O Mapa do Amor | JIKOOK ✓

By JKaypirinha

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[CONCLUÍDA] Onde Jimin é uma pequena fada fêmea que está cansado de sua vida monótona e, na primeira oportuni... More

•◦ೋ•◦❥ 01 | Caminho Para a Liberdade
•◦ೋ•◦❥ 02 | Caminho Para o Fim
•◦ೋ•◦❥ 04 | Caminho Para a Felicidade (Parte 1)
•◦ೋ•◦❥ 05 | Caminho Para a Felicidade (Parte 2)
•◦ೋ•◦❥ 06 | Caminho Para o Destino (Parte 1)
•◦ೋ•◦❥ 07 | Caminho Para o Destino (Parte 2)
•◦ೋ•◦❥ 08 | Caminho Para a Verdade
•◦ೋ•◦❥ 09 | Caminho Para o Amor

•◦ೋ•◦❥ 03 | Caminho Para o Desconhecido

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By JKaypirinha

Desculpa gente, não sei fazer sem colocar alguma desgraça no meio, é meu dom 😔

Ah, vocês ficariam tristes em saber que, talvez, a quantidade de capítulos seja um pouco maior? Eu meio que fiz as contas erradas e acho que vai ter um pouco mais de seis capítulos 🤡

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Alcateia do Grande Alfa, no Sul.

"— O verdadeiro líder não é aquele que exerce poder, mas é aquele que deixa um legado e inspira outros a irem além."

Essa foi uma das últimas palavras de seu saudoso pai antes de perder a vida em um conflito contra os humanos. Os bastardos já cantavam vitória com a morte do líder, no entanto, seu filho unigênito estava com tanta raiva somada a dor do luto que perdeu todo o controle de seu corpo e permitiu que seu lobo fizesse todo o trabalho.

Eles venceram a batalha, perderam um grande líder, mas ganharam outro.

Jeon Jungkook era o único filho do Grande Alfa, e com a perda precoce de seu pai, ele precisou reprimir a dor do luto, assumir a pose inabalável de um líder forte e tomar o seu lugar como novo líder.

Mas o jovem Alfa lúpus se sentia despreparado para ter uma responsabilidade tão grande em mãos, mesmo que tenha treinado e estudado setenta longos anos para aquilo, sentia-se um filhotinho assustado que chorava copiosamente para receber o acalento que somente o colo de sua mãe podia proporcionar.

No entanto, ele havia deixado de ser apenas um alfa para se tornar o líder, aquele que daria qualquer tipo de apoio que sua alcateia precisasse, mas que, no fim do dia, sempre estaria sozinho, almejando ser recepcionado em sua cabana pelo seu ômega e filhotes.

Faziam mais de cinquenta anos que o Alfa ia no encontro anual das alcateias. Local esse onde todos os lobos solteiros iam para encontrar o seu companheiro e provar que eram sim capazes de sustentar os dois; mas Jungkook nunca encontrou aquele a quem ele entregaria tudo de si. O seu companheiro nunca apareceu e ele começou a pensar que nunca o encontraria.

Ele sentia que estava fadado a viver eternamente sozinho.

Com a liderança de seu pai, ele aprendeu que sacrificar as suas próprias vontades pelo bem da alcateia, era o certo a se fazer, sempre. Por isso, após se tornar o novo líder dos Lobos do Sul, ele deixou de procurar pelo seu companheiro. Estava cansado, e toda vez que retornava sem o seu companheiro ao seu lado, deixava tanto ele quanto o seu lobo, deprimidos.

Talvez, aquilo realmente tenha sido a melhor coisa que fizera há trinta anos atrás. Agora, no auge dos seus cem anos, seu corpo estava maduro e mais pronto do que nunca para tomar o seu ômega e enchê-lo com sua semente, no entanto, ele não tinha o seu. E um alfa sem companheiro poderia ser um grande perigo para os desavisados.

O seu humor oscilava constantemente, seu feromônio era insuportável para os ômegas não marcados e sua possessividade estava extrapolando os limites.

Tudo nele gritava possessivo, selvagem e virilidade. Era tudo o que qualquer ômega buscava em um alfa, mas ele nunca viu o ômega para quem daria tudo isso.

No entanto, ter ou não ter um companheiro, não o impedia de fazer reuniões com o seu clã e planejar uma caçada onde todos os alfas participariam para caçar e trazer suprimentos para sua própria matilha.

Eles ainda estavam no outono, faltavam poucas luas para que o temido e rigoroso inverno chegasse para assolar as suas terras, obrigando os ômegas a se abrigarem em suas casas com os filhotes sob a proteção de seus alfas.

Caçar e prover era o dever de todos os alfas, e era por isso que todos os alfas com mais de cinquenta anos haviam se preparado para caçar pelos próximos dias.

— Sabe que não precisa ir a caçada — disse Hoseok, tocando no ombro de seu líder.

Os dois alfas estavam reunidos na tenda onde aconteciam as reuniões, eles estavam conferindo pela última vez às rotas onde eles poderiam ter um resultado melhor sobre capturar presas grandes e suculentas.

— Está dizendo isso por eu não ter encontrado o meu companheiro antes do meu primo mais novo? — a voz rouca e indiferente do Grande Alfa retumbou nos ouvidos de Hoseok, obrigando-o a recolher a mão com rapidez.

— Claro que não — ele suspirou. — Digo isso porque passaremos longos dias fora, os alfas que ficarão são filhotes e idosos e os ômegas e betas ficarão desprotegidos sem a sua presença.

Jungkook não levantou seus olhos vermelhos do mapa aberto na grande mesa. Com a ponta do dedo indicador, ele o arrastou sobre uma parte escura do mapa que mostrava onde fica o novo acampamento dos humanos e, quando leu o maldito nome, Porto Real, uma raiva descomunal o invadiu juntamente a um arrepio na espinha.

— Sempre foi assim, e isso nunca me impediu de me juntar à caçada — ele ignorou o sentimento estranho e finalmente ergueu os olhos para o outro alfa. — Ninguém jamais ousaria enfrentar a minha alcateia, com a minha presença aqui ou não, não existe louco capaz disso.

— Mas não é o mais indicado…

— O que está querendo dizer com isso? — perguntou o Grande Alfa, se aproximando lentamente do primo. — Está duvidando da minha forma de liderar? Me desafie e tente tomar o meu lugar! — Ele rosnou, impaciente, socou a mesa, fazendo a madeira estremecer antes de rachar e derrubar os objetos que estavam ali.

Hoseok poderia ser um alfa e, em seu sangue, poderia correr um pouco do DNA puro que tinha em Jungkook, mas desafiá-lo era suicídio, o indivíduo deveria ser insano ao cometer esse ato, no entanto, fora inevitável quando o seu corpo tremeu com medo de levar um soco no rosto. Ele sentia em seu âmago que deveria se manter calado, a falta de um companheiro estava deixando o Grande Alfa desestabilizado, o que era péssimo. Por isso, ele respondeu:

— Não tenho a intenção de ofendê-lo, só me preocupo com os que ficarão — ele respondeu quase que sussurrando.

O cheiro forte de sândalo e canela que se desprendiam da glândula aromática de Jungkook, estavam sufocando o outro alfa. O Grande Alfa estava perigosamente perto demais, sua respiração pesada que batia no rosto de Hoseok, podia se assemelhar a um vendaval.

— Se está tão inseguro de minhas decisões, fique aqui e deixe o seu ômega e filhotes sem peles para se aquecerem quando o inverno chegar — ele rosnou.

Hoseok abaixou a cabeça e mostrou o pescoço em forma de submissão e murmurou:

— Manterei minha promessa de sempre acompanhá-lo nas caçadas em matilha, é o meu dever como o seu melhor amigo.

— Ótimo, então vá avisar a todos que já estamos de partida.

Hoseok se curvou e saiu da tenda aos tropeços.

Ao se ver sozinho, o Grande Alfa tentou acalmar o seu lobo que estava tão agitado, afinal, caçar e correr pela floresta em sua forma lupina era uma forma do lobo extravasar todo o acúmulo estressante de problemas e sentimentos conflituosos. Não ter um companheiro, era irrelevante para os outros seres, mas para os lobos, era literalmente o fim do mundo.

Os lobos são cruéis, irracionais. É o que todos dizem, e não fazem a mínima questão de tentar entender o lado deles, porque a verdade não é importante. O que importa, é a opinião dos mais poderosos.

A natureza dos lobos é selvagem e brutal, mas eles faziam isso para proteger os seus. Ter um companheiro e filhotes, preenchia uma grande lacuna vazia que eles tinham, mas conforme o tempo passa, se não tiver quem proteger, amar e dividir suas próprias experiências, acabam sendo levados a um estado crítico, onde nada mais tem importância.

E Jungkook estava começando a sucumbir ao seu lado mais cruel.

Quando conseguiu se manter no controle, ele tirou as peles que cobriam o seu corpo e assumiu sua forma lupina. Ele era um grande lobo que alcançava um metro e setenta de altura sob as quatro patas, seus pêlos são completamente negros, sem nenhuma macha, no entanto, seus olhos tão vermelhos quanto um rubi, davam o recado a sua presa de que a morte era inevitável.

No momento em que suas patas tocaram o chão, um sentimento confuso, mas tão intenso, o preencheu por completo. Ele sentiu a estranha necessidade de caçar a melhor pele de toda a sua vida, ele queria pegar o maior cervo da floresta. Era estranho, afinal, ele não tinha um companheiro para presentear; mas, talvez aquele fosse um anseio de seu lobo para se sentir menos deslocado que os demais.

Decidindo não dar muita importância para isso, ele saiu da tenda com passos calmos e olhar atento. Cada um dos alfas que sairiam para a caçada, estavam abraçando seus companheiros e filhotes, uma despedida que fez o Grande Alfa se sentir ainda mais solitário e irritado.

Bastou que ele rosnasse apenas uma vez para que os familiares se afastassem e os alfas se transformassem. Daquela vez, havia cerca de cento e trinta alfas reunidos com um único propósito em mente.

Quando o Alfa viu que todos já estavam prontos para partir, ele uivou e liderou a corrida floresta a dentro. Enquanto seguiam o seu Líder, os lobos também uivaram, como se dissessem aos que ficaram para trás que logo estariam em casa.

❉══════ ✿ ══════❉

Três dias de pura tensão passaram-se arrastando.

O grande grupo de alfas havia sido dividido em três grupos e cada um deles seguiu na direção oposta, se espalhando e caçando por sua própria conta.

O Grande Alfa estava sendo rigoroso consigo mesmo naqueles árduos dias de caça. Não que ele tivesse alguém para presentear, mas as presas que encontrava não o agradavam, ele queria a presa perfeita!

Mas tudo estava sendo diferente do comum.

Ao invés do Grande Alfa liderar o seu grupo pelo Sul – como ele sempre fez –, desta vez, ele o guiou pelo lado Oeste. Uma força maior o puxou para lá e foi o que ele fez. Em compensação, eles encontraram muitos animais. Ele até capturou alguns coelhos gordinhos, mas aquilo não era nada comparado ao que ele realmente almejava.

Já faziam longas horas que o Alfa encontrou o rastro de um cervo adulto e o aguardava, estava escondido atrás de arbustos enquanto mantinha suas orelhas, olhos e olfato completamente atentos a qualquer mudança no ambiente. Foi então que ele viu uma rena macho de quase um metro e cinquenta de altura e bem gordinho, os seus pêlos cinzentos eram grandes e pareciam ser macios o bastante para aquecer um ômega no inverno e, se desejado, seria uma ótima capa.

Sem ao menos pensar, ele se concentrou na rena e se aproximou vagarosamente, fazendo de tudo para não assustá-la. Quando estava próximo o suficiente, usou suas patas traseiras para pegar impulso e saltou sobre ele, cravando seus dentes no pescoço do animal até quebrá-lo.

Ao ter certeza de que a sua caça estava morta, ele a segurou pelo pescoço e puxou até um riacho onde havia deixado os seus pertences. Lá, ele voltou para a forma humana, pegou a sua faca de caça, cortou e tirou a pele do animal sem danificá-la. Ao pendurar o animal em um galho de árvore para que não ficasse no chão, ele raspou o interior da pele até tirar todos os resquícios de carne e gordura, lavou a pele na água corrente e a enrolou cuidadosamente, quando chegasse ao acampamento, colocaria-a para secar.

Então, pegou a carne e cortou em grandes pedaços, colocou-a no centro de um monte de folhas de bananeira e quando tudo estava pronto, enrolou e amarrou com o cipó. Ele também levaria os chifres da caça, já que eles tinham diversas utilidades na alcateia.

De volta ao acampamento, o Grande Alfa sentiu que o seu dever estava quase concluído como Alfa. Alguns pedaços de sua caça foram parar na fogueira e os outros foram cortados em tiras finas para fazer carne seca – o que impedia a carne de apodrecer.

Algum tempo depois, mais lobos de seu grupo foram aparecendo com as suas caças. Por saberem que o seu líder não havia descansado direito nos três dias anteriores, eles disseram que cuidariam das coisas enquanto ele descansava, e foi exatamente isso o que fez.

Após conferir que a sua pele permanecia perfeita e secava ao sol, ele assumiu a sua forma lupina e se deitou sobre um monte de folhas secas caídas ao lado de uma árvore. Não demorando em fechar os olhos e dormir ou, neste caso, fingir, já que um incômodo incomum o perturbava.

A noite chegou rápido, e com ela, os outros lobos que caçavam ao longe. Todos tiveram sucesso em sua caçada e trouxeram o melhor que puderam encontrar para os seus companheiros e filhotes. Eles sabiam que o frio rigoroso não pegaria leve com ninguém, sendo assim, não deixariam para trás toda a pele que eles fossem capazes de pegar.

E junto a eles também estava Hoseok, o alfa havia acabado de esticar a sua pele de urso para secar; mas seu olhar estava sob o Grande Alfa que se resumia em uma grande bola de pêlos enrolada em um canto. Para ele – que era o único parente vivo do Líder –, era muito preocupante vê-lo tão dedicado em pegar uma pele fantástica sendo que ele nem gosta de estar tão perto de qualquer ômega.

Talvez aquela fosse a forma que o lobo dele encontrou para se sentir um pouco melhor, mas preocupava-o. Hoseok tinha medo que o seu primo perdesse completamente a sanidade e fosse tarde demais para fazer algo por ele.

Segundo a Lei dos Lobos, se Jungkook se tornasse incapaz de liderar, Hoseok era quem deveria tomar o seu posto já que o Grande Alfa não tinha nenhum herdeiro ou companheiro. Mas a verdade é que Hoseok não nasceu para ser líder, ele até poderia ser o segundo alfa mais poderoso da alcateia – perdendo apenas para Jungkook –, mas ele não queria liderar. Ele gostava de construir móveis de madeira, gostava de esculpir desenhos rústicos em seus trabalhos e era somente isso, ele não queria ter outra ocupação.

No entanto, ele estava começando a acreditar que, na verdade, ele teria sim que assumir o posto de seu primo, e isso o apavorava em níveis altíssimos.

— O que tanto te preocupa? — perguntou Jisung após sentar ao seu lado com duas coxas de coelho nas mãos e o entregar uma.

Hoseok soltou um suspiro e mordeu a carne assada antes de responder:

— O futuro me assusta.

Jisung olhou de Hoseok para Jungkook por algumas vezes e logo entendeu o que ele quis dizer.

— Talvez, não seja o fim do mundo ser o líder da alcateia — ele deu ombros.

Hoseok olhou para ele com o cenho franzido e murmurou num tom malicioso:

— Você sabe que ele pode te escutar, né? Ele é um lúpus puro, caso você tenha se esquecido.

Jisung esbugalhou os olhos enquanto começava a tossir após se engasgar com a carne que estava em sua boca. Hoseok ria enquanto dava tapinhas em suas costas.

— Porra… se eu não morri naquela guerra, morro com a mão do Alfa segurando o meu coração fora do meu corpo — ele lamentou enquanto arrastava a mão livre em cima do peito, podia sentir o seu coração acelerado.

— Realmente, vocês são impressionantes — Hoseok zombou dele. — Como podem esquecer disso…

— Aigoo, eu só queria te ajudar…

A conversa descontraída de todos ali, morreu no instante em que o Grande Alfa deixou as suas orelhas eretas e o seu focinho foi erguido para o alto numa velocidade assustadora.

Por ser um lúpus de linhagem pura, o Grande Alfa tinha as suas habilidades lupinas mais aprimoradas que as dos outros. Ele tinha a capacidade de captar o perigo ao longe, sentir cheiros e também escutar sons mais distantes, e era isso o que acontecia agora. Ele estava sentindo um cheiro incrivelmente atraente, no entanto, havia algo de muito errado.

Num salto, o Grande Alfa se levantou entre rosnados e correu mata a dentro.

Os lobos não entenderam o que aconteceu, mas isso não importava, pois eles seguiriam o seu Líder para onde quer que ele fosse.

— Vocês cinco, fiquem aqui e cuidem das nossas coisas — ordenou Hoseok, apontando para os lobos que estavam próximos à fogueira. — O resto de nós iremos seguir o Alfa, depois mandamos alguém vir entregar algum recado.

Dito isso, os lobos se transmutaram e seguiram o rastro do seu Líder.

Metros à frente, Jungkook sentia um reboliço incomum em seu lobo que o deixava mais feliz do que nunca, temeroso e muito irritado. Ele seguia o atraente aroma de jasmim, mas ele não sabia explicar o motivo daquele cheiro o deixar tão enlouquecido.

Estava um pouco distante, ele sentia, mas havia algo perigoso ao redor, era nojento e lhe dava arrepios. Mas ao perceber que estava seguindo na direção do acampamento dos humanos, a sua fúria triplicou.

Hoseok logo estava correndo ao seu lado, mas o Líder não deu atenção a isso, ele estava mais preocupado em chegar até o… meu companheiro. O Seu lobo repetia constantemente essas palavras em sua mente, deixando-o ainda mais furioso ao constatar que o seu provável companheiro estava nas garras dos humanos.

Foram longos minutos em uma corrida desenfreada enquanto cortavam a parte mais perigosa da floresta – uma linha que os humanos não atravessavam há muito tempo. Até que o Grande Alfa finalmente parou de correr e observou o que tinha à sua frente. Um conglomerado de casas de tamanho mediano, era "protegido" por cercas de ferro. Ainda assim, era possível ver os humanos festejando ao redor de uma fogueira grande, uma música estranha tocava em alto som, eles bebiam, gargalhavam e comiam sem a mínima preocupação.

"Pode me dizer o que estamos fazendo aqui?" Perguntou Hoseok através da linha telepática que eles compartilhavam.

Na forma lupina, os lobos não podiam falar, mas existia a conexão da telepatia que era muito útil quando estavam em sua forma lupina, mas isso só funcionava com quem havia passado pelo Ritual Lunar, ou seja, todos da alcatéia tinham a capacidade de se comunicar com o outro através do "link".

O Grande Alfa estava levemente ofegante, não de cansaço, mas de ansiedade. Sem tirar as orbes vermelhas dos humanos, ele respondeu:

"Eu senti um cheiro que me atraiu até aqui, era como se ele me chamasse, é irresistível, e ele está mais forte aqui. O meu lobo se sente feliz como nunca, mas está tão furioso…"

A compreensão caiu como uma luva em Hoseok, ele ofegou em surpresa.

"O seu companheiro está aqui…"

O Grande Alfa rosnou.

"Meu companheiro!"

Os outros lobos escutaram a última frase dele e compreenderam a sua situação. Encontrar o seu companheiro era a melhor coisa que poderia acontecer para um lobo, no entanto, encontrá-lo em uma situação deprimente como aquela, era decepcionante. Eles se compadeceram de seu Líder e tomaram aquela raiva para eles, como se fosse o seu companheiro naquele lugar.

Tomados pela raiva, todos eles esperavam por alguma ordem de seu Líder, eles a seguiriam com fidelidade e dariam êxito à missão.

"Qual é o plano, Alfa?" Perguntou Jisung. Ele era um dos alfas que havia encontrado o seu companheiro no Baile Lunar dos Cortejos, era uma união recente e ainda não estavam marcados através da mordida, no entanto, ele se colocou no lugar de seu Alfa e sentia-se tão ansioso quanto ele para matar todos os humanos.

"Matem todos, sem piedade, assim como fizeram conosco. Sabem o que fazer com as crianças. Eu irei atrás do meu companheiro!

Sem dizer mais nada, o Grande Alfa rosnou e saiu de seu esconderijo. Correndo na direção do acampamento humano, ele uivou bem alto, para que todos soubessem que ele estava chegando. Em segundos, um segundo coro de uivos foi ouvido, e então o conflito se iniciou.

O desespero dos humanos foi uma reação imediata. Eram gritos de desespero, ordens sendo dadas, coisas quebrando e pessoas tentando fugir; mas nada, nem ninguém, escaparia da fúria dos lobos.

As poucas crianças que estavam naquele lugar, estavam sendo levadas por duas mulheres até uma das últimas casas que tinha uma passagem para a floresta, dando a eles a possibilidade de fugir; mas antes que chegassem perto demais, o grupo de fugitivos foi cercado por cinco lobos. Dois alfas voltaram para a sua forma humana.

A nudez dos homens era um escândalo para os humanos, até mesmo para as crianças. No entanto, essa era a última coisa que eles deveriam se preocupar.

— Escutem, crianças, vocês irão seguir as nossas ordens a partir de agora — disse Jasper. — Se fizerem tudo direitinho, sairão daqui sem nenhum machucadinho, entendido? Ótimo, vamos! — Ele não esperou por uma resposta, só fez as crianças se desgrudarem das duas mulheres.

— Não! Mamãe! — gritou um garotinho que aparentava ter os seus quatro verões completos, ele tinha um bico choroso e lágrimas nos olhinhos castanhos.

— Você não pode levar o meu filho, sua aberração! — gritou a mulher morena, ela tentou alcançar o seu filho mas ele foi agarrado pela gola da camisa por um dos alfas que o colocou de volta junto das outras crianças.

— E você com o seu bando fedorento não deveriam ter invadido a nossa floresta e pegado um dos nossos — ele rosnou, rente ao rosto dela.

— Eu sempre soube que vocês eram seres irracionais sem sentimentos! Seus monstros! — ela continuou a gritar.

— Esse seu jogo de manipulação não vai dar certo — disse Dante, cansado de todo aquele espetáculo. — Usar o seu filho para fugir e salvar a própria pele? Que patética. — Ele a segurou pelo pescoço e fez o mesmo com a outra, começando a arrastá-las para longe. — Suma com esses pirralhos, estamos perdendo tempo, quero conhecer o nosso Luna.

Jasper suspirou e fez as crianças andarem, mesmo que muitas estivessem chorando e relutando para não serem levadas, aqueles lobos e o homem eram tão assustadores que os pequenos se viram obrigados a obedecer. Em instantes, todas as crianças foram levadas em segurança para a temida cidade humana, onde elas estariam seguras.

No acampamento dos humanos, os alfas matavam impiedosamente todos os adultos, sejam homens ou mulheres. Todos eram os responsáveis por tudo de ruim que acreditavam ter acontecido ao companheiro do Alfa, afinal, o que de bom poderia acontecer quando um fêmea era prisioneiro de humanos?

No entanto, grande parte do gás que os alfas tinham para brigar contra os humanos, vinha de uma grande confusão de anos atrás.

Os humanos são criaturas egoístas, nunca estão satisfeitos com o que tem e sempre querem o que não lhes pertence. Humanos gostam de poder e riquezas. Durante um tempo onde ambas as espécies tentaram conviver em harmonia, os humanos apunhalaram os lobos pelas costas, o que resultou na morte de mais da metade de sua população, contando com filhotes e ômegas prenhos.

Havia muitos anos que tal tragédia aconteceu, no entanto, a marca da traição ficou nos lobos até nos dias de hoje. É por isso que quando um lobo vê um humano, mata-o sem piedade.

Cruel, desumano, monstruoso, aberração? Os lobos não se importam em como são chamados. Para eles, o importante era garantir que tal ato não se repetisse e sua espécie permanecesse viva e forte.

Uma montanha de corpos sem vida estava sendo montada, aumentando cada vez mais, conforme os lobos matavam mais e mais gente. O sangue banhava todo o chão, deixando o cenário com cheiro de morte.

Do outro lado, Jungkook corria enraivecido entre as casas. Se alguém desse o azar de trombar com o Alfa, era morto dolorosamente. Ele não se importava se quem ele estava matando tinha família ou não, o Alfa sabia que, se fosse essa situação em sua alcateia, os humanos não teriam dó nem piedade em machucar o seu companheiro e filhotes, por isso, ele deixou o seu rastro de destruição para trás, conforme seguia o doce aroma de jasmim e chegasse a fonte.

Ele encontrou a construção de placas de metais, o dono do aroma estava lá dentro. Mesmo não podendo vê-lo, ele sabia que o ômega não estava bem. Antes que ele pudesse se animar por estar muito perto do seu companheiro, ele sentiu o terrível e asqueroso cheiro da excitação de um humano. E ele estava no mesmo que o seu companheiro.

Transbordando raiva, o Alfa marchou furioso na direção da porta de aço que estava trancada, aparentemente, era um material super resistente, mas não aguentou os fortes impactos do corpo do Alfa contra ela.

Alguns minutos antes, o homem que tocava o pequeno fêmea, estava tão entretido que, finalmente, realizaria o seu desejo de usar o corpo da criatura, que nem se atentou ao perigo próximo que era letal.

Mas antes que ele pudesse ir além, dois estrondos seguidos de rosnados foram ouvidos por trás da porta trancada. Foi então que no terceiro choque de contato, uma fera bestial surgiu no arco da porta arrebentada.

Um lobo enorme de pêlos completamente pretos e olhos vermelhos assassinos, entrou lentamente naquele lugar com a sua aura pesada. Seus rosnados profundos eram assustadores e seus dentes brancos que ele parecia exibir com orgulho, declararam claramente que a sua hora havia chegado.

O homem não teve tempo para reagir, ele apenas tirou a mão da pequena criatura antes que o lobo avançasse sobre si e o mordesse, arranhasse e jogasse para todos os lados como faria se brincasse com um boneco de pano.

O corpo do humano foi jogado contra a parede. Como se não existisse mais ossos em seu corpo, ele escorregou até estar deitado no chão, sem forças para nada. Gemidos de dor escapavam de sua garganta, que logo evoluíram para gritos quando notou a aproximação do lobo.

O Alfa caminhou lentamente até o humano, sangue e saliva pingavam de sua boca entreaberta, enquanto rosnava para o seu inimigo. Quando o seu corpo pairava acima do humano, ele ergueu a sua pata direita com as garras para fora. De forma lenta e doentiamente prazerosa, o Alfa cortou aos poucos a masculinidade do humano, observando com devoção o desespero inútil que ele tinha para fugir. Quando aquele pedaço de carne estava completamente desconectado do humano, o Alfa sentou nas suas patas traseiras e observou o sangue coagular e matar o humano sufocado com o líquido carmesim escorrendo de sua boca aberta.

Jungkook estava tão concentrado em ver o humano morrer, que ele deu um pequeno sobressalto ao escutar o dono do aroma de jasmim tossir fraquinho. Em um instante, ele voltou para a forma humana e se aproximou da maca onde o fêmea estava acorrentado. Ele era tão pequeno e parecia ser tão frágil. O seu corpo estava pálido e terrivelmente magro, dando-lhe aflição. Os ferimentos em seu corpinho aumentaram a raiva do Alfa.

Mas apesar de tudo, em seus olhos havia o brilho de admiração e amor, ele estava encantado com o pequeno fêmea, se perguntou o que havia feito para ganhar um ser tão magnífico para ser o seu eterno companheiro.

Os longos cabelos prateados, o rosto delicado mas bem delineado, curvas acentuadas – mesmo estando magro –, o aroma de jasmim… tudo colabora para que a sanidade do Alfa se resumisse a nada.

Entretanto, o momento de devoção do Alfa, acabou ao ver aqueles ferros em volta do seu pequeno fêmea. Ele conseguiu quebrá-los facilmente com as próprias mãos. Antes que tentasse pegar o fêmea em seus braços, ele procurou por algo que pudesse cobrir a nudez do pequeno, não por ciúme – apenas uma parcela –, era mais para protegê-lo do frio que fazia lá fora. Ele logo encontrou um lençol branco que serviria.

Após enrolá-lo, ele passou um de seus braços por debaixo dos joelhos do fêmea e com o outro ele o ergueu pelas costas. Um leve suspiro de satisfação saiu do ômega ao que ele, inconscientemente, procurou pelo aroma de sândalo com canela. Feliz por saber que o seu aroma agradava ao fêmea, o Alfa não pôde resistir e marcou-o com o seu cheiro, lambendo as bochechas e pescoço dele. Não que não confiasse nos seus alfas, mas era o instinto natural do alfa, deixar o seu aroma impregnado no companheiro.

Com o seu companheiro acomodado contra o seu corpo, o Alfa o carregou para fora dali.

O lado de fora estava mais silencioso, não havia mais gritos, nem mesmo pessoas correndo, só havia os seus alfas puxando os corpos sem vida para o amontoado que fizeram.

Hoseok que supervisionava tudo, foi um dos primeiros a perceber a aproximação de seu Líder.

— Algum ferido? — perguntou Jungkook, se referindo aos seus alfas.

— Não senhor, todos estão muito bem — ele respondeu, evitava olhar para o pequeno embrulho nos braços do Alfa, ele sabia bem o quão super-protetores eles ficavam nos primeiros dias com o companheiro.

Jungkook assentiu, realmente contente por isso.

— E os filhotes de humanos?

— Jasper encontrou um convento no meio do caminho e deixou elas lá, eles já retornaram.

— Então, os humanos estão sendo ousados o bastante para fazer um convento próximo a nós? — ele murmurou desgostoso.

— Eu não reclamaria se nós fôssemos fazer uma visita a eles um dia desses — disse Dante, ao se aproximar.

— Não acho essa ideia ruim — disse Jungkook.

Hoseok revirou os olhos. Quando aqueles dois se juntavam, era certo que trariam o caos para qualquer infeliz que desse o azar de cruzar o seu caminho.

— Creio que nosso trabalho aqui terminou — Jungkook suspirou. — Queimem tudo e vamos voltar para o acampamento, reúnam todos os outros, acabaram os dias de caça.

Dito isso, ele se afastou enquanto os alfas pegavam o fogo da fogueira e coisas inflamáveis, logo, começaram a jogar jogo nas casas e todo o resto. Enquanto as chamas devoravam tudo, Jungkook observava aquele cenário e fez uma promessa muda para si mesmo que, independente do que aconteça, ele protegeria o seu companheiro com tudo de si.

Poucos minutos depois, eles voltaram para o acampamento. Durante o trajeto, o Alfa se pegava encantado pelo seu belo companheiro e a vontade enorme de protegê-lo de tudo e todos.

No fim das contas, a alma do Grande Alfa estava livre de qualquer solidão, pois agora, ele carregava o seu mundo em seus braços.

❉══════ ✿ ══════❉

De volta a alcateia, no dia seguinte. Os lobos receberam com grande animação a notícia de que o Alfa finalmente havia encontrado o seu companheiro. A história de como o pequeno fêmea foi encontrado resgatado foi um detalhe que deixou todos muito revoltados. Mas a boa notícia era que agora eles tem um Luna e o seu Líder não corria mais riscos de sucumbir à loucura.

Todos estavam muito ansiosos para, finalmente, verem com seus próprios olhos o pequeno fêmea, no entanto, o Alfa estava bastante territorialista com o seu companheiro, sempre o marcando com os fluídos de seu corpo – suor, saliva, sangue ou mordida. Esse era um comportamento comum entre os alfas, mas o fêmea precisava urgentemente ser examinado para todos saberem se ele estava com algum problema.

Separar os dois era uma missão impossível e suicida, ninguém queria testar para ver o que aconteceria. Por isso, o pobre aprendiz do curandeiro alfa da alcateia, foi designado para se aproximar do casal – já que ele era um ômega marcado.

Mas nem mesmo um ômega marcado não estava muito seguro em tentar uma aproximação, o lobo do Alfa estava com a impressão de que alguém tentaria machucar e levar o seu ômega para longe, por isso sempre rosnava e exibia as suas presas para o corajoso que se aproximavam.

No fim das contas, o ômega conseguiu examinar o pequeno fêmea de uma certa distância. Quanto às pastas feitas com folhas medicinais e ervas para dores, estas foram entregues ao próprio Alfa para que ele mesmo passasse no corpo do seu companheiro, já que ninguém conseguiria uma aproximação decente.

O lado humano de Jungkook se sentia um pouco culpado por submeter os seus lobos a aquele tipo de situação, mas ele não se arrependia de suas ações. Como poderia? Finalmente havia encontrado o seu grande amor e não se afastaria dele nem tão cedo.

Quando, enfim, o Alfa pôde se trancar com o pequeno fêmea dentro de sua cabana, ele aromatiza todo o seu território enquanto levava o ômega até o seu ninho, logo acomodou-o no centro do amontoado de peles, almofadas e cobertores. Ao se pôr de pé, ele ronronou em apreciação com a bela visão do seu companheiro deitado confortavelmente em seu ninho.

Enquanto ainda estava no acampamento de caça, ele havia trocado o lençol dos humanos por uma pele sua para cobrir o pequeno fêmea. Então, ele logo tratou de descobrir o corpo dele ao se lembrar que deveria cuidar de seus ferimentos. No entanto, ele fez uma careta para a pasta e ervas que havia ganho, ele não colocaria aquilo no seu companheiro.

Jungkook não tardou em jogar longe aquelas coisas e se transformar em lobo, afinal, o que era mais eficaz do que a saliva de um Alfa no ferimento do seu companheiro?

O Alfa estava contente por poder cuidar do seu companheiro. Tinha certeza que, ao acordar, o fêmea veria que foi tão bem cuidado pelo Alfa que nem chegaria a cogitar em voltar para o seu antigo lar. Com esse pensamento, ele se empenhou em lamber o pequeno corpo de cima para baixo, não esquecendo de nenhum machucado.

Longos minutos depois, o Grande Alfa estava completamente satisfeito com o seu bom trabalho. O fêmea estava com a sua saliva em todo o corpo, o seu aroma impregnado nele era um bônus. Enquanto lambia as costas do fêmea, ele viu os cortes de onde ficavam as suas asas e ele não conteve o rosnado de raiva ao constatar novamente que são os humanos as criaturas abomináveis e monstruosas. Ele desejou voltar no tempo e matar todos os culpados de forma lenta e tortuosa.

Após isso, o Alfa decidiu que seria prudente de sua parte, preparar uma refeição cheia de carne e verduras para o fêmea, ele estava muito magrinho e engordá-lo até ter dobrinhas em seu corpo era o objetivo do Grande Alfa.

Com isso decidido, ele conferiu pela última vez o pequeno adormecido, cobriu-o com uma grossa pele de urso da montanha e seguiu até a sua cozinha.

A sua cabana era simples, feita por ele mesmo durante a sua juventude com o intuito de agradar o seu ômega ao encontrá-lo e encher a cabana de filhotes, por isso, havia quatro quartos – um deles era o seu. Havia uma sala de tamanho mediano com uma lareira de pedras que aquecia bem a sala e a cozinha que era, literalmente, no mesmo cômodo, apenas dividido por uma mesa de sete lugares. Na cozinha havia um enorme fogão de lenha, uma bancada e banquinhos, também tinha uma pia. O banheiro tinha uma grande banheira que, na verdade, era um tronco grosso de uma árvore, era tão grande que ele conseguiu cortar, esculpir e transformar em uma banheira espaçosa o suficiente para acomodar o seu corpo deitado sem derramar água.

Conforme o tempo passou, o Grande Alfa pensou que não teria a sua própria família, mas agora que ele encontrou o seu companheiro, o seu sonho foi revivido e já haviam diversos planejamentos em sua mente.

Feliz como nunca, ele pegou as carnes da rena que havia caçado e jogou numa panela de barro, junto a água, alguns temperos e legumes. Faria uma sopa deliciosa!

Algum tempo depois, ele havia confirmado que a sopa estava pronta e só precisaria esperar o fêmea acordar, no entanto, seus ouvidos aguçados escutaram uma movimentação incomum vinda do seu ninho. Preocupado e ansioso, ele correu para o seu quarto e, no arco da porta, ele ficou parado como uma estátua.

Alguns minutos antes, o pequeno fêmea havia acordado com a estranha sensação de conforto e segurança, diferente de como era quando estava preso no acampamento dos… seres fedorentos – chama-os assim já que não sabe que são humanos. Mas o pequeno Park tinha certeza de que aquelas pessoas não eram os lobos que os seus amigos tanto falavam.

Amigos… uau, ele nunca pensou que, um dia, essa palavra chegaria a não ter nenhum sentido para si. Amigos são aqueles que devem cuidar, dar conselhos bons e não abandonar, certo?

O pequeno fêmea estava se sentindo traído… ele diria abandonado, mas uma presença marcante, poderosa, o fazia se sentir tão seguro que chegava a ser assustador. Só então ele percebeu que jamais se sentiria assim naquele lugar.

Com um pulo, ele ergueu a cabeça e piscou diversas vezes os seus olhinhos para ter certeza de que estava enxergando certo. Ele estava em um quarto grande com paredes de madeira, na verdade, havia madeira no armário de porta dupla, em uma mesinha no canto da parede, na cadeira, a porta… tudo era tão diferente do seu cogumelo que o deixou admirado.

Com certeza, o criador daquela casa era muito talentoso.

Distraído, ele abraçou a pele que o aquecia tão bem e olhou para onde estava sentado. O rubor subiu para as suas bochechas ao constatar que estava descaradamente se aproveitando do ninho de um macho! No entanto, o seu constrangimento se intensificou ao perceber que o seu corpo estava desprovido de qualquer vestimenta.

Quem quer que tenha o colocado naquele ninho, certamente, viu o seu corpinho todinho, o deixando ainda mais vermelho. No entanto, ao se remexer entre as peles, uma nuvem do aroma de sândalo com canela entrou em seu nariz, deixando-o estranhamente mais calmo e o seu corpo molinho como uma gelatina.

Durante alguns minutos, ele ficou paradinho, apenas olhando para o teto e imaginando como teria saído daquele lugar estranho sendo que não se lembrava de nada. Afinal, passara quase o tempo todo sedado. Então, ele lembrou daquela dor que sentiu quando as suas asas foram cortadas.

Os olhos do pequeno fêmea inundaram de lágrimas. Agora, ele era uma vergonha para a sua espécie, afinal, o que era uma fada sem as suas asas? E mesmo que ele tenha ganho abrigo de um macho gentil que, a primeiro momento não se importou com a sua nova e inesperada deficiência, ele ainda se sentia indigno, uma vergonha que deveria ser exilada o quanto antes.

Foi pensando nisso que, com o coração dolorido em tristeza e o rosto banhado em lágrimas, ele se arrastou até a beirada do ninho e com grande pesar, se levantou. As suas pernas ainda estavam fracas por conta do tempo que passara sem se mover, mas ele tinha certeza que conseguiria andar normalmente após alguns minutos, no entanto, bastou virar-se para a única porta do quarto para se deparar com um macho enorme o observando.

O macho tinha cabelos negros, eram ondulados e chegaram até o seu ombro. Os seus olhos eram grandinhos e as orbes tão escuras quanto uma noite estrelada. Seu rosto era firme, assim como a estrutura de seu corpo… bem grande. Ele deveria ter mais de um e noventa de altura, seus ombros eram largos, os braços eram cheios de músculos muito bem trabalhados assim como os do restante do corpo e, pela deusa, ele estava nu!

O pequeno fêmea já não chorava mais, agora, ele estava cheio de vergonha ao estar dividindo um cômodo com um alfa extremamente atraente e, sem esquecer que ambos estavam nus! Naquele instante, o fêmea agarrou a pele de urso como se ela fosse a salvação da sua sanidade!

Receber aquele olhar firme do macho estava deixando-o ainda mais constrangido e molenga, pois o seu aroma havia intensificado consideravelmente.

— O que está fazendo fora do nosso ninho, companheiro? — a voz rouca e baixa do alfa fez todo o corpinho do fêmea se arrepiar, o Alfa tombou levemente a cabeça para o lado.

O fêmea estremeceu e intensificou o aperto na pele de urso, estava tão nervoso que nem percebeu a forma como fora chamado.

— Eu… e-eu, eu… — ele não encontrou palavras para responder, suas estruturas estavam completamente abaladas.

O macho em sua frente era tão atrativo para os seus olhinhos que, pela primeira vez, ele pensou que, se o macho quisesse copular com ele, não haveria nenhuma hesitação de sua parte. Pelo santo cogumelo, se o Alfa que as outras fadas diziam fosse assim, ele estaria realizado!

Em um piscar de olhos, o Alfa já estava ao lado do fêmea, pegando-o no colo e o deitando novamente no ninho.

— Você precisa descansar, algumas feridas ainda não estão saradas — disse ele, olhando diretamente nas belas orbes cinzas dele.

— Ma-mas, eu…

Ele tentou criar coragem para confrontar o Alfa, mas o corpo quente dele estava tão colado ao seu que as suas palavras se transformaram em um suspiro.

— Descansar. O inverno está muito próximo e manter o seu bem-estar é a minha prioridade.

O fêmea decidiu permanecer em silêncio já que, aparentemente, ele não conseguiria argumentar com aquele macho enorme tão perto. Ele era, literalmente, de fazer qualquer um perder a sanidade.

— Vou buscar algo para você comer, não ouse sair daqui.

Rapidamente, o Alfa saiu do quarto e, ao se ver sozinho, ele sorriu abobalhado para a parede. O seu companheiro tinha uma voz tão calma e doce, a coloração de seus olhos era magnífica e a forma que ele piscava os olhos era tão adorável que deixava-o com borboletas no estômago.

O Grande Alfa se sentia como o maior sortudo do mundo!

Ele encheu uma grande tigela de barro com a sopa, em um prato plano, ele colocou um pão que foi feito a pouco tempo. Levou tudo para o quarto e, ao invés de entregar as louças para o fêmea, ele mesmo o alimentou, levando colheradas da sopa até sua boca e, vez ou outra, molhava um pouco do pão.

Em um silêncio confortável, eles aproveitaram a presença um do outro por alguns minutos. Jungkook se encontrava extremamente realizado por não estar mais sozinho no mundo, agora, ele tinha a sua pessoa especial e faria de tudo por ela. Ele realizaria todas as vontades do fêmea e faria tudo com o maior prazer do mundo.

Já Jimin, este se perguntava o porquê daquele macho estar fazendo tanto por si. Eles não se conheciam, nem sabiam o nome um do outro, eram dois completos estranhos. Mas a forma com que o fêmea se sentia confortável e seguro na presença dele, era sim uma novidade. Em momento nenhum, o macho mencionou que queria ir além com ele, o que, se fosse na sua Vila, já teria acontecido há bastante tempo.

O macho em sua frente parecia ser… diferente.

Ao terminar de alimentar o fêmea, o Grande Alfa lhe ofereceu um sorriso antes de se levantar e levar a louça suja para a cozinha. Quando voltou para o quarto, ele se ajoelhou ao lado do fêmea e puxou a pele de urso sobre o corpo do seu companheiro.

— Agora, você precisa dormir para se curar o quanto antes — disse ele com a voz suave e cuidadosa, uma forma de agir que ele nunca teve com ninguém, nem mesmo com a sua omma.

Mas Jimin balançou a cabeça em negação para a fala dele.

— Eu não consigo dormir após comer — disse ele, no entanto, o aroma do macho estava deixando-o molinho e o sono se aproximava. — Qual o seu nome?

O Alfa abriu ainda mais os olhos, surpreso e feliz pelo fêmea ter algum interesse em si.

— Jungkook. Jeon Jungkook — ele respondeu com encanto em sua voz.

— Oh, Jeon Jungkook… — ele testou dizer o nome. — É um nome forte, não é? Combina com vo-você.

O Grande Alfa estava feliz com aquilo, saber que o seu nome agradava o fêmea, o deixou orgulhoso.

— Obrigado — sua voz estava trêmula de emoção. — E o seu nome?

— Oh, é Park Jimin — ele sorriu até suas bochechas espremerem seus olhos e o seu único dentinho torto aparecer.

Jungkook sentiu o seu lobo choramingar com a cena à sua frente. Por todos os deuses, ele não poderia ter um companheiro melhor que esse!

— O seu nome é fofo… combina com você, você é fofo — murmurou ele, hipnotizado com o quão fácil o rosto do fêmea ficou vermelho.

Jimin sorriu e encolheu o seus ombros, envergonhado com a intensidade do olhar do macho, ele tinha certeza que estava vermelho da cabeça aos pés, tão vermelho quanto as suas asas. Mas então, o seu semblante alegre sumiu ao se lembrar da vergonha que ele se tornou.

— Ei, o que houve? Eu fiz algo de errado? — ele perguntou ao notar a mudança de comportamento do seu companheiro. — Aish, claro que eu fiz algo de errado, eu não sei cuidar do-

— Não. A culpa não é sua, você não fez nada… — murmurou ele, sem saber o porquê de ter ficado desesperado ao ver o macho se culpar.

— Então? Eu não entendo.

Jimin soltou um suspiro trêmulo e abaixou a cabeça sem ter coragem de olhar para Jungkook, mas ele ergueu com delicadeza o rosto do fêmea pelo queixo e esperou.

— Como você pode cuidar de mim, nessa situação? Você não vê?

— Não vejo nenhum defeito em você — ele respondeu.

Jimin queria se agarrar a aquelas palavras, mas o seu medo era mais forte.

— Não minta, eu sou uma vergonha para mim mesmo e para quem se envolva comigo.

— Não diga isso — ele murmurou descontente. — Você é perfeito…

— Eu sou defeituoso! O que é uma fada sem as suas asas? Eu sou uma vergonha… — ele murchou, seus olhos estavam vermelhos por conta das lágrimas que molhavam o seu rosto.

Jungkook balançou a cabeça em negação, ele estava odiando ver o seu companheiro se martirizar por causa de suas asas. Precisava confortá-lo de alguma forma…

— Eu sei que as asas são uma parte fundamental das fadas, afinal, faz parte de seu corpo, mas com ou sem asas, você ainda é alguém e tem uma vida. A sua vida não acabou por não ter mais as suas asas, você é o mesmo com ou sem elas — disse ele, tocando a testa do fêmea com a sua. — Você continua sendo perfeito.

— Como…? E-eu sou um inconveniente na vida das pessoas, não é atoa que eu fui-

O Alfa impulsionou o seu corpo de encontro ao do e encostou a sua boca na do fêmea, era apenas um selo com a única pretensão de impedi-lo de continuar a falar.

— Você está dizendo muitas inconveniências neste momento, companheiro — ele murmurou. Pegou a mão direita do fêmea e a colocou sobre o seu próprio peito, acima do coração. — Você consegue sentir? O meu coração bate por você, como nunca antes.

Então, o fêmea parou de chorar por alguns instantes e se concentrou em sentir o ritmo frenético que o coração do alfa batia, era forte e rápido, o que fez ele sorrir e o seu próprio coração ficar quentinho.

— Espere, por que me chamou de companheiro? — perguntou ele com as bochechas vermelhas.

— Porque foi você quem eu procurei por longos anos. Finalmente, o encontrei.

— Vo-você está feliz?

— Estive esperando por você durante toda a minha vida — disse ele com todo o amor que tinha. — E agora que eu finalmente o tenho em meus braços, não permitirei que vá para longe, eu espero que essa resposta seja o bastante para que entenda. Você é meu, pequeno, e não há lugar no mundo que eu prefira estar que não seja ao seu lado.

Lágrimas de alegria escapavam dos olhos do fêmea, ele estava tão feliz com aquilo que poderia explodir em uma chuva de brilhinhos vermelhos e dourados.

— Ma-mas eu não sei se serei um bom companheiro…

— Você já é, não precisa fazer esforço nenhum — o Alfa soltou mais de seus feromônios ao redor do fêmea. — Eu não sei como funciona o processo para as fadas se unirem umas com as outras, mas… eu gostaria de ter a sua permissão para cortejá-lo da forma que nós lobos fazemos. Quero tê-lo ao meu lado pelo resto e além desta vida como o meu companheiro eterno.

— Ju-Jungkook… — o biquinho do fêmea tremelicou ao que uma onda de choro queria sair por seus olhos, seu coraçãozinho transbordava de alegria.

— Você me concede essa hora? — ele perguntou, secava gentilmente as lágrimas do fêmea enquanto sorria ao ver o quão perfeito ele era.

— Si-sim, pela fada mãe, sim! — ele passou os braços ao redor do pescoço do Alfa e logo teve o seu corpo abraçado com a mesma intensidade enquanto o macho se aproveitava para sentir mais de perto o aroma do fêmea.

Sentindo-se como um brinquedo de pelúcia entre os braços fortes de um urso, o fêmea relaxou o seu corpo e, timidamente, deitou a sua cabeça no ombro do macho, aproveitando para sentir ainda mais o aroma dele. Eles estavam deitados no ninho dividindo a mesma pele sobre seus corpos.

— Como… como você foi parar nas mãos dos humanos? — essa pergunta rondava os seus pensamentos e, se não tirasse aquela dúvida, não ficaria em paz.

Jimin suspirou e se certificou de que estava mesmo seguro nos braços do macho, então, respondeu:

— Eu fui deixado lá por quem eu pensava que eram meus amigos — ele sussurrou. — Eles disseram que me levariam para conhecer o Líder e a alcateia dos lobos-

— Você achou que aquilo eram lobos? — ele estava com o cenho franzido, sua indignação era quase palpável. — Assim você nos ofende… você sabe que eu sou o Líder da Alcateia, não sabe?

O fêmea esbugalhou os olhos de surpresa.

— Vo-você?

O Alfa estufou o peito e assentiu.

— Quem seria mais forte e adequado que eu para esse trabalho? — ele brincou.

— Em minha defesa, aquela era a minha primeira vez fora da Vila das Fadas, como eu saberia? — ele resmungou, então, terminou de contar tudo o que se lembrava. — E então, eu acordei aqui, no seu ninho…

— Malditas fadas… aqueles líderes precisam melhorar na liderança dos seus… como elas puderam fazer isso com você? — ele resmungou enraivecido, sua vontade era caçar aquelas quatro fadas e esmagá-las como se fossem formigas!

Mas a risadinha que o fêmea soltou, foi o suficiente para fazer a sua expressão suavizar e ele se deleitou com o som suave. A minúscula mão do fêmea acariciou o peitoral do Alfa, como um acalento, e disse:

— Agora está tudo bem, você me salvou dos malvados como um príncipe e me trouxe para o seu reino — disse ele, tentando não ser dominado pela timidez.

— Mas eu trouxe você para a minha alcateia… — ele murmurou.

— Aigoo, não estrague o momento, Alfa — ele fez um bico e tentou se afastar, mas o macho não deixou, logo puxou-o para mais perto.

— Está bem, desculpe este mero príncipe sem etiqueta — ele zombou, rindo quando recebeu um "tapa" em seu bíceps que mais parecia um afago.

— Continuando, agora eu estou seguro em seu lar e nós iremos acasalar, ter filhotes e viver eternamente juntos — ele contou o seu plano.

O Alfa sentiu o seu coração errar uma batida. Seu lobo entrou em um estado de euforia e orgulho, o seu companheiro queria ter uma família com ele e viver juntos para sempre!

— Vo-você quer ter uma matilha comigo? — ainda assim, ele perguntou inocentemente.

Jimin ficou ainda mais vermelho, mas não hesitou em concordar, ele sabia que matilha eram muitos filhotes e, para ter muitos filhotes, era preciso acasalar bastante, principalmente, nos momentos de calor do alfa.

— E-eu quero… — ele respondeu, sua voz estava afetada pela sua própria ansiedade.

O sorriso do Alfa era tão grande que mostrou todos os seus dentes, inclusive, o par de dentes frontais que lembravam um coelho. A sua expressão estava tão inocentemente alegre que o fêmea quase esqueceu que eles estavam falando sobre acasalar muito.

— Nós podemos ter sete matilhas? — pediu o Alfa, estava transbordando de animação.

Continua...?

• • • • • • ~ ʚĭɞ ~ • • • • • •

Comentem bastante o que acharam da história até aqui, qualquer coisa 🥹

Vocês esperam algo para o futuro deles?

Talvez uma reconciliação com os "amigos" do Jimi? Alguma treta?

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