Chamas Do Purgatório

Oleh gonc4alvess

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"Lendas nunca morrem; elas apenas aguardam que você as invoque, com o medo tremulando em sua voz." Layla Gri... Lebih Banyak

Dedicatória
Notas da autora
Apresentação
01 - O reino é despedaçado
02 - Sopre e faça um pedido
03 - O demônio é uma sombra
04 - A morte vem no começo e no final
06 - Apostando a vida
07 - Por favor, me ame.
08 - O destino nos condenou a se amar
09 - A chama da parceria ermege
10 - Entre tapas e beijos
11 - SOCORRO!
ARTES TEMPORÁRIAS

05 ‐ O reino de névoa e cinzas

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Oleh gonc4alvess

"As margens da loucura começam quando você a enxerga de dentro do abismo e se imagina agarrada a ela"

Layla Grinffin,

- Estágios no purgatório, acredita nisso? Só pode ser brincadeira cara... - Ouço atentamente os murmúrios que ecoam de dois garotos passando a minha frente no corredor.

Alinho minha bolsa azul claro no ombro esquerdo, ainda confusa e tentando processar o que acabei de ouvir ao passo que adentro mais o prédio estudantil.

É confuso, por que ninguém teria a audácia de enviar os alunos dos terceiros anos para um estágio no purgatório. Se o rumor for verdade, torço para não ser a minha turma a sorteada para enfrentar essa assombração, o lugar onde as lendas e os demônios ainda andam na escuridão das sombras.

Eu não teria o azar de voltar para a escola no dia de estágio. Se bem que ultimamente não tem acontecido nada bom em relação a mim.

Depois de um mês sem pisar nesse solo escolar, retornei como uma garota sumida e penosa. Por algum milagre ou por forças que me revigoraram, estou aqui. Mesmo com alguns olhares atentos e misericordiosos sobre mim "a garota que perdeu os pais".

Sim sou eu.

Depois de ter aceitado que a vida continuava da noite pro dia, de forma mágica, piso novamente no chão deste lugar, que sinceramente achei que não continuaria.

Deduzi que minha vida ia acabar, mas ela não se desfez. Pelo contrário, ela mudou da água pro vinho de uma maneira repentina o suficiente para suspeitar que foi algo sobrenatural e milagroso.

Durante toda a minha caminhada pela escola de magia, passando pelo achoalho de madeira gasto, porém bem limpo e polido os rumores corriam, falavam a todo o vapor que os estágios irão ser no purgatório.

Na terra proibida.

Posso sentir as vozes transitarem entre os grandes pedestais de mármore que sustentam os grandes andares do prédio repleto de magia.

As paredes brilham listras douradas que passam de um lado para o outro nos papéis de parede, uma energia mágica linda e cheia de mistérios, nunca nos explicaram qual fenômeno mágico possibilitava tais luzes.

Estágio no reino devastado do purgatório... Uma terra vazia e assombrosa que já foi o lar de demônios.

Isso parece soar como uma grande piada e mau gosto.

A curiosidade se gera dentro de mim, aliás como seria viver entre demônios? Como eles são? São bonitos ou tem cifres vermelhos na cabeça e escamas negras na pele?

Nunca vi um e os únicos rumores que existem são de que foram extintos e que mereceram ser mortos.

Minha visão alcança Ester conversando com alguém que não conheço próxima a um quadro de avisos, a conversa parece render, a atenção dela, impedindo que tire seus olhos da garota de saia rosa e blusa branca que dialogam em gestos que mostram estar desacreditadas sobre algo.

- Psiu! - Chamo a atenção dela, que se vira e me solta um sorriso grande. - Venha aqui!

Hoje ela resolveu vir com um macacão preto, solto nas pernas e sem mangas, a sua bolsa branca com um girassol no meio bem bordado deixa o ar de menina que a roupa precisava.

- Você ouviu? - Ela diz olhando para os lados surpresa, contendo uma empolgação.

- Todo mundo está falando disso, é difícil não ouvir... - Me Inclinei sussurrando, como se fosse um secredo. - Isso é perigoso.

- Vão mandar uma turma hoje mesmo. - Começamos a caminhar rumo a sala de aula. - Do jeito que a nossa turma tem sorte é capaz de ser a gente, Layla.

Está claro seu tom de voz irônico, levando em conta todas as vezes que a nossa turma foi metida em confusões e em atividades sofridas e difíceis na escola, parece uma perseguição do mais puro azar.

- Quem te contou isso? - Arregalo os olhos surpresa, parando um pouco a caminhada para a olhar de boca aberta. - Quem te disse que irão mandar uma turma hoje?

- Pietro me parou na entrada da escola para me contar isso, e você sabe, ele é do conselho estudantil, ele tem acesso a esse tipo de informação. - Ela inclina a cabeça de lado e arqueia uma sobrancelha, mostrando acreditar fielmente nele e em suas informações. - E ele me mandou tomar cuidado, essa parte eu fingi não escutar.

- Ele gosta de você, está preocupado que seja a nossa turma que vá estrear a casa do diabo. - Abri a porta da sala de madeira rústica dando passagem para Ester entrar. - Esqueceu a declaração na festa? Fácil assim?

Sussurei para ela com um sorriso fraco no rosto, me escondendo, tentando não chamar atenção dos nossos colegas.

- Ele nunca me falou nada sobre gostar de mim... - Murmura confusa e com os pensamentos avoados. - Pelo menos não estando em plena consciência.

- Ele é a pura vergonha. - Olho a sala lotada dos 42 alunos. Todos estão nos fitando agora.- E aliás como vocês ficaram depois de tanto tempo fingindo que nada aconteceu no meu aniversário?

Ester deu de ombros e se senta pesada na carteira que vê logo descendo as escadas, que levam a gente para mais fundo da sala, a arquitetura daqui é planeja em uma descida, um auditório que possibilita todos de ter uma visão ampla do professor e do seu grande quadro negro.

Todos já estavam aqui, inclusive o professor Dário que lecionava a disciplina de feitiços de elementos II.

Com sua túnica preta de sempre, por baixo roupas negras em alfaiataria, o semplante sempre fechado e ríspido. Com os olhos pretos sérios e os cabelos brancos arrumados para traz.

Aparentemente, faltava eu e Ester na sala, ela com certeza não atrasaria, mas estava mesmo sem admitir me esperando do lado de fora, levando em conta o choque que ela teve ao me ver falar que viria hoje para a aula de forma repentina.

Vejo o professor fitar nos duas por longos segundos, mas não nos adverteu por chegar fora de hora ou algo nesse sentido, pelo contrário, parece aliviado ao conferir a hora no grande relógio de parede atrás de si.

Vejo Morgana e Luna sentadas mais a frente acenando em sorrisos meigos, a felicidade em me ver retornar para a vida cotidiana é evidente.

- Bom dia alunos. - Dário cumprimenta a turma como seu papel de docente. - Creio que já estejam sabendo da novidade, vocês adoram uma fofoca tanto dentro de sala quanto fora.

- Estão não era boato? Os estágio será no purgatório? - Uma voz masculina pergunta vindo do fundo da sala.

- Não é boato, é a mais pura verdade. - O professor diz indo para frente de sua mesa comprida de mármore negro. - Espero que estejam preparados.

Como se preparar para algo que não se cogitava nem uma opção viável?

- Sempre ouvir falar que nós magos não devemos ir para aquela terra, por razões do ambiente hostil e por conta de ser o lar dos demônios. - Indaga Ester. - Mesmo que digam que foram extintos, as lendas e historinhas andam soltas.

- Os tempos mudaram, Ester. - Dário se escora na mesa,.rebatendo a insegurança dela com um olhar julgador. - Se você quer se tonar um bom mago tem que passar por coisas difíceis.

Ester não precisa se tornar uma bom mago, ela é a herdeira do trono.

- Mas se morrer no purgatório não vai se tornar mago nenhum. - Murmura Matthew no fim da sala, ele sempre procurava confusão, mas desta vez estava certo. - A nossa opinião não vale?

Se Alex estivesse aqui com certeza iria procurar fundamentos para ajudar o amigo em sua argumentação rasa.

Mas ele sumiu e ninguém fala sobre isso, mesmo que eu pergunte quantas vezes forem.

- Vejo que você não confia em si mesmo, Matthew. - Dário aponta para ele com um fundo de raiva nos olhos semicerrado. - Se quer ser um mago de festa de animação infantil, por favor, pode sair desta sala.

A sala ficou aos murmúrios por causa do comentário do professor, que não pensou duas vezes em tocar em uma questão polêmica e eu não pude deixar passar o momento para tirar uma dúvida que me corrói.

- Professor! - Levanto minha mão chamando sua atenção com urgência. - Imagino que teremos uma missão para concretizar, não iremos em vão. É um estágio no final das contas.

- Isso Layla, o território do purgatório é hostil e tem muitos magos renegados, além de poderosos. - Responde voltando para a cadeira atrás da mesa. - Vocês irão apenas coletar ingredientes para poções e feitiços importantes, imagino que quando vocês saírem daqui estejam preparados e conheçam aquele território, no purgatório é onde se tem mais recursos mágicos dentre os quatro reinos.

- Entendi professor, mas não irá nenhuma supervisão com a gente? - Era óbvio que precisávamos, somos incipientes de conhecimento de combate em prática. - Precisamos disso.

Nunca tínhamos saído do território mágico de Orligia, estávamos acostumados a fazer feitiços básicos e de proteção e alguns aqui e ali de ataque. Além do mais, nosso reino é protegida pelos 12 ancestrais lunares, magos poderosos descendentes dos poderosos reis celestiais.

Quatro deles lesionam aulas aqui na escola de magia, tentam pelo menos passar o legado e o poder na mão dos futuros magos desta terra. Um conhecimento ancestral e cheio de segredos e poder.

Meu professor Dário é um deles, um dos ancestrais lunares, apesar de parecer ter seus 50 e poucos anos, ninguém sabe quantos anos ele tem.

Dário por ser um ancestral tem muito poder, não brinco quando falo muito poder.

É denso estar no mesmo ar que ele, sua energia emana magia. O processo de adaptação para todos aqui foi difícil, é complicado está na presença deles, mas não impossível.

Quando se convive tanto com esses ancestrais você aprende a ignorar as pressões do ambiente e as energias mágicas que emanam das coisas, você as identifica, mas não lhe faz mau algum.

- Prestem atenção. - As mãos de Dário se tornam douradas e um mapa começa a se formar ao seu lado, bem detalhado. - Esse é o mapa da zona que iremos estagiar, prestem atenção. Teremos pontos estratégicos, qualquer sinal de perigo voltem para o ponto indicado em vermelho no mapa, se fizerem isso encontraram suporte com um professor experiente.

- Como vamos lembrar desse mapa? - Começaram as perguntas.

- Irei passar uma cópia por meio de um feitiço fixador na mente de vocês, assim como as instruções em geral, isso não será problema. - O professor explicou voltando os dedos para o mapa.

- Professor... - Eu tinha mais uma dúvida. - A lenda... Do mago que possui as chamas do purgatório e que carrega a maldição dos dois impuros... Isso é real? Se for... A lenda diz que ele vive no purgatório, onde as chamas ardem sem parar...

- Muita baboseira... - Sinto ele hesitar antes de responder e interromper minha fala. - Não passa de uma lenda tosca, Layla, esqueça esse assunto.

Os murmúrios voltam a sala e desta vez é sobre o grande mago impiedoso do purgatório. A lenda que corria a anos, contada para colocar medo nas crianças desobedientes. Todos aqui já ouviram e testemunharam o medo de somente imaginar o demônio.

Na lenda um mago teria se transformado em um demônio imortal, e assim, teria preferido proteger os demônios e matar impiedosamente todos os magos de Orligia.

O motivo? Não sei, a história é curta e sem sentido. O que eu estudei na comunidade que participo é escasso e contradiz e varia da boca de cada pessoa.

- Silêncio! - Dário grita dissipando o mapa rapidamente, sua paciência se esgotou. - Vocês tem um intervalo de 15 minutos para se prepararem. Estão liberados.

Levanto da minha carteira e puxo minha bolsa para meu ombro novamente, saio junto das minhas três amigas que apresentam uma cara de raiva contra o professor.

- Da pra acreditar? - Morgana reclama sacudindo a cabeça. - Eles deveriam ter nos avisado antes.

- Eu acho que eles estavam esperando pela última hora, nem eles gostam de ir ao purgatório. - Ester disse tirando uma goma de mascar do bolso. - Se falassem com antecedência a gente não iria.

- Temos 18 anos, eles esconderam esse estágio de nos como se fossemos crianças. - Digo indignada seguindo o caminho para o vestiário.

Era irritante pensar que poderiam ter nos avisado uma semana antes como é o costume quando se trata de eventos extraclasses e estágios, parece que foi planejado de última hora, uma coisa mau feita e sem articulação.

- Em parte... Somos totalmente inexperientes. - Morgana Murmura. - Ao contrário da Layla, o resto da nossa sala é um verdadeiro desastre, sabemos poucos feitiços e o que sabemos não são fortes o suficiente para as criaturas do purgatório. - Ela coça o pescoço montrando um semplante preocupado.

Andamos pelos corredores lotados, os outros terceiros anos estão se arrumando para seus estágios que provavelmente sejam em um campo lindo e cheio de flores, enquanto a gente se prepara para o inferno.

- Isso por que ela é talentosa, Layla nasceu com talento. - Ester enfatizava me lançando um olhar arqueado e cheio de confiança. - É comum na nossa idade sabermos somente alguns feiticos fracos de ataque e defesa! Layla tem alguns dons na manga.

- Ester tem razão, Layla é um caso a parte. - Luna diz abrindo a porta do vestiário.

- Eu estou aqui pessoal, estou escutando tudo. - Balanço as mãos na frente do rosto das meninas. - E eu não nasci sabendo fazer magia, talvez eu tenha mais facilidade por meus pais serem magos. Apesar deles nunca terem me ensinado nada além do básico que todo mundo sabe fazer. E tem mais! Só por que eu consigo levitar coisas até pesadas não significa nada.

- Não estamos falando nada em segredo que você não possa ouvir.... - Ester diz e coloca a bolsa em cima de um banco, tirando sua roupa de combate de dentro do armário para vesti-la. - Você pode está certa, mas se fosse assim, eu não deveria ser poderosa também? Minha mãe sabe fazer coisas inacreditáveis.

- Talvez.

Coloco minha bolsa no banco para fazer o mesmo que as meninas, abro o compartimento de ferro e tiro minha vestimenta do estágio. Um macacão de manga longa que cobre quase todo o corpo. É vermelho com preto e tem o símbolo da escola de magia no peito direito e meu nome nas costas, em um bordado detalhado branco.

Todos os uniformes são nesse modelo, somente muda o nome do estudante no tecido das costas, uma identificação necessária.

- Estou com muito medo... - Ouço as vozes baixas, as donas dos murmúrios são minhas colegas que estão trocando de roupa mais a frente.

Eu e as meninas olhamos umas para as outras, trocando olhares de seriedade e preocupação, suspiramos fundo, sabíamos que essa missão seria difícil.

- ATENÇÃO! TURMA 3Y DE MÁGIA, FORMAÇÃO NO PÁTIO CENTRAL, O TEMPO ACABOU! - A voz ecoa na escola através das caixas espalhadas por todo o edifício.

- Nossa... Realmente se passou 15 minutos? - Reclama Luna jogando sua bolsa dentro do seu armário. - Não parece.

Seguimos o caminho para o pátio e os cochichos dos outros alunos de turmas diferentes eram impossíveis de serem ignorados. Eles sabem que a gente vai para o purgatório, o lugar onde os pesadelos e criaturas sombrias moravam.

- Se eles continuarem nos olhando assim eu vou começar a ter pena de mim também. - Ester diz erguendo uma sobrancelha incomodada.

- Estou com medo... - Morgana murmura e Ester agarra ela em volta dos braços acariciando sua cabeça.

- Deixa de graça que você agora sabe usar energia dourada! Nossa fadinha.

Chegamos ao pátio e o professor Dário se encontra ao lado de mais dois magos, uma mulher de cabelos brancos em um coque, com roupas amarelas longas e despojadas e um homem de barba longa e acinzentada com uma túnica azul brilhante.

- Eu sei que a gente vai pro purgatório, mas precisa de 3 ancestrais? - Morgana dispara cruzando os braços. - Parece que o purgatório não é brincadeira...

Ela tem razão, somente Dário e mais dois professores experientes seriam o bastante. Mas em vez disso, aqui estão três ancestrais prontos para irem ao purgatório...

Dário, Amélia e Astrox.

- Me sinto até mais segura. - Ester solta sorridente ainda mascando o chiclete de bala de morango. - Não que eu morra fácil, mas sentir dor não é necessário.

A quase imortalidade dos vampiros abençoa Ester.

Para matar um vampiro é preciso enfeitiçar uma adaga específica, se eu fosse difícil de morrer assim me preocuparia, aliás até um suicídio seria complicado.

- Três ancestrais, isso é suspeito... -Murmuro estranhando o excesso de cuidado. - Não somos bebês.

- Lembrem que nossa sala tem 42 alunos, eles tem muitos adolescentes para dar conta. - Luna nos olhou conformada. - Talvez seja necessário.

Em parte ela pode estar certa. Mas no caso não seria melhor uma fada? Capaz de nos socorrer na hora? Por que três ancestrais que só sabem atacar?

- Adolescentes de 18 aninhos. - Morgana riu em ironia arrumando o cabelo em um rabo de cavalo. - Não somos tão imaturos.

Somos puxadas pela atenção da voz masculina rouca vindo de trás de nós.

- Meninas... - Keinan nosso colega de turma, vestido com o uniforme e com seus cabelos vermelhos despenteados e o par de olhos verdes encantadores. - Ansiosas?

- Por que estaríamos? - Luna retruca dando pouca importância.

Ele com certeza quer puxar assunto com Morgana, evidente que esta apaixonado por ela desde o começo do ano passado.

- Cai fora, Keinan. - Morgana lança e ele vai embora levantando as mãos em sinal de defesa.

Que facada no coração do moço.

- Nossa, Morgana! - Repreendo sua atitude, dessa forma nunca vai namorar. - O garoto não fez nada.

- Isso é coisa de menino escroto "meninas ansiosas?" - Ela fez as aspas no ar com os dedos carregados de raiva pela movimentação dura. - Menino mulherengo...

- Tá com ciúmes Morgana? - Luna zomba sorrindo com os olhos. - Ficou vermelha? Está né?

- Hum... - Nós três falamos juntas brincando com a cara dela que ficou ainda mais encarnada.

- Vão se ferrar vocês. - Ela estava tentando esconder a notória vergonha e evita o contato visual. - Eu e ele não rola.

O barulho dos microfones mexidos ecoam.

- Atenção! - Dário fala no microfone preto em mãos. - Formem filas para receber a missão pela magia de fixação, cada um vai ter um ingrediente específico para buscar. E também será repassado os locais onde são mais propícios para encontrarem seu respectivo recurso mágico. Boa sorte!

Sorte?

- Que eu não pegue nada difícil, que eu não pegue nada difícil. - Repete Ester cruzando os dedos e fechando os olhos em uma esperança engraçada.

- Ninguém quer nada difícil amiga. - Luna se posiciona na fila conformada com a situação. - Mas é o que temos para hoje.

A fila andava como o corredor da morte e vejo os olhares tristes dos que já haviam passado pela magia de fixação, os olhos abatidos e beirando o pânico.

Nada é fácil de encontrar no purgatório, assim como é difícil estar naquele reino arruinado pela escuridão da morte.

Nunca pisei naquele lugar, mas os rumores são macabros.

- Layla. - Assinto ao comfirmar meu nome, preparada em frente ao professor.

Então Dário começou a magia.

Na minha cabeça se formou o mapa claro do purgatório, minha missão era a flor da mortalha, isso me causa um arrepio medroso, aquela flor mata qualquer um que não saiba aplicar o feitiço certo nela. Vejo também, os pontos vermelhos que Dário tinha falado na aula, fico surpresa quando vejo que onde a flor da mortalha poderia ser encontrada era bem longe dos pontos seguros.

Esperei minhas amigas passarem pelo feitiço, elas agora aparecem cabisbaixas na minha frente, uma por uma.

- Foi tão horrível assim? - Pergunto.

- Eu tenho que achar a mariposa de ouro. - Diz Ester com as mãos balançando em repugnância. - Eu tenho nojo de insetos.

A mariposa de ouro é um pouco venenosa, mas os feitiços feitos com ela eram eficazes e ela se tornava um pouco difícil de encontrar.

- Eu tenho que pegar as ervas negras... - Morgana afirma. - Poderia ser pior né?

As ervas negras são usadas para porções de reversão de feitiços de sangue, era mais difícil de encontrar do que a mariposa de ouro, mas não apresentava risco algum.

- Eu fiquei com a varinha de madeira chorosa. - Olhamos todas de olhos arregalados para Luna de uma só vez.

Era difícil pegar a varinha de uma madeira chorosa, não por ser difícil de achar, mas o mago teria que fazer ela chorar para conseguir o real objetivo.

- Bom... Eu peguei a flor da mortalha... - Mumurro entre os dentes tentando esconder.

- O que? - Falam juntas incrédulas.

- Eles estão loucos? Querem te matar? - Ester reclama pronta para ir até os ancestrais. - Diga que não vai pegar isso Layla! Pode deixar! Eu digo.

Paro Ester com a mão sobre seu ombro, chamando sua atenção para escutar o resto.

- Ester tem razão. - Luna confirma me fitando com os olhos amarelos. - Não se dar esse tipo de missão para o primeiro estágio.

- Eu sei fazer o feitiço, não se preocupem com isso. - Afirmo e elas suspiram, ainda preocupadas e negando com a cabeça.

Os portais foram abertos, somos todos divididos.

Agora posso sentir o ar gelado da terra sem lei junto com o frio correndo na espinha. Agora estávamos todos entrando na mata escura do purgatório, sendo divididos e separados, cada um para sua missão, sozinhos e com medo.

Me deparo com uma vegetação doente, cheia de massas escuras. As folhas das árvores estão sujas, como se estivessem passado por uma tempestade de chuva negra. Seja como for, não vou encostar meu corpo em nada que possa me matar lentamente aqui.

Ando com cautela, me certificando de não deixar nada passar despercebido e não cair em alguma armadilha ou buraco ardiloso de algum ser maligno. Aliás, está aqui é um verdadeiro terror psicológico e qualquer sinal poderia ser sinônimo de problemas.

- Que eu não morra hoje... - Murmuro para mim, buscando um encorajamento que nem ao menos eu sonho em conseguir.

Caminho mais um pouco dentro da floresta que cada vez aparenta está mais acabada e sem fim, agora boa parte das folhas estavam queimadas, cinzas no chão e escuras como sombras sendo levadas pelo vento gélido que doía ao tocar meu rosto.

Era difícil imaginar que em um cenário tão apocalíptico poderia se encontrar a flor da mortalha ou ao menos um ser vivo.

Esse lugar realmente foi um reino?

Um corvo saiu voando do meio da mata, fazendo o barulho das folhas secas voarem bruscamente, ecoando dentro da vasta floresta sombria, aquilo faz meu coração quase sair do lugar, batendo em meus ouvidos e minha respiração quase falta em desespero, temendo pela minha vida.

- Corvo maldito! - Esbravejo assustada com minha mão trêmula subindo ao meu peito nervosa.

Caminho mais, mesmo não estando recuperada do susto e minhas pernas tremerem quase sem forças. Analiso cada centímetro de chão, orando fielmente para a flor aparecer e eu posso ir embora daqui.

- Está tudo pronto.... - Escuto uma voz de timbre agudo e rasteiro.

Olho outra vez assustada pelos lados bruscamente... Mas não tem nada nem ninguém, isso é loucura.

Minhas mãos tremem em receio do que seja.

- Venha... - Agora com mais clareza as palavras entram em meus ouvidos.

Nunca me droguei e não duvido que essa mata possa causar alucinações.

- Por aqui... - Foda-se, vou seguir essa maldita voz, esse é o preço de ser uma curiosa.

Caminho a seguindo, orientada pelo som que entra em meus tímpanos. Não demorou quase nada e me deparo com um livro, que aparentemente se assemelha aos livros centenários dos magos, os que ficam em exposição uma vez ao ano aos alunos na escola de magia.

O livro que me chama tem a capa preta em couro e correntes penduradas, nunca tinha visto um livro de magia desta cor e com tais acessórios, ele também tinha linhas irregulares acesas em vermelho como cinzas queimando, sendo fortalecidas pelo vento, prontas para queimar qualquer coisa que a tocasse, deixando fluir uma luz forte, clareando todo o seu redor.

- Tudo está pronto. - O livro falou, agora bem diante dos meus olhos. - Venha.

A tentação entra dentro de mim, sinto a energia me rodear me fazendo querer o poder emanado do livro com certa urgência.

Imagino que aquele livro tenha surgido para ser meu, o meu livro de magia. Aliás, eu não faço ideia de como se consegue um desses, e agora, tem um aqui me chamando, bem diante dos meus olhos.

Estendo as mãos me inclinando para tocá-lo, coloco meus dedos na superfície do livro, me sinto puxada para ele, o aperto inconsciente sem soltá-lo de jeito nenhum. A textura é irregular e dura na sua capa.

Sinto o fogo queimar todo meu corpo, ardia, como cinzas apagadas em minha pele, o ar deixava meus pulmões sem aviso.

Não conseguia soltar o livro de jeito nenhum, por mais que eu tentasse, era em vão.

Uma energia vermelha brilhante surge diante dos meus olhos, quase me cegando. Fecho os olhos com dificuldade, enquanto ela flui involuntariamente para dentro de mim, doendo em todos os meus ossos.

O livro cai fazendo o barulho alto de suas folhas sendo fechadas violentamente, caio de joelhos no chão incrédula, olhando minhas mãos tremerem diante de mim, estou completamente assustada.

O que aconteceu comigo?

Sinto minhas mãos formigarem e uma energia fluir dentro de mim como correntes oceânicas fluindo para todo o além inigualável do mar, uma sensação atípica.

Mesmo se eu passava um mês canalizando energia, não conseguiria ter essa sensação de poder.

Sinto como se pudesse conseguir qualquer coisa no mundo.

Muita energia, muita magia correndo no meu corpo, eu não sabia o quanto, mas eu sabia que era demais, o suficiente para rasgar minha pele procurando mais espaço.

- Layla... - Uma voz rosna atrás de mim, junto ao som de folhas e galhos secos sendo pisados.

Pulo para me afastar da voz carregada de raiva, um arrepio corre por toda minha espinha e um medo fora do normal me toma por completa.

Viro bruscamente para saber o que estar chamando meu nome, mas com o susto tropeço em uma raiz grande e exposta da árvore tortuosa ao meu lado, caindo de bunda no chão.

Tinha um homem lindo na minha frente, mas que passava um ar assombroso, entretanto o homem mais lindo que vi em toda minha vida, a visão dele estremeceu todo o meu corpo.

Alto, cabelos pretos um pouco bagunçados e olhos vermelhos escarlate, que pareciam estar acesos, me fitando minunciosamente, parecia ter sido esculpido por um mau sagrado.

Seu corpo é forte, bem definido, veste uma camiseta fechada até os braços preta, um pouco frouxa no corpo, mas o suficiente para marcarem seus músculos do peitoral e biceps.

Isso realmente pode ser possível? Uma criatura tão bela em um lugar devastado?

No seu pescoço consigo enxergar na carne nua uma tatuagem preta com traços que parecem imitar escamas finas e detalhadas, ela se estende até a parte de trás da sua orelha.

Ele parece ser poderoso demais.

A sua calça também é negra em alfaiataria, na verdade, ele esta todo de preto. Sua aura era escura assim como suas roupas bem passadas, me fazendo tremer incontrolavelmente. Sua pele levemente bronzeada lhe passava um ar sensual.

Mas o que incomodava mais é sua aura, que transparecia estresse e raiva. Ela é pesada, densa e ácida me fazendo ter dificuldade em respirar.

- Quem é você? E como sabe meu nome? - Meu ar quase não atravessa minha garganta.

- Seu nome está gravado nas suas costas! - Esbraveja incrédulo levando a mão ao rosto, apertando os olhos. - Você é tola?

Vejo os pés dele darem um passo adiante, ele estende os dedos a frente e o livro que estava no chão voa para suas mãos em um instante.

Pude ver seus olhos brilharem venenoso, encarando o livro por longos segundos. Ele não gostou do que viu e sabe que a culpa é minha.

- Que porra você fez?! - Atirou a pergunta, fazendo o livro sumir de suas mãos. - Com o livro!

- Quem é você?! - Eu quero sair correndo, mas meu corpo esta paralisado me impedindo de continuar.

- Damon. - Conta com a voz embargada de raiva e uma inquietação evidente. - Droga, o que você fez com meu livro Layla!?

Sinto minha alma querer abandonar meu corpo com a tonalidade amedrontadora de sua voz, e para piorar tudo e acabar com toda a minha sanidade e esperança de viver, Damon, era o nome do demônio da lenda.

Damon.

O mago das chamas do purgatório.

- Como o demônio da lenda? - Gaguejo desajeitada nas palavras.

- Isso... Como o demônio da lenda. - Ele se aproxima mais e posso sentir seu ódio exalar de si. - O que você fez com meu livro?! Responde!

- Era seu? - Estou entrando em pânico e não consigo me mexer. - Desculpa...

Ele passou as mãos no cabelo negro bufando, provavelmente está tentando não me matar agora.

- Me diz que você não absorveu o que tinha nele... - Interroga ácido. - Droga Layla! Você só se mete em confusão.

Como assim eu só me meto em confusão?

Minha cabeça está atordoada demais para tentar entender ou relacionar suas palavras com algo em minha vida. Meu foco está em responder suas perguntas para tentar ao menos viver.

- Eu acho que absorvi... - Digo esperando o pior, estou no purgatório, afinal de contas.

Meu corpo tremia, minha mão não parava quieta, todos os pelos do meu corpo estão arrepiados.

Eu vou morrer ali, ele vai me matar.

"Layla Grinffin, 18 anos, estudante do 3° ano da escola de magia foi encontrada morta durante um estágio ao purgatório."

As notícias sairiam, em todos os jornais de Orlígia. A escola ficaria um caos por causa desses estágios e os ancestrais teriam que buscar formas de justificar o erro.

- Você é amaldiçoada assim como eu. - Damon coloca as mãos em seu queixo murmurando para si. - Não acredito que eles se aproveitaram de você para roubar meu feitiço e meu poder...

Como assim também? Ele é amaldiçoado pela lenda centenária.

Mas ele queria dizer que eu também era? Então o nome dele... A maldição...

- Como eu fui tolo... - Ele retrucava consigo com indignação. - Por um segundo...

E como assim eles me usaram? O que ele está falando?

- Você está brincando... - Minha respiração falha. - Isso é lenda... O demônio não existe.

- Então eu sou uma lenda pra você? - Ele aponta para meu uniforme com rispidez. - Essa escolinha que você frequenta diz que eu sou uma lenda? Enquanto eles se tremem de medo que eu apareça batendo na porta deles!?

Estou ficando louca.

- Você é o mago das chamas do purgatório? - Tento me arrastar para longe, mas meus pés deslizam nas pedras soltas no chão e minhas costas batem em um tronco áspero.

Isso doeu muito.

- Oh... Querida... Eu sou o demônio das chamas do purgatório. - Ele se aproxima, inclina-se para perto de mim, puxa minha mão trêmula com brutalidade e a coloca sobre seu peito musculoso. - Isso parece não ser real? - Desce minha mão pelo seu corpo, então ele sobe o tecido da sua blusa e sinto sua pele quente e as curvas dos seus músculos bem marcados debaixo de meus dedos. - Isso parece uma lenda pra você?

Isso não poderia ser verdade, em todos os meus anos de vida nunca ninguém falou sobre ter visto ele... Ou então ninguém sobreviveu para contar.

- Em carne e osso! - Ele se inclina perto do meu rosto, ainda segurando minha mão, esquentada pela pele quente dele, que ao mesmo tempo era macia. - Você não vai a lugar nenhum... Eu estava fazendo um feitiço muito poderoso, muito mais do que sua mente possa imaginar... - Minha gola do macacão foi puxada, nossos lábios estavam a centímetros de se tocar. - Eu coloquei 80% do meu poder nesse livro, criança! E juntando com o que o meu grimório tem em si é uma bomba para você.

Ele tá querendo me abusar ou me matar?

- Ele me chamou... - Tento reverter a situação. - O livro... Ele me chamou.

Sua mão agarra mais forte o meu colarinho, não consigo mais controlar a minha respiração com ele tão perto de mim, meus lábios estão formigando com os dele tão próximo dos meus, não consigo explicar para mim mesma o que estou sentindo a essa altura.

Mas dentro de mim ecoa que ele quer algo a mais do que somente o poder dele que absorvi.

- Claro que ele te chamou sua tola! - Ele tira sua mãos de mim, soltando minha roupa e tirando minha mão do seu corpo. - Os grimórios chamam a pessoa capaz de absorver a magia que foi imbuída nele para concretizar o feitiço... Ele achou que você era eu! Por causa da maldição que nós dois carregamos, provavelmente. - Ele andava para um lado e para o outro, posso sentir o temor. - Eu já estava voltando para concretizar isso e agora você absorveu os meus poderes com a porra do meu feitiço.

Estou suando frio.

Por que ele fala tanto que eu tenho uma maldição?

Ele está enganado.

- Eu... Eu faço o feitiço pra você! - O desespero é evidente em minha voz.

- Não é fácil assim... Somente quem iniciou o feitiço pode terminar. Você só está servindo de receptáculo para ele e o meu poder. - Ele se aproxima em um passo largo, agarrando meu braço me levantando a força. - Você vem comigo, vamos fazer você me devolver meu poder. Além do mais, passamos tempo demais aqui, isso com certeza é uma armação.

- Não posso ir com você! - Tento me desvencilhar de suas mãos, em vão.

Ele me joga pra cima do seu ombro, me segurando com seu braço entre a minha cintura.

- Já cansei de te deixar nesse reino de merda, olha o que fizeram você fazer! - Rosna estressado, me segurando com firmeza. - Eles te mandaram para o purgatório? E você aceitou vir? Chega de ser tola Layla!

Ele está me advertindo porque?

- Estou em estágio da escola, não sei do que você está falando! - O medo está me consumindo. - Me solta demônio!

- Chegou a hora de saber da verdade... - Ele se cala por longos segundos olhando para a floresta densa, esquecendo de mim, que continuo me debatendo. - Merda são 3. - Sinto suas mãos me apertarem mais. - Não acredito que você trouxe 3 ancestrais consigo, Layla!

Os olhos dele ficaram mais vermelhos, como um verdadeiro rubi e pude senti a desgraça se anunciando em vestes negras como a morte.

- Não... Não... - Na verdade eles que me trouxeram.

Damon chia a boca, me pedindo silêncio.

- O trisal fantástico?! - Graças aos anjos os três ancestrais apareceram na nossa frente. - Então vocês planejaram isso? - Damon pergunta entre os dentes, encarando os três.

Os ancestrais estão diante de nós, talvez eu saia viva dessa. Se eu sair viva eu prometo que serei devota da igreja, não faltarei nenhum dia.

- Não é fácil deter um demônio desobediente. - Dário rugiu. - Solte a garota!

- Está preocupado com ela? Que cinismo, vocês dariam tudo para matá-la. - Damon está se afastando aos poucos dos ancestrais, como se temesse algo. - Quem disse a vocês que eu faria este feitiço aqui?

- Não importa, solte ela! - Amélia disse dando um passo a frente, pronta para atacar. - Solte a garota!

Então essa vinda ao purgatório de última hora era pra isso. Pegarem esse demônio, me usando como meio?

Eles colocaram minha vida em risco pra isso?

Não tinha nada a ver com nossa experiência, muito menos com o purgatório ter se tornado propício para estágios... Não era nada disso, mas sim um plano para pegar Damon e por algum motivo esse plano me incluía no meio. Talvez fosse por esta razão que Dário sempre estava no meu pé, eu tenho algo que não sei.

- Que plano maravilhoso o de vocês. - O demônio me aperta mais nos braços, doendo meus ossos. - Me vigiam, descobrem que vou transferir meu poder pro meu livro de feitiços e manipulam a garota pra roubar meus poderes... - Rosna com a voz embargada de acidez. - Parabéns! E ainda dizem que eu não existo na escolinha de magia de vocês... - Damon esta bufando em ódio. - Escuta Layla... - O demônio fala baixo se dirigindo a mim. - Eles são mentirosos, não acredite neles.

- E eu deveria acreditar em quem? Em você? Claro que não. - Ele me encara de lado, aquele olhar poderia doer, ser uma arma.

- Eu não consigo com 20% do meu poder te salvar e me salvar.

Damon começou a correr comigo nos ombros, uma corrida iniciou e algo me diz que o troféu sou eu.

- Não estou pedindo para ser salva por você! Me solta! - Me debater não faz mais sentido. - Me larga demônio!

Dário lança um feitiço proibido, o orion. Direcionado a Damon, ele desvia na mesma hora com somente um movimento. As árvores atrás dele viraram cinzas em segundos, queimadas pela brutalidade do feitiço.

Inacreditável que ele fez isso comigo em seus braços.

- Layla, eu vou te mandar para longe se cubra de magia para não se machucar e fuja deles, eles não querem o seu bem. - Sua voz carregava seriedade, por um momento posso dizer que ele está sendo verdadeiro.

- Do que você está falando?! - Estou completamente afundada em dúvidas.

O tecido amarelo cobre a nossa frente de maneira inesperada e posso ver os olhos do Damon se arregalarem no mesmo instante, a dona do tecido é Amélia.

- Surpresa, Damon! - Me sinto ser puxada e jogada, batendo minhas costas no tronco firme de alguma árvore.

Tenho a visão impactante da mulher desferindo um golpe com um dos pés, que brilham em dourado, exatamente direto no peito de Damon.

Ele é jogado com violência e força contra o chão, deslizando e quebrando a vegetação com seu próprio corpo.

É possível sobreviver a isso?

Nesse momento vejo os olhos dos três ancestrais ficarem amarelos e brilhantes como o sol, aquilo me cegava, então os fecho, procurando amenizar a dor da sensibilidade da minha visão.

Escuto o estrondo das árvores quebrando, então rapidamente olho o que está acontecendo. Um dos três ancestrais estava no chão com uma ferida exposta no braço e Damon estava sorrindo agarrado em uma luta corporal com Dário.

- Só usa magia quem não se garante na porrada! - Damon ataca Dário com inúmeros socos e vejo o sangue espirrar da boca do ancestral.

Ele só estava com 20% de sua magia e mesmo assim está fazendo um estrago imenso com 3 ancestrais, somente com força física...

Isso é inacreditável.

- Agora! - Ouço Dário gritar, eles planejavam algo grande contra o demônio.

- Layla! Vai embora! Corra! - Damon grita com todo o ar de seus pulmões. - Agora!

Não consigo me mover.

Três raios azuis não muito grande desceram do céu em fleches de luzes brilhantes, atravessaram o ombro esquerdo, o peitoral e a coxa esquerda de Damon.

Ele caiu de joelhos no chão, cuspindo imediatamente uma grande quantidade de sangue negro.

Eu nunca vi tais raios e não faço a mínima ideia para que servem, mas sei que eles devem ser perigosos e dolorosos.

- Vocês demoraram quanto tempo pra canalizar a porra desses raios? - Damon fala com dificuldade, mas mesmo assim não deixava passar a oportunidade de zangar os ancestrais lunares. - Do jeito que são inúteis... Poderia dizer que foram anos.

Vi o demônio não se aguentar mais de joelhos, caindo de cara no chão, Damon se virou com o apoio dos braços fracos, ficando com o corpo para cima, tentando puxar os raios que deixavam o sangue negro dele escorrendo no chão do purgatório, mas vejo sua cara de sofrimento contorcer ao menos encostando os dedos neles.

- Layla... - A voz é baixa. - Some daqui...

Do que ele está falando?

- O mestre foi ferido... - Uma voz feminina murmurava baixo.

- Ele vai ser levado... - Outra voz, mas agora masculina.

- Não pode ser... - Outra vez a voz feminina.

- Não se preocupem comigo... - Damon fala se referindo as vozes que pensei esta ouvindo em alucinação.

Ele continuou me olhando amargamente:

- Você precisa ir embora! Por favor, os ancestrais não são confiáveis.

Damon está resmungando de dor, tossindo o sangue que teimava em invadir sua garganta. Amélia parecia manter a guarda preparada, esperando o pior do demônio.

Me pergunto o que ele fez para merecer tudo isso.

Astrox está levantando e cutucando sua própria ferida, ela tinha sido bem feita, grande e profunda.

E eu estou tentando entender o por quê do demônio me pedir com tanto afinco para ir embora.

- Ele vai apagar sua memória. - Ele é interrompido pelo chute carregado de violência de Amélia.

Damon cospe o sangue negro com intensidade, sem tirar os olhos pedintes de mim.

- Por que me manda ir embora?! - Curiosa pergunto.

Mas é tarde para isso.

- Cale a boca dele Astrox! - Dário ordenou.

Astrox lança eletricidade com magia de nível 5 em Damon, aquilo era capaz de matar qualquer criatura que conheço, mas aparentemente Damon apenas desmaiou ao contato direto com a magia.

Que porra foi essa que aconteceu? E ainda tem um velho tentando apagar minha memória?

- Você vai esquecer tudo que aconteceu aqui. - Dário se aproxima de repente e coloca as mãos brilhantes nas minhas têmporas.

- Não! Por que?

Sinto meu corpo amolecer e minha visão ficar escura, eu estou desmaiando.

"Lendas nunca morrem, esperam que você chame o nome delas"

Damon Whinces,

Meus ossos estão doendo como se estivessem sendo dilacerados. Sinto minhas mãos serem rasgadas e meus braços puxados com tamanha força que não consigo ao menos pensar direito.

Eu desmaiei?

Parece que foi isso. Depois de mais de 100 anos sem saber o que era perder a consciência ela se esvaiu.

No momento que eu mais precisava dela para proteger Layla, ela me abandonou.

Algo pinga, ecoando como se estivesse em uma caverna, o cheiro de mofo está entrando em meu olfato junto com o cheiro da morte.

Sangue.

O que pinga no chão é meu sangue negro, isso eu posso constatar depois de conseguir abrir um pouco das minhas pálpebras que parecem pesadas prontas para se fechar novamente.

Nesse momento, estou de joelhos no chão, sentindo minhas mãos acorrentadas no ferro frio, que me passa uma sensação de fraqueza notória.

Gostaria de levantar agora, mas ao menos tenho força para mexer minha cabeça caída.

Sou um inútil sem meus poderes.

Os raios estão brilhando cravados em minha pele e ossos, claro que aqueles ancestrais malditos não iriam tirá-los de mim.

Meu sangue escorre pelas minhas roupas descendo em um ralo mediano debaixo de mim e o que pinta na grande poça negra que não para de encher sai do meu nariz e boca.

O chão de pedra é inrregular e poderia dizer que dói nos meus joelhos, se eu não estivesse sentindo meu corpo todo sendo esfolado por causa desses raios inibidores.

Junto todas as forças que tenho guardada na minha vontade de encontrar Layla e ergo a cabeça para frente devagar, mas o suficiente para ver os pés de uma mulher sentada a minha frente.

Meu coração quase inaudível consegue tomar alguma velocidade mesmo estando ferrado.

Ela não.

Tudo menos ela.

Sinto minhas pupilas tremerem com as lembranças do passado que ainda me assombram mesmo sendo centenárias.

Ouço ela estalar a língua e bater palmas, como se me parabenizasse pela derrota em uma ironia palpável.

A mulher é Teresa, está em um vestido preto até o tornozelo e os cabelos brancos ondulados em um volume desarrumado.

- Olha Damon, meus irmãos estão de parabéns! - A clara ironia prevalece em seu rosto. - Conseguiram capturar você e ainda tiraram seus poderes...

- Layla... - Sou atrapalhado pela tosse sanguinária que teima em sair pela minha boca. - O que fizeram com ela?

- Apagaram a memória dela. - Suas sobrancelhas se estreitam e um sorriso aparece logo demais. - Aquela garota é seu karma se é que isso existe, olha pra você, está um miserável. Aquela garota me dar orgulho por isso, consegue colocar um demônio nas ruínas sem nem imaginar.

- A 170 anos eu deixei de viver, estava morto por dentro. Layla veio para me mostrar que a vida pode renascer, pode ser algo bom. Cale a boca com esse papo de Karma. - Me esforço ao máximo para falar sem ser impedido pelo sangue. - Não me diga que não tem ninguém que você daria tudo por ela...

- Tenho, a mim mesma.

A palavra seca e sem emoção me monstra o quão mentirosa ela ser torna.

- Você é mais velha que eu, sei que viveu a solidão, talvez muito mais intensa do que já experimentei. - Estou tão ferrado ao ponto de sentir meu peito doer por falar demais. - Ninguém luta sem motivos... Ninguém vai pra guerra sem ninguém pra defender.

O silêncio se instala.

A sala é realmente uma prisão velha, as paredes são de pedra provavelmente quebradas a anos com trabalho escravo e as grades de ferro maciço atrás das costas de Teresa confirmam o que penso.

- Você pensou que eu era ela, não é? - Athena. - Pela sua cara não precisa responder. Sabe, depois que soube que meus irmãos tinham feito essa façanha com você, depois de ver Dário se vangloriando no salão, eu percebi uma coisa. - A leve pausa é provocadora. - Que eles contaram totalmente com a sorte pra isso, não o fato de você ter ido lá e apagado a memória da garota, isso não. Eles apagariam de qualquer modo para tê-la de volta a escola. Mas o fato deles terem descoberto seu feitiço e cronometrado a data com perfeição, e por última e que precisava de muita sorte era Layla ter sido chamada pelo seu grimório e ter feito a façanha de absorver seus poderes.

A única entrada de luz está entre eu e Teresa, no teto. Posso ver seus olhos brilhando, enquanto mexe a cabeça em negação, sentindo-se com uma visão privilegiada de me ver nesse estado e com uma irá transparente.

Os estalos da língua repetem, ela está me estressando, veio aqui tirar minha paciência.

- Você tem muito azar, Damon. - Teresa levanta da cadeira convicta. - Meus irmãos não tem sorte.

- Você planejou tudo isso com eles?

- Negativo, não tenho nada haver com isso, e sabe? Fico impressionada em saber que conseguiram tudo isso sem mim. - Ela colocou a mão no próprio queixo, andando de lado para o outro pensativa. - O único problema agora pra eles é o pacto que não permite que eles matem a Layla, mas tenha certeza que farão o mesmo com ela. Ao contrário de você ela não tem experiência e cairá em uma emboscada e mesmo que a maldição ative e tenha um poder fora do comum, ela não sabe nenhum feitiço para se defender. Do que adianta magia sem saber usá-la?

As ameaças me fazem estremecer, puxo minhas mãos que estão presas em correntes brilhantes amareladas, com um gancho afiado do meio da minha palma, atravessando sem piedade para o outro lado.

Em vão.

Isso só faz meu corpo tremer, suplicando para que eu cesse com a dor incômoda.

- Isso deve doer, sem falar que é inacreditável você aguentar tanta dor sem nenhuma careta. Você já sofreu muito na vida não é Damon?

A careta de zombaria estampada no rosto dela me faz se sentir um completo inútil.

- Não consegue ficar de pé?

Não respondo a pergunta, estou tentando recuperar o fôlego que a dor me causou. Meu coração palpita como se fosse parar e sinto meu pulmão cheio de sangue me impedindo de respirar o oxigênio que preciso para me manter consciente.

- No seu lugar eu não me esforçaria tanto, até por que está claro que se você fizer isso vai desmaiar novamente, ou melhor, seu coração vai parar de novo. - Ela caminha até mim com os olhos amarelos queimando como o sol. - Eles fizeram isso pelas minhas costas e não faz parte do meu plano te deixar sangrando infinitamente nessa cela de pedra, Damon. - Sinto as mãos quentes levantar meu queixo que não consigo mais erguer depois do esforço. - A felicidade deles vai durar pouco, por que só quem sai ganhando sou eu e com você preso aqui como um miserável eu não ganho nada.

- Você é pior que eles... - Murmuro engasgando com o sangue que não para de invadir minha garganta.

Ela chia, colocando o dedo na frente dos meus lábios.

- Não se esforce tanto para me ofender, guarde suas energias para sair daqui.

Se ela quisesse que eu realmente saisse daqui, ela mesma teria me libertado disso e tirado esses malditos raios.

Mas ela não vai sujar sua imagem com seus queridos irmãos, ela é ardilosa demais, não sei o que ela está pensando, mas com certeza não é algo bom.

- Parece que meu irmão vem te visitar!

Então ela desapareceu na minha frente, como fumaça sumiu e a cela ficou vazia. O som do meu sangue descendo ecoa nos meus ouvidos e a dor lacerante continua a perturbar meu juízo.

Os passos começaram com o ruído arrastado, ela estava certa, vem alguém.

Então a risada maléfica ressoou na cela negra, ergo meu olhos, vendo Dário se afundar no prazer de me ver desta forma - maldito - ele sabe que essa balbúrdia me deixa irritado.

O vejo atravessar as grades grossas com um ar de superioridade que estufa seu peito para frente - arrogância, orgulho e ego - Ele é danoso.

- Se sente miserável, demônio? - A voz embargada de luxúria transparece.

Engulo o sangue que estava acumulado na minha boca, não pretendo me engasgar ao falar agora. Não está frase.

- Não tanto quanto você. - Sorri ladino, esboçando o meu sarcasmo.

Sua mão agarrada instantaneamente no meu pescoço me mostrando que sua paciência é esgotada.

- Fala de novo. - Ponderou aumentando o aperto.

Impossível, quero repetir e mostrar pra ele o quanto seu ego é momentâneo, mas sou incapaz.

- Como pensei. - Me jogando para traz sinto minhas mãos rasgarem no lancinante gancho que a atravessa. - Por que você não grita de dor?!

Aperto meus olhos, cuspindo o sangue, evitando expressar minha dor alucinante. Sei que Dário quer me ver sofrer e esse prazer eu não darei.

- Por que não sou marica igual você, Dário... - Digo áspero entoando o máximo de arrogância possível na minha voz fraca. - Você é covarde demais.

- Está querendo me provocar? - Dário arqueia as sobrancelhas e abre os braços convencido. - Vou te mostrar o que é dor. O que é provocar de verdade. - Que comece os jogos então. - Primeiro, você vai ficar aqui nessa cela para sempre ou você tem alguém para lhe resgatar dos ancestrais, Damon?

Eu não tenho ninguém, absolutamente ninguém para sentir minha falta o suficiente e arriscar a vida para me salvar. Dário sabe disso, está tentando me desesperar.

- Pela sua cara você não tem ninguém... como é se sentir na miséria igual 170 anos atrás? Lembrando de mim e meus irmão rebaixando o purgatório as cinzas? Como é ver seus pais morrerem pra te dar um pingo de essência onde sua alma sumiu? Como é ter a colega com um rombo no meio do corpo? Qual a sensação de perder tudo e está na miséria?

- Qual a sensação de ter seus sete irmãos esfolados na sua frente por minhas mãos? - Devolvo a série de perguntas sátiras.

Seus olhos brilham em ódio e posso sentir que ele é mais sensível do que um bebê chorão.

- Você vai sofrer todo santo dia nas minhas mãos seu insolente! E ninguém vai te salvar de mim!

A única verdade que saiu de sua boca - não serei salvo, ninguém irá me salvar, estou condenado - se ao menos eu tivesse forças para sair dessas correntes, mas não consigo ao menos respirar direito.

Meu queixo foi segurado com firmeza, o ancestral está me fuzilando com os olhos negros.

- Os raios que estão em você são mais do que inibidores. - Enfatiza e minha atenção é tomada. - Se um dos canalizadores da energia quiser ele pode aumentar o nível de energia, quer experimentar?

Eu quero que você queime até virar poeira descartável.

Em um estalo de dedos sinto a dor intensificar dez vezes mais, vômito sangue sem parar, perdendo todas as forças que tinha juntado em vão.

Pendurado, sem forças, tendo meu corpo puxado nos ganchos e nas correntes miseráveis.

- Se me pedir com carinho eu paro de mandar energia para elas. - Não preciso pedir, uma hora ele vai sair dessa cela e encerrar com isso, pelo menos momentâneo.

Gostaria de abrir a boca e mandar ele se ferrar agora, mas estou engasgado e sem ar. Meu coração está parando novamente.

Eu vou desmaiar de novo? Ou morrer novamente até meu corpo se restaurar e eles repetirem a dose orgulhosa?

Minha consciência está me deixando e a única coisa que consigo pensar é em como vou conseguir me livrar disso para estar com ela.

Layla, me desculpe, mas agora eu não consigo.

........................................

Olá meus queridos, sou eu, a autora.
Comentem sobre a obra para que eu saiba se vocês estão gostando!
E claro, votem para me incentivar a postar mais capítulos!
Beijos!

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