Ipseidade [ Kth + Jjk ]

By LeeVtk

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Embora Jungkook e Taehyung morassem de frente um para o outro, nunca se encontraram. Era como se vivessem em... More

Uma Ajuda Inesperada
Tópicos Sensíveis

Pequenas Explicações

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By LeeVtk

Gabby Barret - I Hope ft. Charlie Puth

Jungkook apareceu no outro dia para pegar as tigelas e trazer mais comida em outros pratos, porém, dessa vez, fiz questão que levasse as que havia trazido e não deixasse nada no meu apartamento. Acho que reparou a minha recusa, e foi melhor assim. Não conversamos, apenas comemos em silêncio e dessa vez foi desconfortável.

Eu não queria amigos nem ninguém para me apegar, por mais que precisasse bastante de ajuda. Tudo nessa vida tinha um preço e era só questão de tempo até o moreno dizer o seu.

Agora eu estava aqui, descendo as escadas de emergência do prédio, não queria usar o elevador e ter que encontrar alguém, preferia manter a discrição.

Cheguei na parte central, onde ficavam as piscinas, visto que antes da saída passava por todas elas, e ao lado do pátio onde costumavam fazer as reuniões. Estava quase chegando ao local, mas parei quando vi um grupo de pessoas sentados embaixo de uma cobertura, com várias cadeiras acolchoadas.

— Jungkook voltou, só de vê-lo passando às vezes por aqui já me dá arrepios — uma mulher falou, usava um biquíni e parecia indignada.

— Espero que ele volte para aquelas viagens dele, ouvi dizer que ajudou o pobre coitado da cobertura — uma outra respondeu, tirando a blusa para ficar apenas de maiô.

— Aquele que encontrou o ex no oitavo andar com outra na cama? Eu vi o exato momento que tudo aconteceu, foi um vexame — um homem relatou, dando risada no final. Meu coração despencou, todos já sabiam de tudo. — Ele tinha vergonha até de pegar na mão do Kim, mas acho que era receio das pessoas julgarem o relacionamento perturbado deles.

— Eu ouvi dizer que ele tentou suicídio, mas o Jeon ajudou a cuidar dele. Talvez esteja se redimindo por tudo que fez.

— Redimir? Aquilo ali? Duvido muito, é mais sólido que uma pedra.

Subi de volta às escadas, mas acabei me batendo com quem menos queria nesse momento. Jungkook estava na minha frente, a roupa preta parecia ser de academia e o suor descia pelo seu pescoço.

— Juro que não sou esse monstro que eles estão falando. — O tatuado levantou as mãos para cima. Eu queria entender, por que todos pareciam saber mais do que eu sobre a minha vida pessoal? — Só me deixa explicar e não me expulse dessa vez.

— Depende da sua explicação. — Voltei a subir as escadas, iria comprar algo no mercado, mas a fome perdeu o seu caminho. — Eu só queria entender por que parece que todos sabem da minha vida, do que ocorreu comigo e ele?

Não citei a palavra ex, no entanto, sabia que o Jeon havia compreendido, parecia que todos estavam a par da minha vida.

— Eu não tinha chegado ainda, mas a senhora Cho Hee me falou por alto dos boatos que estão rondando pelo condomínio. — Comecei a tirar as pelinhas da minha unha, um tique nervoso que às vezes me causava muito mal, pois saíam pequenas gotas de sangue. — Quando todos viram você sendo levado pela ambulância, aquele homem começou a gritar que o seu ex tinha o traído e por isso o "suicídio".

Chegamos ao nosso andar depois de muito custo, subir quinze lances de escadas não era para mim, pensei e repensei em usar o elevador inúmeras vezes, mas estava com medo, se eu encontrasse Hyungsik e ele me pedisse para voltar, não sei se seria capaz de dizer não novamente.

— Não é verdade, droga! — Limpei as lágrimas do meu rosto. A raiva cegando todos os meus sentidos e me deixando atordoado, eu precisava descontar em alguém. — Por que você está me ajudando, em? Ninguém é tão bom assim de graça, todos querem alguma coisa nessa vida, e qual o seu preço? Está com medo que eu fuja e não pague o seu dinheiro?

Seus olhos se arregalaram e percebi o sentimento abatido nele, me arrependi no mesmo momento de ter falado tais coisas, mas eu não queria viver sendo ajudado por alguém que eu não sabia o que se passava na cabeça. Não existiam pessoas boas e eu poderia dar o maior exemplo de todos: o meu ex. Ele pagava as coisas para mim, para logo depois cobrar o dobro do valor. E eu, como tolo, só percebi agora o quanto vivia precariamente, o quanto ele me tirou tudo de bom que eu conquistei.

— Isso me insulta, Taehyung! Já disse mil vezes que não precisa pagar a dívida do hospital, estou aqui por um motivo maior e não quero nada de você! Existem pessoas boas no mundo. — Neguei com o rosto, a minha mão esquerda formigando e o ombro latejando, vi o exato momento que ele respirou fundo, colocou as mãos na cintura e disse: — Se você quiser saber o real motivo, vai esperar eu tomar um banho.

Não esperou por uma resposta, entrando no seu apartamento e deixando a porta aberta. Entrei por um corredor vazio e me assustei com sua sala, não tinha nada de decoração, apenas um sofá marrom de couro e uma televisão enorme no chão ao redor, várias caixas de som de diferentes modelos, ao lado direito podia ver equipamentos de malhação e só. As janelas não tinham cortinas e as paredes tinham um tom morto de bege, não possuía quadros, apenas uma foto em uma parede isolada.

Aproximei-me devagar, as roupas eram brancas e as várias medalhas no peito direito relatavam o quanto era de grande importância, mas pela farda não sabia se era da marinha ou aeronáutica. Seus cabelos estavam penteados para trás e o undercut chamava atenção. Me aproximei mais da foto para enxergar as letras pequenas no final, fui interrompido por uma tosse. Pulei assustado, vendo o moreno dessa vez com uma regata e calças moletom, o cabelo molhado pingando nas suas roupas.

— Você é da marinha? — Ele negou, caminhando até o outro cômodo e, sem opção, o segui. A cozinha era bastante diferente do restante da casa, apesar de não ter inspecionado tudo. Os eletrodomésticos pareciam ser de última geração e a geladeira de duas portas era espelhada. Tenho certeza que gastou todo o dinheiro da decoração da sala para ter uma cozinha dessa.

— Não, sou capitão das forças especiais da aeronáutica — falou Jungkook, dando de ombros, pegando vários ingredientes dentro da geladeira e colocando em cima da pia. — Por isso você nunca me viu aqui, passo meu tempo voando ou na base aérea.

Definitivamente não esperava por essa resposta, imaginei mil cenários para ele, desde CEO multimilionário, médico e até mesmo herdeiro.

— Eu não sabia. — Jungkook cortou vários pedaços de carne e colocou na panela para fritar, mexendo e jogando o conteúdo para cima, como se fosse um profissional.

— Me surpreende não saber, todos no condomínio sabem, principalmente pelo que ocorreu a três anos atrás.

— Logo quando eu ganhei o meu apartamento, passava mais tempo na galeria do que aqui, mas depois que conheci ele, me mudei de vez para o oitavo andar e não parava em casa por causa dos dois empregos. Deve ser por isso que nunca nos encontramos. — Ele assentiu, cortando vários legumes para colocar dentro de uma panela. Tomei a liberdade para sentar na cadeira alta da bancada. — O que ocorreu três anos atrás?

— É definitivamente uma longa história. — O tatuado pegou os talheres e colocou na bancada, sentando-se na minha frente. — Eu tinha acabado de me mudar, e sido promovido na base para primeiro tenente, precisei vir inspecionar a mudança e organizar o apartamento. Porém, recebi muita festividade no início, mas tudo mudou depois do quinto dia.

— O que aconteceu? — Ele sorriu de lado e levantou para colocar as porções em tigelas, organizando tudo na bancada. O silêncio preenchendo todo ambiente me deixava desconfortável.

— Antes de entrar nas forças aéreas tive que treinar muito, principalmente quando subi de cargo. — Encarei seus bíceps, dava para perceber apenas pelos ombros largos que pegava pesado na academia e treinos. Sempre quis ter essa força de vontade, mas meu tempo sempre foi curto. Hyungsik que amava, e reclamava o tempo todo do meu corpo, dizendo que se eu comesse muito não iria ficar do jeito que ele gostava. — Estava treinando na parte da academia do prédio, quando dois homens chegaram. De início, achava que só queriam me conhecer, sabe? Sermos amigos.

Jungkook encolheu os ombros, parecia apenas um menino indefeso agora.

— No entanto, começaram a discutir comigo por estar malhando na academia que era "deles", se eu quisesse era para pedir autorização e pagar uma taxa, achei estranho, pois eu tinha lido com meu advogado e não tinha nada no contrato. Falei que enquanto não estivesse explícito no contrato de compra e venda, não iria pagar nada, foi quando tudo desandou. — O Jeon abaixou os olhos, mexendo a comida na sua frente, amargurado demais.

— Eles literalmente partiram para violência, porra, eu nunca tinha enfretado nada daquilo por besteira! Se eles tivessem até mesmo explicado a situação financeira, eu ajudaria! Mas eles foram me batendo e empurrando — ofegou, as mãos se espalhando na bancada. Desviei do seu olhar, imaginando toda sua reputação arruinada.

— Você apanhou muito? — perguntei baixinho, arrastando a colher para o meu lado.

— Queria ter apanhado, acho que se tivesse colocado meu orgulho de lado, hoje ninguém teria medo de mim. Você acha mesmo que eu passei para primeiro tenente na época do nada? Sei me virar bem, dei uma surra nos dois, filmaram e lançaram nas mídias sociais na época e... Não me tiraram do cargo, mas como castigo fiquei quase três anos sem ter férias e voltando uma vez a cada três meses para casa.

— Isso é desumano, Jungkook! E eles? Não pagaram por nada? — Ele negou, enchendo a boca de comida, mastigando deveras lento.

— Se eu estendesse o caso, poderia ser pior pra mim, então deixei como se nada tivesse ocorrido. — Pelas suas palavras, percebi que não queria isso, mas foi o melhor a se fazer. — Por isso todos têm medo de mim.

— Não tenho medo de você, só acho estranho alguém me ajudar assim, não estou acostumado, sabe? Principalmente quando é um desconhecido. — Dei de ombros, pegando a colher com cuidado. — Acredito que não é mais um estranho agora, estamos nos entendendo.

— Amigos? — sorriu, estendendo a mão, os olhos encolhendo e várias ruguinhas transparecendo ao redor deles, era contagiante. Deixei o orgulho de lado, apertando sua mão com firmeza, era cheia de calos, o que combinava perfeitamente com sua profissão.

— Amigos.

Comemos devagar, apreciando todo tempero da carne e molho. O ambiente não estava pesado como das outras vezes, o aconchego que Jungkook transmitia é singular, parece que nasceu para passar aos outros ao seu redor paz e respeito. Respeito pois tudo que fazia era regulado e contido, suas atitudes e falas ditas de maneira calma.

— Ainda encontrou eles por aqui? — Concordou com a cabeça, as bochechas cheias de comida.

— Uma vez de madrugada, estavam bêbados e, quando um deles tentou falar comigo, eu saí correndo como um covarde. Ele literalmente me afrontou, e juro para você se não tivesse fazendo testes para ser o capitão, teria caído na provocação de novo. — Ele levantou, pegando todos os pratos e começando a lavar. Agora comecei a entender porque a casa cheirava a limpeza e tudo era organizado, as bases militares tendem a deixar as pessoas assim. — E você? Nunca se meteu em uma briga com alguém?

— Uma única vez, estava em Paris na época... — Ele me interrompeu, os olhos brilhando e virando-se na minha direção.

— Você já morou em Paris?! Sempre quis visitar, passo por lá direto, mas nunca parei. — Dei risada, ele falava "passo por lá", como se fosse uma ida de ônibus ou de carro, simples demais.

— Você fala como se fosse uma ida simples, mas respondendo a sua pergunta, morei a minha adolescência inteira lá, me mudei quando fiquei maior de idade, a minha mãe que se mantém fiel ao país. — Jungkook encostou as costas na pia e depositou as mão nela, seu braço tatuado chamando atenção para o ambiente. Agora dava para enxergar melhor as do ombro, nuvens negras com singelas cores azuis, o resto era um emaranhado de figuras misturadas, levaria um tempo para decifrar cada uma.

— E você teve sua primeira briga em Paris, deduzo que foi falando francês, certo? — Concordei e ele sorriu mais ainda de lado, parecia fascinado.

— Na época, minha mãe tinha acabado de abrir uma nova loja no centro de Paris, tínhamos muita dificuldade em pagar o aluguel e qualquer cliente que entrasse tinha que levar pelo menos uma coisinha. A cliente em questão disse que queria uma cor de vestido, não sei se era vestido mesmo, mas enfim. Só não tinha na loja, apenas na outra que ficava um pouco distante. — Estremeci só de lembrar da voz arrogante daquela cliente. — Eu disse que iria pegar o vestido em outra loja e ela literalmente fez um show, disse que eu não estava querendo atendê-la e começou a gritar comigo. Eu tentei, juro que tentei acalmar aquela mulher, mas ela estava me tirando do sério, lembro que joguei as roupas no chão e perguntei "Le spectacle est-il déjà terminé?" — Incredulidade inundou seu ser, não entendendo a minha frase.

— O que significa?

— Acabou o seu espetáculo? — Dessa vez, ele riu com gosto, curvando-se para frente. — Depois disso foi só ladeira abaixo, minha mãe apareceu e a discussão quase foi parar na delegacia, sabe como os parisiense são, adoram chamar atenção. Depois disso foi raro, sou um ser tranquilo.

— Eu queria ter presenciado tudo, aposto que foi muito engraçado — expressou, caminhando até a sala e eu o segui, acompanhando o seu exemplo e sentando no sofá. — O seu sotaque francês é fofo.

— Falando hoje em dia, realmente foi engraçado, mas na época foi desesperador. Se a mulher tivesse nos indenizado por danos, poderíamos ter perdido a loja, mas deu tudo certo. — Levantei as mãos para cima em agradecimento. Mas fui interrompido quando o meu celular tocou.

Era o número do Namjoon e eu nunca sabia se ele iria mandar notícias boas ou ruins, quase sempre eram ruins.








Notas da Autora: 

Hello, pessoas? Alguém ainda está acompanhando essa história?

Logo no início do capitulo tem um nome de uma música, indico que vocês escutem ela e vejam as traduções, serve de inspiração e combinam com o enredo. 

Esse foi um capitulo bem suave para o decorrer da história em que vcs conseguiram entender um pouco do mundinho do JK, o próximo vai entrar um personagem novo (Namjoon) que vai abalar mais um pouquinho o mundo do Tae. 

Não se esqueçam de comentar e votar na história, beijinhos e até o próximo. 

Obrigada a Korigamii pela betagem da história, esta me ajudando bastante!

🎨✈

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