Gar, Rachel e Jason estavam treinando. Layla estava no quarto, escrevendo tudo que Dick precisava saber sobre a Colmeia e sobre o outro sobrevivente dos testes. Tinha recebido uma mensagem a algumas horas de Catarina, com um endereço e um código de identificação, um único recado: é onde vai encontrar o Danny.
Já tinha decidido, não podia ficar alí. Não naquele momento. Por mais que quisesse ajudá-los, sua família vinha em primeiro lugar. Danny estava com problemas e ela precisava resolver, com sorte, conseguiria achar algum livro de sua mãe que poderia ajudar com os poderes. Assim que conseguisse resolver a questão de seus descontroles, ela voltaria.
Escreveu tudo que Dick poderia precisar saber e escreveu um pouco pra Jason também. Apenas alguns detalhes que não podia contar na frente dos outros quando se despedisse. Arrancou as folhas e deixou a de Jason dentro de uma gaveta de roupas, a de Dick entregaria pessoalmente.
Ela estava arrumando algumas coisas quando sentiu uma coisa no peito, uma urgência. Saiu rapidamente do quarto e foi pra sala de treinamento, encontrando Jason erguido no ar, Rachel o sufocando com seus poderes, a fumaça negra com raios roxos. Um pequeno descontrole.
— Rachel!!
Assim que os olhos negros com a íris vermelhas se voltaram pra ela, Layla foi sugada pra sua mente. Flashes rápidos passando e a fazendo ofegar por ar. Gar se desesperou.
— Rachel, para!
Ela finalmente parou, largando Jason e recobrando a consciência. Gar foi na direção de Layla, agora que tinha certeza que não era Rachel que estava fazendo aquilo com ela.
— vê se fica longe de mim, aberração — Jason disse entre dentes pra Rachel.
— Jason! — Gar chamou e ele notou Layla, correndo em sua direção e tocando o ombro dela.
— Layla. Layla!
Ela acordou, pendendo pra frente com falta de ar, Jason a segurou, sentindo as mãos dela o segurarem com força.
— Layla?
Ela ergueu a cabeça e olhou pra Rachel. Os pontos finalmente se ligando em sua mente.
Era ela.
Ela era a filha de Trigon.
Ela era a garota da profecia.
Ela era a irmã de seu pai.
— é você...
— o que? — Rachel franziu o cenho.
Layla apertou a mão no braço de Jason, sua cabeça latejando com a informação.
Rachel era sua tia.
— é você... — ela abaixou o olhar e sua cabeça encostou no ombro de Jason, respirando fundo pra recuperar o ar perdido.
Ela se firmou sobre os pés e se afastou de Jason, ainda tonta, mas precisava sair dali.
— eu preciso... — ela se afastou, se apoiando nas paredes.
— Layla, espera.
— me deixa sozinha!
Dick entrou na sala em seguida, confuso por causa de Layla. Logo a irritação de Jason voltou, agora sendo direcionada a Dick. Enquanto isso, Layla entrava em seu quarto e ia até o bloco de papel, procurando pelo desenho.
Corvo.
O bloco caiu de sua mão e ela sentiu seus batimentos aumentando.
Rachel.
Rachel.
Rachel.
Como não percebeu?
Ela começou a juntar suas coisas, enfiando na bolsa que trouxe. Quando estava pronta pra sair do quarto, Jason entrou.
— o que...? — ele olhou pras coisas bagunçadas e pra bolsa na mão dela, a outra segurando uma folha com força. — aonde vai?
— eu preciso ir.
Ele se aproximou confuso, seu interior revirando.
— pra onde? Você disse que não ia, você disse — ele começou mas ela o cortou.
— Jason! — chamou mais alto quando percebeu que ele ia começar a trazer tudo de volta. Ele a olhou confuso, os olhos ardendo. — não podemos ficar aqui.
— como assim? Layla, do que tá falando?
Ela largou a bolsa no chão.
— aqui não é seguro. Não é seguro pra mim, não é seguro pra você, nem pra ninguém.
— o que quer dizer?
Ela engoliu seco.
— vou embora Jason.
— o que? Não, mas você... Você disse que não ia — ele se aproximou tocando os braços dela. — disse que não ia me deixar.
— eu preciso.
Ele a olhou confuso.
— preciso fazer isso.
— é por causa do que você viu? É isso? Teve outra alucinação? É por isso?
Ela negou, seu coração apertando ao ver os olhos dele marejando.
— não são alucinações Jason, são visões.
Ele franziu o cenho, cada vez mais confuso.
— quando eu tinha sete anos, minha mãe teve uma visão. Deixamos meu pai naquela noite. E agora, naquela sala, eu tive a mesma visão.
— o que era?
Ela franziu os lábios, desviando o olhar por um momento.
— me fala! Para de esconder as coisas de mim! — ele aumentou o tom e apertou as mãos nos braços dela.
— eu morro nessa visão Jason — ela ergueu a cabeça e o olhou, sentindo o aperto diminuir. — de vez. Sem volta.
— e como... Como você ir embora resolve?
Ela tocou os braços dele.
— preciso de ajuda e não vou encontrar aqui, porque ninguém aqui faz idéia do que está por vir.
— então fala. Fala pra eles! Porra, é só contar!
Ela negou e se afastou dele.
— eles não podem fazer nada! Você não entende.
— como vou entender?! Você não me conta! — ele gritou.
Ela se aproximou dele, seu nariz franzindo em irritação, seus rostos estavam muito próximos, conseguiam sentir a tensão irradiando de seus poros.
— acha que vai entender se eu contar? — ela rosnou e ele apertou as mãos em punho ao lado do corpo. — você chamou a Rose e a Rachel de aberração. Se soubesse a verdade, iria me chamar de coisa pior.
— você é diferente.
Ela riu e se afastou, lambendo os próprios lábios.
— eu sou? Porquê você é apaixonado por mim?
Ele engoliu seco.
— você acha que o que viu aquele dia foi tudo? Aquela era a injeção mais fraca.
— eu não ligo.
Ela balançou a cabeça, mordendo o lábio.
— eu ligo. Quer ver o que a Rachel viu quando entrou na minha mente? — ela se transformou em um segundo, seus olhos ficando vermelhos e as veias aparecendo em seu pescoço, ela sorriu daquele jeito maníaco. Jason piscou os olhos e ela estava na frente dele, o fazendo ofegar de susto.
Ela se afastou e voltou ao normal quando viu o medo em seus olhos.
— por que acha que queriam tanto me matar? Por que acha que tivemos que deixar meu pai? Que tivemos que nos separar? — ela riu e ele engoliu em seco de novo, a primeira lágrima descendo. —você deveria ficar longe de mim Jason. A destruição persegue a minha família.
— eu não ligo — ele se aproximou, ignorando o breve medo que sentiu. — porque eu te am — ela o interrompeu.
Colocou a mão na boca dele antes que ele pudesse completar, deixando o lado emocional de lado.
— não... Não torne isso mais difícil.
Ele tirou a mão dela de sua boca, a segurando entre as suas.
— por favor.
— sinto muito — ela afastou a mão dele e pegou a bolsa no chão.
— é sério que vamos terminar assim?
Ela parou perto da porta, de costas pra ele.
— por causa disso?
— tchau Jason — ela saiu do quarto e fechou a porta. Ela respirou fundo e foi até a sala onde Dick estava.
— não gosto dessa expressão — ele se levantou e se aproximou, cruzando os braços. — pra que a bolsa?
— tô indo embora.
Sua postura corporal mudou automaticamente.
— indo embora? Por que?
— preciso resolver uns problemas. Escrevi tudo — estendeu o papel e ele o pegou. — pode ligar pra esse número se precisar de algo.
— e o Jason?
Ela desviou o olhar e ele logo entendeu.
— as coisas vão ficar difíceis sem você.
— vocês superam — ela sorriu e se afastou, parando e o olhando por um momento. — não foi sua culpa. Não importa o que eles digam, não foi sua culpa Richard.
Ele a olhou.
— esconder certas coisas é necessário, mas a verdade sempre aparece. Me liga se precisar de ajuda pra lidar com ela.
— você também.
Ela sorriu e saiu da sala, seguindo pelo corredor e parando na porta de seu quarto, podendo ouvir o som de choro. Engoliu seu próprio choro e continuou andando, assim que passou pela sala, os presentes alí a olharam confusos.
— aonde tá indo? — Gar perguntou.
— tem uma coisa que preciso fazer.
— sozinha? — Rachel perguntou se aproximando.
— é assunto meu. Dick vai me ligar se precisarem de mim. — ela ia se afastar mas voltou, olhando pra Rachel. — você não é uma aberração, uvinha. Não dê ouvidos pra ele.
Rachel sorriu e a assistiu entrar no elevador. Assim que ele desceu o silêncio recaiu sobre a sala, eles se assustaram quando ouviram barulho de vidro quebrando.
— é o Jason — Rachel avisou e eles suspiraram.
— ele vai ficar insuportável sem a Layla — Gar resmungou.
— acho que eles terminaram.
Gar gemeu em frustração.
— é, ele vai ficar insuportável.
[Revisado]