O Chacal

Von Machado-Ribeiro

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Chacal. Ele é um mestre do disfarce, uma lenda temida pela polícia que causa arrepios até nos melhores espiõe... Mehr

Notas do Autor
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 7

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Von Machado-Ribeiro

Pub de Rooster. Whitechapel, Londres, Inglaterra. Outubro de 2018

Lestrade não acreditava no que via. Algo digno dos filmes de ação que assistiu como passatempo em seu quarto aconchegante no último andar do prédio de Rudolf. Dessa vez não tinha pipoca, muito menos refrigerante.

Também não ficava apenas olhando a formação de um impasse mexicano.

No ambiente puído e maldito do velho pub, ninguém escondeu suas armas. De um lado, os recém-chegados. Uma dupla dinâmica com mais adrenalina e testosterona do que ele poderia contar. Os olhos e nariz vermelhos, pupilas dilatadas e cabelos bagunçados diziam-lhe muita coisa.

Nervosos, os dedos deles volta e meia tocavam o gatilho. Noor, Raheem, Cicatriz e o restante do grupo se entreolharam. Conhecia bem os sinais, passou muito tempo no submundo para entender a formação de uma aliança temporária em breves e míseros gestos.

— Rooster não está aqui, Karl... — Raheem manteve o tom de voz sério e tranquilo.

— Ele me vendeu passaportes inúteis!

Karl, o líder e mais ativo da dupla, jogou alguns documentos no chão. A poeira subiu e causou mais crises em Lestrade. Se continuasse daquela maneira, teria um ataque de espirros. Qualquer movimento em falso seria motivo para um banho de sangue.

Não queria isso. Já haviam derramado bastante sangue por uma única noite. Logo, aos pouquinhos, foi se esgueirando para os flancos do estabelecimento. Serpenteava as mesas, as cadeiras, escondendo-se por trás da estatura alta e as costas largas dos homens.

Tinha certeza que Noor usou sua visão periférica para observá-lo caminhar até uma porta-escotilha, localizada atrás do balcão. Porém, ela não fez nada.

— Um passaporte limpo serve para você ter uma nova vida. — Raheem pendeu a cabeça para o lado, perscrutando Karl da cabeça aos pés, desdém e desprezo gotejando em suas palavras. — Se você utiliza os mesmos canais e possuí o mesmo padrão de vida, a culpa não é dos documentos.

Karl grunhiu. Seu colega alargou um sorrisinho de canto de boca.

— Do que me adianta uma nova identidade se não posso fazer o que quero? — Ele gritou e gesticulou, sacudindo a arma que estava em sua mão na direção de todos. Foi engraçado ver marmanjos e uma dama agachando-se sutilmente, evitando a mira da arma. — Hein? Respondam!

Rindo por dentro, Lestrade teve muita força de vontade para não gargalhar no meio do impasse mexicano enquanto se esgueirava por trás do balcão. Segurou um pouco o nariz, para evitar fungar, e seguiu na ponta dos pés até a porta. Mochila na frente, completamente em silêncio.

Novamente sentiu um olhar de relance sob suas ações, desta vez de Raheem, mas o barman também não fez nada para o parar. Não duvidava que sua preocupação maior era Karl e seu amigo.

— Uma nova identidade é justamente isso, Karl. — Noor tomou as rédeas. — Um novo começo, uma nova vida. É abandonar o que deixou para trás e criar algo novo, do zero. — Por que parecia que ela falava por experiência? — Muitos matariam para ter essa oportunidade.

— Não conseguir fazer uma coisa que desejo não é vida...

— Diga isso para as centenas de trabalhadores que se lançam diariamente para sobreviver e que não possuem condições de fazer o que realmente desejam. — Noor o interrompeu e apontou para todos no salão. — Por que você acha que Raheem e eu trabalhamos nesse ramo?

Karl ponderou e até abaixou a arma por um breve instante.

— Para ser livre?

— Para que possamos viver em um local de forma livre, sem que nossos inimigos nos descubram, sem esperar que um dia o passado venha nos pegar. — Noor guardou sua arma no coldre de ombro e pegou o passaporte e outros documentos. — Você tem uma oportunidade, pegue-a.

Havia falhas no raciocínio de Noor. Ela teria que forjar a própria morte e criar uma identidade do zero se quisesse verdadeiramente sumir. Isso se não desse azar da antiga vida bater com força à porta. Assassinos e mercenários dificilmente tinham expectativa de vida longa.

No entanto, Lestrade a entendeu. Talvez ela fosse vítima das circunstâncias, assim como ele. Ele respirou fundo enquanto caminhava para trás do bar, visando deixar todos para trás. Não tinha como pedir a uma mulher, que ansiava por um novo começo, sacrificar-se por ele, servir de escudo para impedir alguém cruel e implacável de lhe matar.

Já estava a centímetros da porta-escotilha, prestes a fugir assim que a oportunidade aparecesse. Ele deveria continuar escolhendo a escória das escórias, mas seria diferente agora. Não queria passar mais seis anos vivendo na escuridão do planeta, dependendo de favores de criminosos implacáveis.

Havia se cansado da noite. Queria a luz, queria viver sob o sol, conversar com pessoas, tirar fotos e bater papo nas redes sociais. Também queria parar e relembrar os amigos que fizera e que sucumbiram ao ataque vil de Chacal. Rudolf podia ser um pé no saco, um mesquinho de carteirinha, mas ele lhe estendeu a mão no momento mais complicado de sua vida.

— A identidade não me serve mais. — Karl suspirou, mas mantinha a mão no gatilho. Seu colega não estava tão relaxado assim, ainda que procurasse posições melhores para continuar apontando a pistola para a cabeça de todos. — A polícia fez uma batida após eu encomendar algumas coisas.

— Ela está queimada? — Raheem arqueou a sobrancelha.

— Não. Ainda não. — Karl inclinou a cabeça para trás e esfregou a ponte do nariz. — Eu acho que não.

— Acha ou tem certeza? — O barman vincou a testa.

— Certeza. — O amigo fez uma careta. — Mas a polícia está à procura do dono da cobertura que usamos. Compramos ela através de uma empresa nas Cayman, mas...

Noor olhou para o passaporte e depois para a porta onde Lestrade já tinha aberto. Pego no flagra, ele só levantou as mãos em rendição. Sem deixar cair a garrafa de vodca, claro. Ela era a sua arma.

— Posso usar? — Noor balançou os documentos. — E podemos limpar não só a sua barra, como a dele.

Apontou com o polegar por cima do ombro para Lestrade.

— Como assim?

— Você precisa se livrar da polícia, ele precisa fugir urgentemente. A fuga dele, enquanto a identidade se mantém, tirará a Scotland Yard do seu encalço.

— Não vejo problema. — Karl coçou o queixo. — Ainda preciso de uma nova identidade. — Ele encarou Raheem. — Cadê Rooster?

— Sim, al-Malik, cadê Rooster? — O barman sorriu ironicamente ao repetir a pergunta de Karl.

— Vou responder. — Noor bufou e deixou os ombros cair. Pareceu menor, cabisbaixa daquele jeito. — Mas antes, podem aceitar minha oferta e deixá-lo ir? Ele tem um voo para pegar.

— Não me interessa alguém que eu não conheço. — Karl acenou com a mão livre. — Por mim, ele vai.

— Um acordo de cavalheiros e uma dama. Típicos britânicos. — Raheem apontou com a cabeça para a porta. — Pode ir. Essa porta dá para um túnel que conecta com o subterrâneo e as antigas estações de Londres. Siga as placas e dará em um beco de uma rua movimentada. Pode pegar um taxi de lá.

Lestrade não acreditava no que ouvia. Em um momento, viu a vida passar pelo fio da navalha. Agora, tinha a oportunidade de escapar pelo submundo, sem deixar arrependimentos para trás.

Quer dizer, apenas um arrependimento. Dois se contar Rudolf.

— Tem certeza disso, Noor? Eu posso esperar...

— Eu já cumpri com minha parte do trato. Lhe dei uma rota de fuga e não irei me sacrificar me colocando na mira de Chacal. Ele é muito areia para meu caminhão. — Ela meneou a cabeça. — Boa sorte, Lestrade. Vai precisar.

Ela poderia ter insistido, dito que ficaria, mas era jogar na cara dela tudo o que fizeram naquela maldita noite. Jogar no lixo a confiança e as horas conversando em um sedan escuro.

O sedan...

— Tome. — Lançou a chave eletrônica do sedan enquanto Raheem lhe passou os documentos de Karl. Se ele pintasse o cabelo de ruivo e usasse lentes azuis, era possível se passar por Karl. — O carro é seu. Pagamento pelos serviços prestados.

Ele já havia depositado dinheiro na conta dela. O carro era um mero brinde, um mimo para a bela mulher que o auxiliou.

— Obrigada.

Sorriu. Até agradecendo era séria e compenetrada. Ele fez uma reverencia aos seus novos amigos antes de desaparecer por entre os caminhos escuros e mal iluminados que levavam ao subterrâneo de Londres.

Tinha que achar alguém louco e corajoso o suficiente para enfrentar Chacal e sua organização.

Durante a caminhada um pouco desesperadora entre os corredores subterrâneos, ele teve uma epifania. O som retumbante das passadas, ecoando a cada contorno ao seguir as indicações, causava-lhe arrepios à medida que traçava um objetivo.

Escutou rumores de algo tão absurdo quanto fantástico. A existência de um mundo além do véu, oculto não somente das autoridades, mas como também da escuridão do planeta. Talvez eles conseguiriam parar um assassino quase sobrenatural.

Achá-los seria outros quinhentos. Ainda assim, tudo era possível na deep web.

Desculpe, Noor. Não pegarei um voo para onde judas perdeu as botas.

Iria, na verdade, fazer o contrário. Gastaria sua fortuna, hackearia até a mãe se precisasse, mas mataria Chacal em seus termos. Sumindo na noite, caminhando nos tentáculos do vazio, Lestrade mostrou o sorriso branco ao bolar um plano.

Maluco, sim, mas um plano.

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