EXCÊNTRICO • jjk + pjm

By whaliephoria

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[EM ANDAMENTO] Em uma noite regada por música alta e luzes escarlates, Park Jimin encontrou Jeon Jungkook, e... More

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03. Pecado Irremediável
04. Eu quero ser seu

05. Quer comer lámen comigo?

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By whaliephoria

Depois de muuuito tempo, voltei!

Desde , peço perdão por qualquer erro ortográfico que encontrarem. Eu revisei o capítulo duas vezes, mas sempre acaba passando alguma coisa :(

Boa leitura, herdeiros 🔥

☽☾

Existe uma grande diferença entre ser sozinho e sentir-se sozinho.

Ao longo dos anos, muito se debateu sobre a ambiguidade contida na sutil incompatibilidade entre "ser" e "sentir"; com certeza milhares de pessoas já relataram a sensação para qualquer um que se dispôs a ouvir o lamento. No entanto, por mais que a teoria estivesse ali, a um clique de distância, Jimin conhecia a divergência entre os dois lados da solidão por experiência própria.

Passou anos de sua juventude se escondendo de si mesmo, esgueirando-se sem rumo entre as ruas noturnas de Seul. Frequentava bares e boates a fim de preencher um vazio que não nascia de fora para dentro, mas de dentro para fora. Preferia estar em meio a centenas de desconhecidos, todos igualmente dopados por uma alegria efêmera, porque estar perdido entre as luzes era melhor do que se perder nos próprios pensamentos.

Foi longo o tempo em que esteve acorrentado à melancolia de não ter amigos e estar longe da família. Não que Jimin fosse de fato sozinho; a realidade era o exato oposto. Seu alto astral e simpatia foram os ingredientes cruciais para a popularidade que ganhou durante o período da faculdade, entretanto, ainda que estivesse cercado de vida vigorosa, sentia-se vagando sozinho dia após dia.

Demandou muita reflexão, pesquisa e paciência até entender que podia sentir sem necessariamente ser — e vice-versa.

Ser solitário não era uma maldição. Todos os seres humanos estão fadados à existência individual, e hora ou outra precisam parar de abominar a própria companhia, porque, no fim, é tudo o que se tem. Não se trata só de amor próprio, mas também de reconhecer que, por mais forte que seja o desejo, não podemos fugir de nós mesmos.

Por essa razão, embora deixar a mente à mercê fosse uma atitude potencialmente perigosa, Jimin agora apreciava o silêncio ao entrar em casa depois de uma exaustiva jornada de trabalho. Gostava de não precisar dar satisfação do que fazia ou deixava de fazer, para onde ia e quando pretendia voltar. Haviam vantagens na independência conquistada, embora ser responsável por si mesmo fosse desesperador, às vezes.

Apesar de todo o árduo caminho percorrido até aprender a se virar sozinho, não importava quantas estações chegassem e partissem, ele sempre sentiria saudade do colo de seus pais. Sentia que nunca seria maduro o suficiente a ponto de não desejar o afago deles quando as coisas ficavam difíceis demais.

Foi em prol desse buraco no peito que, a despeito da consciência responsável lhe dizendo que não deveria, atendeu a chamada assim que viu os caracteres "mãe" brilhando na tela do celular jogado sobre o banco do passageiro. Sentiu o coração se encolher num aperto caloroso assim que ouviu voz feminina do outro lado da linha. Não sabia como era possível uma simples melodia lhe causar tanto conforto, e duvidava que outra pessoa viesse um dia a causar a mesma sensação em si com tanta facilidade.

Estava saudoso. Tanto que, quando percebeu estar cada vez mais próximo da empresa, seus ombros caíram, numa reação física ao descontentamento.

— Mãe... Preciso desligar — avisou, pesaroso.

Mas já, meu príncipe? Não conversamos nem por dez minutos!

— Eu não podia nem ter atendido a ligação, dona Ga-eun — disse em tom divertido. — Estou trabalhando, esqueceu?

Esse seu chefe abusa demais da sua boa vontade, Jimin! Quase não consigo falar com você, isso é exploração! — exclamou, exasperada.

Jimin riu.

— Todo trabalho é fruto de exploração, mãe — brincou, manobrando o volante para entrar com o carro no estacionamento subterrâneo. Enquanto estacionava em uma das vagas disponíveis, mal prestou atenção na resposta que recebeu ao comentário anterior, mas esperou que Ga-eun terminasse de falar para repetir: — Preciso mesmo desligar, mamãe. Depois eu te ligo de novo, ok?

— Você nunca liga, Jimin. — Bufou, ainda desgostosa por não poder falar mais um pouco com o próprio filho. Era a primeira vez em quinze dias que conseguia se comunicar com ele e já teriam que encerrar!

— Dessa vez eu vou. Prometo.

Hm — murmurou. — É bom ligar mesmo, ouviu? Caso contrário, não há nada que me impeça de sair daqui e ir dar uns tapas nessa sua bunda de tanajura!

— Mãe! — Arregalou os olhos, incrédulo, mas rendeu-se ao riso logo em seguida. — Já disse para a senhora não falar da minha bunda!

Eu sou sua mãe, Park Jimin. Troquei suas fraldas e limpei seus vômitos, tive que lidar com a sensação horrorosa de achar uma revista imprópria na sua gaveta quando fez dezesseis anos...

— Tá, tá, tá, pode parar! Eu entendi!

Você compreende as coisas tão rápido, meu amor.

Jimin suspirou, mas o sorriso afável em seu rosto revelava nada além de afeto genuíno.

— Tchau, dona Ga-eun. Até breve.

Até, meu filho. Se cuida! Mamãe te ama!

— Eu também te amo.

Deslizou o polegar pela tela, dando fim à ligação. Permaneceu um minuto apreciando a sensação boa que se expandia no peito, mas movimentou-se antes que o peso da saudade se impusesse irreversível. Saiu do carro com a bolsa carteiro pendurada no ombro e uma papelada imensa nos braços. Ativou o alarme e seguiu caminho para o interior do prédio comercial, por meio do elevador.

Não demorou para chegar ao andar correspondente a sua sala. Colocou-se para fora do ascensor assim que as portas se abriram, dando visão do hall silencioso, assim como o corredor igualmente quieto. A secretária não estava ali, fazendo-o pressupor que tivesse ido ao banheiro ou, quem sabe, buscar um pouco de café (sempre a via com um copo da cafeteria na mão).

No entanto, embora o silêncio se sobrepusesse, conseguiu ouvir um burburinho disforme vindo da única sala do corredor esquerdo, seguido por um som uníssono de risadas.

Intrigado, ele caminhou devagar até uma das janelas de vidro transparente que possibilitava visualizar o interior da sala. A primeira coisa que viu foi Jungkook, de costas para si, sentado em uma das cadeiras giratórias, conversando animado com Kim WooSung, um dos funcionários da equipe administrativa. O homem estava encostado em uma mesa, de frente para Jungkook, com as mãos apoiadas ao lado do quadril, sorrindo de modo a deixar todos os dentes estupidamente brancos à vista. Qual fosse o assunto, ambos pareciam muito engajados nos comentários que recebiam e refutavam.

Jimin suspirou, sem saber por que suspirava, antes de dar as costas e sair de fininho, sem ser notado. Não se importou com o fato de que ainda carregava um amontado de papel nos braços quando passou pela sua sala e envolveu com a mão a maçaneta da porta ao lado. A despeito da placa de bronze reluzindo diante de seus olhos, na qual estavam gravados os dizeres "Diretor de Operações", adentrou o escritório sem anunciar sua chegada.

Assim que fechou a porta atrás de si, encostou a cabeça na madeira e exalou outro suspiro sonoro.

Quem é? — A voz conhecida adentrou seus ouvidos, mas ele não se incomodou em abrir os olhos. — Ah, Jimin, pode entrar! — ouviu o farfalhar de papéis e elevou as pálpebras, deparando-se com as covinhas ladeando o sorriso fechado do seu amigo, que ajeitou os óculos na ponte do nariz antes de apoiar o queixo nas mãos cruzadas. — A que devo o incômodo, querido?

— Ele vai me enlouquecer.

— Acredito que todos nós sejamos um pouco loucos, e quem ainda não é, certamente será, pois motivos não faltam todos os dias — argumentou, arrancando um bufar de Jimin, que finalmente se afastou da porta e jogou-se em uma das poltronas em frente à mesa de Kim Namjoon. — Então, eu agradeceria se pudesse ser mais específico. Qual é o problema?

— Jeon Jungkook é o meu problema — respondeu, afrouxando a gravata que apertava-lhe o pescoço. Por alguma razão, sentia-se repentinamente sufocado.

— Ah, sim. Prossiga.

— Esse garoto não sai da minha cabeça, Namjoon! — Esbravejou, assistindo o momento em que um sorriso malicioso esticou os lábios do outro. Tratou logo de ordenar: — Tira esse sorrisinho do rosto, não tem graça.

— Mas eu esperei tanto por esse momento!

— Eu juro que, se você disser que eu estou apaixonado, irei te ignorar pelas próximas quatro semanas — avisou, cerrando as pálpebras para fortalecer a ameaça. — Isso inclui te bloquear em todas as redes sociais.

— Eu sei o seu endereço, lembra? — Arqueou as sobrancelhas, irônico. — E por que tanto ódio, Jimin-ah? O dia acabou de começar!

Ele estava claramente brincando com a paciência do amigo.

— Sério, Namjoon... — murmurou entre dentes.

— Tá, tá, não irei te desgastar mais do que já está desgastado — cedeu, displicente. — Sabe que eu jamais diria que você está apaixonado...

— Ótimo.

— Mas que o filho do chefe está mexendo com você é um fato que não dá pra negar — completou, recebendo um olhar mortal em sua direção. Ergueu as mãos em rendição ao relembrar: — Foi você quem invadiu minha sala e citou o nome do dito cujo antes mesmo de me desejar um bom dia. Achei que quisesse falar sobre o assunto.

— Não sei se querer é uma boa palavra para o que estou sentindo. Está mais para uma necessidade de desabafo.

— Tudo bem, vá em frente — instigou, abrindo os braços. — Está aberta a sessão de terapia de Kim Namjoon.

— Para um COO, você está muito engraçadinho — observou, começando a analisar as feições e comportamento do homem em sua frente. Com um sorriso oblíquo, indagou: — Transou ontem?

— Quem me dera — lamentou, e Jimin suspendeu as sobrancelhas em inquérito. — Visitei o Epiphany hoje.

— Ah... Agora tudo faz sentido — assentiu, compreendendo. — Presumo que ser xingado por Kim Seokjin seja um dos seus fetiches favoritos.

— Podemos dizer que sim — concordou, sorrindo descaradamente.

Jimin exalou um riso soprado.

— Às vezes você é um cretino, sabia?

— Não estou fazendo nada além do meu trabalho — alegou, despreocupado.

Importunar o dono de uma das redes de restaurantes rival do House's definitivamente não se encaixava como tarefa profissional do Diretor de Operações, mas funcionava como evento canônico toda vez que Kim Namjoon resolvia dar as caras na filial de frente para onde Kim Seokjin trabalhava.

Dizer que Seokjin o odiava seria eufemismo. O homem poderia matá-lo só com o olhar. E não teria como ser diferente, já que, sempre que se dirigia a ele, Namjoon não podava os comentários negativos sobre o seu restaurante e a qualidade dos pratos servidos. E então Seokjin revidava com os argumentos mais passivo-agressivos que um ser humano é capaz de articular, dando abertura a mais uma saturada discussão hostil.

Eram como uma linha tensa prestes a arrebentar, e, secretamente, Namjoon adorava isso.

— Volto a dizer: você é um cretino — repetiu Jimin.

— Talvez eu seja — deu de ombros. — Mas não estamos aqui para falar do meu possível desvio de caráter. Me conte mais sobre Jeon Jungkook.

O líder de setor suspirou pela milésima vez ao deitar a cabeça no punho fechado, enquanto o cotovelo se apoiava no braço da poltrona.

— Na última vez que saímos, eu o levei em casa, porque ele parecia bêbado demais para voltar sozinho — narrou, revivendo os fatos em sua mente. Não era a primeira vez que o fazia, tampouco acreditava que seria a última.

— Você já me contou sobre isso.

— Sim, mas ocultei o momento em que, antes de descer do carro, ele me deu um beijo. Na bochecha.

— Ele fez o quê?!

— Me beijou e saiu — reiterou, exprimindo uma risada anasalada. — Dá pra acreditar?

— Pior que dá, sim — anuiu, convicto. — Eu não esperava menos de um Jeon.

— Nunca pensei que teria que lidar com dois da mesma linhagem. Um já costumava ser difícil o suficiente.

— Eu que o diga — suspirou resignado, estalando a língua no céu da boca. Encarando o amigo outra vez, inquiriu: — Aconteceu mais alguma coisa para o mini Jeon ter alugado um triplex na sua cabeça, ou podemos seguir às considerações finais?

— Nós tivemos um momento... estranho, na segunda-feira. Ele chegou na sala de administração completamente afobado. Eu o chamei duas vezes, mas era como se ele nem tivesse percebido que eu estava ali — contou. — Eu não perguntei o que tinha acontecido, porque sabia que não adiantaria, então só tentei ajudá-lo a sair daquele estado de nervosismo. No fim, ele me agradeceu. Sem beijos, dessa vez. Apenas... Um agradecimento comum.

— E você não consegue parar de pensar nele depois de vê-lo num momento de fragilidade? — Supôs Namjoon, atraindo o olhar alheio, antes disperso, para si.

Jimin assentiu.

— É, acho que é por aí.

Omitiu o fato de que, junto com aquela circunstância específica, também vinham todos os outros momentos em que estiveram juntos desde a primeira noite na boate. Bastava um ínfimo gatilho e Jeon Jungkook ocupava cada um dos seus neurônios funcionais. O sorriso infame, os trejeitos charmosos, o olhar cativante, a maneira como sentou em seu colo e sussurrou em seu ouvido... Tudo o levava de volta ao filho do seu chefe.

— Isso pode significar muitas coisas, Ji — Namjoon elaborou, mais sério. — Talvez você tenha se visto nele e isso ativou algum instinto protetor temporário, mas também existe a possibilidade de ser algo maior e mais significativo. Independente do que for, gostaria de te pedir uma coisa.

— O quê?

— Se permita sentir — disse, encarando-o nos olhos. — Sei que você é racional demais, o que te impede de se deixar levar na maioria das vezes, mas, pelo menos uma vez na vida, deixe seu emocional falar e escute o que ele está dizendo. Pode ser?

— Essa não parece a situação mais promissora para isso, Joonie — riu, preocupado.

Tinha completa consciência de seu ceticismo, e também de como pensar em demasiado o prejudicava, mas será que a conjectura com Jungkook era o melhor cenário para tentar combater sua lucidez exagerada?

— Nossas maiores aventuras vêm de circunstâncias aparentemente inoportunas — Namjoon falou, como se lesse os pensamentos hesitantes do líder de setor. — Tudo o que é desconhecido causa medo, então costumamos acreditar que o novo será uma completa catástrofe. Às vezes é, às vezes não. Mas uma coisa é certa: não adianta tentar adivinhar os resultados. Você só vai descobrir se tentar.

Um minuto de profundo silêncio se prolongou enquanto Jimin refletia sobre o que ouviu. No fim, a primeira coisa que disse foi:

— Você até que se daria bem como terapeuta.

Namjoon riu, balançando a cabeça para os lados e inclinando-se para relaxar as costas contra o estofado da cadeira de espaldar alto.

— Não tenho tanta certeza. De qualquer forma, espero que minhas palavras tenham surtido algum efeito em você. Não como psicólogo, mas como amigo.

— Com certeza surtiu. Agora você é vizinho do Jungkook na minha cabeça — brincou, levando ambos a rirem em sintonia.

Embora tenha dito para descontrair, quando deixou o escritório do COO e voltou para o seu, o conselho de Namjoon de fato ainda repercutia em sua mente.

"Se permita sentir."

Era a segunda pessoa que o pedia algo parecido em um curto intervalo de tempo. Diante de tanta insistência, começou a refletir se deveria se arriscar ou não, mas deixou para decidir mais tarde. O trabalho e os mil papéis em sua mesa não poderiam esperar, afinal.

☽☾

O sol já se punha no horizonte quando Jimin enfim pôde esticar os braços e se espreguiçar, exausto após mais um dia de trabalho. Organizou a mesa e apagou as luzes antes de sair do escritório, trancando a porta atrás de si. Conforme ajeitava a alça da bolsa no ombro, deu três passos e parou diante da sala ao lado. Dessa vez, teve o cuidado de dar duas batidas na madeira lisa, aguardando a permissão para sua entrada. Tão logo a ouviu, vindo abafada do lado de dentro, abriu a porta apenas o suficiente para ter visão do amigo sentado atrás da mesa.

— Estou indo para casa — anunciou, ainda segurando a maçaneta. Encarou o semblante abatido de Namjoon por dez segundos antes de concluir: — Pela sua cara, imagino que hoje seja dia de hora extra.

De novo — murmurou a contragosto. A lente dos óculos de grau refletiam a iluminação intensa do monitor diante de si, Jimin só pôde ver seus olhos com nitidez quando ele ergueu o queixo para olhá-lo. — Aproveite essa doce noite de quarta-feira por mim, Ji.

— Pode deixar. Vou dormir por nós dois até o sol raiar — prestou continência, exalando um riso descontraído que atraiu uma risada soprada do amigo. Em tom caloroso, desejou: — Boa sorte, Joonie.

Os dois trocaram um último cumprimento e Jimin tornou a fechar a porta. A secretária já havia ido embora, por isso passou direto pela mesa de recepção do andar e pressionou o botão de chamada do elevador. Assim que este chegou, ele entrou e apertou a tecla referente ao subsolo. As portas automáticas estavam prestes a fechar quando um grito veio de fora.

— Espera! — Em reflexo, Jimin colocou a mão no momento em que a porta fechava. Com a interrupção súbita, a entrada voltou a ser liberada, e ele viu o alívio estampado no rosto de Jungkook quando o garoto adentrou o ascensor. — Obrigado.

Ao invés de responder, o líder de setor acenou com a cabeça, e assim o silêncio os envolveu num aperto claustrofóbico entre o espaço reduzido. Não eram estranhos um para o outro, definitivamente não; entretanto, por mais que convivessem todos os dias, ainda encontravam-se dançando na linha tênue entre o conhecido e o íntimo.

Jimin sabia que o melhor a fazer era deixar como estava: ele de um lado, Jungkook do outro. No entanto, como vinha acontecendo de maneira recorrente, alguma coisa em si falou mais alto e, quando o painel digital do elevador indicava o décimo andar, ele indagou:

— Você está melhor? — Virou-se para encarar o garoto. — Do episódio de segunda-feira.

Desde o fatídico dia, não haviam tido brecha para falar sobre o ocorrido. Jimin estava sempre atarefado, entrando e saindo do prédio para resolver as questões burocráticas da nova filial, além de ter que lidar com os serviços referentes às antigas. O pouco tempo livre que tinha entre uma tarefa e outra usava para verificar se Jungkook precisava de ajuda em alguma questão da área administrativa — por sorte, Woosung era bastante prestativo e o ajudava sempre que o líder de setor não podia.

— Estou, sim — afirmou, abrindo um sorriso curto. — Obrigado de novo, aliás. Por ter me ajudado a lidar com... Enfim, com o que aconteceu.

— Não foi nada.

Mais um instante de silêncio. Estavam agora passando pelo 8º andar.

— Como você sabia o que fazer? — Jungkook resolveu perguntar, tanto para preencher o vazio de sons quanto por genuína curiosidade. Os dedos ocupavam-se em mexer distraidamente nas miçangas pretas da pulseira que envolvia o seu pulso esquerdo.

— Precisei lidar com esse tipo de crise por muito tempo, quando era mais novo — deu de ombros, desejando que fosse o bastante para encerrar o assunto por ali.

Não cultivava pessoal apreço por falar dos momentos obscuros de sua juventude. Era como reviver tudo outra vez, a mesma angústia interna que, para ser honesto, ele não sabia se havia sido curada por completo. Preferia evitar aquela parte específica de sua trajetória, não por covardia, mas porque fingir que não existe era mais fácil — e menos letal — do que encarar de frente.

Jungkook deve ter percebido o tom lacônico dele, pois não insistiu. Desceram o restante dos patamares em companhia quieta, até a saída para o estacionamento ser liberada.

— Bom, eu já vou indo — Jimin disse, inclinando-se num cumprimento gentil ao acrescentar: — Boa noite, Jeon.

Ele não chegou a dar nem dois passos à frente quando escutou o outro perguntar:

— Posso ir com você?

Sem cerimônia ou qualquer contexto prévio. Apenas a dúvida jogada ao vento, a extensão das palavras se perdendo na amplitude silenciosa do ambiente. O líder de setor girou sobre os calcanhares, encontrando a figura de Jungkook parada poucos passos atrás, com uma mão enterrada no bolso frontal da calça social enquanto a outra apertava a alça da mochila.

A iluminação estava restrita às luzes artificiais do teto, mas, ainda assim, era impossível negar o quão bonito e atraente o garoto era. O pior: ele não precisava fazer nada além de existir para ser. Jungkook nitidamente dedicava atenção à própria aparência, mas Jimin sabia que, mesmo se não o fizesse, continuaria sendo uma afronta viva.

— Por que deveria? — Jimin replicou, ao fim de sua contemplação acerca da beleza alheia.

— Precisei vir com o meu pai hoje, mas ele foi embora mais cedo — explicou, dando um passo à frente. — Em resumo, estou sem carona para voltar para casa.

— Woosung não poderia te levar? — Cruzou os braços, e, pela maneira como o herdeiro franziu a testa, ele não havia entendido por qual razão o nome do rapaz adentrou a conversa tão de repente.

Nem Jimin saberia explicar como aquele foi o primeiro argumento que lhe veio à cabeça, dentre os diversos outros que poderia ter usado.

O cansaço devia estar embaralhando seus sentidos.

— Bom... — exalou uma risadinha nasalada. — Não temos intimidade o suficiente para eu pedir que ele me leve em casa.

— Tenho certeza que ele não negaria.

— E, de qualquer forma — continuou, ignorando o comentário do outro —, você já sabe onde eu moro. Muito mais prático, não acha?

— É claro que é — desdenhou, olhando-o desconfiado.

Tinha alguma coisa na postura relaxada de Jungkook que não o convencia de que aquilo era mera coincidência. Poderia tecer questionamento atrás de questionamento que talvez o levassem à verdade oculta, mas, no momento, só queria ir para casa.

Por tal razão, deixou o seu ceticismo de lado e decidiu:

— Vamos.

Um sorriso oblíquo e capcioso esticou o canto dos lábios do herdeiro, que não hesitou em segui-lo até o carro estacionado na zona H. Adentraram o automóvel em sincronia: Jimin pelo lado do motorista, Jungkook pelo lado do passageiro.

— Coloque o cinto e fale a menor quantidade de palavras que conseguir — o líder de setor pediu. Ao contrário das palavras de fundo ácido, seu timbre era ironicamente gentil.

— Sim, senhor — consentiu, achando graça do comportamento defensivo de Jimin.

Entretanto, assim que estavam na avenida, já fora do subsolo, ele não demorou a quebrar o pacto para perguntar:

— Posso colocar uma música? Já que não posso falar, escutar alguma coisa seria legal para quebrar o clima.

— Vocês jovens não sabem viver em sossego?

— Você fala como se fosse um ancião — sorriu irônico, enquanto ligava o aparelho de rádio para conectá-lo ao bluetooth do celular.

— É inevitável depois de um tempo — suspirou, girando o volante para a esquerda ao entrar em outra rua. Felizmente, o trânsito não estava carregado.

— De qualquer forma, eu estou nos salvando do monstro do constrangimento — argumentou o garoto. — Acho que você deveria me agradecer.

Ele não chegou a dar voz à permissão, mas, como também não negou, Jungkook entendeu como um consentimento taciturno e vasculhou sua playlist em busca de uma música adequada. Logo as batidas iniciais de "Company", do Justin Bieber, ressoaram pelos amplificadores de som.

Jimin deu uma risada baixinha.

— O que foi? — Jungkook inquiriu.

— Não acredito que você é fã do Justin Bieber — Balançou a cabeça em negação

— Eu não me definiria como , mas as músicas antigas dele são muito boas — defendeu-se. De pálpebras cerradas, prosseguiu: — Vai dizer que não escuta "Baby" em segredo?

Nah. Prefiro "One Time".

A confissão fez Jungkook explodir numa gargalhada, e o som de sua risada contagiou o sorriso suave que nasceu nos lábios grossos de Jimin. Quando a primeira música chegou ao fim, o herdeiro nem precisou pensar para escolher a próxima. A voz jovial do cantor reverberou entre eles no momento em que "One Time" começou a tocar.

O líder de setor riu de novo, mordendo o lábio numa falha tentativa de conter o impulso.

Your world is my world, and my fight is your fight, my breath is your breath, when you're hurt, I'm not right — cantou Jungkook, alternando entre apontar para Jimin e para ele durante a performance expressiva.

A condição sobre "falar o menor número de palavras possível" estava definitivamente infringida, mas, ao contrário do esperado, Jimin não se incomodou. Ouviu sem reclamar Jungkook cantar a letra até o fim, e, quando se deu conta, já estavam em frente à mansão dos Jeon.

— Está entregue, belieber — brincou ao desligar o motor.

— Você saber o nome dos fãs dele é muito suspeito — disse numa entonação acusativa, sentando-se de lado para encará-lo.

— Minhas amigas do ensino médio eram obcecadas por ele, pelo menos o mínimo eu fui obrigado a aprender — justificou, dando de ombros.

— Sei... — murmurou, descrente. Ao invés de estender a discussão, ele pendurou a mochila no ombro e desceu do carro. Fechou a porta em seguida, apoiando-se no vão da janela para dizer: — Obrigado pela carona, Jimin-ssi. Espero que tenhamos mais oportunidades de conhecer o gosto musical um do outro. E outros gostos também, se não for abusar muito da sua gentileza. Particularmente falando, eu estou doido pra descobrir se sua boca é tão macia quanto a sua bochecha.

Deu uma piscadela atrevida antes de se afastar e atravessar correndo a rua. O portão de segurança abriu e ele entrou, transformando-se numa silhueta escura conforme seguia pelo jardim da casa.

Enquanto o acompanhava com os olhos, Jimin balançou a cabeça para os lados, exalando um riso incrédulo. Passou as mãos pelo rosto, subindo-as para puxar os cabelos.

— Ele vai me enlouquecer. Eu juro que vai — suspirou, ligeiramente consternado, antes de dar partida no carro e sair dali.

Devido ao trânsito livre, demorou pouco mais de 10 minutos para chegar no bairro em que morava. Depois de deixar o automóvel no estacionamento do prédio residencial, subiu até o 7º andar. Digitou a senha no painel de segurança da porta 706 e, quando ouviu o clique da tranca sendo aberta, entrou no apartamento silencioso.

Uma vez parado no centro da sua sala de estar, pôde, enfim, respirar fundo.

Ainda sentia o corpo um pouco trêmulo, o coração disparado dentro do peito, ambas as reações convergindo para compor a sinfonia perturbadora de uma ansiedade nascendo.

Não, não era ansiedade.

Só estava nervoso. E a culpa era de Jeon Jungkook.

Era impressionante como a menor das ações daquele garoto bastava para deixá-lo à beira do colapso. A pior parte era que a sensação não se comportava como bombástica logo de cara. Vinha devagar, embrenhando-se sorrateira, tomando cada fibra de seu ser até estabilizar-se por completo, como um sistema à parte.

Jimin não queria pensar no assunto. Talvez precisasse enfrentá-lo em algum momento, mas podia jogar essa responsabilidade para o seu eu do futuro. Lidaria com as consequências depois, já que, de qualquer forma, não conseguiria chegar a nenhuma conclusão no atual presente.

Fatigado, ele deixou a bolsa de couro sobre o sofá e caminhou até o único quarto do apartamento enquanto afrouxava a gravata ao redor do pescoço. Jogou-a na cama de qualquer jeito, e não se preocupou em acender a luz quando puxou a gaveta da mesa de cabeceira e tirou de lá uma caixa aberta de Marlboro, junto com o isqueiro de alumínio. Voltou para a sala logo depois, indo em direção às portas de vidro que davam abertura para a sacada ao ar livre.

Tirou um dos refis da embalagem e levou aos lábios, prendendo-o entre os dentes enquanto acendia a ponta do fumo. Usou uma mão para proteger o fogo da ventania gélida e, quando o cigarro enfim acendeu, tragou com força.

Não costumava fumar com frequência. Depois que provou pela primeira vez, Jimin não transformou o hábito em vício. Só se rendia à proposta cancerígena quando sentia urgência em relaxar e, bem, aquela definitivamente era uma das esporádicas ocorrências.

Sendo sincero, detestava pensar que usava aquele recurso como válvula de escape. Embora não fosse um evento constante, existia alguma melancolia inerente em ter o estresse e o cansaço esvaindo de si através da fumaça esbranquiçada malcheirosa que expelia pela boca.

Era superficial. Efêmero. Não durava muito mais que uma hora.

Mas foi a maneira que encontrou, anos atrás, de controlar a angústia que vinha tarde da noite, atormentando-o com pensamentos autodestrutivos. E, mesmo que essa não fosse a forma mais saudável de lidar com qualquer sentimento, ainda funcionava.

Então, Jimin ficou ali. Com os braços apoiados na amurada, contemplando o céu noturno como sua companhia particular enquanto o tabaco se reduzia às cinzas a cada tragada profunda.

Como esperado, o nervosismo se esvaiu. Mas as estrelas brilhando em meio ao azul escuro lembravam de um par de olhos específico, e ele logo percebeu que a imagem de Jungkook persistia nítida em sua mente.

Não importava o que fizesse, Jungkook continuaria ali: perseguindo-o como um sonho bom demais para ser verdade, mas inquietante demais para ser fruto de uma mera alucinação.

☽☾

O final de semana chegou rápido — para a alegria de todos os proletários, o que, por bem ou por mal, incluía Park Jimin.

Sexta-feira era seu dia preferido. Não havia euforia e alívio maior do que sair do trabalho e chegar em casa com a consciência de que não precisaria apressar seus afazeres da noite, tampouco acordar cedo no dia seguinte.

Não o entenda mal; Jimin gostava da profissão que exercia e era grato por ter um emprego estável que o permitia se sustentar bem. Por outro lado, também era humano — a despeito de passar bastante tempo, durante suas súbitas crises de identidade, desejando ser um simples felino — e, como qualquer um, ansiava por descanso depois de cinco dias seguidos vivendo a mesma rotina ininterrupta.

Eram nove e meia da noite quando ele resolveu sair para comprar algo para comer. Deveria se aconchegar entre os cobertores da sua cama quentinha e aproveitar as horas livres que poderia usar descansando, mas, ao contrário das expectativas, não se sentia sonolento.

Em vez de sucumbir à insônia, inferiu que sair para caminhar ajudaria a espairecer os pensamentos insistentes que rondavam sua cabeça — a maioria deles envolvendo o filho primogênito de Jeon Daeshim, que também era seu chefe, valia lembrar. Conviver com Jungkook dia após dia certamente não ajudava na tarefa de mantê-lo distante, mas não tinha como nem para onde fugir. Era sua sina.

Ele acreditava fielmente que se exercitar ajudaria a aliviar a tensão acumulada ao longo da semana, mas quando virou a esquina de uma das ruas e se aproximou da loja de conveniência que tinha como ponto de chegada, as coisas tomaram um rumo diferente do planejado.

Ah, pobre Jimin... O universo era para ele como um organizador do stand-up que o forçava a ser a atração principal.

Mesmo sob a iluminação precária dos postes, ele reconheceria a curva daquela cintura em qualquer lugar.

— Cara, pelo amor de Deus, me deixa em paz! — Ouviu Jungkook bradar para o homem que o segurava pelo braço. — Já disse que aquilo não passou de uma apresentação. Você é tão estúpido assim para não conseguir separar arte e realidade?!

— Olha, gracinha, se você colaborar, nós podemos sair daqui e...

— Eu não quero ir a lugar nenhum com você, porra! — exclamou, puxando o braço para fora do aperto indesejado.

O homem, que Jimin demorou dois minutos para reconhecer como o mesmo em quem Jungkook fez o lap dance na última vez em que foram ao Utopia, enfureceu-se.

— Você é mesmo uma putinha teimosa do caralho, hm? Ou está se fazendo de difícil pra me provocar? — murmurou, avançando para cima do herdeiro, novamente imobilizando seus pulsos.

Jimin entrou em alerta. Apressou os passos, prestes a interferir no que quer que fosse aquilo, mas, antes que pudesse fazer alguma coisa, algo inesperado aconteceu.

Foi tudo muito rápido; ele mal conseguiu acompanhar aqueles dez segundos decisivos. Em um momento, o homem tentava prender Jungkook à força; no outro, ouviu-se o baque do marmanjo caído no chão, com os braços presos atrás das costas e o rosto pressionado contra o asfalto.

— Você é louco, porra?! — Esbravejou.

— Caso não tenha percebido, gracinha, eu sou um homem muito bem instruído e faixa preta em taekwondo. Sei que sou gostoso pra caralho, mas tenho uma triste notícia pra te dar: você não vai me comer — sussurrou contra a orelha dele, soltando um riso de escárnio em seguida, que logo se transformou em um tom de voz ameaçador: — Agora saia daqui antes que eu quebre todos esses seus dentes podres e faça da sua vida um tormento até você voltar para o inferno de onde saiu.

Jungkook soltou os pulsos alheios e se ergueu, inabalado. O desconhecido arregalou os olhos e o encarou uma última vez antes de se levantar e sair dali às pressas, afugentando-se pela escuridão.

O garoto suspirou e balançou a cabeça em negação, frustrado com a desenvoltura covarde do outro. Era exigir demais da sua bondade ter que se estressar por um babaca como aquele numa sexta-feira à noite.

Ao desviar o olhar da rua pela qual o marmanjo havia fugido, ele enfim percebeu que não estava sozinho; Jimin estava a poucos metros de distância, com as mãos enterradas nos bolsos frontais da calça de moletom cinza, encarando-o em um silêncio reflexivo. Seu rosto era impassível, mas, por dentro, o líder de setor encontrava-se bastante... Impressionado.

— Hyung! Eu não tinha te visto aí — Jungkook sorriu, tão sereno e diferente do comportamento de outrora que era difícil acreditar que ambas as personas faziam parte da mesma pessoa.

— Cheguei há pouco tempo — esclareceu, ainda um pouco estático quanto ao que presenciou. Apontando com o queixo para a rua agora vazia, indagou: — Quem era aquele?

— Só mais um imbecil que nos deu o desprazer de sua existência. — Deu de ombros, aproximando-se. Só então o líder de setor notou a mochila que ele carregava; era a mesma que levava para a empresa diariamente. — O que está fazendo aqui a essa hora?

— Posso te perguntar a mesma coisa. — Cruzou os braços, desviando o olhar da mochila para o rosto de Jungkook, que imediatamente entendeu sua dúvida.

— Estou voltando da faculdade — explicou, abrindo um sorrisinho irônico ao ver o vinco suave entre as sobrancelhas de Jimin. — Te choca saber que nem só do ócio vive o filho do patrão, senhor?

— Eu não falei nada — defendeu-se, mantendo intacta a pose imperturbável.

— Não precisou. Seu rosto fala mais do que você imagina — disse, antes de desviar o olhar para a fachada da loja de conveniência. Na porta, jazia pendurada uma placa verde com os dizeres "open". Voltou a encarar Jimin. — E então, não vai me dizer o que te trouxe até aqui?

— Estava sem sono, resolvi comprar algo para comer.

— É mesmo? — Arqueou as sobrancelhas, estupefato pela coincidência. — Eu pretendia ir ao Utopia depois de comprar um chiclete de melancia, mas...

— Parou aqui só pra comprar um chiclete de melancia? — Imitou o gesto do garoto ao erguer o sobrecenho, desconfiado. Entretanto, quando viu Jungkook anuir em confirmação, como se aquele fosse um motivo completamente plausível para estar numa loja quase às onze da noite, exalou um riso genuíno.

— O que foi? — perguntou o herdeiro..

— Nada — negou com a cabeça. — É só que você é imprevisível.

— Isso é bom, não acha? — sorriu insinuante. — Significa que você nunca vai ficar entediado na minha presença.

Jimin o encarou em silêncio por um minuto inteiro, refletindo sobre o que via e o que podia interpretar do que via. Por algum motivo, sentia uma estranha vontade de desvendar as nuances de Jungkook toda vez que o encontrava.

— É, acho que sim — foi o que respondeu, por fim.

Jungkook não se abalou pelo olhar penetrante; pelo contrário, fez questão de manter o contato sem vacilar. Sempre se colocavam naquela posição de contemplação mútua: de um lado, um homem com extensa bagagem nas costas e uma curiosidade renovada acerca do que não sentia desde que era garoto; do outro, um garoto que também já era homem, carregando em todos os trejeitos a ambição por descobrir cada sensação que o mundo poderia lhe fornecer.

Eram opostos no mesmo ponto em que se convergiam.

— Como eu estava dizendo — Jungkook retomou, algum tempo depois. — Eu iria ao Utopia depois, mas, já que estamos aqui... Quer comer lámen comigo, Jimin-ssi?

Jimin não pôde evitar rir pela elaboração dúbia do convite. O sorriso descarado nos lábios finos deixava explícito que foi proposital.

— Esse é o seu jeito de tentar me conquistar? — Indagou, cínico.

— No momento, esse é o meu jeito de matar a fome que estou sentindo — foi sincero. Entretanto, não demorou a acrescentar: — E estou usando o pretexto para passar um tempo com você, também. Sendo assim, você tem duas opções de resposta.

— Quais?

Yes or yes?¹ — Murmurou, inclinando a cabeça para o lado.

Jimin exprimiu outra risada, virando-se para caminhar em direção à loja de conveniência.

— Então, além de belieber, você também é fã do Twice? — comentou, empurrando a porta e segurando-a aberta para o garoto passar. Uma vez que ambos estavam dentro do estabelecimento, tornou a fechá-la.

— Todo mundo é um pouco fã de Twice — justificou, entrando em um dos corredores abastecidos de mantimentos.

— Acho que você tem razão.

— Eu sempre tenho — piscou, convencido.

Os dois perambularam juntos pela loja, buscando pela melhor opção de refeição industrializada. Cerca de dez minutos depois, Jimin escolheu a dupla básica que consistia num pote de lámen e uma garrafa de soju, assim como fez Jungkook (com o acréscimo, é claro, do chiclete de melancia). Passaram os produtos pelo caixa e, já com tudo pago, sentaram-se na bancada que havia dentro do estabelecimento, a qual dava vista para a rua deserta do lado de fora.

— Esse é, definitivamente, o melhor encontro que já tive — o herdeiro falou, acomodando-se na banqueta alta.

— Não estamos em um encontro — Jimin sentou-se ao lado dele.

— Então esse é o melhor não-encontro que eu já tive — corrigiu-se.

O líder de setor revirou os olhos, mas não se preocupou em contestar. Em silêncio, eles colocaram água quente no lámen e abriram as bebidas. Depois que o macarrão cozinhou, começaram a degustar da iguaria que nenhum restaurante cinco estrelas seria capaz de servir.

— O que acha de jogarmos um jogo? — Jungkook propôs, terminando de mastigar a massa dentro da boca.

— Que tipo de jogo?

— Perguntas e respostas — esclareceu. — Eu te faço uma pergunta, você responde. E vice-versa. Se não quiser responder em alguma das rodadas, bebe uma dose de soju.

— Você ainda não desistiu de tentar me conhecer, não é? — Encarou-o.

— Eu posso ser bastante insistente quando quero, senhor.

Mais um instante de silêncio se prolongou, durante o qual o líder de setor refletiu sobre os prós e contras de se deixar levar. O que tinha a perder, afinal? Muita coisa, definitivamente, mas poderia deixar as preocupações para o futuro.

Responder a algumas curiosidades sobre si não deveria condená-lo a um destino drástico.

— O que quer saber? — Perguntou, enfim.

— Park Jimin, trinta anos, gerente administrativo da House's, um dos melhores funcionários de Jeon Daeshim... — Jungkook contabilizou nos dedos, relembrando o que sabia sobre o homem ao seu lado. Pensou um pouco, e uma dúvida pertinente lhe veio à cabeça: — Você nasceu em Seul?

— Não — respondeu, limpando o canto da boca com um guardanapo de papel. — Meus pais são de Busan. Eu nasci e cresci lá.

— Por que decidiu vir para cá?

— Uma pergunta por vez, Jeon — sorriu, curto e cínico.

O herdeiro suspirou, descontente, mas não o contrariou:

— Justo.

— Seu pai sabe que você dança em uma boate? — Indagou sem hesitar. Seu tom não revelava nada além de curiosidade legítima.

— A pergunta certa é o que meu pai sabe sobre mim — soprou um riso sem humor, usando os hashis para mexer o lámen dentro do pote. — Não, ele não sabe. Nem imagino qual seria a reação dele, se soubesse.

Jimin assentiu, sem insistir em mais detalhes. Sua chance já havia passado, de qualquer forma.

— O que quis dizer quando disse que você não é para mim? — Jungkook o olhou com atenção.

O homem passou a língua pelo lábio, criando um espaço de suspense antes da resposta finalmente encontrar caminho para fora:

— Já falei, você é filho do meu chefe — Encarou-o de volta. — Além disso, eu devo ser pelo menos uns dez anos mais velho que você.

— Nove. Tenho vinte e um, faço vinte e dois esse ano — corrigiu. Com o cenho franzido, prosseguiu: — E o que isso tem a ver? Eu sou maior de idade, você se envolver comigo não te faria nenhum pedófilo esquisito.

— Ainda assim...

— Sendo bem honesto, o fato de você ser mais experiente me dá um tesão inexplicável — continuou, sem qualquer pingo de vergonha na cara.

A revelação imprópria, dita em voz alta, pegou Jimin tão desprevenido que ele foi incapaz de conter a sessão de tosse que veio a seguir. Olhou de um lado para o outro, ainda engasgado, para ter a certeza de que ninguém ouvia a conversa deles.

Só sossegou ao ver a garota do caixa, a única ali além dos dois, compenetrada em algo que assistia na tela do próprio celular e distante demais para escutar qualquer coisa.

— Você precisa parar de falar essas coisas em público — repreendeu, encarando a faceta tranquila, quase zombeteira, de Jungkook.

— Está me dando permissão para falar baixaria quando estivermos a sós, senhor? — Arqueou as sobrancelhas.

Ao invés de respondê-lo, Jimin soltou uma risada incrédula, passando a mão pelos cabelos pretos. Apoiou o cotovelo na bancada, o corpo virado em direção ao garoto quando resolveu indagar:

— Por que você se interessou por mim?

— Essa já é a sua pergunta? — Quis saber, referindo-se ao jogo, e, diante do silêncio que recebeu, supôs que sim. — Por que eu não me interessaria por você, Jimin?

— Não sei — balançou os ombros. — Mas você frequenta a universidade e está naquela boate todo final de semana. O homem em quem dançou veio atrás de você, claramente muito interessado em ter mais do que experimentou, então acho pertinente querer saber... Por que eu?

— Se eu disser que não sei a resposta...

— Vai ter que beber — replicou, cético. — É a regra, não é?

Jungkook não respondeu. Ao contrário, olhou nos olhos dele enquanto levava o bico da garrafa até a boca e sorvia o conteúdo. O baque oco do vidro sendo apoiado na bancada repercutiu entre eles.

— É isso? — Jimin indagou, recebendo um aceno positivo de volta. — Tudo bem, então.

Ele se levantou para jogar no lixo o pote vazio e os hashis usados. Terminou de beber o que restava da própria bebida e também descartou a garrafa na lixeira indicada. Atrás de si, Jungkook seguiu a mesma ordem de ações, mas Jimin não o esperou para sair do estabelecimento.

— Ei! — Ouviu o chamado junto ao sino acima da porta, anunciando a segunda saída consecutiva. Não se virou, mas foi obrigado a parar de andar quando teve o pulso agarrado. — Você está bravo?

— Não.

— Tem certeza?

— Você não é obrigado a me contar nada, Jeon — elaborou, finalmente encarando-o de frente. — Não posso ficar bravo com você por causa disso.

Estava sendo sincero. Por mais que o frustrasse não ter resposta para uma questão que o perseguia dia e noite, não era lógico descontar sua frustração em outrem. Entretanto, já havia feito o que fora fazer ali; queria voltar para casa.

— Nos vemos segunda, ok? — disse ele. — Dirija com cuidado.

Prestes a se virar e seguir pelo caminho que veio, escutou a oferta que o impediu de ir de imediato:

— Eu posso te levar.

Jimin tornou a olhá-lo, dessa vez portando um sorriso gentil no canto dos lábios robustos.

— Eu moro a duas quadras daqui.

— Eu te levo até lá, depois vou embora — deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos do casaco que vestia.

O líder de setor ficou em silêncio por um momento, até que assentiu.

— Tudo bem.

Jungkook sorriu contido, indicando com a cabeça qual era seu carro. Jimin o seguiu e, com ambos dentro do automóvel, instruiu ao garoto o caminho que deveria seguir. Não levaram nem cinco minutos inteiros para chegarem ao destino final.

— Obrigado pela carona mais rápida que já ganhei na vida — Jimin brincou, numa tentativa de descontrair o clima. Funcionou, pois logo escutou a risada baixa de Jungkook.

— Agora eu sei onde você mora. Acho que saí ganhando.

— Eu deveria chamar a polícia? — Arqueou as sobrancelhas, sem qualquer seriedade na expressão.

— Só se prometer me visitar na cadeia.

A condição fez Jimin rir, jogando a cabeça contra o apoio do banco.

— Você é impossível.

— Para você eu posso ser bem fácil, hyung — disse, com tanta sinceridade que beirava o cômico.

— Ok, deu minha hora — falou, abrindo a porta para sair e se livrar de outro possível flerte repentino. Do lado de fora, fitou Jungkook pelo vão aberto aberto da janela. — Volte em segurança, tudo bem? Você é inconveniente, mas merece viver alguns anos a mais.

O garoto riu baixinho.

— Pode deixar, Jimin-ssi. Você ainda vai precisar lidar com a minha inconveniência por muito tempo.

Eles trocaram um último cumprimento antes de Jimin se afastar e entrar no hall do prédio onde residia. Jungkook esperou até perdê-lo de vista, e só então seguiu caminho em direção à própria casa.

☽☾

As luzes ainda estavam acesas quando ele chegou — o que já premeditava mau agouro, visto que seu pai e madrasta costumavam dormir antes das onze da noite, e Yeji, por mais que às vezes persistisse acordada madrugada adentro, somente o fazia escondida na fortaleza do próprio quarto.

De alguma forma, enquanto caminhava pela trilha de pedras até a porta, Jungkook sabia que havia algo errado — um sentimento de urgência bem no fundo do peito, alertando-o quanto ao perigo iminente. E talvez ele devesse ter seguido sua intuição, pois a primeira coisa que viu, ao pisar dentro de casa, foi a figura altiva de Jeon Daeshim sentada no sofá cor de marfim.

O homem se levantou tão logo ouviu o barulho do painel digital da porta sendo desbloqueado. O semblante de poucos amigos enviou um aviso direto para o inconsciente de Jungkook, que sentiu um arrepio conhecido escalar sua espinha. Naquele momento, tudo o que havia acumulado de bom, estando na companhia de Jimin, se esvaiu por completo.

— Onde você estava? — A voz profunda reverberou num eco intimidador entre as paredes silenciosas.

Boa noite, pai — replicou com ironia, dando dois passos cautelosos à frente. — Como foi o seu dia? O meu foi ótimo, obrigado.

— Não venha com essa ladainha para cima de mim, Jungkook. — Cortou-o, rígido. — Me responda: onde você estava?

— Por que quer saber?

— Eu sou o seu pai, tenho o direito de saber onde meu filho anda se enfiando para chegar em casa de madrugada.

O herdeiro ergueu o braço, verificando as horas no smartwatch ao redor do pulso.

— Não é nem meia noite ainda. — Franziu o cenho ao constatar, entediado.

— Não importa! — Exaltou-se, o que fez Jungkook esquivar-se para trás por instinto. — Diga logo onde esteve até agora.

— Você nunca se preocupou em saber os lugares que frequento, tampouco se preocupa em verificar se eu dormi dentro ou fora de casa — argumentou, a cólera começando a criar raízes em seu âmago. — Por que esse interessado tão de repente?

— Porque essa não é a primeira vez que acontece este mês.

Um vinco de confusão se formou entre as sobrancelhas de Jungkook. Costumava mesmo chegar tarde em casa, tanto por causa da faculdade quanto por marcar presença no Utopia Club quase todo final de semana. Entretanto, nada daquilo era do conhecimento de seu pai — até agora, aparentemente.

— Como sabe disso? — Indagou, desconfiado. — Está me monitorando ou alguma merda do tipo?

Daeshim soprou um riso de escárnio.

— Eu tenho mais o que fazer pra ficar seguindo seu rastro pela cidade, moleque — embora a resposta não fugisse do esperado, Jungkook engoliu a seco a sensação ruim que alojou-se em sua garganta. Houve um instante de silêncio absoluto, até que o homem revelou: — Ontem, você não voltou comigo para casa, e Yeji contou ter te visto saindo de um carro desconhecido semana passada.

Subitamente, tudo fez sentido.

— Claro que foi ela — murmurou, rindo em pura reação da raiva crescente.

Analisando em retrospecto, não foi difícil compreender o que de fato tinha acontecido na noite em que Jimin o levou até em casa, depois de terem se encontrado no Utopia.

A pirralha não estava dormindo porra nenhuma, reconheceu.

Controlando-se para não sucumbir à irritação inquietante, Jungkook precisou de um minuto para fechar os olhos e respirar fundo. Infelizmente, seu pai nunca foi bom em respeitar o tempo, menos ainda as pessoas.

— Quem te trouxe em casa? — Insistiu ele.

— Ninguém importante — respondeu de prontidão, desejando dar fim à discussão o mais breve possível.

— Ninguém importante? — Repetiu, soltando outra risada sem humor. — Você acha que eu sou idiota?

O herdeiro precisou se conter muito para não dar a resposta que ameaçou escorregar de sua língua.

— Não sei do que o senhor está falando — disse, ao invés.

— Não sabe? — Apertou as pálpebras. — Pois então permita-se ser mais direto: quanto estão te pagando? — Formulou, encarando-o no fundo dos olhos, a mandíbula cerrada denunciando a própria aversão ao que diria a seguir: — Quanto estes homens estão te pagando, Jungkook?!

Não era segredo para ninguém que o herdeiro do império Jeon era gay. Assumir-se foi parte crucial do período em que se "rebelou" — lê-se: resolveu sair das garras de Daeshim para ter autoridade sobre si mesmo. Obviamente, o homem não aceitou a notícia soltando fogos de artifício, e o que era ser uma simples exposição de fatos se tornou um circo desnecessário e dramático.

No entanto, no dia seguinte e em todos os outros que se sequenciaram, ninguém nunca mais tocou no assunto. Daeshim agia como se jamais tivesse escutado a palavra "gay" saindo pela boca do filho, e Jungkook não se importava com a opinião dele para suplicar por uma possível aceitação que definitivamente não viria.

Pensou que viveriam aquele acordo implícito de paz pelo resto de suas existências conjuntas, mas, naquele momento, percebeu como havia se equivocado.

Jungkook precisou de um minuto para raciocinar o que seu pai insinuava ao abordar o questionamento, e, quando compreendeu, mal acreditou no que estava ouvindo.

— Acha que eu estou me prostituindo? — Indagou, estupefato.

Era inconcebível que, de todas as justificativas possíveis, Daeshim considerou aquela como a mais provável.

— E o que mais poderia ser, hm? — O homem incitou, irritadiço, como se lesse seus pensamentos. — O que mais eu deveria esperar de gente como você?!

— Gente como eu?

— Sim, gente como você, desvirtuados do caminho de Deus!

De tão atônito, o garoto não conseguiu rebater de imediato. O que ele fez, ao contrário, foi render-se a uma onda de riso histérico que não portava uma gota de humor sequer.

— Só pode ser brincadeira — murmurou, balançando a cabeça para os lados. Era irônico que Daeshim estivesse falando de religião e bons costumes. Logo ele.

— Está achando isso engraçado? — Perguntou o magnata, o rosto enrubescido de tanta raiva. — Sinceramente, Jungkook, sua mãe estaria tão decepcionada...

Foi o suficiente.

Sete palavras, dois referentes, e, simples assim, o homem fez a discussão alcançar seu estopim.

Jeon Jungkook conseguia escutar insultos contra si sem esboçar qualquer reação agressiva, mas era incapaz de se controlar quando o assunto era Choi Ha-yun.

— Nunca, em hipótese alguma, abra a porra da boca pra falar da minha mãe! — Gritou, sentindo o corpo tremer. — Não pense que está no direito de decidir como ela se sentiria ou não, porque, quando ela de fato sentiu, você a abandonou como um covarde!

— Abaixe esse tom, você está falando com o seu pai! Me deve respeito!

— Ah, agora você é meu pai? — Cerrou as pálpebras, deixando o sarcasmo se estender em cada palavra dita. — Sendo assim, tenho um conselho para te dar: pare de perder seu tempo comigo, pois esse papel não te cabe há muito tempo. Você está oito anos atrasado, Daeshim.

E assim, sem aguardar por qualquer réplica inútil, ele bateu os coturnos pesados no chão, passando ao lado do homem e ignorando completamente os chamados dele enquanto subia as escadas, dois degraus de cada vez. Caminhou determinado até o próprio quarto, mas, quando estava prestes a chegar lá, viu Yeji vindo do outro corredor.

Vê-la naquele momento só serviu para estimular a cólera que fervia em suas veias.

— Oppa... — a menina chamou, mas foi em vão.

— Não enche, Yeji — murmurou, severo, segundos antes de bater a porta atrás de si, pouco se importando com a garota do lado de fora.

Era tudo culpa dela, afinal. Tudo culpa dela.

Dentro do aposento silencioso, Jungkook se jogou na cama, afundando o rosto em um dos travesseiros. Usou-o como escudo para o rosnado de frustração que se permitiu expressar, numa débil tentativa de acalmar o rebuliço que parecia tomá-lo por inteiro, dos pés à cabeça. Ali ficou, na mesma posição, sentindo a própria respiração quente sufocá-lo aos poucos. Sua mente era nada além de um turbilhão de pensamentos desconexos e gritos silenciosos de ódio, mágoa e rancor.

Tudo o que reprimiu por anos, tudo o que se forçava a reprimir todos os dias, voltou de uma vez só, como uma avalanche prestes a destruir um sistema inteiro. Sabia o que viria a seguir. Não era a primeira vez que acontecia.

Com o coração disparado, sentou-se no colchão, iniciando o exercício de respiração que, de tanto executá-lo, já seguia o curso natural. Demandava demasiado esforço concentrar-se para não deixar a ansiedade ganhar a batalha contra seu racional, principalmente porque, a cada inspiração, tudo o que desejava fazer era ceder e chorar.

Chorar, chorar e chorar.

Jungkook estava longe de ser frágil. Precisou crescer e tomar conta de si cedo demais, sem poder usufruir do privilégio de aprender aos poucos. No entanto, por trás daquela força implantada, existia um menino ainda marcado por dores do passado. Cicatrizes cujas cascas eram vulneráveis; o mais banal dos arranhões era o suficiente para fazê-las sangrar de novo.

Foi quando sentiu a primeira lágrima intrusa escorrer pela bochecha que uma ideia brilhou entre seus devaneios embaralhados. Não era certo que funcionaria, mas seu instinto de sobrevivência clamava por uma distração, uma válvula de escape, fosse qual fosse.

Dessa forma, tateou com pressa os bolsos da calça até encontrar o celular em um deles. Pegou o aparelho em mãos e, uma vez desbloqueado, procurou pelo número cuja aba de conversa continha apenas mensagens antigas suas.

Torcia para que aquele ritual mudasse, pelo menos naquela noite.

Jeon

Oi ❤️‍🔥 [23:56]

Não pôde evitar o suspiro de alívio quando, dois minutos depois, a resposta chegou.

Daddy 😈

Olá, Jeon [23:58]

Está tudo bem? [23:58]

Jeon

Sim! [23:58]

Só queria avisar que cheguei em casa [23:59]

E saber se vc pode conversar [23:59]

Daddy 😈

Aconteceu alguma coisa? [00:01]

Jeon

Nada grave, só preciso me distrair um pouco [00:01]

Daddy 😈

Tudo bem [00:02]

Sobre o que quer falar? [00:02]

Jeon

hm... não sei [00:02]

podemos começar por algo crucial [00:02]

Tipo: quando vc vai me apresentar aos seus pais? [00:03]

como namorado, no caso [00:03]

Daddy 😈

Já vai começar com as gracinhas? [00:03]

Eu vou dormir e te deixar falando sozinho [00:03]

Jungkook riu baixinho, quase sem perceber.

Jeon

Não se atreva! [00:04]

estou triste, preciso de atenção 😔 [00:04]

(de preferência a sua) [00:04]

(e não me incomodaria de ter outras coisas suas tbm...) [00:04]

Daddy 😈

Jungkook. [00:05]

Jeon

PAREI [00:05]

aff, chato [00:05]

Daddy 😈

Bom garoto [00:06]

Jeon

yes, daddy... [00:06]

Daddy 😈

😑 [12:06 pm.]

Nessa dinâmica caótica, a conversa perdurou por mais de uma hora inteira. Os dois transitavam de assunto em assunto, desde o estilo de música favorito de Jimin — que Jungkook descobriu ser algo inclinado ao indie e playlists de relaxamento — até discussões engajadas sobre como as coisas do mundo não fazem sentido.

A fluidez foi espontânea, a ponto de nenhum deles perceber o passar do tempo. Permaneceram dessa forma até Jungkook cair no sono, tranquilo e com as batidas do coração estáveis, tão repentinamente que não chegou a ver as últimas mensagens que Jimin lhe enviou.

Daddy 😈

Jeon? [01:40]

Acho que você dormiu... [01:45]

Tenha bons sonhos, poderoso chefinho. [01: 45]



Referências:

[1] Música 'Yes or Yes', do grupo sul coreano 'Twice'.

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