Deixei a Ayla brincar na banheira e logo que saiu ela pediu para jantar no quarto e dormiu. Eu no impedi porque conseguia ver seus olhinhos vermelhos de sono
— oi — o Thomas bateu na porta — ela dormiu?
— jantou e dormiu
— você ainda não se trocou, pode ir e eu fico aqui
Ele tirou as botas e deitou na cama ao lado de nossa filha que dormia abraçada com o coelho. Eu o observei pegar uma mecha do cabelo dela e ficar enrolando no dedo
— podemos jantar depois? Temos que conversar — perguntei
— sim, quando ficar pronta venha me avisar — respondeu sem me olhar
Tentei ser rápida só que meu cabelo estava inteiro embaraçado. Levei quase uma hora para penteia-lo e quando cheguei no quarto ele havia dormido
— Thomas — o cutuquei — acorda
— me deixa mãe — virou de lado
— não sou sua mãe — ri
Devagar ele abriu os olhos e olhou ao redor para se localizar
— caramba eu apaguei
— vamos comer?
— sim
Descemos em silêncio até o salão de jantar e nós sentamos da maneira que costumávamos quando éramos casados
— como anda seu trabalho?
— cansativo — respondeu se servindo — as chuvas deram trabalho esse ano mas agora já estão passando e teremos uma longa seca. Preciso começar a me preocupar com incêndios
— é sempre um problema novo
— Conseguiram reproduzir mais daqueles medicamentos que você fez e isso possibilitou a abertura de mais hospitais
— uau, isso é ótimo
— também temos escolas novas e uma lei rigorosa que faz os pais paguem dez vezes mais o valor dos impostos caso não mandem seus filhos. O Ciro fez um estudo e não há nenhuma criança no reino todo que não esteja matriculada
— no reino todo?
— sim, eles ficam em período integral e tem todas as refeições
— você está fazendo um ótimo trabalho
— estou tentando, ainda não me aceitam muito bem
— é porque não conhecem você de verdade
Ele abaixou o garfo e olhou para mim
— vocês vão partir amanhã
— sim
— eu... não sei o que dizer
— você pode ir até lá sempre que quiser e ela pode vir para cá também
— tudo bem
Voltamos a comer em silêncio e depois da sobremesa ele me acompanhou pelo corredor até nossos quartos que ficavam um de frente para o outro
— Thomas
— o que foi?
Me aproximei dele sentindo o seu perfume que me deixava completamente enfeitiçada
— não posso fazer isso, eu...
Ele abriu e fechou a boca tantas vezes que eu sorri
— não tem um argumento convincente?
— ficamos anos separados, te fiz muito mal. Não posso simplesmente jogá-la na minha cama e fingir que nada aconteceu
— não estamos fingindo que nada aconteceu
Me aproximei mais colando nosso peito e inspirei seu cheiro em seu pescoço. Eu me sentia uma verdadeira cadela no cio
— você merece mais que isso
Passei a língua até o lóbulo de sua orelha e chupei antes de sussurrar em seu ouvido
— minha calcinha molhada está dizendo o contrário
Eu vi sua pele ficar arrepiada e ele se afastou como um gato assustado
— não brinque com fogo se você não quiser se queimar
— já estou queimando inteira e você nem me tocou
Não me importava com sua traição, com suas mentiras, com o quanto eu estava me humilhando. Eu queria ele mais do que já quis qualquer coisa na vida.
— não destrua meu auto controle, estou tentando ser um bom homem
— gosto mais do Thomas malvado
Vi o exato momento em que suas pupilas dilataram e um sorriso sacana saiu do canto de sua boca. Havia tanto desejo reprimido entre nós que você sentia no ar. Me encostei na porta, sentido o coração bater forte enquanto ele se aproximava lentamente de mim. Nossos olhos não se desconectaram um segundo. Ele colocou as mãos na madeira ao meu redor e veio inclinando para perto sem me tocar. O calor de seu corpo me envolveu e eu me derreti toda quando nossos lábios se tocaram.
— Lina... — gemeu mal nos separando
Aos poucos o beijo foi ficando selvagem. Não existia mundo ao nosso redor, só nossos sentimentos que eram mostrados a cada toque
— eu não vou aguentar dois segundos dentro de você
— por que?
— não transo desde que você foi embora
— sério?
— me toquei uma vez a alguns dias atrás. Você estava aqui e não aguentei
— se tocou pensando em mim?
— sempre em você, só existe você na minha cabeça
Puxei sua camisa para enfiar as mãos por baixo enquanto voltamos a nos beijar. Ele apalpou minha bunda com uma mão e a outra ia aos meus seios
— mamãe? O que vocês estão fazendo?
Nós afastamos tão rápido que parecia que um raio tinha caído entre nossos corpos. Os olhos dela iam de um para o outro sem entender muita coisa
— Ayla... você acordou
— eu tive um pesadelo, vocês podem dormir comigo?
— sua cama é muito pequena — falei
— podem dormir na minha, cabe todo mundo lá
Thomas pegou a Ayla no colo e entrou em seu quarto. Ele a colocou na cama e puxou o edredom
— o que você e a mamãe estavam fazendo?
— coisas de adultos, agora feche os olhos e duma com as fadinhas
Me deitei a deixando no meio e dei uma risada
— hoje é o melhor dia da minha vida porque estou com minha mamãe e meu papai
Ela abraçou o Thomas e jogou as pernas sob meu colo. Não demorou nem dois minutos para dormir
— Lina, isso não pode acontecer de novo — falou olhando para o teto — eu amo você mas não sou digno de você me amar de volta e para a sua felicidade nós precisamos manter distância
— você não pode dizer o que vai me fazer feliz ou não
— olha tudo que te causei
— vai se culpar para sempre?
— sim — Ele levantou e passou a mão no cabelo frustrado — vou tomar banho, melhor você dormir
Ele demorou tanto para voltar que acabei pegando no sono em meio aos meus pensamentos.