ainda mais por isso. Porque dessa maneira, conseguia evitar que algo lhe acontecesse.

Rhaenys começou a responder à sua irmã, mas Camyla foi atingida por algo específico e ficou intensamente inerte naquele momento.

E mais uma vez naquele mesmo dia, ela não conseguiu ouvir mais nada.

As testemunhas não sabem ao certo o que aconteceu naquela noite, mas dizem que Camyla Targaryen I sentiu o aroma mais fruitivo e inebriante que já a envolveu em toda a sua vida. Nada parecido jamais a rodeou e ela se viu presa em se extasiar com as sensações arrepiantes em sua pele, vinculadas àquele perfume específico que a tirou de órbita por completo.

Perdão, Majestade. — Uma voz desconhecida se fez presente.

A voz atraentemente rouca chamou atenção de todos que estavam naquela mesa. Mas soou como a canção mais atraente para os ouvidos de Camyla Targaryen que virou o rosto com lentidão em direção a dona de uma voz tão envolvente, sentindo os níveis de expectativas incompreensíveis a atormentar os sentidos sobre a dona da voz, até estar focalizando-a com seus olhos.

— Como a princesa Rhaenys disse, acabamos nos esbarrando no corredor e neles, nos perdemos também em nossas conversas. — Falou respeitosamente.

Camyla viu os olhos verdes oceânicos lhe encararem e a inquietação que sentiu ao relacionar tamanha formosura fez com que sua resposta acontecesse apenas em seus pensamentos. Não saiu nenhuma palavra de seus lábios como se esperava.

Então aquele cheiro lhe pertencia?

Porque ela se perdeu com encanto pela graciosidade daquela que estava ao lado da família Martell, em pé, enfeitiçando-a com um vestido devastador em uma mistura de cores tão quentes quanto ela própria. Apropriado para a noite, mas com um forte toque dornes, servindo de uma sensualidade ímpar. Apropriado até demais, pronto para arrebatar qualquer ser que a visse.

A postura da princesa de Dorne mudou consideravelmente ao ser olhada daquela forma. Esperava intensidade como se preparou para aquele encontro, mas não algo indecifrável como aquilo. Era ódio? Surpresa? Assombro? Nenhuma dessas coisas. Era um completo maravilhamento que Camyla Targaryen sentiu.

Lauren estava se perguntando o que Camyla viu em si, mas a resposta era óbvia porque seus olhos violeta nem mesmo piscavam enquanto o contato visual permaneceu ardente e o calor familiar a envolveu rigorosamente ao sentir como suas pernas ficavam cada vez mais trêmulas perante as intensas retribuição silenciosas e admirações sem nomes, impressionando-a intimamente.

Ela fez uma promessa de que precisava ficar de joelhos, mas nunca foi tão desafiada quando aqueles olhos imperantes queriam fazê-la cair aos seus pés. Se odiou quando imaginou colocando o joelho no chão diante de Camyla, sem afastar os olhos dos seus, porque não queria perder as sensações que seus livros nunca falaram sobre e que ela estava descobrindo.

A princesa sentiu as faíscas familiares em sua pele, agora mais forte do que sentiu horas antes dentro da carruagem, e conseguiu identificar que a razão deveria ser pelos mínimos metros que estava da rainha desta vez. Poderia ser?

Enquanto isso, Camyla, a Conquistadora, percebeu que tudo o que conheceu como beleza antes lhe foi completamente desvencilhado, porque toda a simetria da mais pura perfeição que poderia haver, acabou de ser encontrada por si mesma ao colocar os olhos da mulher que não soube o nome.

Era simplesmente palpável para todos do salão que Camyla havia sido enfeitiçada por Lauren e nada mais poderia ser feito.

— Majestade, essa é a minha filha. — Nymor disse, levantando-se para apresentar a jovem orgulhosamente. — Lauren Nymeros Martell. É ela a quem eu ofereço-lhe a mão para a união de nossas casas.

E então, Lauren arregalou os olhos saindo de seu próprio encantamento, surpresa pelo o que ouviu, assim como Camyla. Mas a surpresa que arrebatou a rainha foi diferente.

Porque naquele exato segundo, no grandioso abismo de sua mente, Camyla Targaryen I conseguiu ouvir a sua própria voz, aceitando o que quer que fosse oferecido para ter a Lauren, sua princesa dornesa.

☀️

E então, como estamos?

Até a próxima! ❤️‍🔥

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