Layla estava sentada a frente de Danny na mesa, segurando uma de suas mãos enquanto viajava em suas lembranças, tentando achar a parte que ele esqueceu.
— não tá dando certo né? — Ele bufou frustrado e ela suspirou, acariciando a mão dele.
— você tá me bloqueando.
Ele jogou a cabeça pra trás e respirou fundo.
— relaxa, eu vou dar um jeito — ela garantiu e ele voltou a olha-la.
— como?
— não importa como. Vou te tirar daqui.
Ele suspirou e segurou a mão dela, brincando com seus dedos.
— a mãe sabe? — ele perguntou em tom baixo.
— Catarina deve ter falado — Ela notou ele morder o lábio em ansiedade.
— acha que ela vai ficar brava?
— não, ela não vai — tentou tranquiliza-lo mas nem ela sabia o que sua mãe acharia daquilo. — ela vai entender.
Pelo menos esperava que sim. Danny ficou em silêncio por um minuto e ela o olhou confusa, encontrando aquele olhar. Aquele olhar.
— Ted — Ela evitou o impulso de afastar a mão da dele, mantendo o contato mesmo sabendo do pequeno risco.
Ted era uma das personalidades de Daniel. Felizmente, Layla aprendeu a diferenciar as personalidades.
— senti sua falta coisinha — seu tom de voz também era mais grave que o normal de Danny.
Ela sorriu pelo apelido, ele a chamava assim na infância.
— isso é mentira — ela disse e ele concordou.
— verdade — ele riu e afastou as mãos, encostando na cadeira e a olhando analítico. — você cresceu.
— você também. Como se sente?
Ele deu de ombros.
— como sempre eu acho... Vazio.
Ela concordou e abaixou o olhar pra sua mão, brincando com o anel nela.
— quem te deu o anel?
Ela pressionou os lábios antes de responder.
— um amigo.
— você gosta dele?
Ela deu de ombros e ele bateu a mão na mesa com força, a fazendo encolher os ombros com o susto.
— responde!
— não. Eu não gosto. Não consigo, sabe disso.
Ele relaxou de novo na cadeira e sorriu.
— sim, isso. Boa garota.
Por alguma razão, Ted era possessivo com Layla. Não podia vê-la falar ou sequer olhar pra outra pessoa.
— o tempo acabou — Alexandre falou entrando na sala e o garoto o olhou.
— não.
— não? — ele olhou confuso pros mais novos, Layla negando com a cabeça. — não tem essa de não. Vamos Layla — ele a ergueu pelo braço e Danny se levantou.
— não toca nela! — ele puxou Alexandre com força, o empurrando na direção da parede. — eu disse não!
Layla entrou na frente quando ele ia se aproximar do homem, tocando seus ombros e o fazendo ir pra trás.
— Ted, tá tudo bem, eu volto depois — ela disse suavemente, tentando acalma-lo.
— não, você não vai!
Ela tocou o rosto dele com uma das mãos e ele relaxou por um minuto.
— eu vou voltar, eu prometo — ela disse e Alexandre a afastou dele, não vendo o rosto dele se contorcer.
— não... Não. Não!! Layla!! — ele foi na direção dos dois, seus olhos brilhando em ódio.
Dois policiais entraram rapidamente na sala, puxando ele pelos braços e o colocando com o rosto contra a mesa.
— não, espera! Não faz isso! — Layla tentou impedi-los, mas Alexandre a puxou pra porta.
Os dois mais novos se olharam. Layla notou o momento em que seus olhos ficaram vazios e a consciência dele se perdeu. Ela apertou a mão no braço de Alexandre e uma lágrima desceu por seu rosto.
Alexandre a tirou da sala e a levou de volta pro escritório dele.
— aquela é uma das personalidades dele?
Ela assentiu e passou as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas.
— você parece saber lidar com as mudanças dele.
— eu seria uma péssima irmã se não soubesse — ela fungou, respirando fundo.
Ele ficou em silêncio e a estendeu a caixa de lenços de papel. Ela pegou um deles e limpou o nariz, fungando e respirando fundo.
— eu posso falar com a advogada dele?
— vou te passar o número dela — ele foi até a mesa, pegando um cartão de visita que estava alí e a estendendo.
Um arrepio a percorreu quando reconheceu o nome da advogada. Deveria ter imaginado.
— eu preciso ir — ela disse se levantando.
— certo. Ligamos se algo acontecer.
Ela agradeceu e deixou o escritório e logo a delegacia. Fez o caminho até a casa no automático, seus pensamentos longe. Não sabia o que fazer, como fazer. Não podia deixar Danny ser preso, mas não sabia se era seguro deixá-lo solto. Se Ted estava daquele jeito, ela não queria ver Tristan.
Ela sentou na cama e encostou as costas na parede, ficou assim até a hora do almoço. Depois se arrumou e saiu de novo, agora com outro destino. Pegou um táxi pro endereço e entrou no edifício, indo na direção da recepcionista.
— como posso ajudar?
— procuro a Viviane Suran — Layla disse.
— por essa eu realmente não esperava.
Layla se virou e encontrou a mulher loira sorrindo.
— achei que nunca mais ia te ver.
— era a idéia — Layla respondeu e ela sorriu mais, indicou com a cabeça pra segui-la e assim Layla fez.
Entraram no elevador e a mulher apertou o C5. Assim que o elevador começou a funcionar, Layla percebeu que ele estava descendo, ao invés de subir.
— só vou permitir porquê sei que não viria se não fosse de extrema urgência.
Layla não falou nada, só esperou o elevador parar. Elas saíram e a mulher foi na frente, a guiando pelo corredor cheio de portas de aço reforçado.
— não tente nada — disse e abriu a última porta do corredor. Entraram e desceram uma escada, chegando a uma sala escura que logo se acendeu, graças as lâmpadas com sensor de movimento.
A mulher pegou o tablet que estava em uma mesa alí e apertou um botão, o que parecia só uma parede branca na verdade era uma cela mais tecnológica. Logo a parte branca sumiu, dando visão pra cela e pro homem dentro dela. Layla prendeu a respiração quando ele levantou da cama, cobrindo os olhos com a mão pela luz repentina.
— o que foi agora? — ele perguntou, sua voz rouca e grave, como se tivesse ficado muito tempo sem falar.
— visita.
Quando a visão dele se acostumou, ele tirou a mão da frente dos olhos e olhou pra garota ao lado da loira.
— Layla.
— vou deixá-los a sós. Volto em meia hora — a loira disse e se afastou, levando o tablet junto.
Quando estavam sozinhos, Layla se aproximou mais, podendo vê-lo melhor. A barba por fazer, a pele pálida pela falta de sol e aquela roupa cinza deprimente.
— você nunca veio... Nem por projeção. Por que agora?
Ela engoliu seco, não sabia nem por onde começar.
— aconteceu alguma coisa, não é?
— é um pouco mais complicado — ela sorriu sem ânimo e abaixou o olhar por um momento, era muito difícil olhar pra ele naquela situação.
— o que foi? É a Hayley? Sua vó apareceu? Ou — ele ia continuar sugerindo coisas, mas ela o interrompeu.
— o Danny — ela respirou fundo antes de levantar o olhar, a doía vê-lo daquele jeito. — o Danny tá sendo acusado de homicídio.
O homem ofegou e olhou pra parede, atordoado.
— a Ariana e o Josh... Estão mortos e... Acham que ele os matou.
— ele matou? — ele perguntou e ela abaixou o olhar, franzindo os lábios.
— ele não lembra. Não consegui ver nada na mente dele.
O adulto andou pela cela ansiosamente.
— acha que ele pode ter...?
— eu não sei. Talvez o Tristan — ela mexeu nas mãos ansiosamente e o homem bufou frustrado, passando as mãos pelo cabelo.
— se o Tristan aparecer e confessar — ele se interrompeu com um grunhido e virou de costas pra ela, se controlando pra não ficar agressivo. Só estava vivo por seu bom comportamento.
— Vanessa pegou o caso.
— aquela Vanessa? — ele a olhou por cima do ombro e ela concordou.
— ele tava usando as injeções. Alguém tava arrumando pra ele e... Eu acho que a Colmeia — ele a interrompeu.
— não. Eles não se atreveriam — ele encostou os braços na parede.
— eles tentaram me matar no meu aniversário. Mandaram o Olliver e o Elliot.
Ele bateu os punhos na parede, afundando o concreto e abrindo rachaduras ao redor.
— acho que... Podem ter passado um trabalho pra ele, que ele não conseguiu fazer. Por isso...
— incriminaram ele? — ele riu sem ânimo. — é a cara deles — ele se afastou da parede e se virou pra ela.
Layla parecia tão abatida, ele se sentiu impotente por estar preso naquela cela enquanto suas crianças estavam passando por aquilo.
— eu não sei o que fazer — ela confessou em um murmuro.
Ele queria poder aconselha-la ou sair dali pra ajudá-la, mas não fazia idéia de como.
— a única solução que pensei foi... — ela hesitou. — Falar com o Luthor.
— o que?
Ela suspirou e sentou na cadeira que tinha alí.
— talvez se eu fizer um acordo — ela iniciou.
— você não pode confiar nele. Ele vai sorrir, carregar sua alma.
Ela suspirou, já esperava aquela reação dele. Ward tinha um histórico com Lex Luthor.
— é tudo manipulação. Ele é um mestre viciado.
— não importa — ela disse e ele a olhou ofendido e incrédulo.
— como? Como não importa? Você sabe a história Layla. Você sabe tudo que ele fez.
— não importa porquê é o Danny, Ward. É o meu irmão — ela se levantou, engolindo o bolo em sua garganta.
— ele é meu filho! — ele gritou.
— exatamente! É o seu filho que vai ser condenado por uma coisa de que não tem culpa!
Ele riu e negou com a cabeça.
— eu sei como é Layla, não esquece o porquê tô trancado aqui.
— é, você tá trancado aí. Eu não — ela disse, se mantendo firme. — Eu não vou deixar meu irmão ir pra cadeia, não importa o que eu tenha que fazer. Se eu precisar invadir a Colmeia, se eu precisar falar com o Luthor. Não importa!
Ele esfregou a mão no rosto e andou pela cela.
— Danny precisa de mim. Precisa de vocês. Precisa da família dele — as lágrimas desceram que ela nem percebeu. — eu preciso.
Ficaram em silêncio e ela fechou os olhos com força, fungando e limpando as lágrimas.
— eu não vou mais viver assim.
[Revisado]
Um tiquinho da complexidade que é a família da Layla.
Vou assistir The Crowded Room pra escrever melhor as cenas do Danny.