Lua White
Deslizei os dedos pelo colar em formato de lua e sorri para a minha imagem no espelho. Eu podia dizer que estava nas nuvens. Cursava na melhor universidade de medicina de Chicago e namorava um homem que havia feito uma surpresa linda para mim. Nada me faria tirar o sorriso do rosto.
Nada.
— Que merda! — Judy praguejou atrás de mim. — Estou precisando beber.
— Qual o problema? — Virei-me para ela. Sua expressão era de cansaço. — Que coração, você feriu hoje?
— É mais fácil terem feito isso comigo.
— Quem foi o sortudo que conseguiu isso?
Eu soltei um risinho e ela me deu um olhar de tédio. Era engraçado perturbar Judy em relação aos meninos. Ela nunca parecia interessada em nenhum e, normalmente, eles estavam de olho nela.
— Só porque encontrou seu príncipe encantado, não quer dizer que tudo seja relacionado a garotos, Lulu. — Levantou-se e passou os olhos em si mesma, arrumando-se.
— Você chamou mesmo o Bryan de príncipe? — Eu sorri e ela revirou os olhos.
— Foi uma expressão zombeteira.
— Eu sei, mas me recuso a aceitar.
— Pode ir comigo àquela lanchonete fora do campus? — Ela amarrou seus cabelos, só que os fios teimosos desceram mesmo assim, irritando-a levemente.
— Claro. Vamos comer lá?
— Não, eu vou tentar conseguir um emprego. — Fiquei surpresa e lhe dei um olhar indagador. — Se eu não tiver um emprego, não poderei me sustentar.
— Pensei que seus pais bancassem a maioria das suas coisas.
— Meu pai paga meu curso e ajuda minha mãe com uma quantia para cuidar de mim, mas essa quantia vai sumir quando eu sair de casa. Jenna Mirrors não vai me dar um tostão furado sequer.
— Por que sairia de casa?
— Não estou mais me dando bem com minha mãe, e quando o pai de Bryan for morar com ela... eu não vou querer estar lá.
— Só uma dúvida: eles já não moravam juntos?
— Não. Minha mãe preferia não misturar sua vida amorosa com a materna por enquanto porque conseguia uns trocados do meu pai. Então, é o que é.
Compreendi rápido e concordei. Na mesma hora, meu celular brilhou com uma mensagem de Aubree.
Fiz a pergunta da qual eu queria muito saber a resposta desde que tudo começou:
— Você odeia o Bryan?
Ela me fitou e achou estranho, porém acenou quando viu que eu falava sério.
— Não, eu não o odeio, mesmo depois de tudo. Mas isso não quer dizer nada.
— Quer dizer muitas coisas. — Dei de ombros e fiquei satisfeita.
Aubree, impaciente igual ao irmão, não me deixou lhe responder, ligou para mim na mesma hora. Atendi à chamada, ciente de que já estava atrasada.
— Onde você está? — Ela foi mais rápida. — Bryan já está me expulsando da fraternidade, e eu não aguento mais ouvi-lo dizer isso.
— Qual o problema? A fraternidade também não é sua casa? — indaguei, brincalhona. — Já estamos saindo. Ele pode te trazer aqui?
— Ele pode. E o problema dele é uma coisa chamada hipocrisia masculina.
— É melhor calar a boca, pirralha. — Consegui ouvi-lo dizer ao fundo.
— Tudo bem. Vamos te esperar na porta dos dormitórios.
Quando desliguei, chamei minha amiga e saímos. Bryan e Aubree chegaram uns minutos depois, ambos se atacando como adolescentes. Tive um leve vislumbre do que era ter um irmão. Naomi era uma pestinha e me dava trabalho, mas um irmão, com certeza, iria me dar muito mais.
— Boa tarde, sweetheart. — Ele abraçou minha cintura e me deu um beijo demorado na boca. — Vai sobreviver a uma tarde com ela?
— Vou, sim.
Ele piscou para mim. Não poderia ir conosco. Seus treinos estavam mais intensos, já que o jogo estava muito próximo. Depois de ser adiado e adiado, a final do campeonato seria no fim de semana, e cada célula do corpo daquele jogador estava direcionada a isso.
— Me encontra à noite? — ele perguntou.
— Claro, namorado.
— Certo. Quem de vocês vai dirigir?
— Seria eu. — Bree falou e Bryan negou na hora. — Eu sei dirigir.
— Você não toca no meu carro, pirralha. E você, Lua?
— Perguntou para a pessoa errada, baby.
Bryan olhou para a terceira mulher ali, uma que não se atreveu a olhá-lo, e eu esperei o primeiro insulto. Eu só tinha uma coisa na cabeça: ele se arrependeria por isso mais tarde. No entanto, para a minha surpresa, o insulto não veio.
— Sabe dirigir, Judy?
Ela virou o olhar para ele e pareceu incomodada.
— Sim.
— Então, está por sua conta. — Ele jogou a chave e minha amiga a pegou na hora. — Até mais tarde, meninas.
Bryan se foi assim como chegou, desfilando pela rua, seguindo seu caminho e nos deixando para trás.
— Posso pegar o carro agora, que ele não está olhando? — Aubree apelou e Judy pareceu animada demais para desistir de dirigir.
— Sem chance, Rutherford.
Nós pulamos para dentro do Jaguar. Judy bateu no volante, terrivelmente alegre, e dirigiu cantando pneus para fora do campus.
— Você é louca! — Segurei-me no assento. — Judy!
— Ela é louca igual ao meu irmão. — Aubree gargalhou. — Vamos para onde?
— Para qualquer lugar longe deste campus, Rutherford — a loirinha disse.
Era desnecessário eu dizer que aquela tarde tinha sido incrível. Fomos à praia, caminhamos pela areia, comemos um lanche e deixamos o currículo de Judy em alguns lugares antes de ela dirigir de volta para a UIC.
Estava anoitecendo, e quando ela estacionou na frente dos dormitórios, uma movimentação estranha me chamou a atenção. Bree foi a primeira a sair, e eu segui seu exemplo, indo até o homem machucado que chorava ali na frente. Judy me segurou pelo braço e vimos, em primeira mão, Asher em um estado deplorável, parecendo ter levado uma surra de várias pessoas. E eu duvidaria muito se me dissessem que ele não precisava de um médico. Bree colocou a mão na cabeça e lhe perguntou diversas vezes se estava bem, preocupada com o amigo do seu irmão. Eu me aproximei mais dele e meu estômago ficou cada vez mais embrulhado.
— Asher? — chamei-o.
Ele ergueu a cabeça e eu ofeguei quando o senti agarrar meu pulso.
O que diabos tinha acontecido com ele?
(...)
— Que merda, Ash. Meu irmão sabe que você se envolveu em mais uma briga? — Bree passou um algodão no ferimento do supercílio dele, o maior corte no seu rosto. — O que vocês têm na cabeça, hein?!
— Aubree, devagar. — Ele gemeu e se afastou das mãos dela.
— Não sei como ainda não se mataram. — Ela fez um curativo meia-boca.
Eu e Judy apenas olhávamos para aquela situação. Levá-lo para o nosso quarto foi ideia de Bree, já que ela gostava de cada um dos homens da gangue do irmão e eles até pareciam ter um carinho por ela.
Os ferimentos de Asher se resumiam a hematomas por todo o tórax e cortes no lábio, nariz e supercílio. Sem contar os cacos de vidro que estavam nos ferimentos dos braços. Era difícil dizer em que briga ele havia se envolvido.
— Quem fez isso com você, Asher? — eu me forcei a perguntar, e ele, engolindo em seco, olhou-me com receio. — Não deveria estar treinando com os outros?
— Possivelmente. — Deslizou o dedo pelo lábio cortado. — Eu vim aqui porque queria conversar com você.
— Pode falar.
— Eu preferiria que estivéssemos a sós.
Ah... não. Obrigada.
— Por quê?
— É importante e só diz respeito a você. — Engoliu em seco novamente. — Não vou te atacar, porra, só vou conversar.
É, eu estava um tanto preocupada. E nada tinha me preparado para o ver querendo ter uma conversa comigo, principalmente depois de ele ter me agarrado na festa da fraternidade um tempo atrás. Ainda assim, dispus-me a ouvi-lo e esperei Bree e Judy se retirarem por um momento.
Ele tinha dois minutos, só isso.
— O que tem para me falar que não podia ser na frente delas? — Cruzei os braços, indagativa. — É o nome da pessoa que te espancou?
— Antes você tinha mais timidez para falar. — Gemeu e respirou fundo. — Agora só diz o que pensa?
— Asher! — eu o adverti.
Com muita dificuldade, ele levou a mão ao bolso, pegou o celular e o jogou na minha cama. A confusão no meu rosto era palpável, e quando não me movi com seu ato, ele resmungou um palavrão.
— Pegue o celular e veja.
— De quem é o celular?
— Meu. — Esperou que eu olhasse o conteúdo. — Eu postei a foto, Lua. A foto em que você estava quase nua na cama de Bryan.
O celular estava na página de publicações e mostrava quais tinham sido as recentes postagens. Ali estava a minha foto, com as palavras em vermelho na lateral: "foto removida". O que me dava a certeza de que foi ele que fez aquela confusão toda. Minha garganta arranhou e me enfureci tão rapidamente, que nem vi quando segurei a camisa dele e lhe dei um puxão forte. Ele reclamou, empurrou-me para longe dele e gemeu em seguida.
— Não me toca, caralho! — exclamou. — Já estou todo fodido.
— Deveria estar mais.
Ele quis revidar as palavras, ficando irritado com minha reação. Quando viu que eu estava quase jogando algo na sua cabeça, adiantou-se.
— Bryan me pediu para fazer isso — ele soltou a bomba no meu colo, e isso me fez travar no chão. — Ele me mandou a foto e me disse para agendar a postagem para o horário do jogo. Ninguém desconfiaria de alguém que estaria ocupado na hora em que a foto aparecesse para todos.
Meu corpo ficou dormente tão rápido, que nem sequer tive tempo para notar. Encarei a parede atrás de Asher, tentando não olhar para o rosto da pessoa que havia me dado uma facada, e me forcei a falar, mesmo que cada palavra rasgasse a minha alma.
— Ele me garantiu que não fez isso.
— Claro que garantiu. Tudo estaria no controle dele se ele te convencesse disso. — Eu fiquei quieta e ele prosseguiu. — Você é a caloura mais fácil de toda a UIC.
— Ele foi à minha casa e conheceu os meus pais. Isso não foi à toa.
— Eu não diria "à toa", mas isso a fez cair de amores por ele, não fez? — vociferou. Sua voz aumentou e seu peito se encheu. — Seu romance vai acabar no instante em que o jogo começar. Bryan vai terminar com você na frente de todos. Vai te humilhar, como fez quando te conheceu.
Dei-lhe um sorriso envergonhado, sem poder acreditar nisso. Porém, no fundo, a ponta de dúvida surgia sem vacilar.
— Não acredito em você.
— Desconfiei. — Suspirou e deu de ombros. — Viu os punhos dele nessa semana?
Sua pergunta atraiu minha atenção e eu assenti, pois tinha visto, sim. Eles estavam avermelhados, quase machucados, e Bryan tentou escondê-los quando perguntei sobre.
— O que foi neles?
— Ele me encheu de porrada... — Asher parecia mais enfurecido. — Porque eu disse que ele não deveria fazer isso com você. Bryan falou que você era dele para ele fazer qualquer coisa que fosse, e essa merda também estava inclusa.
— Ele fez isso com você hoje?
— Ah, não. Minha surra de hoje não teve nada a ver com ele, fique tranquila. Ela só me fez clarear a mente. Você merecia saber.
— Certo. Agora, que já sei, pode ir embora.
Asher não resistiu.
— Sinto muito, mas você precisava saber.
Sua saída foi silenciosa, no entanto, tudo dentro de mim parecia um tsunami furioso que tinha um único objetivo: destruir-me. Não vi o momento em que Judy e Bree entraram no quarto, só notei a presença delas quando minha melhor amiga me tocou no ombro.
— O que ele falou?
— Ele me enganou, Judy. Ele fez novamente — minha voz saiu quebrada e poluída de uma emoção tão forte, que quase caí para trás, deixando o colchão me puxar para baixo.
— O que vai fazer?
Eu não sabia o que responder naquele momento. Desci do pedestal, do conto de fadas que mal tinha começado, e enfrentei a realidade. Bryan não era meu, eu não era dele e muito menos nós éramos um casal. Tudo não tinha passado de uma mentira em que acreditei, com uma esperança idiota de ele sentir o mesmo que eu.