As três velhas começaram a discutir sobre quem deveria ter o olho e quem deveria ficar com o dente, claramente não prestando muita atenção no trânsito caótico a frente enquanto Tempestade, uma delas, e Vespa, outra, reclamavam de sua irmã, Ira, estar com o olho.
Teria sido vergonhoso se alguém tivesse notado, mas agarrei a mão de Percy quando viramos a direita, raspando com a beirada de um prédio, meu estômago se remexendo com um certo pavor.
— Desculpe, mas... Você enxerga? – Percy questionou, obviamente tão apavorado quanto eu
— Não! – gritou Vespa, no volante
— Não! – Tempestade exclamou, no meio
— Claro! – Ira respondeu. da janela do passageiro
— Por Zeus... – fechei os olhos com força, minhas unhas afundando na palma de Jackson
— E como...?
— Elas tem um olho. – Annabeth interrompeu. – Um ao todo.
— Cabeça de Peixe, eu vou morrer, e é tudo sua culpa! – gritei, dando um soco nele com minha outra mão
— Minha culpa? O que eu fiz, Estressadinha? – ele gritou de volta
— Quem mandou você estudar naquele colégio hippie!
— Vocês dois parem de gritar! – Annie mandou, num grito assustador
Ambos nos calamos, o carro descontrolado sendo pilotado pelas três malucas enquanto tentava controlar minha respiração pensando nas barganhas que teria que fazer para Hades me trazer de volta.
— Fica tranquila, as Irmãs Cinzentas são sábias. – Chase tentou me tranquilizar, provavelmente notando que estava suando feito um porco
— Muito sábias! – Ira concordou do banco da frente. — A gente sabe das coisas!
— Todas ruas de Manhattan. – Vespa se vangloriou. — A capital de Nepal!
— O lugar que você procura! – Tempestade acrescentou
Logo em seguida a velha recebeu socos das duas irmãs.
— Ele nem perguntou!
— Quieta!
Olhei para Percy, o único a quem elas poderiam estar se referindo já que Tyson quase vomitava no banco da janela, seu rosto praticamente verde.
O loiro não tinha ideia do que se tratava, seu olhar dizia isso.
— Que lugar ele tá procurando? – questionei
— Nenhum! Ele não está procurando lugar nenhum! – Ira corrigiu a irmã boca de sacola
— Falem.
— Não! Da última vez que falamos foi horrível!
As três começaram a discutir novamente, no meio da briga o olho que dividiam saindo voando, caindo no colo de Percy, que pulou no meu colo por instinto, o globo ocular rolando pelo chão.
— Eu não enxergo! – as três velhas gritaram
— Pega o olho, Percy! – Annabeth gritou
— É nojento, eu não vou pegar!
Estava quase vomitando com nojo, mas agarrei o olho com medo de morrermos. Porém, notei a vantagem que tinha em mãos, literalmente.
— Do que vocês estavam falando, se expliquem, rápido! – gritei
— Não dá tempo! – Vespa insistiu, estendendo a mão para que devolvesse
— Hydra, devolve a ela! – Annabeth exclamou
— Se expliquem ou eu jogo o olho pela janela! – ameacei, abaixando o vidro ao meu lado
— Não! – elas gritaram desesperadas. – Trinta, 31, 75, 12.
Elas disseram feito minha mãe explicando as medidas de uma receita, como sempre, sem paciência.
— O quê? – olhei para Percy sem entender nada
— Isso é tudo que podemos falar! Agora devolva nosso olho! – Vespa gritou, não demorei para fazer depois da resposta pedida
A velha agarrou o olho, empurrando-o para dentro da órbita feito quando se coloca lente de contato, e piscou.
Rapidamente exclamou ao ver nossa situação, quase batendo em uma árvore. Logo pisou no freio, o táxi rodopiando quatro ou cinco vezes até parar no meio da estrada vicinal da base da Colina Meio-Sangue.
— Melhor agora. – Tyson, antes verde, agora tossiu e murmurou
— Agora expliquem o que os números querem dizer. – Percy disse
— Não dá tempo! – foi Annabeth quem nos empurrou pra fora do carro
Estava prestes a questionar a razão da pressa até virar meu olhar na direção da Colina, vendo um grupo de campistas sendo atacados.
Assim que saltamos do carro, as Irmãs Cinzentas se safaram a toda a rumo de Nova Iorque, nem sequer esperando o pagamento extra que Annabeth havia prometido, nos deixando largados a beira da estrada, eu com meu uniforme do colégio militar, Percy e Tyson com roupas de ginástica imundas e Chase suja como todos nós, sua jornada bem mais longa que a nossa.
Tenho péssimas memórias lutando com touros.
Se um Minotauro já tinha conseguido acabar com as minhas noites de sono por algumas semanas, o que dois touros de bronze do tamanho de elefantes que soltavam fogo fariam?
— Ah, céus! – Annie disse, observando a luta violenta em cima da Colina
Teria achado algo normal filhos de Ares completamente armados levando uma surra para os touros, mas o que me fez ficar assustada foi o fato dos monstros estarem correndo por toda Colina, até mesmo atrás da árvore de Thalia.
Isto não deveria ser possível, as fronteiras mágicas do acampamento não permitiam que monstros ultrapassassem além do pinheiro, mas era exatamente isso que os touros faziam rodopiando.
— Patrulha de Fronteira, aqui! – uma voz familiar de um dos campistas gritou
Patrulha de Fronteira? Desde quando isso existia?
— Precisamos ajudar, Clarisse! – Annabeth exclamou, indo na direção da batalha
Ajudar Clarisse definitivamente não estava no topo da lista de coisas que eu pensei que faria ao chegar no acampamento, na verdade nem sequer estava nessa lista ajudar a garota que mais me odiava quando chegasse.
Talvez por ela me odiar por ter quebrado o nariz dela e o da irmã dela.
Talvez por eu ter discutido com o pai dela e ter dado um tapa nele.
Bom, no final das contas ela me odiava e o sentimento era recíproco.
Mas, naquela situação onde todos que lutavam estavam machucados e com suas armaduras chamuscada, não pensei muito antes de tirar meu batom do bolso, o transformando na minha espada rapidamente, se ajustando nos dedos.
— Tyson, fique aqui, não quero que se machuque. – ouvi Percy dizer
— Precisamos dele! – Annabeth exclamou
— Nem pensar! – o loiro foi contra. — Nós damos conta deles. – ele olhou para mim
Percy agarrou minha mão, sem nem sequer esperar uma resposta positiva, me arrastando até a Colina.
Como não tinha muita escolha, preferi terminar aquilo o mais rápido possível, uma estratégia sendo traçada ao observar a situação mais de perto.
Clarisse organizava uma linha de escudos, que teria dado certo caso tivesse conseguido reunir campistas o suficiente, mas só seis a escutaram.
Annie conseguiu chegar a batalha mais rápido que eu e Percy, e distraiu os touros usando seu boné de invisibilidade. Mas o Touro Número Um ficou estressado demais para se concentrar em achar a morena, se virando e indo na direção de Clarisse, seu lado desprotegido.
Não tinha como tira-la da linha de ataque, era longe demais, por isso, tentei avisá-la num grito, que só serviu para assusta-la, a fazendo colidir com o monstro de qualquer forma.
Consegui correr para alcançar a garota antes que o Touro Número Dois a atingisse, agarrando a armadura dela e arrastando para fora da linha de ataque dele.
— Me largue! Hydra Desgraçada! – ela gritou, não fui contra, a arremessando até ao lado do pinheiro de Thalia
Vários campistas tentavam se organizar, Annabeth dando ordens para distrair os monstros.
Me virei para Jackson, que tinha Contra-corrente em mãos, aguardando meu comando.
— Você fica com o da esquerda, eu com o da direita. – murmurei ao garoto, que confirmou com a cabeça
Fui na direção da minha vítima, a adrenalina começando a esquentar meus dedos enquanto me aproximava furtivamente.
Mas a cautela não serviu de nada já que Percy Jackson decidiu que para lidar com touros que soltavam fogo a melhor maneira seria gritando para irrita-los.
— Cabeça de Bagre! – exclamei assim que o monstro se virou na direção do loiro, levando um coice do bicho e voando para longe
“ Cérebro de Água ” murmurei para si, o observando surpreso com a reação animal do animal
Pelo menos aquilo serviu para que soubesse como lidar com aquele bicho sem me machucar.
Me afastei antes de pôr minha nova ideia em ação, diferente do que o Peixinho Dourado fez.
Ainda estava com minha mochila do colégio militar nas costas e a abri, tirando uma regata vermelha reserva que tinha guardada.
— Ei! – gritei, o monstro mais perto de mim se virou, bufando exatamente como imaginei que faria. — Melhor “ O Touro Ferdinando ” não ter mentido pra mim...
Ergui a blusa vermelha, os olhos do animal relevando a raiva nítida quando arrastou seus cascos no chão, correndo na direção rapidamente.
Senti arrependimento ao notar que talvez ele fosse rápido demais, mas consegui desviar na primeira vez que tentou investir contra a blusa, tendo sorte de não virar espetinho ao sentir uma bufa de ar quente perto do rosto.
A segunda vez falhei, mas não em desviar, sim em segurar a camiseta forte o suficiente, que ficou presa nos chifres do monstro, tapando sua visão.
Agarrei a chance de golpear, indo até seu ponto cego e golpeando sua pata traseira, um urro enchendo minhas orelhas.
Vi minha regata favorita pegar fogo e voar para longe em menos de dois segundos, mas agradeci ao notar que tinha fincado minha espada fundo o suficiente para fazer com que o bicho morresse, de transformando em pó.
— Era minha blusa favorita! – reclamei, pegando o tecido ainda em fogo
Estava distraída e só então me dei conta que Percy não havia conseguido lidar com o seu Touro, ao escutar seu grito, me virei instintivamente.
Ele tinha o pé preso em uma raiz, o monstro perto dele se preparava para avançar, seu bafo quente incendiando a mata próxima.
Não conseguiria alcança-lo a tempo, durante a luta tinha me afastado dos outros, diminuindo a chance de machucar outras pessoas durante a batalha.
— Percy! – gritei, correndo na sua direção, mesmo sabendo que não chegaria a tempo
Minha mente pensava me possibilidades, nenhuma funcionando, torcia para que ele conseguisse se mover, mas também tinha consciência de que não conseguia.
Meu coração disparava, mas notei uma comoção ao lado de Annie, que gritava algo.
— Eu, Annabeth Chase, lhe dou permissão para entrar no acampamento! – ouvi a garota dizer, senti uma trovoada sacudir a encosta. — Percy precisa de ajuda! – vi Tyson correndo e segurei meu ar fechando meus olhos
Só consegui respirar quando o ciclope gritou, a voz de Percy por trás me fez abrir os olhos.
— Vaca malvada! – Tyson exclamou, deferindo socos no focinho do touro
— Tyson!
Me aproximei o suficiente para enxergar a luta do ciclope, que, sem nenhum esforço muito grande, acabou com o touro.
— Perseu! – corri para verificar como o garoto estava, sua perna ainda presa antes que eu o ajudasse a cortar a raiz
— Como você acabou com aquele touro tão fácil? – ele suspirou, um cheiro de queimado saindo dele
— Não tem praticado pelo visto. – comentei, apagando uma chamusca que ameaçava crescer em sua blusa
— Como eu iria praticar? Não é como se eu encontrasse monstros tão fácil no meu dia a dia.
Parei de analisar seu estado, olhando rapidamente para Annabeth que surgiu atrás dele.
“ Não é como se eu encontrasse monstros tão fácil no meu dia a dia ” ? Ele estava brincando com a minha cara?
— Como... – mas então olhei para Tyson. — Ah, faz sentido, seria meio suicida até para monstros atacar com ele por perto. – disse, Annie concordando ao meu lado
— Do que você tá falando?
Era claro que ele não conseguia ver atrás da Névoa, não tinha tido nenhum contato com a sua parte da vida semideusa pra se lembrar da realidade.
— Peixinho Dourado, – Tyson tinha se aproximado, nos olhando curiosamente. — você já parou para olhar pra ele atentamente? Quero dizer, por baixo da Névoa, tipo, olhar para o rosto dele mesmo?
Analisei cada segundo, a expressão de Percy se transformando de confusão até choque.
— Ele é...
— Um ciclope.