𝙇𝙐𝙏𝘼 𝙋𝙀𝙇𝙊 𝙏𝙀𝙈𝙋𝙊...

By CPaesz

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Semanas antes da Tokyo Manji VS Valhalla acontecer, Takemichi descobre a existência de uma pessoa misteriosa... More

𝕻𝖗𝖊𝖋𝖆́𝖈𝖎𝖔
𝕺𝖓𝖊
𝕿𝖜𝖔
𝕿𝖍𝖗𝖊𝖊
𝕱𝖔𝖚𝖗
𝕱𝖎𝖛𝖊
𝕾𝖎𝖝
𝕾𝖊𝖛𝖊𝖓
𝕰𝖎𝖌𝖍𝖙
𝕹𝖎𝖓𝖊
𝕿𝖊𝖓
𝕰𝖑𝖊𝖛𝖊𝖓
𝕿𝖜𝖊𝖑𝖛𝖊
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕱𝖔𝖚𝖗𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕱𝖎𝖋𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕾𝖎𝖝𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕾𝖊𝖛𝖊𝖓𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕰𝖎𝖌𝖙𝖍𝖊𝖊𝖓
𝕹𝖎𝖓𝖊𝖙𝖊𝖊𝖓
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖔𝖓𝖊
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖙𝖜𝖔
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖙𝖍𝖗𝖊𝖊
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖋𝖔𝖚𝖗
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖋𝖎𝖛𝖊
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖘𝖊𝖛𝖊𝖓
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖊𝖎𝖌𝖍𝖙
𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖓𝖎𝖓𝖊
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖔𝖓𝖊
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖙𝖜𝖔
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖙𝖍𝖗𝖊𝖊
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖋𝖔𝖚𝖗
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖋𝖎𝖛𝖊
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖘𝖎𝖝
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖘𝖊𝖛𝖊𝖓
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖊𝖎𝖌𝖍𝖙
𝕿𝖍𝖎𝖗𝖙𝖞-𝖓𝖎𝖓𝖊

𝕿𝖜𝖊𝖓𝖙𝖞-𝖘𝖎𝖝

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By CPaesz

Dores nos músculos e uma queimação no peito incessante. Além do cheiro da bebida no meu hálito que me deixava sem escapatória para mentiras.

Não queria mentir pro Izana sobre ter ido até uma boate na noite passada, e mesmo se eu tentasse ele descobriria. Abro a maçaneta da porta e não dou de cara com ele, mas com meus irmãos de braços cruzados e me encarando mortalmente.

- Bom dia...? - Tento amenizar a situação.

- Bom dia nada, boa tarde senhorita Haitani - Rindou descruza os braços colocando uma mão na cintura e deixando a outra solta.

- Não quer nos contar onde esteve ontem? - Ran pergunta. Diferente de Rindou, ele tinha um olhar sério com uma pitada de preocupação.

- É, quer nos contar não? - Rindou complementa. Seu olhar não estava bravo, parecia estar achando graça naquilo tudo. Faz sentido sua reação, ele é um alcoólatra. Sorri mínimo e ele devolveu discretamente com uma piscadela.

Ran percebe nossa troca de olhares - Pode ir parando de sorrisinho vocês dois. Já basta um bêbado na família, agora dois?

- Eu não vou te tornar uma bêbada, deixa de exagero - Sorri - Só fui ver como era, o que tem demais?

Ran descruzou os braços por ter perdido no argumento, mas parecia não aceitar - E por que não voltou pra casa quando acabou? Pode me explicar isso?

Fiquei quieta. Não ia falar que acabei dormindo com um garoto, quem acreditaria que foi sem querer? Ainda mais com o Mikey! Não... Que isso... Signifique que eu o acho bonito... Ele é um pouquinho mais que o normal, só isso.

Passei por meio deles ignorando suas perguntas, ouço a risadinha de Rindou achando graça enquanto Ran vai gradativamente ficando irritado.

Eles me seguem até a cozinha onde eu me sento sabendo que faziam horas que eu não colocava nada na boca e precisava comer algo, mesmo sem apetite eu me forço a comer, mas assim que vejo as frutas na mesa sinto náuseas e me dão vontade de vomitar. Sinto que se eu comer, não vou digerir o alimento muito bem. Ran estava me enchendo de perguntas e Rindou rindo enquanto me levanto até a geladeira, para encher um copo com água gelada. Minha boca está numa secura agoniante. Assim que abro a porta, a luz da geladeira me cega, meus olhos e minha cabeça dói, fico tonta.

Minha vista escureceu temporariamente e no segundo seguinte eu estava me agarrando ao pulso de Ran que arregalou os olhos parando de falar.

- Ai, minha cabeça...

Ran puxou uma cadeira me obrigando a sentar - O que foi? O que tá sentindo?

- Sei lá, acho que é ressaca - Ran pareceu satisfeito, mas Rindou fechou a cara de repente - Que foi?

- Cê não tá grávida não, né?

- Quem que tá grávida? - Izana chega na cozinha exatamente na frase problemática, ele sempre aparece nas horas mais inusitadas - Cê não me inventa de me aparecer grávida não, garota.

- Argh! Parem de maluquices, eu sou virgem tá?

- Oxe, mentira - Ran me olha surpreso - AINDA?!?!

Izana deu um tapa forte na nuca dele - Eu criei ela bem, seu aborto mal-sucedido.

Ri de Ran alisando o lugar onde recebeu um tapa e Izana com as mãos no bolso citando todos os valores que me ensinou um dia. Meu sorriso sumiu assim que vi Rindou continuar me encarando - Que que foi agora, Rindou?

- Você bebeu alguma droga.

Toda cozinha ficou em silêncio e me olhou - Não, bebi não - Mas que merda, como ele descobriu? Estava tão óbvio assim que eu usei um tóxico?

Peguei o copo com água pra beber e sumir com o hálito de bebida da minha boca, mas ele tomou das minhas mãos e olhou fundo nos meus olhos - Você bebeu alguma droga que não tava acostumada e sumiu com aquele garoto com quem eu vi você dançando - Ele deduziu certeiro.

Droga, como ele acertou tudo?!

- Garoto? Que garoto? - Ran se levanta enciumado - Aposto que é aquele Mitsuya! Eu já te vi passeando com ele na rua umas duas vezes... Próxima vez que eu o ver vou tacar um tijolo

- Ah, pelo amor de Deus, o Mitsuya é só um amigo meu e do meu irmão.

Falei sem pensar. Não teria percebido que mencionei Baji como meu irmão se todos me olhassem espantados, eu aceitei tão rápido minha ligação genética com Baji que nem tive tempo de contar a eles. Suspirei, eu precisava falar pra eles que eu tinha um meio-irmão, chegou a hora.

Quando ia abrir minha boca me preparando pra contar, com certeza seria um choque. Mas assim que pronunciei a primeira sílaba, Ran me encarou sério - A quanto tempo você sabe?

- O-o quê? Como você... VOCÊS SABIAM?!

Izana coçou o pescoço pegando a chave na mesa - Isso é conversa pros irmãos, vou deixar vocês sozinhos.

- IZANA, ESPERA! - Não adiantou gritar, ele apressou o passo e saiu batendo a porta. Sequer pegou o elevador, desceu pelas escadas. Não é possível, o Izana também sabia? Todo mundo mentiu pra mim a minha vida toda.

Eu ia correr atrás dele se Ran não tivesse me afastado da porta - A quanto tempo você sabe? - Ele repete, mais firme.

- SÉRIO ISSO? VOCÊS MENTIRAM PRA MIM A VIDA TODA E SUA PREOCUPAÇÃO É A QUANTO TEMPO EU SEI DISSO? QUE MERDA PASSOU NA CABEÇA DE VOCÊS DE ME ESCONDER SOBRE EU TER UM IRMÃO, HEIN? - Silêncio. Ran gaguejava e Rindou olhava pra nós dois com uma expressão confusa - ME RESPONDE, MERDA!

- Hikari, tenta me entender... Eu...

- DESGRAÇADO! POR CULPA DE VOCÊS EU VIVI MINHA VIDA LONGE DE ALGUÉM QUE PODIA TER ME AMADO! ELE TÁ CORRENDO RISCO DE VIDA, SABIA? ELE PODE MORRER SEM NUNCA SABER QUE SOMOS IRMÃOS. VOCÊS TEM IDEIA DO QUE CAUSARAM NA MINHA VIDA?!?!

- Eu não sabia que o Baji era teu irmão, eu sabia que tinha algum, mas não que era ele!

- Então você assume. Por que não me contou pra que eu pudesse ir atrás?

- Eu vim saber muitos anos depois, Hikari. Não tinha como eu te falar, estavamos afastados, você veio pro orfanato por minha causa e depois a gente parou de se falar e...

- Espera, ESPERA! - Interrompi Ran - Como assim eu vim pro orfanato por SUA causa? Eu vim pra cá por falta de condições, não foi? Foi o que você e o Rindou me contaram!

Silêncio novamente. Meu mundo caiu. Tinha mais mentiras, mentiras das quais são capazes de mudar toda a minha perspectiva de vida. Sinto minhas memórias todas serem recolocadas em seus lugares. Lágrimas começaram a cair dos meus olhos e o ar a me faltar quando comecei a me lembrar novamente do rosto da mamãe, do cara que eu achava ser meu pai, de quando éramos crianças, quando cheguei no orfanato, quando ataquei o Izana ainda criança e... O Ran, me batendo numa banheira. Era a banheira da nossa casa antiga, me lembro dos detalhes. Sangue espalhado nas suas mãos e a sensação de sangue escorrendo pela pele do meu rosto.

Por que ele me bateu assim? O que eu fiz? Por que não me lembrei disso todos esses anos?

Novas memórias são encaixadas. A voz infantil de Ran me pedindo pra esquecer, me manipulando, dizendo que seria melhor se algumas coisas fossem esquecidas.

Meu corpo treme e eu sinto que vou cair, Ran se aproxima pra tentar me segurar e eu instintivamente me afasto. Estou com medo, medo dele.

Não tenho coragem de olhar pra ele agora, mas pude ouvir seus pés se afastarem de mim rapidamente - Hikari... - Sua voz está quebrada, como se tivessem repartido seu coração em mil pedaços, mas o meu também está.

- Por que... Me espancou naquele dia, Ran...? O que eu te fiz?

- Espancou? Que dia? Do que vocês estão falando? - Rindou pergunta sem pausa. Sua voz me dá raiva, não sei se ele também sabia de toda essa façanha, mas tenho quase certeza que sim.

Ran ficou quieto e não respondeu, parecia já esperar por isso, o que me enfurece mais ainda. Ele sabia que eu os odiaria se soubesse toda a verdade e essa é a prova de que a verdade é tão horrível quanto parece ser - ... Eu... Eu odeio vocês.

- Você não pode falar assim com a gente, Hikari - Rindou toma a frente.

- CALA A BOCA! VOCÊS TEM NOÇÃO DO QUE CAUSARAM NA MINHA VIDA? EU SOU ÓRFÃ, RINDOU, ÓRFÃ MESMO TENDO UMA FAMÍLIA. MAS NÃO SE PREOCUPEM, VOCÊS NÃO SÃO MAIS MINHA FAMÍLIA, NÃO SÃO NEM MEUS IRMÃOS REALMENTE. SÃO UNS EGOÍSTAS QUE NÃO LIGAM DE MACHUCAR MEUS SENTIMENTOS PRA ALIMENTAR UMA MENTIRA CRIADA POR VOCÊS! ME ABANDONARAM ACHANDO QUE PRESENTES E ME VER DUAS TRÊS VEZES NA VIDA É O SUFICIENTE ENQUANTO VIVIAM SUAS VIDINHAS PERFEITAS. ME PRIVANDO DE TER UMA VIDA NORMAL, FAMÍLIA NORMAL, DE CONHECER MEU IRMÃO E UMA POSSÍVEL MADRASTA MARAVILHOSA QUE SE IMPORTOU MUITO MAIS COMIGO EM UMA HORA DE CONVERSA DO QUE UMA VIDA INTEIRA COM VOCÊS!

- Egoístas? Vidinha perfeita...? É isso que você pensa, Hikari? - Rindou sussurra. De repente, ouço o copo que estava nas suas mãos estourar no chão - NÃO VEM COM ESSA AGORA! ACHA QUE EU TIVE UMA VIDA PERFEITA? APANHAR TODA HORA PRA QUE VOCÊ NÃO TIVESSE NENHUM ARRANHÃO NO FINAL DO DIA É VIDA PERFEITA PRA VOCÊ? VOCÊ ERA SÓ UMA CRIANÇA, MAS EU TAMBÉM ERA, PORRA! SE NÃO FOSSE POR TODAS AS VEZES QUE EU FUI SURRADO PELO NOSSO PAI NO SEU LUGAR, AGORA VOCÊ ESTARIA MORTA JUNTO COM NOSSA MÃE!

Me espanto. Meu coração começa a acelerar num ritmo assustador. O nosso pai não era um agressor...Não era verdade, não podia ser. Me lembro das vezes que ele ia me colocar pra dormir antes de conversar com nosso pai, agora entendo que não eram conversas, e me colocar pra dormir era uma forma dele me fazer não presenciar a realidade dentro de casa. Não, por favor, isso não pode ser verdade. Não quero acreditar.

- VOCÊ É A ÚNICA EGOÍSTA AQUI, ALGUMA VEZ FOI ATRÁS DA GENTE? SEMPRE ESPEROU TUDO IR ATÉ VOCÊ E EU TE ENTREGAVA TUDO QUE QUERIA. PODE NÃO TER SIDO DA MELHOR FORMA, MAS FOI O QUE EU PUDE FAZER PRA TE MANTER LONGE DA FAMÍLIA DE MERDA QUE A GENTE TEM! EU SEI QUE NÃO FUI O IRMÃO QUE VOCÊ ESPERAVA TER, SEMPRE ACHEI QUE VOCÊ MERECIA MAIS E POR ISSO ACEITAVA QUALQUER MERDA QUE FIZESSE VOCÊ NÃO SE SENTIR TÃO MISERÁVEL QUANTO EU ME SINTO.

Ran se aproxima dele tentando acalmá-lo, mas parece que eu despertei o seu pior lado agora e ninguém o seguraria. Mesmo assim, Ran ainda tentava - Rindou...

- FICA QUIETO, RAN! - ele volta pra mim, apontando o dedo na minha cara - EU FIZ TUDO POR VOCÊ, SUA INGRATA. VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO QUE EU TIVE QUE SACRIFICAR POR VOCÊ. EU RECEBI MILHARES DE OPORTUNIDADES PRA SER DJ PROFISSIONAL, OPORTUNIDADES QUE EU TIVE QUE NEGAR POR SUA CAUSA, PRA QUE TIVESSE ALGUÉM. ACHA QUE ESTARIA VIVA HOJE NÃO SE FOSSE PELA GENTE? VOCÊ APRONTAVA HORRORES E EU ERA UM MOLEQUE DE 13 ANOS QUE NÃO PODIA FAZER NADA ALÉM DE BRIGAR ATÉ TER PODER SUFICIENTE DE IMPEDIR AS PESSOAS DA NOSSA CIDADE NATAL DE IR ATRÁS DE VOCÊ. SE EU SOU A MERDA DE UM DELINQUENTE FRACASSADO HOJE, FOI POR VOCÊ! FOI TUDO POR VOCÊ! EU NEM ACREDITO QUE DEDIQUEI MINHA VIDA A PROTEGER ALGUÉM QUE UM DIA OLHARIA NOS MEUS OLHOS DIZENDO QUE ME ODEIA.

- JÁ CHEGA RINDOU! - Ran segurava Rindou tentando tampar sua boca pra fazê-lo se calar, mas ele se debatia e aumentava o tom de voz a cada frase.

Meu corpo dava espasmos assustados e eu não consigo parar de tremer. Mal sinto o ar chegar até meus pulmões de tão rápido que estou respirando. Minha blusa se umedecia rapidamente com as lágrimas que caíam descontroladamente embaçando minha visão de tanta água que sai pelos meus olhos.

- FALA QUE ME ODEIA AGORA, FALA! REPETE O QUE VOCÊ DISSE PRA MIM! SE NÃO FOSSE POR VOCÊ, IRMÃZINHA, EU PODIA TER SIDO ALGUÉM NA VIDA!

Tentei dizer algo, mas minha voz não saía de forma alguma. Me esforcei mais um pouco e então, quando finalmente um som sai dos meus lábios, em um milésimo de segundo Ran soca o rosto de Rindou para o fazer calar a boca.

- PARA COM ISSO, RINDOU!

- O QUE É ISSO AGORA? DEU PRA SER UM BOM IRMÃO? VOCÊ NÃO É! VOCÊ NUNCA LIGOU PRA ELA, NÃO FEZ NADA E NEM SE ESFORÇAVA. SEMPRE FUI EU A FAZER TUDO ENQUANTO VOCÊ FICAVA DEPRESSIVINHO DENTRO DO QUARTO REMOENDO TODAS AS VEZES QUE VOCÊ FOI UM PÉSSIMO IRMÃO!

Ran agarrou o colarinho de Rindou e o levantou na parede - VOCÊ ACHA QUE FOI? DEPOIS QUE A RYUKYU MORREU, VOCÊ SE AFUNDOU. EU TAVA MAIS PRA CUIDADOR DE BÊBADO DO QUE UM IRMÃO, SEU IDIOTA!

Ryukyu? Quem é essa? O que isso se tornou..?

Os gritos que soltamos agora fizeram efeito doendo minha cabeça mais que o normal, sensibilidade causada pelo álcool. Como Rindou aguentava ressacadas como esta? Minhas mãos além de trêmulas estão suando, meu coração não segue o mesmo ritmo que minha respiração enquanto vejo meus irmãos começarem a brigar entre eles. Eu devia fazer alguma coisa. Qualquer coisa pra compensar a merda que minhas palavras causaram.

Minha mente estava uma confusão total quando Ran levantou o punho pra socar, Rindou agarra o punho dele e aperta vira, girando pro lado oposto pressionando as articulações.

- PARA, RINDOU! VAI MACHUCAR ELE! - gritei. Minha voz sai deseseperada.

- SAI DAQUI, HIKARI - Ran grita de volta - NÃO ACHA QUE JÁ FEZ MERDA DEMAIS, NÃO?

Ele tem razão. Fiz merda demais por hoje, falei o que não devia num momento de raiva sem saber nada sobre a versão deles. Estava tão machucada e culpando quem me fez ficar assim que me esqueci de que os culpados também eram só crianças assumindo responsabilidades que não lhes deveriam ter sido dadas. Se adultos também erram, por que cobrei tanto desses dois? Não estou magoando apenas eles, minhas palavras magoaram o menininho ferido e inocente que existe escondido dentro deles. E me odeio por isso.

Enxuguei minhas lágrimas e sai dali. No momento em que fechei a porta atrás de mim, meu coração pareceu congelar. Por toda estrada que fiquei andando sem rumo, não consegui voltar a chorar, por mais que eu quisesse. Como se, minhas emoções tivessem sido travadas.

⏤͟͟͞͞ ✯࿏ ᴺᵃʳʳᵃᵈᵒʳ ࿏✯⏤͟͟͟͞

-Aquele ali, tio Hanma... - A menina diz apontando pra um professor.

- Ótimo! - Hanma se curva com as mãos apoiadas nos joelhos - Se mais alguém ousar tocar em você, o que você faz?

- Chutar bem no saco dele

- E depois?

- Correr e ligar pra você!

- Tá com o celular que eu te dei? - Hanma pergunta. Não era nenhuma data especial, mas ele conseguiu dar de presente a Miha. Se ele quisesse se manter sempre presente era necessário alguma forma de contato. Embora se tratasse de um celular roubado.

- Tô sim - Miha respondeu orgulhosa. Hanma sorri mínimo lhe entregando sua mochila.

Miha pegou e pendurou nas costas apenas uma alça. Se despedem num acenar de mãos.

Quando ela já estava na entrada da porta em meio a várias crianças entrando todas juntas, parou e voltou a olhar pra Hanma, o deixando confuso. Correu de volta na direção dele e o abraçou num aperto forte - Te amo, tio Hanma.

- Vai estudar, vai.

Miha sorriu largo, parecia ler seus pensamentos por trás daquela reação insensível. Correu novamente pra dentro da escola lançando um beijinho no ar, Hanma obviamente não devolveu, apenas acenou. Mas por trás daquela postura dura e fria, seu coração estava amolecido.

- Também te amo, piveta... - Disse tomando um susto com o que foi capaz de sussurrar pra si mesmo - Diacho é esse que eu acabei de falar...

Seu coração mole momentaneamente, foi preenchido por ódio assim que se lembrou do porquê estava ali. Sabia que os professores saíam da escola durante o horário de almoço e era exatamente quando pretendia agir. Colocou as mãos nos bolsos, sentindo a arma que havia trazido. Sorriu por dentro quando se garantiu que ela estivesse ali e começou a caminhar tranquilamente aos arredores do colégio, esperando que o sinal do almoço tocasse.

Miha havia acabado de abrir sua lancheira quando observou algo estranho. Os professores que deveriam estar fora da escola naquele horário, caminhando assustados pelos corredores como se buscassem por ajuda.

Achou que pudesse ser apenas loucura da sua cabeça e ignorou. Olhou novamente pro seu lanche pronta pra abrocanhar o sanduíche de frango com molho, mas foi interrompida por alguém que cutucava seu ombro. Revirou os olhos e se virou para ver quem estava atrapalhando seu momento de extrema alegria que era a refeição.

- Que é, merda? - Disse irritada. Mas quando viu Naoto, seu colega de escola apenas dois niveis mais altos, a olhando com um rosto sério ficou preocupada - O que foi, Naoto...?

- Você também percebeu, não percebeu?

Miha estreitou os olhos, sabia que ele estava se referindo a movimentação estranha. Confirmou em silêncio com a cabeça. Os dois logo abriram um sorriso, sabia o que aquilo significava.

- Hora de entrar em ação, agente! - Miha sussurra

- Certo, agente. Vamos investigar!

Miha guardou seu lanche novamente na lancheira e colocou a alcinha no ombro, puxando Naoto pela mão com animação. Uma investigação de verdade.

Os dois andavam de um lado para o outro com espontaneidade e total discrição, escutando a conversa dos professores ainda espantados. Naoto não conseguia escutar bem sobre o assunto, mas Miha tinha uma carta na manga, seu problema de sensibilidade auditiva que agora poderia ser visto como um "dom". Ficou parada com um livro na mão como disfarce enquanto conseguia escutar perfeitamente cada sílaba que saía da boca das pessoas. Sua cabeça doía um pouco com tantas vozes altas, mas se concentrou especificamente nas vozes mais maduras dos professores e coordenadores.

" Um maluco socou o professor Aihos"
"Meu Deus!"
"Chamem uma ambulância"
"Não vai andiantar muita coisa"
" Como não?"
"Depois de ser socado, o maluco atirou. O professor está morto!"
"Temos que chamar a polícia!"

Miha entendeu tudo na hora, sabia exatamente quem era o "maluco" mencionado - Tio Hanma... -  Sussurra baixo, apenas pra si mesma.

Seu coração começou a palpitar rápido, mas não por medo, era pura ansiedade e um pouco de satisfação. Ela via bem, e principalmente escutava o que aquele professor fazia e dizia a outras meninas e não se importou muito com o fim que Hanma deu a ele, na realidade, agradeceu mentalmente.

- Descobriu alguma coisa, agente ? - Naoto se aproximou dela sussurrando

Miha apenas sorriu. Naoto ficou confuso, e mais ainda quando ela voltou a puxar ele pela mão até a saída da escola que estava fechada pelas grades até a hora da saída. Miha tirou os sapatos, jogou do outro lado por cima das grades e começou a escalar.

- Tá fazendo o quê, sua maluca?

- Indo pro outro lado, dãã!

- Volta pra cá, Miha, a gente tá na escola! - Naoto sussurra meio desesperado orando para que ninguém os pegasse ali.

- Foda-se a escola. É uma invenção do patriarcado pra promover o patriotismo nos cidadãos desde a infância sem o poder de questionamento. Tio Hanma que me contou.

Naoto encarou, ainda raciocinando o que ela acabou de lhe dizer se questionando da onde ela tirou aquela ideia. Miha gargalhou anasalada e chamou Naoto pra subir também, mas o medo e ansiedade do garoto de estar fazendo algo errado pela primeira vez foi maior e permaneceu no chão.

Quando ela chegou ao topo da grade, se sentou na horizontal da barra de ferro e forçou seus olhos tentando achar Hanma caso ainda estivesse por ali. Sua vista estava limitada, ela tem quase certeza de que é míope, apesar de nunca ter ido a um oftalmologista para saber. Mas não foi necessário muito esforço, Miha e Hanma pareciam dividir os mesmos neurônios, pois ele a avistou não muito longe. Já estava olhando pra lá, como se soubesse que ela fosse acabar descobrindo e procuraria por ele. Miha acenou com os braços para o garoto que veio deixá-la na escola pela manhã, agora com sua camiseta manchada por vermelho-sangue-vivo, se aproximasse

Hanma se aproximou aos poucos em passos finos, garantindo que nenhuma polícia estivesse chegando ainda - E aí, piveta - Ele sussurra. Erguendo os braços pra que ela pulasse. Miha nem sequer questiona se era seguro. Confiava cegamente, jogou a lancheira e depois pulou, como esperado de Hanma a segurou sem nenhum trabalho.

- Vem Naoto! - Miha chama por ele do outro lado da grade.

Naoto esfregava as mãos no tecido da calça e olhava pros lados constantemente suando de nervosismo, criando coragem - T-tá legal! - Ele agarrou as mãos nas grades e começou a subir de tênis e tudo, sem preparação alguma.

Hanma esperava do outro lado se perguntando por que caralhos Miha chamou aquele moleque medroso que tremia a cada centímetro que chegava mais perto do alto. Quando chegou ao topo, Hanma deu as costas se negando a ajudar mais alguém a descer além de Miha.

Miha revirou os olhos pra birra infantil de Hanma e continuou assegurando Naoto com palavras a descer, o guiando pra que lado deveria se apoiar até que ele finalmente pisasse no chão. Miha agarrou sua mão novamente e depois a de Hanma e os três começaram a correr. Hanma parecia carregar os dois, suas pernas eram maiores e mais agéis, mas Miha parecia estar se divertindo. Com o tempo, Naoto também começou a achar engraçado.

- Minha mochila ficou lá, vão descobrir a gente amanhã Miha! Aí, meus pais vão me matar...

- Fica tranquilo. É só falar que esqueceu ela na sala antes do intervalo e quando foi buscar já tinham fechado - Ela responde ainda correndo.

Quando já estavam longe o suficiente e o sol começou a baixar, Hanma tirou sua blusa e começou a molhar num bebedouro de um playground para retirar alguns resquícios de sangue enquanto Naoto e Miha se balançavam nos brinquedos.

Naoto não se balançava tão alto quanto ela, a observava jogar a cabeça pra trás pra sentir o vento bater na pele enquanto impulsionava o balanço com os pés para ir cada vez mais alto.

Ela tinha mudado muito. Do primeiro dia que a viu quietinha no sofá da casa dele com vergonha de conversar, até agora, o total oposto da timidez e se revelando ser uma garota bastante maluquinha. Mas não em um sentido ruim, Naoto gostava mais desse lado espontâneo dela. Precisava daquela adrenalina que Miha trazia pra sua vida com tamanha intensidade.

- Acha que as pessoas vão gostar de você se continuar mentindo? - Naoto pergunta. Tinha medo de se mostrar um filho não tão perfeito pros seus pais, mas Miha parecia não ter insegurança alguma sobre o que as pessoas pensavam.

Miha parou de balançar na hora, firmando os pés na areia e se levantando diante dele. Naoto arregalou os olhos, não esperava que ela mudasse tão rapidamente sua forma de agir apenas com uma pergunta.

- Não me importo com o que pensam sobre mim, Naoto. As pessoas são muito más pra que eu me importe em ser boa pra elas.

Naoto olhou meio incrédulo, não esperava uma reação assim. Não tinha perguntado com intenção de magoar - E-eu não falei por mal.

Miha revirou os olhos e cruzou os braços, Naoto percebeu os olhos dela começarem a brilhar com a luz do sol se pondo. Eram lindos, a cor azul da sua íris combinava tão bem com o laranja do entardecer que não parecia real. Quando percebeu que o brilho não vinha somente do sol, mas de água se formando lentamente no canto dos olhos dela, se preocupou - O que eu falei te magoou tanto assim...? Desculpa...

- Não é isso, é que eu lembrei de umas coisas.

- O quê?

- Promete não contar pra ninguém? - Naoto confirma com a cabeça. Era óbvio quê nao contaria - Eu tinha um irmão da sua idade.

- Tinha? No passado?

- É, eu tinha... Ele me odiava, acho que não tínhamos nascido pra ser irmãos. O universo deve ter errado quando colocou a gente na mesma família. Era briga todo dia, a gente se ameaçava de morte e nossos pais precisavam trancar a gente e colocar móveis na porta dos quartos antes de dormir pra garantir que nenhum matasse o outro durante a noite.

- Ah... - Naoto escutava com os olhos arregalados. Sua relação com a Hina era muito boa, nunca se imaginaria odiando ela e muito menos eles tentando se matar.

Miha tocou as costas - Mas uma noite esqueceram de trancar as portas e ele me esfaqueou. Eu não perdi meus pais quando parei no orfanato, eu fugi do hospital, fui pro orfanato dizendo que me abandonaram e inventei outro nome pra não me acharem.

- Por que quis me contar isso agora...?

- Não sei, talvez desabafar...  Agora não dá pra voltar atrás. Depois que fugi do meu irmão, eles se mudaram. Devem estar vivendo uma vida bem melhor sem mim pra causar brigas em casa - Sua voz permanecia delicada, mas agora estava chorosa.

- Tá dizendo que queria voltar mesmo depois de tudo? - Naoto pergunta indignado.

- Pros meus pais sim. Eu sinto muito a falta deles, eles eram legais... Mas o meu irmão, eu queria que ele morresse. Por isso que não me importo mais com o que pensam de mim, eu pensei que saindo da vida deles eu ia parar de causar problemas, mas quem se deu mal fui eu. As pessoas são ruins às vezes...

- Eu acho que... Você não devia pensar assim...

Miha olha pra ele confusa - Mas e as pessoas que te machucam? Você nunca quis que elas sofressem?

Naoto saiu do balanço e a abraçou, cobrindo ela com seu casaco do uniforme, agora que o sol de pôs e o frio começou a se instaurar - É mas, você mesma disse que eles devem estar nem aí agora, pensar assim não vai adiantar nada e só vai te ferir sozinha. Você acha que porque existem pessoas más não existem pessoas boas também?

Miha baixa a cabeça pensativa, aquelas palavras lhe fizeram pensar. Mas o que ela não sabia é que fizeram mais sentido pra Naoto do que pra ela mesma.

Agora é ele quem baixa a cabeça. Naoto se lembra do ódio que sentiu quando Takemichi contou que matariam sua irmã no futuro. Ele teve que entender muitas coisas até então, se sentia sozinho carregando aquele segredo e sabia que era assim que Miha estava se sentindo antes de desabafar.

- Por um tempo eu também pensava assim... - Ele diz

- Pensava?

- Mas sempre tem alguém que gosta de você - Ele coça a nuca virando a cabeça pro lado oposto evitando olhar pra ela - Em algum lugar...

Miha sorri, Naoto a fez ver de outra forma. Talvez ela esteja pronta pra ser adotada e viver uma vida feliz novamente.

Naoto engole seco. Suas bochechas estavam ruborizadas ao vê-la sorrir - Você tá mudada...

- Como assim?

- Você era mais certinha, chegava até a ser chato.

- Você fez uma doideira hoje também, não vem colocar a culpa toda em mim, não.

- Você não entendeu...

- Entender o que?

- Eu gosto de você, Miha.

- Eu também gosto, você é meu melhor amigo.

Naoto suspira, não queria ter que ser tão claro, por mais que ser direto nas conversas fizesse totalmente seu estilo. Mas agora era diferente, não conseguia dizer com mais clareza.

Naoto se aproximou pra pegar seu casaco de volta, mas assim que viu Miha o olhar nos olhos entendeu tudo como se tivessem feito telepatia. Miha tinha sim entendido, e estava olhando pra ele com um sorriso tímido e fofo. Naoto ficou mais sem jeito ainda, se não conseguia dizer nada, não precisava dizer, apenas... Fazer.

Colocou as mãos no ombro dela e lhe deu um selinho rápido. Não havia malícia, apenas se lembrou de que era assim que seus pais e Hina com Takemichi demonstravam se gostar.

Não durou mais que dois segundos e assim que se afastaram fizeram cara de nojo - Por que os adultos fazem isso? - Naoto pergunta se limpando, Miha fazia mesmo enquanto ria achando aquilo esquisito.

- Não sei, que coisa nojenta.

"Nunca mais vamos fazer isso!"

Os dois dizem ao mesmo tempo, se olham novamente e começam a rir.

Hanma se aproxima vestindo a camiseta encharcada - Sem rir - Ele diz torcendo a barra do tecido tentando tirar a água.

- Eu devia estar voltando pra casa agora... - Naoto diz.

- Também acho uma boa! Bora, vamos levar ele - Hanma diz pra Miha.

Os dois passam a caminhar atrás de Hanma que aos poucos desacelerou os passos pra que as crianças pudessem acompanhar eles. Depois de deixarem Naoto em casa, Hanma pra fazer uma ligação afasta Miha por alguns segundos, sabendo que ela conseguia escutar muito bem. Ela espera. Durou apenas poucos minutos, mas pela cara dele parecia ser algo importante, podia ser algo da gangue dele, então ela não se importou em se esforçar pra escutar.

- Pronto, bora piveta.

- Ué... Mas o orfanato é pra lá!

- Você não vai pro orfanato agora, não dá tempo de te deixar. Tenho uma reunião da Toman pra participar.

- Mas você é inimigo da Toman, não é?

- Kisaki e eu mexemos uns pauzinhos e agora a Valhalla vai ser integrada na Toman e eu vou representar. O pai é brabo.

Miha fechou a cara ao escutar o nome de Kisaki, não gostava dele de jeito nenhum. Não sentia coisa boa dele - Não gosto do Kisaki...

- Também não gosto daquela tua amiga, mas eu aturo por você, então vê se atura ele só um pouquinho, tá legal? - Hanma diz se referindo a não gostar da Hikari.

Miha pensa e acha justo a troca de "aturar" os amigos um do outro. Ela confirma com a cabeça em silêncio, Hanma percebe o desapontamento da menina e coloca uma mão em seu ombro - Você vai ter uma razão pra aturar ele depois que ele nos ajudar hoje.

- Ajudar no quê?

Sem resposta. Um sentimento estranho invade Miha, sabia que Hanma tinha planejado alguma coisa e que não se sairia bem. Kisaki não era o topo de pessoa que toparia ajudá-los sem troco algum. Mas confiava nele de qualquer forma, apenas suspirou e os dois seguirem para a reunião da Toman.

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