Clexa: Jogos Vorazes

By DeathToPrimes

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O que de tão ruim pode acontecer se a garota da família mais rica da capital, meio que se apaixonar pela maio... More

É a morte quem te segue
O primeiro dia é sempre o pior
Não perca tempo
Massacre Quaternário
Quando a tirania é lei, a revolução é ordem
Mudando de lado
Sangue se paga com sangue
Você me protege?
A.L.I.E
Contagem Regressiva
livres

Só resta a morte

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By DeathToPrimes


Na manhã de sexta-feira, a capital decretou uma quarentena, todos os moradores que não tinham uma função indispensável, estavam proibidos de sair de suas casas.

O Distrito 12 se transformou em um cenário de guerra, civis armados esperavam por mais guardas, e os matavam com todo seu ódio, por que a raiva sobressaia sobre o treinamento de seus opressores.

O Distrito 11 estava contido, os pacificadores mantinham crianças como reféns em gaiolas grandes para obrigá-los a se submeterem ao regime, e os moradores se comportavam sem opções.

O Distrito 10 avançou tão severamente contra seus guardas que todos foram mortos, eles assumiram a estação de trem e destruíram tudo que pertencia à Capital.

No Distrito 9 os pacificadores tomaram vantagem, mas a luta era constante, a sorte não estava ao lado daquele povo.

O Distrito 8 e 7 estavam lutando de igual para igual, com estratégias e coragem, todas as crianças foram escondidas por um grupo da resistência.

O Distrito 6 foi ousado demais, eles lutaram com tanto ódio nas primeiras horas, mas foram aniquilados durante a madrugada.

O Distrito 6 não existe mais.

O 5, o 4 e o 3 ainda lutavam, alguns pacificadores viraram reféns, e as coisas não iam bem para a Capital.

O Distrito 2 e o 1 já foram contidos, faltou força para resistir...

Clarke foi escoltada e forçada a seguir alguns guardas, de sua casa até a sala presencial. Ela aguardou por horas até que Snow finalmente aparecesse, a voz surgiu atrás dela, e ela estava no lugar dele, no trono de um rei, mas não usava a coroa que ele usava nessa tarde.

Ele a ignorou nos primeiros minutos, apenas andando até uma prateleira e pegando uma garrafa de bebida, servindo um vinho para si, observando o céu maravilhoso pela janela, o sol iluminava a sala e a deixava em um clima de verão, como um dia tranquilo e feliz. Os humanos não estavam na mesma energia que a natureza.

Talvez você não sirva para ser quem eu queria que fosse, afinal — ele finalmente falou, sentando-se em uma poltrona há alguns metros de distância, bebendo um pouco da taça. Ela tinha mil respostas mas escolheu o silêncio, então Snow prosseguiu — Me faça entender porque você escolhe a eles, e não a mim.

Realmente não sente nada por eles? — Clarke tentou um contato visual, mas Snow só ignorava — Acredita de verdade que são inferiores?

Já ouviu falar sobre Lucy Gray? — suspirou e parou de evitar o contato visual — Matei ela quando percebi que ela era igual ao que você se tornou hoje.

Clarke sorriu de maneira desafiadora, seus olhos não sorriram junto, sabia que precisava tomar cuidado com a língua, usá-la na hora certa

Eu amei a Lucy — Snow sorriu da mesma forma, pegando Griffin desprevenida e desmanchando o sorriso dela — Mas sim, eles são inferiores, eu acredito nisso pois eu vi isso, eu vivi isso, tenho um conhecimento que você jamais terá — Snow deslizou uma das mãos livres para dentro do paletó, retirando uma pistola semi automática, a deixando apontada para Clarke, mas não como uma ameaça iminente — Passei os últimos dias pensando se devo te matar ou te ajudar.. você é minha sobrinha, e eu a amo, e gosto de pensar que você também me ama como seu familiar, mas eu não acredito mais nisso — Snow a tirou da mira

Sentimentos não importam em uma guerra, você me ensinou isso — Clarke não sabia se era capaz de amar alguém tão ruim, um dia o amou, claro, quando ainda era uma criança e não entendia o peso da maldade humana.

E você entendeu tudo errado — agora ele tentou manipular, mas ela soube disso no segundo em que ele decidiu agir assim — Sabia que o Distrito 6 não existe mais?

O que?não, ela não sabia.

Existia um distrito chamado 13, há muito tempo atrás — Snow riu de uma forma tão má que Clarke sentiu o corpo ferver em raiva, e agora ela sentiu falta de Lexa, talvez Lexa soubesse uma forma mais inteligente de agir.

Pode aniquilar quantos distritos desejar, até às cinzas.. mas das cinzas eles vão ressurgir — Clarke desviou os olhos para baixo, sentindo a pressão das coisas a forçando para ser submissa, como aprender a ser em toda sua vida, mas sua boca não precisava acompanhar seu trauma — Vou ficar ao lado deles, e não me peça explicações porque você não acredita em minhas respostas.

Snow se levantou e deixou sua taça cair no chão, guardando a arma e chegando mais perto de Clarke, subindo os 3 degraus que separavam o piso comum do piso presidencial — Minha querida, jamais irei lhe entender, escolha o que desejar, já estou muito velho para outra luta, e não vou começar uma guerra contra você — sorriu verdadeiramente gentil, levando as mãos até a coroa e a retirando da própria cabeça — Não serei o seu inimigo, não esqueça que eu te amo, mas se eu fosse mais jovem, sim, eu te mataria, meu amor — levou a coroa até a cabeça dela, não era grande coisa, mas elegante e de ouro, parecendo enfeitada com folhas douradas nas laterais — Seja uma boa rainha, e tenha um longo reinado — Snow afastou as mãos, observando a cena que planejou por mais de uma década

Só isso? Fácil assim?

Temos tempo para uma última lição — se inclinou apoiando as mãos sobre os pulsos dela no trono, a prendendo na cadeira, encarando seus olhos de perto — Vá para a guerra, lute por aquele povo miserável, mas não esqueça: o ódio não vai se dissipar, nem que você faça deles milionários — Clarke tentou puxar os pulsos mas ele segurou mais forte e continuou a falar — Se tiver sorte, você morrerá, se tiver azar, verá todos que ama morrerem em seus braços, e não importa o quanto você entenda de medicina, não vai salvar ninguém — a soltou.

Clarke puxou os braços contra o próprio corpo, sempre levou as palavras dele a sério, por toda a vida, sempre soube que seu tio era parte do problema, o sistema estava aqui antes dele, e o sistema era seu inimigo, não seu tio — Sinto que você está errado dessa vez.

Sempre soube que você podia mudar o mundo, mas isso vai te custar.. tudo — Snow se afastou, finalmente. Voltando até a sua poltrona e admirando a sua rainha, dando outro sorriso antes de voltar a pegar sua arma. Verdadeiramente cansado de lutar, já aceitou que seu tempo nessa terra acabou, e agora, não era mais problema seu.

Não! — Clarke se levantou quando percebeu a sua intenção, mas já era tarde demais. O presidente atirou contra seu próprio peito, a sobrinha correu para salvá-lo, usando suas mãos como únicos recursos — GUARDAS! — gritou em direção a porta, os pacificadores entraram correndo, tanto pelo som do tiro quanto pelo chamado, pedindo no walkie-talkie por equipamentos médicos urgentes.

Snow apenas manteve a atenção em Clarke — Não fique tão assustada, eu sou apenas o primeiro.. 



Lexa foi separada de todos os seus familiares e amigos, simplesmente trancada em um quarto da capital sem a menor explicação, ela bateu na porta e chamou por todos, mas nada mudou. Não havia um relógio, uma TV, nada que pudesse noticiar, e não percebeu que duas horas se passaram.

Foi mal Clarke, a ideia de nos separarmos foi péssima — suspirou arrependida falando com a parede, deslizando a ponta do dedo na superfície dura.

É com imenso pesar que anunciamos a morte de Alexandra Woods — Roan era forçado a noticiar isso na frente das câmeras, seguindo apenas um roteiro que não foi escrito por ele, sentindo uma arma em suas costas e o corpo arder. Se negou a ajudá-los e foi forçado a isso — O motivo é a desordem de todos vocês. Para evitar a morte dos últimos campeões, como Maya, Josephine, Luna, Ash e eu mesmo, Roan, exigimos a rendição de todos

O anúncio falso foi feito no intuito de diminuir os protestos, mas foi como jogar gasolina em uma fogueira


A porta da pequena "cela" de Lexa foi aberta, uma garota entrou, usando uma jaqueta de couro vermelho vinho, um sorriso sociopata iluminou seu rostinho fofo — Lexa Woods, prazer em conhecê-la.

Josephine — Lexa deu um sorriso falso — Espero que não tenham enviado você para me matar, desculpa mas.. se estivéssemos na mesma edição dos jogos, eu venceria.

Puff — Josie bufou e revirou os olhos — Você é sempre tão julgadora? — a encarou de cima a baixo — Me siga, sua namorada precisa falar com você.



Quando Clarke chegou em casa, a notícia já estava correndo solta, Jake e Abby estavam desesperados preparando suas malas. A garota entrou no quarto ainda com sangue fresco em mãos, observando Madi na cama deles brincando com algum tablet, nem percebendo os adultos tão nervosos a sua volta

Vamos fugir, não podemos ficar na capital agora — Abby informou, Clarke reparou outras duas pessoas em seu quarto, Luna e outra garota desconhecida, mas analisando o aparelho em sua perna, talvez fosse Raven

Vamos ficar. — Clarke encarou os dois, mas apenas ignoraram sua "sugestão" e continuaram. — HEY!

Não podemos ficar! Vão nos matar

Não estou te pedindo para ficar, estou te mandando ficar — encarou sua mãe, mas logo voltou a atenção para Raven, analisando de cima a baixo — Raven Reyes?

É, eu tô meio perdida aqui — Rae nem sequer prestou muito atenção nela — Você matou o Snow?

Estão falando isso?

Estão falando de tudo — Abby arremessou uma mala na direção da filha, mas Clarke apenas a deixou cair no chão, nesse momento queria que alguém pudesse parar um segundo para perguntar como ela se sentia, mas percebeu que ninguém se importava.

Não matei, ele se matou — voltou seus olhos até Luna — Por favor, mande o Finn vir para cá, vou precisar da ajuda dele

Okay — a ruiva concordou

Bellamy e Octavia também, Jasper e Maya, e o Roan e Ash.. a Lexa vai chegar logo com a Josephine, quero a Becca e o doutor Gabriel aqui dentro em uma hora.

Luna apenas assentiu positivamente outra vez, se aproximando da cama e puxando o tablet de Madi enquanto ela não o segurava, ouvindo o bebê começar a chorar em seguida por pura birra. Clarke limpou as mãos na própria roupa rapidamente e as esticou para Madi vir em seu colo — Que tal você escolher algumas flores no jardim? Vamos precisar delas, pode me ajudar nessa tarefa difícil?

O bebê se distraiu do choro e concordou, não se importando com o sangue e aceitando o colo



Jasper estava com Maya quando um guarda se aproximou, sendo breve na notícia. O garoto sentiu uma mistura de muitas coisas, mas não estava realmente triste, só ficou muito confuso com "a Clarke matou o seu pai", retornando para dentro de sua casa, recebendo o comunicado de Luna mas o ignorou a princípio, coçando a bochecha enquanto sua ficha demorava a cair, confiava em sua prima com todo seu coração, então nem por um segundo ele acreditou que ela realmente fez isso.

O que foi? — Maya questionou, ela usava um curativo no rosto, mas todo o resto estava bem

A minha mãe se foi há muito tempo — se aproximou lentamente e sentou na frente dela, apoiando os cotovelos dos braços nas próprias coxas — E eu entrei em pânico quando me contaram. A Clarke estava bem do meu lado, e o fato dela me acalmar fortificou muito os nossos laços, sabe? Éramos muito novos, mas viramos irmãos de consideração depois disso. Dizem que momentos difíceis unem as pessoas.

Eu sinto muito, nenhuma criança deveria.. sofrer com coisas eternas — Maya levou as mãos até as dele, segurando — O que aconteceu? — repetiu, ela tinha o dom de saber quando alguma coisa estava errada

Precisamos ir a um lugar agora, está bem? — Jasper sorriu e voltou a atenção ao machucado dela, se distraindo de tudo ao seu redor, já que ela era a única coisa que tirava seus pés do chão — Talvez coisas ruins aconteçam, mas vamos ficar bem, eu prometo.

A garota concordou, lidava bem com todas as situações porque ainda não havia aceitado aquele caos, fingia estar em um sonho, cada um sobrevivia da sua maneira...



Voltamos, vadia — Josie entrou na casa dos Griffin, Clarke descia as escadas nesse momento

Leva ela pra colher flores lá fora — entregou o bebê para a ex campeã — E seja boazinha.

Que porra é essa aqui? — Josephine segurou Madi com certa dificuldade

Temos assuntos urgentes para tratar — Clarke puxou Lexa pela camisa, segurando em seu ombro e a arrastando para o banheiro mais próximo, a empurrando para dentro sem toda delicadeza que tinha anteriormente. A morena encostou na parede, confusa com o que viria a seguir, sua vida virou uma enorme tragédia imprevisível — O que foi?

Você tá com vontade de chorar? — Clarke perguntou séria e controlada, Lexa não responder então ela deixou seu rostinho de choro vir a tona — Eu também

Ah.. não, não, não precisa chorar — Woods se aproximou sem jeito, realmente era péssima em confortar as pessoas, não sabia lidar com sentimentos, tentando captar todos os detalhes visuais que lhe ajudassem a formar alguma pergunta — Por que tem sangue na sua mão, princesa? — pensou em abraçar mas ao mesmo tempo não sabia se deveria, ficando realmente incomodada com o choro

Não me chama assim, Inferno — Clarke limpou as lágrimas mas em seguida chorou ainda mais

Lexa notou que ela ainda usava a coroa, que deveria ser do presidente, sorrindo de forma trêmula e por um segundo sentindo medo do poder que Clarke exalava com aquela maldição de ouro se misturando com os fios de cabelo dourado — O que aconteceu? — perguntou ficando mais nervosa

O meu tio morreu — Clarke desabafou e voltou a prestar atenção no rosto de Lexa, querendo ser confortada, e se decepcionando porque Lexa provavelmente não faria isso — Ele.. eu sei que ninguém gostava dele, okay? Eu sou bem ciente disso — tentou recuperar a postura e se manter forte, já fez isso tantas vezes que se tornou uma tarefa fácil, o difícil mesmo era se abrir, e se arrependeu de tentar

Mas ele era seu tio, você gostava dele — Lexa a entendia melhor agora, não era tão difícil quanto parecia. Suspirou e segurou as mãos de Clarke, encarando seus olhos marejados — Você está triste, ninguém percebeu, não é?

Clarke apenas assentiu e caiu em um choro silencioso, dessa vez Woods a abraçou sem pensar se deveria, sentia como se um quebra cabeças que ela nunca quis montar estivesse se juntando contra sua vontade em sua mente. A abraçou do melhor jeito que poderia, ignorando quem ela era e o que representava, focando apenas no fato de que ambas eram iguais, humanas, sentimentais, e adolescentes — Eu sinto muito por seu tio, mas não sinto muito por Snow — ainda precisava ser tão sincera?

Clarke queria contar detalhadamente sobre seu dia, o que aconteceu, o que conversaram, mas falar sobre deixaria seu coração exausto, e pensando racionalmente, era melhor agir como se não fosse nada.

Os meus pais não se importam muito  — sua voz era um pouco mais lenta do que o costume, tentava se explicar sem chorar — Mamãe sempre diz que sou empática demais, isso é ruim?

Não acho que seja.

Me desculpa te incomodar com... — Clarke foi interrompida enquanto falava

Shhh, tá tudo bem, você não está me incomodando — Lexa deslizou uma mão por suas costas, acariciando durante o abraço — Costuma chorar bastante? — sorriu gentil, só brincando

Não, esse é o problema — Clarke se afastou do abraço, voltando a sua postura perfeita de antes, tudo entregava seu choro mas sua expressão se tornou uma enorme indiferença — Eu não posso chorar, entende?

Como assim você não pode chorar? A gente nasce chorando, é a coisa mais natural — Lexa nem se deu conta quando segurou o rosto dela com as duas mãos, mas ela já tinha consciência que gostava de olhar para Clarke, de perto e sozinhas.

É engraçado né? Isso é um direito de expressão, liberdade humana, uma liberdade que o povo mais oprimido do seu distrito pode ter, mas uma liberdade que eu, a garota mais livre do mundo, não pode. — sorriu leve mas logo o desfez — Eu tenho um problema com isso, eu cresci sendo reprimida disso, de ser.. emocional, empática, meus pais não me proibiam mas o Snow sim, e ele me fez acreditar que meus pais também se importavam, e meus amigos, e todo o mundo.

Mas você sabe que isso não é verdade, quer chorar mais? — Lexa ofereceu outro abraço, mas ela negou

Você sabe que eu não sou seu algoz, entretanto, não consegue me tratar como se eu não fosse. Por que?

Lexa entendeu o que ela queria dizer, juntando ainda mais peças em sua mente — Não gostar de você é um hábito psicológico do qual eu não tenho muito controle

Você me faz fugir do controle — Clarke se afastou um pouco, só para virar até a pia e começar a lavar suas mãos, finalmente se livrando do sangue — É por isso que precisamos ficar juntas, entende? Sem você por perto, eu não vou chorar, e isso se estende além de um simples choro.

Por que eu?

Os olhos azuis a encararam através do reflexo do espelho, as duas ficaram em silêncio por um tempinho, o único som era a água da torneira ligada, Clarke franziu as sobrancelhas aos poucos, como se juntasse alguma raiva — Eu vou precisar gritar no seu ouvido que gosto de você?

Lexa sorriu sem jeito, preferia acreditar que era tudo uma enorme brincadeira, assim como acreditava antes da arena, mas "por que ela me escolheu?" era uma pergunta que a atormentava, desviou o olhar para o chão, sabendo que talvez, não tivesse outra chance, ainda mais agora que as coisas se tornaram um inferno real

É impossível aceitar ou entender que você gosta de mim, que não seja por algum interesse próprio, não vou me desculpar por isso, mas eu realmente tentei e não faz o menor sentido. Clarke, por que você me escolheu?

Griffin também desviou o olhar, desligando a água e deixando apenas as mãos molhadas sobre o mármore, pensando friamente em uma resposta — Sem mentir? Você podia usar um vestido que gritava que sua classe social era a pior, e ainda assim era a mais linda, e por Deus Lexa, você teve um coração de ouro, eu nunca ouvi nem falar sobre alguém tão corajosa a ponto de se voluntariar como tributo — mordeu os lábios e voltou a se olhar no espelho, aquela coroa mudava tudo dentro dela, para ambos os lados, a luz e a escuridão — Eu preciso da sua luz

Isso foi muito fofo da sua parte — Lexa se aproximou, a puxando para ficarem de frente e deslizando as mãos até sua coroa, retirando apenas para ajeitar um pouquinho os fios mais bagunçados e colocá-la outra vez — O Rei está morto — sorriu quase orgulhosa, observando cada detalhe daquela nova visão, aquela nova versão da Clarke, uma versão que cada segundo se distanciava mais garota que ela odiou um dia — Vida longa a Rainha.

Vou ficar na Capital, vou foder esse sistema de merda de dentro para fora, como um parasita que não parecia tão perigoso — arqueou uma sobrancelha, bem decidida disso — Quero contato 24 horas com você, e quero que você vá as distritos, ajude, lute, incentive, jogue fogo em absolutamente tudo que for contra a nossa anarquia temporária — Clarke se aproximou um pouquinho demais, levando os lábios até a orelha de Lexa — Eu posso confiar em você para ser minha comandante?

Você pode tudo — Lexa respondeu quando se arrepiou, sem pensar direito no que disse, não teve tempo de concertar o erro, Clarke foi muito mais rápida no raciocínio e interpretou de um jeito errado, ou tirou proveito da situação, deslizando uma das mãos até o queixo de Woods e a puxando para pertinho de sua boca, quase encostando os lábios contra os dela — Tudo, comandante?

Eu amaria te falar coisas do tipo "ah, não sexuais ou românticas, eu só quero ser a sua luz, seja lá o que isso significa" mas é melhor eu calar a boca né?

Isso, é melhor calar a boca — Griffin concordou, fechando os olhos e juntando seus lábios aos da sua nova e primeira, comandante.

Lexa retribuiu da mesma forma, voltando a abraçar seu corpo e deslizar a mão nele, os "divertidamente" em sua mente brigavam pelo controle. A raiva odiava os sentimentos que aquele beijo desenvolveu, a tristeza, mesmo que muito distante, queria contar sobre cada dor que ela gerou, em detalhes. A alegria, por sua vez, liderava, e investiu emocionalmente em uma confiança que já nasceu abalada, mas que a cada segundo acreditava mais e mais que Clarke era o menor de seus problemas...



Vai mesmo destruir o jardim? — Josephine segurava o pequeno cesto de flores enquanto Madi as arrancava e jogava de qualquer jeito ali dentro, o bebê pareceu entender suas palavras e repetiu as palavras de Clarke — Xeja boazinha!

Vem cá, você é da onde? Por curiosidade — Josie fingiu um sorriso

Não sei — deu de ombros — Cal voxe gosta mais?

Das flores? — suspirou e encarou o jardim meio detonado agora — A amarela?

Giraso — Madi se afastou até a amarela, a arrancando com certa dificuldade e voltando para a mulher, entregando a florzinha com um sorriso gentil — Pa voxe

Josephine agradeceu baixo e aceitou, ficando sem graça e desconfortável, odiava crianças.

Entrem — Abby recebeu todos que Clarke ordenou que se juntassem a eles — Fiquem a vontade

Precisamos de alguns planos — Becca informou enquanto entrava na casa

Jasper ouviu todos falando sobre a morte de seu pai e a liderança de Clarke, em certo momento o mundo ficou mudo, eram muita coisa em pouco tempo. Abby contou do plano que havia feito com Raven e Luna, mas não obtiveram sucesso já que Snow morreu antes, mas pretendiam matá-lo. Jake separou a função de cada um deles, Clarke só precisava aprovar, Finn também entrou na cena, tão triste e quietinho, sentado no braço do sofá sem ter ideia do que sua ex estava fazendo no banheiro logo a alguns metros.

Okay eu tô pronta — Griffin saiu do banheiro ainda usando sua coroa e caminhando até sua pequena equipe — JOSEPHINE! — gritou pela única que faltava, puxando gentilmente o tablet da mão da cientista Becca

Lex! — Raven se energizou em um segundo ao ver a morena, também saindo do banheiro, mas ignorou esse "detalhe", correndo até ela de um jeito um pouco desengonçado, mas já era melhor do que nada

Rae? — Lexa ficou sem palavras com aquela cena, a abraçando assim que a garota, poucos meses mais jovem, pulou em seus braços.

Tudo se resumia a voltar para Raven, certo?

Mas mesmo agora, em seus braços, tudo era tão diferenteEu senti sua falta — confessou baixinho, mas tudo era tão mais profundo do que apenas aquelas palavrinhas

Você sobreviveu! VOCÊ VENCEU — Raven tinha uma alegria e um sorriso genuíno, segurando o rosto da irmã e encarando seus olhos — Você venceu os jogos vorazes em um massacre quartenário

Por você, como eu disse que faria — Lexa concordou e deu um sorriso leve

Foi a primeira vez na vida que a Octavia acertou, quando disse que você ia voltar — Rae riu leve, ouvindo Octavia chamar sua atenção da sala — HEY! Sem gracinhas, senhora manca.

Você vai ver a manca — Reyes ameaçou mas não se afastou da irmã de consideração.

Clarke cruzou os braços e bufou quando viu o estado de seu jardim — Vocês são o que? Terroristas?

Você me mandou ser boazinha — Josie reclamou, entrando na casa antes, Madi a seguia, segurando sozinha a cesta com flores

Boazinha com meu jardim porra, não com a pulguinha. Entra pulguinha — Clarke suspirou meio impaciente com a demora do bebê, mas não reclamou e a deixou seguir seu próprio tempo

Você e a Clarke hein — Raven mexeu as sobrancelhas para cima e para baixo, várias vezes seguidas — Só no nheco nheco

Pela mor de deus — Lexa franziu o nariz e curvou os lábios como se tivesse nojo, percebendo de canto de olho a doutora Griffin a observar rapidamente

Reunião! — Clarke chamou a atenção de todos outra vez — Lexa e prejudicada, aqui — apontou o lugar delas

Prejudicada? — Raven ficou confusa se ouviu certo, sendo puxada até o sofá.

Okay, amanhã vou me tornar oficialmente uma presidente — ajeitou a postura e começou seu discurso — E preciso da ajuda de todos nessa sala para mudar a porra toda — gesticulou usando até os braços, demonstrando algo grande — Destruir e reconstruir completamente o nosso sistema.

Ela ficou louca de vez — Jasper sussurrou para Maya, arrancando uma risadinha dela

Lexa preferiu ficar de pé, perto de Clarke, observando sua explicação, mas acabou se perdendo um pouco no objetivo conforme ela gesticulava e fazia mímica, como se estivesse explicando um plano a um bando de idiotas incapazes de entender apenas com palavras. Madi distribuiu suas flores para cada um na sala, entregando uma flor a mais para Gabriel e o cutucando, pedindo baixinho para ele entregar a flor para Josie. E ele o fez, deixando a garota totalmente sem jeito e vermelha.

HEY POMBINHOS! Sem romance em tempos de guerras, eu PRECISO que não se esqueçam de nada disso — a líder suspirou irritada e prosseguiu.

Lexa tinha uma visão de mundo muito diferente agora, parecia que os olhos de seu subconsciente se abriram para cada erro no plano que estava ouvindo, erros custavam vidas então ela opinou, na frente de todos ela questionou Clarke e aprimorou aos poucos o plano.

Conforme as horas passavam, todos entraram de cabeça naquilo, muitas sugestões foram feitas, ajustes, mudanças, a comunicação seria a prioridade, o peso daquilo caiu sobre todos, o plano foi feito para ser rápido, Griffin e Woods compartilhavam da mesma ambição que beirava o impossível, mudar o mundo em menos de um mês.


Capital

52 horas desde o início da revolta


Você ficou bem nesse uniforme — Clarke observou a armadura de pacificador em Lexa

Não consigo fechar atrás, entendi porque os pacificadores fedem, eles não tiram isso nem pra tomar banho, não é? — Lexa se observou no espelho, havia duas camadas de roupa embaixo da armadura, tudo planejado para sua proteção

Vai ser.. ruim te ter longe — Clarke a ajudou, ajeitando tudo que estava fora do lugar ou errado, deslizando uma mão até a gola da camisa por baixo da proteção e arrumando de forma que não a incomodasse — Colocou o colete também?

Uhum

Seu trem partirá em 15 minutos, sua família te espera e.. a Josephine vai com vocês — já havia avisado antes, mas reforçou, deslizando sua mão pelo braço da garota e descendo até a mão, ainda sem luvas, entrelaçando os dedos ao de Lexa — Já ouviu a história de que as pessoas são, ou o poema, ou o rei, ou o soldado?

Não? — os olhos verdes finalmente prestaram alguma atenção nos azuis

O soldado queria ser rei, mas nunca para de lutar. O poeta queria ser soldado, mas não era capaz de matar. E o rei queria ser poeta, mas foi obrigado a liderar — tentou soltar a mão de Lexa mas ela a apertou de volta, encarando Clarke

Me dê uma espada e eu farei um mundo sem reis para você — abriu um sorriso gentil, Clarke retribuiu da mesma forma

Em caso de emergência, não morra

Isso foi tão útil — riu com ironia

Você é inteligente, mas emocional — Clarke soltou sua mão, observando a si mesma no espelho próximo e levando a mão até a coroa — A morte da Raven vale a pena, se isso for alcançar o meu objetivo, a morte de qualquer um vale a pena se o resultado for a paz, esteja ciente

Acredite, eu estou — a morena pegou sua arma em uma das mãos e o capacete na outra, antes que fosse embora, Clarke puxou seu rosto para perto e beijou seu rosto, sorrindo outra vez — E que a sorte esteja sempre a seu favor

Não, essa frase traz azar — Lexa levantou o rosto de Clarke puxando seu queixo — Que nos encontremos novamente.

Eu sempre estarei com você.

Eu sei

Não, é sério, a Becca garantiu nossa comunicação 24 horas, independe do nível do colapso — Voltou às mãos ao bolso, retirando algo pequeno, como um fone de ouvido, ajeitando um na própria orelha e colocando o outro em Lexa, não incomodava, você mal percebia que estava usando — A menos que caia uma bomba nuclear, aí não vai precisar me responder porque estaremos mortas — riu brincando mas logo recuperou a postura séria — Relaxa, a bomba nuclear da capital estará sob meu domínio

Obrigada — Lexa tomou a atitude dessa vez, se aproximando e dando apenas um selinho em Clarke, sorrindo antes de vestir seu capacete — Talvez eu possa ser seu amor, um dia — olhou o relógio na parede e seguiu até a porta, nem olhando para trás antes de partir.

Clarke não percebeu quando começou a tremer, aquelas palavras foram como uma anestesia antes de uma cirurgia extremamente perigosa, por um segundo ela queria mudar todo o plano e pedir para que Lexa ficasse, mas tinha consciência e controle sobre seu raciocínio lógico, Lexa não poderia ficar, não naquele momento, não quando ela seria mil vezes mais útil longe de Clarke.

Entretanto, independente de tudo, por um segundo, ela desejou tanto que Lexa ficasse...



Cuida da minha irmã — Lexa pediu a Luna, a ruiva concordou. Raven ficaria, ela tinha utilidade para Becca.

Vamos nos ver em breve — Reyes a tranquilizou, dando um abraço forte, mas pela armadura, Lexa mal sentiu — Eu te amo.

Eu também te amo — retribuiu o abraço, dessa vez seu coração não partiu pela despedida, era mais fácil voltar viva da guerra, do que dos jogos — Fica de olho na Clarke, okay?

Ash e Roan vão ficar com ela — Luna informou — Eu também ficaria mas a Raven vai precisar de proteção

Lexa pensou nisso, achando que seria melhor que Luna ficasse com Clarke, era uma força indispensável e provavelmente, a melhor que a capital tinha — Você pode ficar de olho nela indiretamente? Digo.. câmeras e, não se afastar muito, vigiar enquanto ela dorme?

Ela vai ficar bem — garantiu

Ui, preocupada com seu amor? — Raven a provocou

Sinceramente tchau — Lexa só revirou os olhos em tédio e se afastou, Octavia e Bellamy já haviam se despedido e acenam enquanto entravam no trem, rumo ao distrito 12...

Voxe vai me abandona? — Madi perguntou preocupada, seus olhinhos fixaram em Clarke, ela agarrava com força um ursinho de pelúcia que a loira lhe deu mais cedo

Eu voltarei, já te expliquei, vão vir um monte de monstros e eu vou ter que lutar com eles — se abaixou para ficar na altura da mais nova — Mas eles não vão te pegar se você ir com a tia Josie e o tio Gabriel

Puque não? — manteve uma das mãozinhas agarrada na mão de Clarke

Por que eles vão te levar a um lugar seguro, longe dos monstros, e quando tudo ficar bem, você volta para mim, entendeu?

Madi assentiu concordando, mas ainda não a soltou

O que foi bebê?

Não.. não me deixa, mia mamãe não voltou, ela disse qui ia volta — suspirou com preocupações demais para alguém tão jovem. As palavras dela quase arrancaram a máscara neutra de Clarke, seu emocional com certeza balançou mas precisava ser firme, agora ela não era uma adolescente comum, ela tinha um povo inteiro para cuidar

Madi, eu prometo por todas as flores do mundo que vamos nós ver outra vez, tá bom? Você confia em mim? — sorriu gentil e apertou a mãozinha

Não xei — ainda estava incerta, seus olhos entregava que queria chorar e estava segurando — Vai demola?

Menos de um segundo — chegou perto e lhe deu um beijinho na testa. O bebê começou a chorar com o carinho e se agarrou em Clarke, a loira revirou os olhos mas retribuiu o gesto — Qual foi garota, você me conhece a dias, porque tá chorando? Eu não sou importante

É, pa mim — seu choro não era escandaloso como uma criança normal, ele era muito contido, como alguém que cresceu aprendendo a segurar as lágrimas, Clarke via muito de si mesma naquela garotinha

Vai, pode chorar, tá tudo bem, a sua mãe morreu e eu provavelmente só sairei dessa em uma guilhotina, você tem todo direito do mundo de gritar o máximo que desejar — Clarke soltou a levantou do chão no abraço, ouvindo o choro se tornar mais alto, se soltando aos pouquinhos

Ela é pequenininha, mas tem um coração igual ao nosso — Gabriel comentou, sorrindo gentil e observando a garotinha que seria seu dever proteger pelos próximos, talvez, anos...

Eu não tenho um coração tão molenga assim não — Josephine cruzou os braços, achando a cena muito dramática

E você tem coração? — Clarke perguntou, fazendo Gabriel rir e Josie ficar particularmente ofendida.

Quando Madi colocou para fora todas suas super preocupações e problemas de um bebê que sequer sabia o que era a morte, Gabriel conseguiu a distrair, os três embarcaram junto com outras crianças e outras pessoas que precisavam de proteção máxima naquele momento, em um trem rumo a um lugar desconhecido, Clarke não sabia onde eles iriam, ninguém sabia além do condutor. Isso era para evitar que na pior das hipóteses, algum sofrendo tortura revelasse a localização.

Griffin esperou até que a locomotiva sumisse de sua vista, não percebeu que Madi ocupou algum espaço até notar a ausência no seu coração, deslizando a mão ao ouvido e apertando o único botão do aparelho, o ligando — Lexa?

Oi! — Lexa deu um pulo no lugar, olhando em volta confusa — Quem me chamou? — outros soldados a olharam confusa

Se eu morrer, você pode assumir meu lugar? — Clarke saiu da plataforma, acompanhada de alguns soldados que estavam a escoltando, ainda precisava de um pronunciamento oficial, tomar posse de seu novo cargo político

Claro, quem melhor do que eu, não é mesmo? Uma garota sem senso nenhum de como caralhos se comanda uma sociedade — Lexa respondeu sem se importar se aprecia um pouco esquizofrênica aos olhos de outros passageiros

Se for o caso, vou deixar pessoas instruídas a te ensinarem, preciso ir, volto em algumas horas, me veja na TV — desligou o aparelho antes de ouvir uma resposta.

Porque? Tá fazendo filme porno? — riu mas automaticamente ficou constrangida ao perceber o silêncio em sua volta — Foi mal — sussurrou baixinho, já percebendo que Clarke desconectou.

Alguma coisa na parte de colocar as mãos na massa, fez a alma de Lexa brilhar, com esperanças de um futuro melhor. Em seus pensamentos, ela prometeu que lutaria por Ilian, por Ontari, e por aquela que desmanchou o seu sorriso, Costia.



Griffin seguiu direto até a sala presidencial, havia câmeras, jornalistas e todos os líderes mais importantes de diversas áreas, esperando por ela há horas. O silêncio foi absoluto quando ela entrou, trajada em um uniforme formal na cor preta, representando o luto pelo antigo presidente, seu cabelo estava perfeitamente arrumado mas não usava uma maquiagem, só a coroa.

O som do salto batendo no assoalho de mármore era o único som presente, mas ele também sumiu quando ela sentou-se no trono do líder absoluto — Vamos começar?

A primeira câmera na sua frente foi ligada, Clarke optou por não seguir o script que Ash preparou para seu pronunciamento.

Saudações, cidadãos de Panem — sorriu suavemente por alguns segundos — É com pesar que informo a todos vocês o falecimento do nosso querido presidente Coriolanus Snow, para cessar boatos e dúvidas, meu tio se suicidou — parou um momento para refletir o que deveria falar, como deveria agir, não podia ser ela mesma, precisava de uma máscara de falsidade — Snow tinha muitos problemas, uma idade avançada e uma substituta pronta para assumir seu lugar, até que haja uma próxima eleição, eu comandarei essa nação.

Lexa ainda estava no trem, e observava junto a todos o pronunciamento, ouvindo alguns comentários baixos reclamando sobre uma adolescente no poder.

Não pretendo governar sobre mentiras, então vamos lidar com a pior realidade que caiu sobre nossas cabeças há alguns dias. Sim, eu invadi a arena dos jogos vorazes, e não, isso não foi um elemento surpresa. E sim, eu incentivei o início de uma revolta — puxou o ar com força, já estava esquecendo que tinha que respirar — Mas vocês, residentes dos distritos, me entenderam errado — sorriu outra vez e manteve, de forma sádica — Eu quero melhorar suas vidas, não através de violência, através de intervenção pacífica, peço por favor, que parem essa revolta agora, se organizem e escolham um líder para representá-los, e então sim vamos conversar

Homens e mulheres assistiam a transmissão ao vivo, é claro que eles ficaram em dúvida, e o ódio em seus corações só se tornou mais forte.

Alexandra Woods está viva — não precisava contar isso mas contou, sabia que eles pegariam esse sinal — Somos aliadas e vamos ajudar a todos, lamento profundamente a tragédia que aconteceu no distrito 6, se eu estivesse no comando, não permitiria tal desgraça — encarou a câmera e a alma de cada um que estivesse a ouvindo — Aos moradores de minha amada Capital, lugar onde nasci, cresci e aprendi tudo que sei: não deixarei que nosso estilo de vida sejam minimamente afetado, tudo ficará bem, e peço perdão por minhas ações na arena, se desejarem outra presidente, vou respeitar sua decisão.

Finn assistia ao pronunciamento em um bar local, sua missão era apenas estar por dentro da opinião popular da capital, algumas pessoas no bar gritaram com Clarke, xingamentos e ameaças, arremessaram suas bebidas contra a TV ou até riram sem acreditar, parece que as coisas estavam fora de controle, de uma forma que ela não havia previsto.

Você pretende continuar com os jogos vorazes? — uma repórter em frente a Clarke perguntou — Essa é a dúvida da maior parte da capital, estão preocupados com o futuro.

Clarke a observou quase sem acreditar que a maior preocupação deles não fosse a guerra se formando, mas sim o entretenimento com morte de crianças. Ela sorriu contra sua vontade e voltou os olhos a lente, sabendo que Lexa a ouvia, seus pais a ouviam, Madi talvez a ouvisse, e com azar, até Niylah, seja lá onde sua alma estivesse — Os jogos vão continuar, e para compensar, faremos mais um ainda esse ano.

A informação repercutiu alegria e ódio, os distritos não aceitaram a escolha e a revolta explodiu outra vez, a opinião pública da capital se tornou positiva para Clarke, mas a opinião dos distritos despencou no gráfico da negatividade.

Lexa desceu na estação, direto para uma batalha horrenda, os pacificadores já saiam atirando bombas de fumaça, granadas e dispararam suas metralhadoras até que elas fervessem com o calor do disparo. Os irmãos Blake seguiram a garota Woods, o gesto que Clarke fez na arena os protegia e revelava de que lado estavam, não foram atacados pela resistência, mas uma batalha começou contra os soldados, os matando pelas costas e explodindo muitos deles.

Octavia e Bellamy não carregavam o peso de matar, era menos estressante apenas seguir ordens, já Lexa não sofreu tanto quanto no passado, ela estava se acostumando a ser cercada pela morte, mantinha em mente que cada guarda era o assassino de Anya, Ontari, Ilian ou Costia, e isso lhe dava forças para desligar o coração e agir conforme o plano.

Clarke passou todo o processo para assumir posse do título oficial de presidente, ninguém ousou questionar, Roan e Ash ficaram próximos a todos momentos, apenas garantindo sua integridade física.

Enquanto lutava no distrito 12, Lexa percebeu uma falha horrível no plano de Clarke, algo que ela não perceberia sentada em sua mesa presidencial.

HEY! Vocês dois, comigo — chamou a atenção dos irmãos Blake, recuando entre as casas e retornando até a própria, saiu dali não tinha nem 2 semanas mas pareciam dois anos. Retirou o capacete e sentou-se no chão, deixando a arma ao seu lado. Bellamy sentou-se na frente dela, mas manteve o capacete, apenas esperando. Octavia foi mais impaciente — O que foi? Precisamos voltar

Isso não vai funcionar — Lexa deslizou a mão ao aparelho no ouvido — Clarke?

Estou aqui — Griffin falou baixo, poderia até achar que foi outra pessoa a chamando, mas só uma pessoa tinha aquele sotaque

Isso não vai dar em nada, o distrito 12 não vai aguentar esse ataque, não estávamos prontos e.. não vamos chegar nem na fase 2 do seu plano — deslizou a mão no pescoço, odiando a sensação de estar suada — Acredito que em todos os lugares, a situação é a mesma.

Lexa — um civil armado invadiu a casa atrás dela, uma marca de sangue forte indicava um tiro no ombro, mas ele não pareceu se importar — Eles estão avançando muito rápido — o homem a olhava como se esperasse uma ordem, uma salvação, uma estratégia.

Deixe-me pensar — Griffin deu conta de umas 20 ideias ao mesmo tempo, filtrando rapidamente as mais inúteis

Não temos muito tempo

Um tiro se prendeu nas costas do homem na porta, o som de um "PIB" começou a apitar nele rapidamente

BOMBA — Octavia Blake teve tempo de dar um chute no abdômen do rapaz, tentando o afastar um pouco, sua morte já era inevitável. Lexa e Bellamy reagiram junto com ela, os três correram para a única direção oposta, o quarto, mas a bomba explodiu com tanta força que os derrubou no chão, e parte da casa explodiu.

Clarke arregalou os olhos com o som realmente alto da explosão, ouvindo o ruído no aparelho como se ele tivesse sido afetado, mesmo que fosse feito da tecnologia mais avançada, isso só poderia estragá-lo se Lexa fosse explodida ou algo muito próximo, a níveis perigosos. Esperou alguns segundos com paciência para o aparelho voltar, e ele voltou — Lexa? — a voz saiu robótica para a morena

Tudo bem — Woods continuou jogada no chão, apreciando o fato de estar inteira, não sentindo nada de diferente no corpo

O último vagão do trem esconde todas as armas e bombas, de vários tipos diferentes, preciso que exploda tudo.

Lexa sorriu suavemente com o pedido, gostava das missões perigosas, ouviu o teto da casa ranger enquanto Bellamy se aproximava preocupado, a puxando pelo braço e perguntando se ela estava bem.

Considere feito, mas isso não vai nos impedir de voltar? — Woods sabia a distância dos distritos e sem um trem, dificilmente iriam a algum lugar

Tudo tem um preço, vocês vão ter que andar um pouco..

— Um pouco?! Ah, não, você não tem noção de caminhada, isso vai levar tipo.. dias.

Você confia em mim? — Clarke voltou sua mão a um walkie-talkie que usava apenas com Jasper

Puff — a morena bufou, irritada com a pergunta e a ideia de ficar "isolada" no 12 — E eu tenho opção?

Relaxa, faz o que eu mandei e me avise — Clarke desligou seu aparelho e contatou o primo — Como vai com os sistemas?

Nada bem, depois da morte de Snow alguém deu uma ordem para bloquear tudo, é difícil quebrar as criptografias, não temos tempo — Jasper observava o painel, Raven e Becca estavam juntas mexendo nas portas de acesso, ao menos 62% do sistema estava com acesso bloqueado

Foi o Cillian, ele é chefe dessa área — Clarke suspirou com raiva — Se não me avisaram é porque o movimento de revolta se estendeu aqui dentro, Luna, você tem uma missão...

A ruiva estava junto com Raven quando ouviu o pedido, concordando

Comandante.. — Roan se aproximou de Clarke, mas não além de um passo — Se explodirem a ferrovia do distrito 12, os outros distritos serão imediatamente bloqueados em caso de emergência, sua namorada e os irmãos Blake não vão a lugar algum.

Eu sei, quero manter eles fora disso — Clarke observou Roan, achando que seu aparelho ainda estava desligado — Não me julgue Roan, eu preciso que ela fique segura, posso lidar com isso sozinha, mas sabe com o que eu não posso lidar?

A morte dela — o homem completou

Isso — Clarke voltou a atenção a Ash — Lexa e Madi são minhas prioridades absolutas nesse momento, pode me mandar um relatório a cada 12 horas sobre o estado de saúde das duas?

Ash apenas concordou com a cabeça, ela não concordava totalmente com a situação, mas seguiria Roan em qualquer cenário que ele estivesse.

Lexa ouviu a conversa, parando na metade do caminho em direção a estação de trem, deveria sentir raiva de Clarke? Como ela ousa não confiar que sou capaz de lutar? Mas por outro lado... isso foi fofo. De qualquer maneira, Lexa não seguiria aquela ordem, tomaria sua própria decisão.

Abby cuidava dos soldados feridos que chegavam à capital, em um número grande. Sua missão temporária era cuidar deles, mas também investigar quais estavam dispostos ao novo regime da liberdade e quais priorizavam o bem da capital acima de tudo.

Nesse ritmo, pode receber alta amanhã — a doutora Griffin sorriu e verificou a ficha médica — Vai continuar nessa luta?

Com certeza — o soldado se mantinha firme como qualquer homem moldado pela guerra — Esses malditos precisam aprender quem manda e quem obedece, não se preocupe doutora Griffin, vou garantir o bem da sua família — agora ele a olhou e sorriu friamente.

Okay, você precisa receber um soro, tem medo de agulhas? — Abby era tão esperta quanto Clarke, se afastou para buscar o soro e tudo que era necessário, o soldado virou o rosto em direção a janela — Confesso que não gosto muito, recebi muitas injeções na infância, isso meio que.. me marcou.

Sinto muito, vai ser rápido, prometo que nem sentirá — Abby puxou uma seringa de ar do bolso, já ensanguentada pois não era a primeira vez que usava em um paciente, ela foi rápida em aplicar a dose fatal no homem. Haviam muitas formas de se matar um paciente sem deixar rastros, dependendo da saúde, uma seringa daquelas bastava, em outros casos, ela usava veneno, e ninguém desconfiaria.

Abby não gostava de causar mortes, isso não era o dever de uma médica, prometeu que apenas salvaria vidas, sejam elas quais fossem, e sabia que para salvar aquelas pessoas em sofrimento há muito tempo, precisava matar aqueles que confiavam nela.

Os distritos que estavam sobre controle voltaram a atacar, senhora — o capitão do exército informava Clarke, passando a ela todos os relatórios

Griffin balançou a cabeça por alguns segundos enquanto folheava as informações — Okay, mande seus homens recuarem.

O QUE? — o capitão reagiu sem pensar, indignado, mas logo engoliu em seco e recuperou o senso de noção — Me desculpe, o que você disse?

Recuar e esperar, não usem bombas, apenas as de fumaça, não matem crianças e muito menos pessoas desarmadas, crie outro plano para os conter — sorriu devolvendo o relatório

Senhora presidente, isso é inviável, eu levaria semanas até-

Foi interrompido

Problema seu, nossa reunião acabou, se descumprir minha ordem você será executado. Roan, o acompanhe até a porta

Vamos andando — Roan o puxou pelo braço enquanto o homem tentava formular algum pensamento, já que aquilo não tinha o menor sentido

Luna andava pelas ruas junto a Raven, em direção a casa do chefe de operações, Cillian, já havia algumas quadras que Luna percebeu que estavam sendo seguidas, puxando Raven para dentro de uma floricultura

O Cillian é florista? — franziu as sobrancelhas, confusa com o lugar enquanto olhava em volta

Shhh — a ruiva se inclinou para perto enquanto a levava até o balcão — Não percebeu um garoto baixinho nos seguindo? Vamos disfarçar..

Bom dia senhoritas — um idoso se aproximou do balcão com um sorriso encantador — Em que posso ajudar?

Estamos pensando em um casamento tradicional então.. viemos ver algumas flores — Luna sorriu igualmente gentil, fingindo normalidade. Raven imediatamente ficou vermelha como um tomate, arregalando os olhos, não tão boa em disfarçar

Claro claro, um casamento de duas garotas requer flores em dobro — o senhor sorriu ainda mais empolgado — Felicidade em dobro também, eu suponho, vocês tem alguma flor em mente?

Você tem, amor? — Luna observou Raven mas desviou lentamente os olhos até a porta, enquanto o misterioso que as seguia entrou

E-eu.. gosto de laranja.. — Raven engoliu em seco enquanto o senhor buscou um catálogo, abrindo sobre o balcão e mostrando todas as flores laranjas enquanto explicava sobre elas

(...)

Porra eu encomendei 50 buquês de lírio laranjas — Raven pressionou as mãos no próprio rosto — Pro meu casamento que vai ser daqui 2 meses

Luna deixou ela andar na frente, se virando rápido e puxando o garoto que as seguia pela orelha para perto, ele imediatamente gemeu de dor mas ela não ligou — Quem é você? Pra quem você trabalha?

Aí aí aí.. isso dói — o garoto asiático resmungou, ficando na ponta dos pés enquanto ela o puxava — Me chamo Monty Green e eu não trabalho pra ninguém

Por que está nos seguindo? — Luna puxou ainda mais forte, Raven se virou encarando a cena — Hey calma Merida, é só uma adolescente

É que eu sei o que vocês estão fazendo e eu quero ajudar — Monty tentou se livrar da mão dela e deu um gritinho de dor quando ela apertou mais

Do que está falando?

Eu sou bom com os sistemas e sei que o Cillian bloqueou todos, o meu pai trabalha com ele e comentou com minha mãe uma tentativa de golpe de estado, não querem que a Clarke seja presidente porque ela é a favor da liberdade.. por favor, me solta

Solta ele, tadinho — Raven puxou a mão de Luna e ela finalmente o libertou — Não é uma ameaça

O garoto se encolheu levando as duas mãos ao ouvido afetado, massageando pela dor — Parabéns pelo noivado

Obrigada — Raven sorriu como se realmente fosse noiva de alguém

Nos conte mais sobre esse golpe de estado — a ruiva cruzou os braços e se aproximou mais do garoto, querendo parecer ameaçadora mesmo.

HEY, você tá bem? — Clarke sorriu em uma chamada de vídeo através do tablet

To, i voxe? — Madi encarava a tela como uma senhora que ligou a câmera frontal por acidente

Eu tô ótima, já tá com saudades? Eu estou!

— Naum — sorriu um pouquinho — Quem é exa? — apontou o dedinho para si mesma na ligação

É você — Gabriel apareceu do lado dela — Mas presta atenção na Clarke

Pretendo te ver em breve — Clarke sorria sem nenhum motivo, só era muito divertido ver Madi — E vou te ensinar todas as brincadeiras da minha infância, e vamos ver muito desenhos juntas

Como tila? — Madi olhou para o homem ao seu lado — Tila ela daqui

Tirar ela? Da onde?

O bebê apontou a tela

Ah, não dá, ela não tá aí dentro — tentou explicar mas.. como se explica isso a alguém tão nova?

Clarke fez um biquinho de choro quando percebeu a intenção do bebê, seus olhos imediatamente encheram de lágrimas — Você disse que não tava com saudades, poxa

Volti logooo — Madi deu um sorrisinho perto da câmera, se aproximando e dando um beijinho na tela, mas logo entregou o tablet a Gabriel, perdendo o interesse na conversa e se preocupando com coisas de criança, brincar.

Você não vai dar tchau? — o homem a encarou mas o bebê só negou e saiu andando, indo até Josephine para perturbá-la um pouco — então Clarke, aqui é tranquilo, não tão divertido como a capital mas.. é como um refúgio no meio da floresta, tivemos que percorrer uma distância longa a pé depois de sair do trem

Tá bom, qualquer coisa você me liga outra vez — Griffin limpou as bochechas e esfregou os olhos — Ela tá comendo direito? E você e Josephine?

Aha, a Josephine tá adorando os insetos — ele riu — Ontem ela chorou porque um sapo pulou na bota dela, aí a Madi pegou o sapo e correu atrás dela — virou a câmera e exigiu as duas conversando, a mais nova pegou terra na mão e ficou jogando na garota enquanto ela brigava por isso — São boas amigas, como você pode ver — voltou a virar a câmera para ele — E como vão as coisas aí?

Tudo sobre controle, preciso desligar, por favor mantenha todo mundo em segurança — desligou antes mesmo dele responder, deitando o rosto sobre a mesa e pensando em um jeito de acelerar o tempo.

Roan e Ash se falavam por olhares, estranhando aquela nova versão de Clarke.

Lexa chegou a estação de trem e assassinou silenciosamente o guarda que protegia as bombas, cortando seu pescoço por trás e deixando o corpo cair nos trilhos, ela, Octavia e Bellamy, se encarregaram de transformar tudo em minas terrestres, espelhando as que de fato eram uma mina terrestre com bombas comuns, em uma distância que faria com que, se uma explodisse, todas iriam explodir.

Lexa comandava aquele distrito, todos os civis a seguiam com orgulho, como sua comandante, sequer questionam suas ordens, e ela retornou até eles, se juntou a um grupo para espalhar a informação das bombas e armarem um ataque que mataria cada pacificador daquele distrito.

Vamos atacar ao anoitecer, fazê-los recuar até o campo minado — apontava e gesticulava — Vocês não devem avançar além da minha posição na batalha, okay? Eu ficarei na linha de frente

Todos os civis concordaram, armados, alguns eram tão jovens quanto o primeiro garoto que ela viu morrer na arena.

Outra coisa — Lexa desviou o olhar do rosto deles e observou as próprias mãos com luvas, sabia que o assunto era difícil — O que vocês acham da Clarke Griffin?

A morte dela já foi planejada quando você ainda estava nos jogos, comandante — um homem exageradamente alto comentou, Lexa teve que olhar para cima para achar seu rosto

Eu não quero que a odeiem, eu sei que é pedir demais — ela percebeu a indignação no rosto de cada um com essa fala — Mas a Clarke não é quem parece ser, ela me ajudou, salvou minha vida, e se estou aqui lutando pela vida de vocês, é porque ela também pretende salvá-los

Isso não importa, ela é um deles — outra mulher comentou, seus olhos carregavam o peso de um mundo sem esperanças — E isso nunca vai mudar

Queremos justiça, igualdade, não vingança — Lexa sentiu um pouco de raiva mas não havia como contrariar — Clarke se tornou minha amiga, não estou dizendo que vamos perdoar tudo, podemos dar a ela uma sentença digna, mas.. não vingança, entendem?

Sentença digna? — outro homem, mais baixo e revoltado revirou seus olhos — Me desculpa Lexa, mas você não pode falar sobre ela conosco, tenho toda admiração por você e morrerei por nossa luta — os olhos verdes dele fixaram nela — Mas para aquela vadia, só resta a morte.

Todos ali concordavam, Bellamy, Octavia e Lexa estavam sozinhos na sua, Clarke era tão odiada quanto Snow, independente de sua idade e ações, ter o sangue dele a tornaria em um eterno alvo.


Fim do primeiro dia de revolução



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