Waiting For You

By BiaBetteher

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Às vezes a vida não é um conto de fadas que termina como nós queremos. Um príncipe encantado não chega e o fi... More

Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
"Kim Namjoon"

Capítulo 04

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By BiaBetteher

🚨 ATENÇÃO!
[Os relatos a seguir podem ter conteúdo sensível e despertar gatilhos emocionais.]

Ótima leitura 📚

Eu criei um mundo utópico onde tudo seria belo e você faria parte de cada momento, estaria ao meu lado. Porém nossas ambições foram diferentes, você preferiu seguir o caminho e partir, e a única saída que me deu foi a de aceitar e te ver sumindo aos poucos da minha vida, criando um sentimento frívolo, sem cura ou possibilidade de ser reconstruído.

Ellen S.

- Park Jimin -

Passaram exatamente 1460 dias, e eu já estava acostumado com a ideia de apenas viver a dor, a falta e o vazio.

Ele tinha se tornado um dos resquícios mais fortes do meu passado, onde por mais que eu tentasse esquecer sempre me torturava quando pensava nele ou quando vivia ele no meio da minha sede eufórica de reviver cada toque, cada gesto, cada plano e momentos felizes que não se concretizou.

E agora ele voltou. O meu tormento, a minha dor, o meu caos!

Há praticamente um mês atrás nos reencontramos novamente e por Deus, assim que meus olhos caíram sobre ele meu coração soube, o reconheceu e fraco demais quase se rendeu.

E agora novamente me vejo na mesma situação.

- Oi Jungkook. Aconteceu alguma coisa?

- Eu queria conversar algumas coisas com você. Você tem um tempo?

Minha real vontade nesse momento era apenas fechar a porta e fingir que ele não estava ali querendo de algum modo invadir o meu mundo novamente.

- Na verdade eu estou um pouco ocupado agora, tenho algumas massas preparadas e eu preciso moldá-las. Se não se importar em esperar.

- Se não for incômodo para você...

Dei passagem e ele gentilmente passou por mim. Seu cheiro invadiu minhas narinas e sem controle algum das minhas ações meus olhos se fecharam ao mesmo tempo em que com força apertei a toalha que estava em minhas mãos.

É difícil explicar a sensação estranha que hoje Jungkook me causa quando se aproxima. Mas acho que chega perto de como um viciado em drogas ilícitas e pesadas sente quando passa por um longo período de abstinência e logo depois tem o deleite de se entorpecer novamente com aquilo que lhe traz prazer.

Jungkook é minha droga, o meu vício, é como uma heroína que causa em mim sensação de euforia e bem estar, me fazendo fugir da realidade mas também me trazendo calma e tranquilidade. Só que tudo entre nós, como o efeito da droga, é momentâneo.

Desperto dos meus pensamentos e o sigo logo após fechar a porta.

- Seu apartamento é lindo Jimin. - Parado no centro da sala e com um olhar curioso, Jungkook observava todo meu mundo. - Tem muito de você aqui. Essa casa grita Park Jimin.

- Obrigado, foi o meu maior investimento depois da faculdade, eu gosto de tudo aqui, da localização, do espaço, dos vizinhos.

- Fico feliz por ter encontrado um lugar para chamar de lar. Eu também queria saber como é essa sensação.

Por um momento o silêncio tomou conta do ambiente, ele me olhou, um olhar vazio, um que eu nunca tinha visto. O que foi intrigante para mim porque durante esses quatro anos longe, eu acreditei que ele estava vivendo uma vida feliz, em um lugar que ele mesmo escolheu estar. Não fazia sentido.

- Eu preciso voltar para o meu trabalho Jungkook. - Tentando cortar o clima estranho eu apenas tento fugir da situação. - Mas fique a vontade, tem bebidas na adega e pode procurar algo que você queira comer na cozinha.

- Não, tudo bem Jimin eu estou bem. Mas, eu poderia conhecer seu ateliê? Prometo não atrapalhar.

Por mais que eu soubesse que não poderia fugir de tanta aproximação, sua pergunta me pegou de surpresa, o que me fez responder rapidamente.

- Sim, claro.

Mesmo que tivéssemos tentando agir naturalmente, o desconforto era nítido entre nós dois, e andando à sua frente parecia que eu conseguia sentir seus olhos sobre mim, me observando. O corredor se tornou extenso, minhas mãos suavam e minhas pernas apenas seguiam o caminho já conhecido, pois o meu modo automático estava acionado. Não sei como agir naturalmente em sua presença, me torno um farsante e isso me frustra na tentativa de entender o porquê.

Ao chegarmos ao fim em silêncio, paramos em frente à última porta com um aviso de "NÃO PERTURBE, ESTOU TENTANDO FICAR RICO", bem grande por sinal. O que já é um pouco estranho já que moro sozinho.

- Tem certeza que não vou te incomodar? - Questionou com um meio sorriso no rosto enquanto aponta com a cabeça o tal aviso.

- Ah, isso. Não se preocupe, é somente uma placa com um intuito sarcástico. - Envergonhado respondo tentando me justificar.

Abro a porta logo em seguida e mais uma vez lhe dou espaço para entrar.

Devagar o observo começar a caminhar pelo ateliê. Fecho a porta e parado em frente a mesma o vejo andando, tocando e admirando algumas de muitas peças que estão expostas nas duas grandes prateleiras que tenho.

Era estranho, horas atrás eu agradecia por ter o meu mundo para me refugiar e agora me sinto totalmente deslocado, sem lugar. Mais uma vez ele conseguiu tirar algo de mim, a única coisa que me fazia estar bem, o único lugar que não me deixava pensar nele e no quanto sua presença me afetava. Agora o meu mundo estava todo tomado por sua existência, seus dígitos e sua admiração.

- Eu passei anos tentando imaginar como seria esse lugar. - Jungkook pronuncia as palavras sem ao menos me olhar, apenas continua admirando tudo. - É simples, mas amo como tudo aqui grita você Jimin.

Sua voz ecoou pelo cômodo em uma onda sonora suave, e o silêncio que sempre me acompanhava agora tinha tomado vida. Ouço ecos distantes que agora habitam cada parte deste cômodo. Com os olhos sobre mim, tento esconder o quanto meu corpo estremeceu quando as notas melodiosas de sua voz me tocaram, preenchendo algo em mim e nesse lugar que antes era apenas o nada.

- Eu tentei criar um refúgio, acho que consegui.

Ao terminar a fala baixo minha cabeça, pois eu não conseguia encará-lo sem mostrar minhas fraquezas, sem deixar evidente o quão nervoso estou por sua presença, e tenho certeza que meus olhos iriam me delatar, visto que eles me traem sempre quando o assunto Jeon Jungkook se faz presente.

Quando aos poucos fui moldando esse espaço eu realmente quis criar um mundo novo, um que só eu conhecesse, um lugar onde eu pudesse fugir de tudo e de todos, e principalmente do homem que agora está à minha frente.

Segundos depois senti que ele estava vindo em minha direção.

- Bom, eu vou voltar a trabalhar. - Passei por ele apressado e ansioso, me dirigindo até o meu torno e me sentando.

Com um pequeno elástico de cor neutra prendo uma boa parte do meu cabelo, a qual me atrapalha caindo em meus olhos quando estou moldando, assim formando um pequeno rabo de cavalo. Fiz novamente o laço do meu avental, molhei a esponja no balde ao lado e limpei o torno o deixando pronto para moldar o próximo objeto.

Geralmente tenho barro pesado em quilogramas diferentes para moldar tamanhos diversos de objetos. Hoje já é fácil para mim distinguir qual usar para fazer determinada peça.

Coloquei o barro sobre o torno, e com ele ainda desligado comecei a apertar como se estivesse sovando uma massa de pão. A força feita para preparar a massa me fazia parar por alguns segundos para recuperar o fôlego perdido.

Tentava esquecer que Jungkook estava ali com os olhos vidrados em mim e em todas as minhas ações. Mesmo não o olhando diretamente, vejo se movimentar calmamente até ir de encontro a uma das prateleiras e se encostar com os braços cruzados, como se testemunhasse algo deveras interessante.

Jungkook nunca teve a oportunidade de acompanhar o processo de produção de minhas peças, quando foi embora eu ainda estava em uma fase muito louca onde não tinha certeza para que área seguir. Tinha acabado de me formar e a incerteza e insegurança me acompanharam por um breve período.

"Síndrome do impostor", foi o diagnóstico que recebi quando por uma indicação do Hobi fui procurar ajuda psicológica. Eu não via, mas comecei a criar em minha cabeça uma percepção de mim mesmo sendo uma pessoa totalmente incompetente e insuficiente. Entendi que eu tinha uma predisposição para a autossabotagem, uma fusão de pensamentos e sentimentos onde era difícil diferenciá-los, não me permitindo saber quem eu realmente era e qual parte de mim era apenas crenças.

A terapia foi algo importante em minha vida, promovendo em mim o autoconhecimento, me ensinando a ter compaixão por mim mesmo e me preparando para aprender a tomar decisões mais assertivas.

Era uma etapa completamente estranha e difícil. Estava me formando, e a sociedade simplesmente te obrigada a deixar claro o caminho que decide seguir, pois agora você é um homem e precisa ter responsabilidades.

Minha orientação sexual jamais foi um problema, sempre estive rodeado de pessoas que apenas me aceitaram como eu realmente sou. Mas para a sociedade parecia que esse era o principal problema.

A questão é que eu faço parte de um grupo de pessoas que vivem em vulnerabilidade social, e sendo assim eu sentia que precisava me superar sempre mais para transpor o estigma e o preconceito velado. E por isso era difícil para que eu pudesse enxergar o que a sociedade queria de mim e ao mesmo tempo saber o que eu sentia e pensava sobre mim mesmo.

Era cansativo, eu queria mas não sabia como me livrar daquele sentimento. Mas com o tempo a terapia foi me ajudando, e vi que a partida repentina do Jungkook também teve um leve empurrão para que gatilhos sabotadores viessem sobre mim.

Me sentir insuficiente foi o sentimento mais profundo e doloroso que tive o desprazer de experimentar.

Foi sufocante.

Eu sentia raiva, tristeza e vivia o tempo todo estressado, em auto vigilância constante com medo de falhar. Perdi as contas de quantas peças quebrei quando ainda em terapia fui instigado a tomar o controle e decidir por onde começar. E talvez por medo de ainda ser rejeitado quis me aventurar e ser autônomo. Hoje sei que colho bons frutos que um dia plantei, mas também, só eu sei o quanto o processo foi difícil.

E agora estou aqui, curado de tudo o que um dia me machucou e me fez mal.

Pelo menos era o que eu imaginava.

Vendo que o barro já estava no ponto certo para ser moldado, fixo na base do torno. Com a esponja molho a massa e inicio a moldagem.

Com movimentos precisos a peça vai tomando forma, e esse foi o único momento em que esqueci completamente que Jungkook está ali. Ao terminá-la, com cuidado tirei a peça do torno e a coloquei na mesa ao lado onde irá descansar, antes de ir ao forno.

- Isso foi simplesmente incrível Jimin.

Boquiaberto, Jungkook me olhava admirado.

- Obrigado. - Acanhado agradeço.

- Será que eu poderia tentar? Olhando você fazendo parece tão fácil mesmo sabendo que literalmente não é.

Levei meu olhar até ele para que pudesse decifrar se ele realmente falava a verdade e se queria fazer aquilo.

- Eu posso tentar te mostrar, mas a didática realmente não é o meu ponto forte.

- Tudo bem, eu sou um bom "aluno". Prometo seguir cuidadosamente tudo o que me disser.

Me levantei, peguei uma outra massa, a preparei e dei espaço para que ele se sentasse no meu lugar.

- Vamos fazer uma tigela, pois julgo ser uma peça mais fácil para se moldar.

Ele parecia ansioso, sabe uma criança quando vai receber um presente e fica desinquieta enquanto espera? Assim que ele estava.

Liguei o torno e ele começou a girar. Em pé ao lado de Jungkook eu molhei as minhas mãos e comecei a dar forma ao barro para deixar no formato certo para o ajudar a fazer a tigela.

- Molha suas mãos Jungkook, e depois ponha elas no barro para sentir a textura.

Sem pensar muito ele obedece ao meu comando.

- Está girando rápido Jimin. - Ele fala nervoso mostrando receio em tocar a massa.

- Nada vai acontecer, ainda é só uma grande bola de barro. - Afirmei tentando incentivá-lo.

Ainda com receio ele foi levando as duas mãos até o barro, e ao senti-la me olhou sorrindo.

- A sensação é boa.

Concordei devolvendo o sorriso.

- Molha suas mãos novamente, e agora com um pouco de força você vai pressionar o meio devagar criando um buraco.

Ele faz como instruí.

- Agora, vai começar a abrir mais, puxando o barro do centro para a borda.

Realmente Jungkook é um bom "aluno", é impressionante como rapidamente consegue entender e captar o que deve ser feito. Mas, notando a dificuldade em sua coordenação motora, levo minhas mãos sobre as suas na tentativa de o ajudar na precisão da moldagem. E porra, porque não penso nas consequências das minhas ações antes de fazê-las?

Quando toquei a sua pele um fio de eletricidade correu pelo meu corpo, foi como se o mesmo estivesse desfalecido e um desfibrilador na sua máxima potência tivesse agido.

Senti o ar em meus pulmões faltarem, com muita luta tentava fazer com que minha respiração não acompanhasse os batimentos acelerados do meu coração. Mas era praticamente impossível.

A peça já não era o foco naquele momento, nem para mim e muito menos para o Jungkook, pois mesmo que não o olhando diretamente sentia seu olhar sobre o meu rosto. Mas eu estava suportando bem todo aquele caos que acontecia dentro de mim até ouvir Jungkook sussurrar próximo ao meu ouvido.

- Eu senti sua falta Jimin.

Por puro reflexo me virei e encontrei o seu olhar, estávamos tão próximos. E assim memórias do passado voltaram, momentos bons que passei ao seu lado, os melhores da minha vida.

Mas logo fui invadido pela dor e desespero de o ver partir, da angustiante sensação de nunca ser escolhido e de ter sido abandonado na primeira oportunidade. Nunca foi eu e agora não seria diferente.

- E-eu não posso... eu não posso fazer isso Jungkook!

Em um gesto rápido me afasto ao mesmo momento que desligo o torno indo para um lado oposto ao dele.

- Porque não Jimin? - Me perguntou aflito. - O Kim Namjoon, ele tem algo haver com essa reação?

- Não, o Nam não tem nada haver com isso. É só que as coisas não são tão fáceis Jungkook.

- Então o que é? Só me fala. Se aquele homem não está entre nós, o que te impede?

Vejo vir em minha direção me fazendo ficar muito mais ansioso pela sua aproximação. Eu simplesmente não sei como agir tendo ele tão perto de mim.

- Eu não sei Jungkook, acho melhor você...você ir embora.

- Não faz isso comigo Jimin, tem muitas coisas das quais você não sabe e eu preciso te falar.

- Eu sei o suficiente para entender que nada vindo de você me pertence mais Jungkook.

- Você sabe que pertence.

- Não, nós não temos mais nada, você sabe qual foi sua escolha quando teve a opção de ficar ou partir e sem dar muitas explicações.

- Não fala assim, eu não estou entendendo o porquê de tanta hesitação.

- Não está entendendo?

É tão frustrante ver que Jungkook não fazia ideia ou fingia que não sabia tudo o que passei por todos esses anos, e o ver me olhar daquele jeito como se tudo fosse fácil de resolver pelo simples fato de estar de volta e achar que tudo vai voltar a ser como era antes, me deixa totalmente enraivecido.

- Você não sabe o que realmente aconteceu, eu praticamente não tive escolha. - Retruca mais uma vez em sua defesa.

Sinto a raiva em mim se intensificar ao ouvir tais palavras. Todo mundo tem o poder de escolha, e porra ficou claro a quatro anos atrás que eu não era a dele.

- Então me diz um motivo que justifique o que aconteceu a anos atrás. - Pergunto em um tom elevado.

- Você está sendo incompreensível Jimin. - Ouço sua voz elevar um pouco também.

Soltei um sorriso sarcástico enquanto meus olhos começaram a lacrimejar.

- Incompreensível? Você é um puta de um babaca Jungkook.

- É isso o que acho, você não está nem tentando compreender o meu lado, convicto de que só você que sofreu nessa merda toda.

Eu não faço ideia do que se passa na cabeça de Jungkook, e para falar a verdade também não faço questão alguma de tentar decifrar nesse momento. Mas uma revolta cai sobre mim pois ele está aqui, falando como se eu não tivesse o direito de me sentir mal ou de culpá-lo por tudo o que passei.

Sei que me enganei por muito tempo me fazendo acreditar que eu estava bem, que eu era o único culpado por já saber que estava entrando em um campo minado que era a vida de Jeon Jungkook, mas se tudo o que ele diz que sentiu ou sente em relação a nós é verdadeiro, só posso concluir que sim, ele tem parcelas de culpas nessa merda toda.

- Quando te vi indo embora naquele dia eu me segurei para não correr e implorar para você ficar, era a minha última chance de te ter aqui mas eu apenas via o quanto você queria ir. Eu me perguntava todos os dias se você tinha feito a escolha certa, se eu tinha feito a escolha certa, e com o tempo eu só conseguia ver que sim. Você o escolheu e não tem como negar isso, na verdade você fazia questão de demonstrar. E enquanto você estava lá vivendo lindamente sua vida ao lado dele, eu não tinha para onde fugir porque o seu fantasma me assombrou e por muito tempo, aqui, nessa cidade que gritava Jeon Jungkook por onde eu fosse, e para ser sincero aquilo não me fazia bem, eu mudei, virei uma pessoa totalmente refém de uma alta proteção de todos e qualquer sentimentos que eu viesse a sentir. E então agora paro e penso que eu hoje posso ter perdido o amor de um dos homens mais incríveis que eu já conheci na vida pelo simples fato de que o seu egocentrismo me gerou um grande bloqueio emocional.

- Você está sendo egoísta Park, diz que Namjoon não tem nada haver com a nossa situação mas não perde a oportunidade de me jogar na cara que ele foi e é o homem que eu nunca fui para você, perfeito demais. Você...

- VOCÊ QUE FOI EGOÍSTA!! - Gritei em meio às lágrimas. - Você cravou em mim uma dor insuportável por anos, a droga do amor foi um grito no vazio e o distanciamento entre nós se tornou inevitável, e você me condenou a viver dias e mais dias insuportáveis pela ausência que não podia ser preenchida nem mesmo pelo o homem perfeito que o Namjoon é. Desculpe se a verdade dói. Mas Jungkook, você sabia o que eu sentia e me fez ter a certeza da pior maneira que algumas pessoas não podem ser amadas, e eu sou uma delas. Eu entrei silenciosamente em uma droga de espaço vazio me perguntando onde eu errei com você para ver você me dar um adeus sem volta.

As palavras faltaram a ele, mas nossos olhos transbordavam sentimentos.

- Me desculpa, eu queria ter ficado... eu só queria ficar com você, mas...

- Mas você foi, e não venha me pedir desculpas por uma coisa que você sabia que ia me machucar.

Jungkook respirou fundo e voltou a falar.

- Naquela noite, na nossa última conversa, quando eu saí por aquela porta me senti apavorado. Meu mundo nunca mais foi o mesmo pois eu vivia apenas para tentar superar a realidade das consequências que minhas decisões me levaram, corri em círculos por todos esses anos, e você... você apenas me disse "Então vá", você também me deixou ir.

- Mas o que você queria que eu fizesse? Você já chegou com aquele discurso pronto tentando me convencer que a melhor solução para nós dois seria a de que nos separar seria melhor. Você escolheu ir embora, e em momento algum perguntou o que eu queria, e então você se foi. E com o passar do tempo eu via que em você não sobrou nenhuma memória daqui, voltou para os braços dele na primeira oportunidade que teve.

Houve mais um momento de silêncio que só era interrompido pelos meus pequenos barulhos devido às lágrimas que não paravam desde que aquela conversa começou.

- Ele não está mais aqui! - Jeon afirmou com um tom mais baixo e triste.

- Claro que não, é óbvio que não.

- Jimin, me escuta!

- Já chega Jungkook, eu não quero ouvir mais nada. Só faz o que você faz de melhor que é me deixar aqui e correr para ele. - Já não é possível segurar as lágrimas pois elas caem sem que eu permita, mostrando o quanto sou um idiota que não soube seguir em frente. - Só vai e me deixa por favor.

É doloroso demais ver como o semblante de Jungkook sempre muda quando se fala de Peter Fisher. A primeira vez que o vi também foi a primeira vez que senti um sentimento novo, naquela manhã além do ciúmes e frustração, a inveja se fez presente. E juro, que sensação ruim, naquele momento senti minha autoestima se destruir, o amor próprio se corroeu, me trouxe inseguranças e medos. Eu não podia concorrer com ele. Aquele garoto de estatura mediana, cabelos castanhos, pele branca e olhos azuis me deixava totalmente envergonhado, pois era ridículo eu ao menos imaginar que um dia eu teria pelo menos a chance de ter Jungkook para mim. Eu jamais teria chances contra ele. " - Ich habe dich vermisst." Por estar o encarando - ato esse que foi totalmente despercebido da minha parte, pois apenas fiquei atônito com a cena a minha frente - consegui ver sua boca silabando uma frase em um idioma totalmente diferente, que logo em meio a um sorriso foi respondido por Jungkook com o mesmo idioma: " - Ich fühlte viel mehr!". Totalmente humilhante. Me perguntei o que poderia oferecer a Jungkook e a resposta em minha mente veio rapidamente... Nada. Eu, um simples rapaz que veio de uma cidade pequena, imaturo e igual aos outros, e assim era mais que evidente o porquê de ser Peter Fisher.

Alemão, lindo e chamava atenção por onde passava. Peter era muito inteligente, perfeito em tudo o que fazia. Lutava por causas que julgava importantes não se importando com o que os outros iriam pensar, queria sempre ser ouvido e era, tinha o dom de convencer as pessoas sobre suas teorias de vida, seja lá quais fossem. Ver ele e Jungkook juntos era muito, muito satisfatório para o grupo de estudantes da faculdade, o casal perfeito.

- Peter está morto!

As palavras saíram mais como uma confissão, ou como um grito no silêncio, não consegui decifrar. Senti revirar o estômago. Olhei para Jeon que também me olhava e eu consegui sentir a dor em seus olhos.

- O que? Do que você está falando?

- Uma doença terminal o levou.

Eu sei, eu também sou um tremendo grande filha da puta quando quero. E merda, quando estou assim, tão magoado, tão esgotado emocionalmente eu não consigo raciocinar normalmente, não meço palavras doa a quem doer.

- E só por isso você voltou? Eu sou a porra de uma segunda opção apenas Jungkook?

- Caralho como você se tornou esse cara frio e tão sem empatia, só pensa em você, na sua dor, no que você sentiu. Você ouviu o que eu acabei de falar?

- É sério que está me perguntando isso? Quer saber, aquele Jimin também morreu quando você decidiu sair por aquela porta!

Jungkook se calou por um momento e me olhando suspirou fundo como se estivesse cansado demais para continuar debatendo o assunto.

- E para eu ter tomado aquela decisão eu já estava morto a muito tempo Jimin. Eu estava aprendendo a viver novamente ao seu lado, mas eu ainda tinha muito dos traumas, gatilhos e medos do meu passado. Eu não sou aquele Jungkook que você conheceu e eu sinto muito, mas eu não queria que você soubesse que eu era uma farsa.

E com o encaminhar dessa conversa cada palavra que ele pronuncia fica tudo tão confuso, e eu tenho tanto medo, medo de saber a real verdade, medo por não saber onde essa conversa pode chegar, medo de como vou reagir e acho que o principal, é o medo do ponto final realmente chegar para nós dois.

Até hoje vivemos um quase algo, e por esse quase eu quase me perdi, pois por um bom tempo eu não me reconheci mais, eu sei que moro aqui dentro, mas não reconheço meu corpo, não reconheço o que sai da minha boca, não me reconheço quando me deixo levar por atitudes que desprezo.

Durante esses quatro longos anos eu deixei de fazer tantas coisas que antes adorava fazer e assim acabei também desistindo com muita facilidade por me achar fraco e simplesmente não me importar mais. Sonhava tanto mas não conseguia pôr para fora, foi como se eu tivesse me trancado dentro de mim, dentro de um quarto com paredes de vidro onde eu via tudo mas não pudesse fazer nada. E eu estou exausto, cansado demais dessa merda toda.

- Eu sinto muito Jungkook, talvez eu não esteja em um bom momento para isso, para termos essa conversa. Talvez eu realmente tenha mudado muito, eu não sou mais aquele Park Jimin e pelo o que vejo você também não é mais o mesmo Jeon Jungkook. E para ser sincero não sei se hoje quero conhecê-lo.

- Só que eu não posso mais fugir Jimin, eu não quero mais viver cada dia da minha vida na angústia de querer saber como nós dois seríamos se eu tivesse coragem de realmente demonstrar e pôr em prática meus sentimentos e desejos. Eu estou pronto para falar e por favor eu só peço que ouça o que tenho a dizer.

A angústia em Jungkook era visível ao meus olhos, mas eu simplesmente não consigo sentir nada, não por não me importar ou por simplesmente desprezar sua dor e seus sentimentos, mas sim, por já ter sofrido tanto e ter me acostumado com isso, que eu já não posso me dar ao luxo de apenas esquecer tudo o que eu passei por amá-lo por todo tempo sozinho.

Talvez ouvi-lo agora vai ser o maior erro da minha vida, pois a mágoa que preenche o espaço vazio do meu peito pode me fazer tomar atitudes que certamente não tomaria se tivéssemos tido essa conversa a anos atrás.

O olhar dele já não é mais o mesmo, é estranho mas eu não consigo reconhecer esse homem a minha frente, esse que já foi meu amigo e amante. Onde ele se perdeu? onde aquele brilho nos olhos se apagou? Quem é esse que hoje está aqui insistindo para entrar na minha vida? Quem é esse estranho que olho mas não reconheço como o homem que amei. Quem é o verdadeiro Jeon Jungkook?

- Não me olhe assim. - Jeon fala com um tom de voz trêmula, parecia estar com medo, inseguro. - Independente de tudo o que eu for te dizer agora Jimin, e da minha tentativa de mudar a nossa história, seja lá qual for o final, eu vou me arriscar, sei que corro o risco de te perder mas também sei que preciso falar.

Nesse momento eu já não tinha reação alguma. Ainda encostado na parede ao canto eu apenas me arrasto por ela sentando ao chão, exausto, encolhido como uma criança acuada.

Jungkook não tira os olhos de mim e copiando meu gesto senta onde estava. O silêncio pairou por um momento sobre nós, mas logo foi cortado quando o mesmo começou a falar.

- Sabe quando você está lá, vivendo sua vida em paz, até que de repente alguém surge e muda tudo? Foi exatamente o que aconteceu quando Peter entrou na minha vida. Tudo mudou só que eu não conseguia enxergar.

- Momento Narrado por Jungkook -

Lembro-me muito bem de cada detalhe daquele fatídico dia em que avistei o Peter pela primeira vez.

Foi um dia em que passei a madrugada acordado e aos poucos vi a noite dar lugar ao dia e o movimento nas ruas começando a aumentar. Meu pai não voltou para casa naquela noite e a angústia de minha mãe me impediu de dormir.

O clima na mesa do café da manhã era tenso, percebi minha mãe chorar silenciosamente enquanto meu pai agindo como se nada tivesse acontecido, trocava algumas poucas palavras comigo. Não aceitei sua carona naquele dia e andei até a escola pensando em como minha vida era quase uma farsa. Sempre mostramos a todos como éramos uma família feliz mas isso praticamente nunca foi verdade.

Eu era um jovem sensível, meigo, alegre mas um pouco melancólico, sempre fui uma pessoa do bem e ver maldade nas pessoas é algo difícil para mim. Eu também sempre estive rodeado de bons amigos, Hobi, Tae e Yoongi, mas às vezes sentia que algo faltava, não era completo e não entendia bem o que porque.

Primeiro de setembro, volta às aulas, último ano do ensino médio e lembro-me que estava sentado em um banco com meus amigos quando eu vi Peter pela primeira vez. Claro que a beleza peculiar e diferente me chamou atenção, só que o que me atraiu era ver o quanto nós dois éramos diferentes na personalidade, um elemento novo e totalmente diferente do que eu estava acostumado.

Peter, era um ano mais velho que eu, já havia viajado por vários países devido ao trabalho de sua mãe, com isso logo adquiriu um jeito independente de agir e de pensar. Era normal o ver fumando escondido no fundo da escola, e também, notório ver o quanto ele não se importava em seguir as regras e jamais pensava nas consequências dos seus atos. Sempre inventava um motivo qualquer para dar festas, as mesmas que jamais pensaríamos em fazer ou ir, mas ele tinha o poder de convencer a qualquer um que, se não fossem, iria se arrepender. Peter era um espírito totalmente livre e confesso que isso era invejável.

E desde o princípio foi isso que me fascinou, a sua liberdade.

Eu já não conseguia tirar os olhos dele, sempre que o via era quase impossível esconder o quanto sua presença me afetava, ele era um ser cativante e tudo nele me causava interesse, e sei que ele rapidamente notou isso. E foi a partir daí que as coisas na minha vida começaram a se desenhar, e quem está atento e consegue entender os sinais, percebe antes mesmo das coisas acontecerem. Mas eu não consegui ver, jovem e com a pouca vivência do mundo, fui um alvo fácil para Peter Fisher.

Então, em um ato de rebeldia de minha parte e uma vontade incontrolável de mostrar a ele que eu valeria a pena, fui em uma de suas festas. Foi uma noite bem louca e cheia de emoções para mim, nos beijamos e a partir daquele momento não nos separamos mais, mesmo sendo tão diferentes, porque o que faltava em um, o outro compensava.

No começo foi maravilhoso, ele era muito autoconfiante e com isso me sentia protegido e a pessoa mais sortuda do mundo, pois eu namorava um dos caras mais lindos e desejado da escola, e muitas das vezes ele fazia questão de não me deixar esquecer isso.

Não sei dizer exatamente quando tudo mudou, pois eu não conseguia perceber os pequenos detalhes. Mas tudo ficou diferente logo depois do primeiro beijo.

Depois de um determinado tempo eu entendi que sem querer eu repetia um pouco o comportamento da minha mãe. Quem está olhando de fora deve achar que uma pessoa que aceita estar em um relacionamento tóxico é fraca demais. Mas é preciso entender o que as pessoas que são manipuladoras fazem, eles envolvem a pessoa emocionalmente de uma maneira vil, absurda, e nem todos conseguem se dar conta disso. E eu fui um deles.

No dia seguinte ao nosso primeiro beijo, ele simplesmente me ignorou, como se nada entre nós tivesse acontecido, ou pior, como se nunca tivéssemos nos conhecido. Só que isso criou em mim uma sensação estranha, como se eu já não soubesse mais como era a minha vida sem ele. Era uma necessidade, eu precisava estar com ele, na presença dele, queria a todo custo chamar e ter a atenção de Peter Fisher.

E isso durou três dias. No quarto, no auge do meu desespero, eu o segui até o banheiro e nos trancamos, onde quase implorei por respostas do porque me ignorar daquele jeito. Ele sorriu, passou uma das mãos em meu rosto e simplesmente respondeu que sabia que eu não iria suportar por muito tempo, que eu iria correr até ele.

A cada dia que passava eu me distancia mais dos meus amigos, e não vou ser hipócrita em dizer que eu sentia falta deles pois eu não sentia. Peter me bastava. Me fechei, vivia para agradar ele, servir a ele e o principal o deixar feliz. E nessa de o fazer feliz, foi quando percebi que tudo o que eu fazia não era o bastante, porque não importava a situação eu estava errado, a culpa era minha e ele a vítima.

A primeira vez que brigamos feio, e que nos fez terminar foi em uma de suas festas. Naquele dia ele não estava me dando atenção, conversava com seus amigos e eu apenas ficava ao seu lado como um troféu. Momentos mais tarde, um de seus amigos se aproximou de mim e começamos a conversar, não me lembro muito bem o que aconteceu mas ele levou suas mãos até meu rosto e limpou ou tirou algo. Minutos depois dessa ação Peter me puxando bruscamente me levou para seu quarto. Nervoso começou a gritar e querer explicações, mas eu não entendia o porquê e isso o irritou ainda mais, pois para ele eu estava apenas me fingindo de sonso. Ele puxou com força meus cabelos para trás e gritou furioso em meu rosto. Eu não tive muita reação naquele momento, eu apenas estava com medo daquele Peter que eu nunca tinha visto, agressivo e possessivo. Quando me soltou eu o empurrei para longe e saí apressado, chorando em desespero.

Fiquei com tanto medo daquele garoto e daquela reação que acabei ignorando todas as suas ligações no dia seguinte, apenas respondendo com uma mensagem que aquele era o fim e eu não queria mais o ver.

Mas ele foi insistente, me procurou em casa, na escola e em qualquer lugar em que eu pudesse estar. Acabou me convencendo de que aquela situação jamais iria se repetir e assim voltamos.

Nossa boa relação não demorou muito a desandar novamente, o ciúmes aumentou, a desconfiança, as palavras que machucavam e o sentimento de culpa que caía sobre mim sempre quando brigávamos. Eu era culpado porque usei tal roupa para chamar atenção, eu era culpado porque não o obedeci, eu era culpado porque dei abertura para quem não deveria, eu era culpado por tudo.

Eu estava cansado daquilo mas eu ainda não via o quanto errada aquela situação era, estava preso naquela teia feita por Peter e eu acreditava ser fraco demais para poder me desvencilhar. Ele me fez acreditar que sem ele eu era um nada. Ninguém me amava além dele, e que jamais iria conhecer alguém melhor que ele.

Acreditei por um bom tempo nisso.

Quando você chegou Peter e eu tínhamos reatado a poucos dias, mas algo em mim tinha mudado, eu já não o amava mais, e mesmo que eu achasse que não, meu eu interior sabia disso, mas o medo de ficar só e me sentir solitário me fazia hesitar. Afinal ele tinha conseguido seu objetivo, eu estava totalmente refém de toda sua influência durante esses anos que passamos juntos.

Nossa relação estava em um nível quase que insuportável, mas eu já estava tão acostumado que para mim era a coisa mais normal do mundo. Na frente dos outros éramos o casal perfeito, mas a verdade é que não havia um dia que não brigávamos, e brigávamos por tudo.

E depois de passar como um furacão pela minha vida devastando tudo o que podia, ele simplesmente, depois de muitas tentativas falhas minhas, terminou comigo e foi embora. E eu sofri, mas foi um misto de tantos sentimentos que eu não sabia dizer o porquê. Se eu não estava feliz porque sofri pela sua partida?

Percebi então que ele sempre esteve no controle de tudo, ele que movia as peças do tabuleiro, fez da minha vida seu jogo favorito. Acreditei que naquele momento tinha acabado, eu estava livre do seu controle, livre de suas amarras, mas o que eu não sabia era que Peter não tinha feito a jogada final ainda.

Mas nesse tempo longe dele eu pude te conhecer, viver com você momentos e experiências novas que eu jamais imaginei um dia poder experimentar. E não foi difícil começar a te amar porque com você eu pude sentir o que é ter a experiência da reciprocidade. Você cuidava de mim, me respeitava, me fazia feliz e o principal, você me amava Jimin, me amava de verdade.

Mas eu errei.

Faltava um mês para o fim do semestre. Nós dois estávamos muito ocupados com as provas e trabalhos de conclusão dos nossos cursos, nos víamos pouco, só quando conseguíamos almoçar juntos no refeitório da faculdade.

Naquele dia nós dois fizemos de tudo para dar tempo de almoçarmos juntos, foi corrido mas foi bom porque eu estava morrendo de saudades. Nos despedimos e lembro que passei o restante da tarde na biblioteca da faculdade atolado em livros. Por volta das quatro da tarde recebi uma ligação de um número desconhecido, curioso atendi, e fiquei surpreso ao ouvir a voz carregada de sotaques de Peter. O seu tom de voz era diferente do que eu me lembrava e estava acostumado. Era manso e calmo.

Jimin, só queria avisar que as coisas que vou contar agora vão te machucar.

Por mais que eu não me lembre de fato o que aconteceu, e possa jurar que foi apenas mais uma armação de Peter naquela época, eu fui lá, eu omiti e guardei esse acontecimento como um segredo para não te machucar. Mas hoje vejo que esconder o que aconteceu naquele dia foi um dos maiores erros que já cometi.

Eu só queria evitar o seu olhar de decepção...

Peter me convidou para jantar com ele naquela noite pois tinha algumas coisas para me falar. Perguntei se sabia que eu estava namorando e ele confirmou dizendo que sim, comunicou que seria apenas um jantar de amigos, tinha algumas novidades sobre sua volta à Alemanha e queria compartilhar comigo. Ponderei um pouco mas no fim depois de muita insistência da parte dele aceitei.

Eu iria te contar depois que voltasse, nunca foi minha intenção esconder aquilo de você pois seria apenas um jantar, nada mais.

Só que no dia seguinte eu acordei totalmente atordoado em um quarto de motel. Ainda tonto e sonolento me sentei na cama e observei a bagunça que estava no quarto. Vi minhas roupas jogadas e logo constatei que estava nu. Meu corpo doía e marcas em meu torso. Depois de entender o que provavelmente aconteceu naquele lugar eu entrei em desespero, mas já era tarde.

Levantei as pressas tentando vestir minhas roupas o mais rápido possível, Peter já não estava, mas deixou um recado em um bilhete:

"XEQUE-MATE"

Me senti um idiota em acreditar novamente nele, em acreditar que ele mudou.

Fiquei super mal, e acho que você notou uma mudança pois eu fiquei muito distante, mesmo eu não me lembrando de nada eu me sentia violado, sujo. Não queria te tocar por estar com nojo de mim. Você não merecia me tocar depois do que aconteceu, não queria te sujeitar a isso.

Peter sumiu, tentei ligar para o número no qual ele me ligou, mas o mesmo já não estava ativo mais. Queria perguntar o que aconteceu, ter alguma resposta mesmo que tudo indicasse que sim, nós dois passamos uma noite juntos.

A cada dia que passava aquela situação me destruía mais e mais, me corroendo por dentro. Eu estava decidido a contar depois de acreditar que Peter não iria mais aparecer, mas me enganei, uma mês depois, assim que nos formamos ele me ligou, primeiro apenas disse que tinha algo importante para falar, e foi aí que revelou que estava com um câncer avançado e que tinha poucos anos de vida. Eu estava com tanta raiva que apenas desejei um ótimo final de vida e desliguei o telefone sem ao menos o deixar falar. Ele tentou me contatar por ligação mais algumas vezes, mas não o atendi. E foi aí que ele moveu a sua última peça. De repente meu celular recebeu várias notificações, quando abri o aplicativo de mensagens, tinham fotos e mais fotos nossas no motel. Eu estava desacordado, era nítido, mas não mudava o fato de que eu estava lá com ele, nu em um quarto de motel. Ameaçou mandar as fotos para você, mas eu estava tão cansado daquelas situações que ele me colocava que eu simplesmente dei de ombros, eu daria um jeito de fazer você acreditar que eu não fui por conta própria, pois naquele momento eu tinha certeza que ele havia me drogado. Mas por um momento eu tinha esquecido que Peter era a pessoa mais baixa que eu já tinha conhecido, no mesmo momento ele me mandou fotos suas, sabe aquelas fotos íntimas que tiravamos? Não sei como ele as conseguiu, mas tinha todas, e ameaçou te expor caso eu não aceitasse sua proposta. Ele tinha planejado tudo, iria fazer você acreditar que estávamos juntos a muito tempo e que eu dividia com ele nossas intimidades.

Eu iria te perder de qualquer jeito, então eu apenas quis te poupar, e terminei com você.

Já era mais que claro que eu nunca seria feliz, com Peter na minha vida eu tinha perdido essa oportunidade.

Quando cheguei na Alemanha eu deixei claro que ele não deveria esperar muito de mim. Todo carinho e respeito que um dia senti por ele se transformou em puro ódio e rancor. Mas eu sabia que nada seria fácil mesmo eu o rejeitando.

Vivi sobre ameaças e por isso aquela foto do Instagram saiu. Ele sabia que eu amava você, sabia que a gente ainda se comunicava mesmo que pouco então ele disse que eu precisava mostrar a todos que estávamos juntos, ou a minha tentativa de te proteger iria ser falha. E eu apenas fiz, fui obrigado a te ligar e falar que estávamos juntos, ele não se contentava em apenas me ver sofrendo, você também deveria.

Com o tempo as coisas iam piorando, ele era o Peter de sempre, narcisista e manipulador. Descobri que ele tinha apenas um ano e meio de vida, era pouco para ele mas seria uma eternidade para mim.

O tempo foi passando e eu não via que eu estava entrando em um labirinto onde eu não saberia sair. Sentia um vazio que nada preenchia, e uma tristeza que não era profunda, não atrapalhava o dia a dia, mas estava sempre ali. Além disso, eu estava mais irritado do que o normal, brigava com muita gente, e em seguida vinha a culpa. Me sentia péssimo o tempo todo, porque ficava repassando tudo mil vezes na minha cabeça.

Não sabia porque estava assim, e o primeiro sinal de que algo não estava certo, foi quando fomos em uma casa de show bem diferente, que era uma das realizações dos "desejos" de Peter antes de morrer.

Não me lembro de fato o que houve, mas Peter disse que eu voei como um lunático para cima do homem, socando sua cara como um louco descontrolado. Acordei na enfermaria de um hospital, com os pulsos algemados. Quase fui preso, mas pagamos a fiança e respondi por agressão. Por fim paguei uma indenização altíssima para a pessoa que agredi.

Mas as coisas não pararam por aí, e tudo piorou quando descobri que você estava namorando. Algo despertou dentro de mim, algo ruim. Só pensava no porque de alimentar aquela dor que só crescia em meu interior, do porque continuar vivendo aquilo se eu poderia acabar com aquela dor. Era só eu querer, e eu quis.

Eu não tinha mais nada o que perder.

Peter tomava medicamentos fortes, e eu tinha a plena noção de que se eu ingerisse uma boa quantidade deles eu teria uma overdose e quem sabe eu teria a sorte de acabar com todo aquele sofrimento.

Foi uma sensação tão estranha que eu senti a morte pegar em minhas mãos. Eu não conseguia respirar, parecia que estava dentro de um tanque enorme com água, com minhas mãos atadas e me afogando. Eu ouvia ao longe o desespero de Peter mas não conseguia me concentrar, e com ele ali o desespero apenas foi passando porque eu só queria me ver livre das amarras dele.

Quatro dias depois acordei em um quarto de hospital. Estava péssimo. Olhei para os lados e me encontrava sozinho, Peter não estava lá o que já foi um grande alívio. E foi naquele mesmo dia que descobri que estava com depressão, não percebi os sinais então eu simplesmente agi querendo acabar com o meu sofrimento.

Fiquei sozinho naquele hospital por três dias, No quarto dia Peter Fisher apareceu. Estava com uma cara de assustado, algo que nunca tinha presenciado. E tudo foi uma surpresa, pois ele me pediu desculpas e disse que eu estava livre para voltar para Coreia e viver minha vida. Ele ainda me queria em sua vida mas me ver naquele estado, quase morto, abriu seus olhos, então ele iria por fim naquele jogo idiota que armou.

Foi difícil acreditar que estava livre, mas ele cumpriu sua palavra. Eu estava liberto, poderia voltar e tentar ter de volta tudo o que perdi, mas eu não estava bem, eu precisava me curar primeiro para depois fazer o que estou fazendo agora. Que é recuperar minha vida e reconquistar a pessoa que nunca deixei de amar.

Peter faleceu quatro meses depois.

- Fim da narração do Jungkook -

Depois de ouvir todo esse relato me sinto desolado, meus olhos estão cravados no chão e lágrimas caem mesmo que eu não queira. Eu não sei como agir, não sei o que falar e muito menos o que sentir.

Então por um momento notei que estava preso em uma ilusão, me via sentado dentro do meu quarto com paredes de vidro, ele estava bem iluminado mas fora era uma densa escuridão.

Nele estou sozinho como sempre, sinto uma angústia inexplicável e isso me deixa inquieto. Me levanto e olhando para as paredes consigo me ver refletido nele. Notei que não era o meu eu de hoje, mas sim o Jimin de quatro anos atrás. Estava diferente, uma imagem distorcida de mim, uma que eu não gostava, mas estava ali. Me aproximo da parede e cautelosamente minha face tento tocar, sinto o frio do vidro em minhas mãos e então vejo meu reflexo recuar, e logo algo começa a me sufocar e uma dor forte toma meu corpo.

Meu reflexo sumiu e isso me deixou em desespero pois estava sozinho novamente e eu não queria mais sentir o peso daquela solidão. Olhei para o outro lado e vi algo parecido com uma rachadura, me aproximei e curioso toquei o vidro novamente. Não sabia como ela tinha sido feita mas senti uma enorme vontade de socar e quebrar aquelas paredes. Mesmo não vendo absolutamente nada ao meu redor e apenas escuridão, algo me dizia que lá fora teria algo a mais a minha espera.

Mas saindo da penumbra daquela escuridão eu também vejo uma imagem distorcida de Jungkook. Com uma marreta em mãos notei que veio para tentar me salvar. E com uma potência fora do comum ele bate com força na parede de vidro. E algo aconteceu, mas não na parede que continuou intacta, mas em mim. Fui jogado ao chão sentindo o forte impacto, e Jungkook se desesperou do outro lado ao me ver no chão me contorcendo de dor. Ele tentou mais algumas vezes, usou outros tipos de ferramentas mas o resultado era sempre o mesmo.

Por mais que ele tentasse me libertar ele sempre me machucava.

Despertando dos meus devaneios levanto meu olhar e noto que a expressão que via de Jungkook ali na minha frente era a mesma da imagem distorcida na parede de vidro. Desespero.

- Era desse olhar que eu tanto temia, de decepção. Mas sabia que se eu queria um dia ter uma chance mesmo que mínima de tentar acertar meus erros eu não teria como fugir dele.

Meus olhos estavam cravados nele, não conseguia desviar, tentava encontrar algo que me fizesse odiá-lo mas eu ainda sentia apenas amor.

O choro havia cessado, acho que estava tão impactado com tudo o que ouvi que eu apenas não tive mais reação alguma, era um misto de tudo e nada ao mesmo tempo.

- Eu sinto muito por tudo o que passou. - Com a voz trêmula e fraca aquelas palavras saem da minha boca como um sopro. Logo volto a cravar os olhos no chão enquanto o silêncio toma conta do ateliê novamente.

Naquele momento eu por um breve momento coloquei uma das mãos em meu coração, e cheguei a conclusão de que todas as cicatrizes que ele tem hoje, que nenhuma foi feita pelo meu inimigo.

Uma triste conclusão.

- É inimaginável tentar entender ou sentir tudo o que você passou. Eu realmente não sei como tentar expressar o quanto sinto por não ver os sinais. Saber que você poderia ter morrido me causa sensações de impotência Jungkook.

- Não se sinta assim Jimin. Eu fui egoísta. Por um momento eu te odiei profundamente quando soube do Namjoon, duvidei do amor, duvidei de tudo. Fui egoísta ao ponto de achar que mesmo eu estando lá com ele, ao lado dele e dando a ele o que eu não dei a você, que você deveria apenas me compreender e me esperar. Egoísta ao ponto de ignorar os seus sentimentos e apenas pensar no que eu sentia.

- Não quero julgar ou tentar apontar o dedo agora, porque simplesmente nada vai ser desfeito. Mas, você podia ter confiado em mim. - Notei que ele baixou a cabeça limpando lágrimas que escorriam silenciosamente pelo seu rosto. - Eu era seu namorado, e eu só queria fazer uma boa atuação nesse papel. Mas não tive oportunidade.

Minimamente me aproximo e levanto seu rosto para que pudesse me olhar.

- A nossa história tinha tudo para ser diferente, você tinha tudo para estar aqui, para ser o meu motivo para sorrir, ser a pessoa que estaria ao meu lado nas fotos e o meu bom dia quando acordo. Mas você escolheu ser só mais uma lembrança.

- Eu sinto muito Jimin. - Com um choro desesperado Jungkook desaba.

- Eu sei que sente, porque eu também sinto. Eu achei que a gente ainda tinha uma chance, que um dia a gente poderia deixar tudo o que aconteceu para trás mas às consequências são grandes demais para simplesmente ser apagadas.

Foi difícil ver ele me olhar daquele jeito. Ele sabia que o fim estava próximo, ele sabia que estávamos caminhando para um ponto final definitivo em tudo o que passamos. Eu queria nos libertar, eu queria tirar de nós dois qualquer resquício de alguma coisa que ainda nos prendesse a esse amor que só nos machucou.

- Eu te amei e te amo Jungkook, mas hoje entendo que tem amores que não são para ser vividos. E você é meu amor que dói como uma ferida aberta, e eu só quero me curar. Estou decepcionado sim, você omitiu, você mentiu, você escolheu tentar resolver as coisas do seu jeito como se minha opinião não fosse importante.

Estiquei as minhas pernas encostei na parede e cautelosamente puxei um pouco de sua camisa indicando que deitasse em minhas pernas.

- Deita aqui. - Indiquei batendo as mãos nas minhas coxas.

Sem hesitar ele apenas deita, com carinho afago seus cabelos enquanto ele respira fundo aliviado, como se meus toques fossem alívio para sua dor.

- O que mais doeu foi a falta, a falta de tudo que remetia você. Das coisas que me irritava, das coisas que eu amava, da sua simples presença. Senti falta dos seus risos escandalosos, dos seu ronco alto nas noites quietas que não me deixavam dormir. Senti falta dos nossos nadas, da maneira como apenas te ver ali do meu lado em silêncio me fazia bem. Eu senti falta de você.

Jungkook só ouvia sem nada dizer. Parecia descansar em meus braços, e assim estávamos aproveitando do nosso melhor jeito o nosso último adeus.

- Obrigado pelos momentos bons Jungkook.

E como uma despedida, bem baixinho ele simplesmente falou:

- Você é a última vez que amo Jimin!

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