Sentindo algo áspero e úmido no rosto,fui despertada de meu sono que durou no máximo 3 horas.
Abri os olhos lentamente enquanto me deparei com um amontoado de pelos e longos bigodes em minha frente.
- Bom dia para você também,Moon - disse empurrando as cobertas a passando a mão por toda a extensão de Moon,minha gata de estimação,encontrada por mim dois anos atrás.
(Flashback On)
Enquanto andava pela aldeia da muralha em uma noite onde a lua estava muito clara.
Passando em frente a um beco muito estreito,comecei a ouvir pequenos miados que teriam passafo despercebidos se a rua não estivesse em completo silêncio.
Como se hipnotizada pelos ruídos,dirigi os meus passos até onde o som surgia.
E ali eu a encontrei,iluminada pela lua,vi um pequeno focinho logo embaixo de pedaço de papelão que a cobria quase por completo.
- Que tipo de monstro séria tão infeliz ao ponto de largar um ser tão pequenino e inocente como você? - disse enquanto tentava me aproximar cuidadosamente da felina,não queria assusta-lá ainda mais,pobrezinha.
Como era um filhote,não tive dificuldades para pegar a gatinha,que logo se aninhou em meus braços depois de ver que não havia hostilidade da minha parte.
Muito pelo contrário inclusive,era como se estivéssemos predestinadas.
Olhei em seus grandes olhos brilhantes e imediatamente senti que devia proteger esse animalzinho custe o que custasse.
E assim tenho feito desde então.
Não foi difícil convencer meu pai sabendo que este,no fundo,tinha um coração mole.
Seu pelo negro como a noite mais profunda como a qual a encontrei e seus olhos gigantes e brilhantes,assim como a lua que iluminou meu caminho até ela.
E assim não tive dúvidas ou exitação,segurando orgulhosamente a peludinha em meus braços proclamei:
-Você vai se chamar Moon.
(Flashback Off)
Me levantei rápida e desajeitadamente quando me dei conta de que horas eram,perdida em minhas memórias - O que já estava virando outro hábito - Nem sequer percebi que já estava meia hora atrasada para comparecer a sede e completar meu alistamento.
- Droga,sabia que a minha remota e demorada crise depressiva de ontem ia me fazer pagar um preço caro.
Passei correndo por meu pai que nem sequer teve tempo de me desejar os parabéns ou boa sorte.
- Sim,eu perdi a hora,pai e não,não estou com fome,muito obrigada. Amo você também,te vejo depois. - Disse acenando e correndo porta a fora.
15 Minutos Depois...
Exausta e sem fôlego adrentei o portão da sede da tropa da Muralha Leste. Não tinha parado de correr nem por um segundo desde que sai de casa - Esta maldita sede sempre foi tão longe assim?
- Que maneira de merda de começar o dia,vão me tomar mais uma vez como uma mimadinha com regalias. Parabéns por perder a hora justo hoje Mavis. Legal mesmo,sua estúpida. - Me amaldiçoava entre os dentes enquanto me dirigia ao pátio,onde já se dava para ouvir várias vozes em uníssoro.
- SIM,SENHOR! - Gritaram os recrutas já presentes com uma continência.
Apenas me esgueirei para uma das inumeras fileiras com jovens soldados que aparentavam ter minha idade e que prestavam continência ao superior que conduzia a ocasião.
- Muito bem recrutas,escutem! - Um homem na casa de seus 40 anos falava com uma voz rouca e autoritária - Sou o comandante Archer Payton,estou no comando da tropa da muralha e portanto,sou o superior de vocês.
Espero que os aqui presentes saibam que nossa tropa não espera nada mais que a perfeição.
Há um perigo real lá fora que ameaça a nossa existência e nós temos que garantir nossa sobrevivência e a segurança dos humanos e cidadões de nossa muralha.
Vocês serão treinados nos próximos meses e avaliados diariamente,só aceitaremos os melhores soldados em nosso esquadrão.
Não temos tempo a perder com quem não é apto e útil nessa luta contra o maior inimigo da humanidade.
Peguem seus uniformes que já estão sendo disponibilizados,seu treinamento começa agora,estarei de olho em vocês.
Enquanto descia de cima do palanque a se dirigia por trás das fileiras,o capitão Payton passou ao meu lado e disse alto o suficiente para que apenas eu ouvisse:
- Não pense que não notei seu atraso cadete Douvier. E não pense nem por um segundo que o fato de seu pai ser meu superior irá fazer com que eu pegue leve com você.
Conheço ele tempo o suficiente para saber que ele quer que você tenha uma vida normal e farei o possível para que você veja o mundo como ele realmente é.
É a primeira e última vez que admito esse tipo de comportamento.
Ágora,vá treinar. Boa sorte.
No Treinamento...
- Argh! - O silêncio foi quebrado enquanto meu corpo era atirado ao chão durante o treinamento de combate corpo a corpo.
- Foi mal,acho que exagerei um pouco,aqui. - Disse minha dupla enquanto me estendia a mão.
Uma gorota da mesma idade que eu,seu nome era Sasha.
Ela era um pouco mais alta que eu e tinha um corpo aparentemente bem construído,mas nada que gritasse uma bodybuilder e ainda assim ela estava me comendo na porrada.
"De onde essa garota tirou tanta força?" - Era a única coisa que rondava a minha menta enquanto era erguida do chão por Sasha.
- Você é bem forte né? Você já faz parte da tropa das muralhas e isso é algum tipo de teste para os novatos aprenderem na base da surra? É isso? - Disse quase não conseguindo desviar do golpe seguinte de Sasha e tentando me lembrar das instruções detalhadas do instrutor sobre autodefesa.
Sasha soltou uma risada cristalina e inocente que contrastava com a destreza e os afiados golpes que executava.
-Cara,quem dera. Pelo menos teria pulado boa parte desse treino infernal.
Mavis,certo? Eu sou da parte do interior da muralha,digamos que faço parte dos "caipiras" e quando se cresce em um lugar onde se vive de caça num mundo tão escasso e perigoso,você meio que aprende uma coisa ou duas,sabia? Meu pai me ensinou autodefesa e ataque desde que eu tinha uns 12 anos.
- Isso com certeza explica muito. Acredito não preciso te dar o meu lado da história e explicar o porquê de eu ser uma negação quando se trata disso. - Disse dando a ela um sorriso desconcertado.
- Sim,é verdade que por mais que eu não soubesse o seu nome,eu já sabia de quem você é filha. - Disse enquanto fazia uma pausa de seus movimentos me encarava com seus grandes olhos verdes,ainda em posição de ataque.
- Então das duas uma,ou você está com raiva de ter que concorrer com a filhinha do lider por uma posição na tropa ou está feliz por eu ser uma oponente fraca,na qual você ainda vai poder dar uma lição. - Disse enquanto ofegava pela luta e soltando um sorriso amargo.
- O que quer dizer? - Sasha disse enquanto voltava a avançar com golpes rápidos.
- Como assim o que quero dizer? Não é assim que você me enxerga?
Tudo bem,eu não te culpo por pensar que pode haver uma preferência que me faça sair favorecida e que tenha raiva de mim por isso, você não seria a primeira e nem a última. - Disse com dificuldade enquanto avançava para trás tentando desviar dos golpes de Sasha.
- Você tem algum complexo de inferioridade ou algo assim? Eu nem sequer disse nada disso,mas você já presumiu que eu acho essas coisas horríveis de você. É um trauma? É isso?
Tentei responder mas ela continuou falando:
-Você merece estar aqui como todo mundo,todos aqui têm um motivo!
Que tipo de pessoa mesquinha se alistaria aqui sabendo que corre o risco de perder a vida fora da muralha? Pessoas egoístas não fazem isso!
Elas não são capazes de fazer outra coisa além de olhar para o próprio rabo!
Eu vi quando você entrou aqui e notei o seu olhar enquanto o instrutor estava explicando sobre as técnicas. Você parecia estar realmente escutando o que ele estava dizendo e levando isso a sério.
Mesmo depois de que você ficou em dupla comigo e viu que estava em desvantagem,você não pediu arrego e nem desistiu,não quis trocar de dupla ou me pediu para pegar leve com você.
Então eu falo sério,Mavis quando te digo que você não é fraca.
Se tem uma coisa que eu aprendi sendo de onde sou é que o lugar de onde você vem não te define.
Você quer se tornar mais forte? Pratique,se esforce,posso te ajudar nisso,só não nunca desista de conseguir isso. Seja lá por qual motivo você tenha decidido se juntar a tropa,isso não vale mais ou menos do que o motivo de ninguém aqui.
Então,ao invés de esperar para ser julgada pelos outros,não dê tempo para que eles te julguem! Mostre quem você é de verdade!
Após dessas últimas palavras eu perdi o equilíbrio e acabei caindo para trás.
Com tudo o que ela disse eu estava tão atordoada que nem sequer conseguia me levantar.
Ninguém nunca havia sido tão duro e ao mesmo tempo tão sincero e doce comigo.
Sasha apareceu no meu campo de visão,seu cabelo castanho iluminado pelo sol acima de nossas cabeças.
Ela me estendeu a mão mais uma vez enquanto dizia:
- Você tem um talento nato para cair, já é alguma coisa. Treinar como cair para não se machucar é essencial.
A esse ponto eu nem sabia mais se ela estava falando sério ou apenas tirando com a minha cara.
E,sinceramente,isso nem importava no momento.
- Gostei de você Mavis,vamos nos ajudar e entraremos na tropa juntas.
Vem,vamos voltar ao treino.