Lexa se sentiu estranha e vazia assim que Griffin se foi, sua intuição nunca falhava, e agora ela piscava um alerta vermelho, uma escolha errada, não entendia ainda, apenas sentiu que não deveria ter sido tão "má"...
— Podem ir, Lexa está no ambulatório — Clarke informou assim que abriu a porta do quarto que escondeu os irmãos Blake, com o rosto marcado pelas lágrimas
— O que aconteceu? — Octavia se aproximou antes, julgando sua postura
— Eu disse que ela seria má — Bellamy realmente avisou anteriormente, Clarke riu leve e exausta — O que vocês fariam se a pessoa que mais te faz se sentir viva, quer te ver morta?
Raven achava incrível sua capacidade de mover a perna, ainda não conseguia se levantar ou fazer grandes movimentos, mas ficou tão animada que passava todo tempo livre se esforçando, e isso era bom de acordo com a fisioterapeuta
— Hey, ainda dormindo? — Luna se aproximou com um sorriso meigo, entregando a ela uma gelatina no potinho — Roubei pra você — Rae se sentou na cama e aceitou a sobremesa — Honestamente, como eu poderia dormir com o som do canhão?
O canhão atirou outras duas vezes depois de saírem da arena, anunciando a morte de Costia e Mccreary, os últimos.
— Sua irmã venceu — Luna abriu um sorriso ainda maior quando Raven arregalou os olhos e também sorriu, ficando eufórica em seguida — Onde ela está? Eu posso ver? Ela tá bem? — Afastou as cobertas e colocou as pernas para fora da cama, tentando levantar, mas Luna a impediu
— Calma passarinho, ela está bem, sendo tratada, apenas alguns arranhões, deixe-a descansar, okay? Podem se ver amanhã cedo. O presidente tá meio.. revoltado, com a forma que as coisas terminaram.
— O que aconteceu? — Raven não assistiu a quase nada
— Conhece Clarke Griffin?
— Uhum, eu e a Lexa apelidamos ela de "insuporchata" — voltou a atenção a gelatina, comendo com a colherzinha — Qual é a fofoca?
— Tecnicamente eu não posso te contar, mas tecnicamente eu nem poderia estar aqui dentro agora — a ruiva mordeu os lábios enquanto sorria — A Clarke entrou na arena com armadura e metralhadora, atravessou a floresta toda em alguns minutos e matou o último oponente da Lexa
Raven abriu tanto a boca que ouviu a mandíbula estalar — Por que? Isso não é contra as regras?
— Sim, ela fez algo que ninguém nunca teria coragem ou permissão para fazer. Mas o amor nos torna patético — Luna sentou ao seu lado, deslizando uma mão a uma mecha de cabelo que escapou do penteado da morena, ajeitando delicadamente atrás de sua orelha e sussurrando — As consequências são inimagináveis, e a Clarke.. meio que incentivou o início de uma revolução, sabe? Sempre tivemos opositores, todos os distritos entram em conflito e estão falando em guerra, Snow vai mobilizar tropas, é melhor você voltar a andar logo, quem sabe quando precisará correr? — Raven ficou imediatamente preocupada, observando Luna que tinha um sorriso triste
— A Lexa gosta da Clarke? Não entendi essa parte.
— Falei em guerra e seu interesse é um romance? — riu brevemente
— É que a Clarke é nosso alvo de bullying, a Lexa xingava o quanto ela era bonitinha, agora estou imaginando o futuro disso.
— A Clarke gosta, muito, muito mesmo, não faria isso por qualquer uma, mas acho que a sua irmã não gosta tanto assim...
Griffin retornou para casa depois de levar os Blake até o ambulatório e deixar um pacificador responsável por eles, para não deixá-los perdidos. Quando chegou, já era de manhã, Madi dormia na sua cama mas seus pais não estavam lá. Poderia se preocupar e ir atrás, mas estava emocionalmente e fisicamente esgotada.
— Eu sinto muito, Madi — observou o rostinho, dormia em tanta paz, sem saber que a pior coisa na sua vida aconteceu — O mundo não é bom, princesinha, e muito menos justo — levou a mão ao seu cabelo e pensou em acariciar, mas estava tremendo, se sentia culpada por tantas coisas, as palavras de Lexa se agarraram em seu cérebro e martelaram sem parar, se tivesse invadido a arena antes, poderia impedir a morte de Costia, mas ela entrou lá com o intuito de matá-la.
Em pensamentos refletia o quanto foi irracional, o quanto foi desumana, tentou encontrar qual era o seu problema, o que tinha de errado, se sentiu um monstrinho, doente, cruel, e injusta, tão injusta quanto o mundo.
Madi apenas respirava, uma, duas, três, continuava, Clarke a imitou, no seu ritmo, engolindo em seco, decidida a seguir em frente daquela forma: respirar uma, depois outra, e é isso.
Sala presidencial
Snow estava reunido com os membros do alto escalão da sociedade, totalizando dois ministros, o principal general do exército, seu filho Jasper, o senhor e a senhora Griffin.
— Os patrocinadores não ficaram felizes com a forma que tudo acabou, alguns acharam que foi um elemento surpresa e elogiaram, mas isso ainda quebrou várias regras dos jogos.
— Era um massacre quartenário, papai — o garoto manteve os olhos na mesa — Não existem regras em edições especiais...
— Tem muita razão, Jasper, e é por esse motivo que eu poderia perdoar Clarke — Snow apontou os pais dela — Mas o que eu faço sobre as ações dela? Primeiro, fez um sinal proibido, e iniciou um motim em absolutamente todos os distritos, iniciando uma tentativa futuramente falha de golpe de estado — bateu a mão com força contra a mesa, mas isso não intimidou Jake ou Abby, apesar de manter os olhos sobre eles — Duas sobreviventes, pacificadores mortos, e nosso sistema foi comprometido no mesmo instante, impossibilitando de encontrarmos a identidade dos dois assassinos que ajudaram ela e invadir os jogos — voltou a olhar o general — Nem sabemos quais estão ao lado dela e cooperaram naquela chacina, temos inimigos mais próximos do que eu imaginei, pode até mesmo ser um dessa sala.
— Não haverá golpe, como o senhor mesmo disse, Clarke ainda é uma adolescente inconsequente — Jake suspirou um pouco decepcionado — Ela nunca foi rebelde, tenho certeza que alguém a manipulou, ela tem seus dias ruins e as vezes apronta algo, como fugir para beber, sumir por dias com o namorado, mas não um golpe de estado
— Sua filha conhece a política em sua forma completa, senhor Griffin — Snow parecia ignorar que eram irmãos — Eu mesmo tive a honra de ser o professor, Jasper e ela aprenderam juntos, mas pergunte a esse idiota o que é anarquismo e ouça o belo som do silêncio! — encarou o filho, o garoto só manteve a cabeça ainda mais baixa, suando frio e pela primeira vez na vida realmente sentiu medo do que aconteceria — Acha que eu não percebo quem tem ou não espírito de liderança? Clarke tem, é por isso que eu a ensinei por anos, é por isso que eu conversei com vocês sobre torná-la a futura líder de Panem. Como faço agora que a minha sucessora se tornou uma traidora?
— Devo lembrar que ela ajudou nesses jogos, em cada etapa, até no planejamento, desde a base até o topo — Abby o encarou como uma mãe que não aceitava ouvir alguém acusar sua filha, independente se ela era ou não inocente — Ela não se importa com eles, nem um pouquinho, me pediu para pegar uma garota deficiente e fazê-la andar para joga-la aos leões naquela arena, sua acusação é ridícula, é óbvio que ela fez isso como forma de entretenimento, não traição
— O entretenimento que ela queria é mulher, Abby — Snow sorriu com raiva — Não precisei assistir muito do replay para confirmar duas coisas — levantou um dedo — Primeiro, sua sexualidade — levantou mais um — E segundo, sua lealdade.
— Podemos reverter a situação total, presidente — o general informou com calma — Com uma boa estratégia de marketing, vocês podem reverter os últimos acontecimentos, e até mesmo virá-los ao seu favor, algumas baixas nos distritos e tudo volta a ser pacifico. — com "baixas" ele quis dizer "mortes".
— Quero a morte de Clarke Griffin — Snow chamou a atenção de todos com esse pedido — Silenciosa e indolor, ninguém precisa saber, mas não quero uma traidora na família.
— Pai, pense direito — Jasper apoiou os braços na mesa — Ela se desviou, talvez.. essa garota tenha bagunçado sua cabeça, mas a Clarke pertence a nós, não desistimos da família dessa maneira, não matamos família, uma conversa pode resolver tudo, por que não ouvir o lado dela? Talvez tenha algo que não sabemos, algo útil.
— Se as coisas são tão trágicas assim, sugiro um banimento, deserção, assim ela fica fora do jogo e você consegue o que deseja — Abby era fria como sua profissão exigia, Jake perdeu a voz quando ouviu o pedido de execução, sentindo-se traído e fechando a cara, emburrado e revoltado
Snow suspirou profundamente, a sugestão era boa, e ele contava com Clarke, sempre contou com ela, estava profundamente magoado por essas ações, mas sabia que adolescentes eram idiotas, lembrando-se dela criança e toda sua bondade perigosa, seu poder era grande até para uma garotinha, ela sempre foi a melhor líder que ele já viu, ou estudou sobre. Perfeita para ocupar seu lugar, mas também perfeita para mudar o mundo por completo — Precisamos matar a Lexa
— Não! Hey, calma aí — Jasper negou rapidamente — É só mandar ela de volta ao distrito 12, nem tudo se resolve na bala
O presidente concordou, e encerrou a reunião, tirando um tempo sozinho para pensar na melhor opção, em testar a lealdade de Clarke, lembrá-la de quem era, o problema é que havia uma falha em seu sistema, e Clarke já a conhecia, isso era um problema quase irreversível agora...
Ambulatório
— Vocês duas, podem me acompanhar — uma enfermeira pediu gentilmente, levando Maya e Costia até um ambiente hospitalar mais organizado e confortável, Octavia e Bellamy tiveram permissão de seguir com ela. O quarto tinha duas camas realmente boas. Assim que se deitaram, Maya foi espetada por uma agulha para receber um soro — Volto logo com um lanche para vocês
— Obrigada — Maya sussurrou — Pode chamar o Jasper?
— Claro que sim querida.
Assim que a porta se fechou, Bellamy observou a melhor amiga, já haviam conversado um pouco no ambulatório anterior — E a Clarke?
Octavia deu um sorriso safado, o que fez Lexa imediatamente corar e entender que eles sabiam de algo
— Não conheço, nunca ouvi falar, quem é Clarke? — se fez de boba
— Aquela que você comeu antes de ir pra arena — Oc lançou sem pensar e recebeu uma encarada do irmão
— Ah, ela me forçou! — Lexa entrou na defensiva em um segundo — Eu não queria mas precisava de patrocínio
— Ela não te forçou, só te incentivou — Maya falou com um sorrisinho, todos a olharam
— Me ameaçou! disse que ia matar minha esposa e meus dois filhos — Lexa fez um biquinho
— Hey, é sério — Bell sentou em uma cadeira próxima a cama, cruzando os braços e sorrindo um pouquinho — Você gosta dela?
— Absolutamente não.
— Que azar, ela gosta de você — Oc se jogou aos pés da cama, sentando e encostando as costas na parede — Na realidade, tentamos ameaçar ela mas digamos que.. ela tinha cartas melhores na manga
— Muito melhores — Bell concordou — Falou que estava te ajudando, garantiu que ficaria bem, mandou cuidarem de Raven, a acompanhamos até o distrito 11
— Espera, Raven? Mas Por que foram até o 11? — Que história estranha...
— Ela nunca foi em um, engraçado né? Não tinha idéia do que acontecia lá, nesse ponto eu também achava Clarke uma vadia desprezível — balançou a cabeça — Mas ver ela no 11..
— Com aquela cara de perdida — Octavia completou
— Os olhos são as janelas da alma, não são?
— Uhum, aqueles olhos... — Oc sorriu fingindo estar apaixonadinha — Eu não ia reclamar de ser "obrigada" a dormir com ela por patrocínio mas okay
— Ela não é o problema, ela tá mais perto de ser a nossa solução — Bellamy parecia animado com o assunto, como se já confiasse em Clarke
— O que quer dizer? Ela não é inocente — Lexa o encarou, odiando o rumo da conversa e o fato de acreditarem em suas manipulações
— Pode parecer muito esquisito, mas sim, ela é um pouco — ele deu de ombros, se inclinando para perto, apoiando a mão na cama — Não dá para descrever o que aconteceu direito, ela meio que salvou a vida de uma criança, talvez não do jeito certo mas.. Eu até gostei da Clarke, arriscamos nossas vidas para acompanha-la até a arena, e mesmo assim ficamos bem, sem um arranhão, como ela prometeu que seria.
— Parabéns Bell, foi manipulado por outra loira peituda — Lexa aplaudiu
— Eu também fui — Oc levantou a mão — E ela fez a Raven se submeter a uma cirurgia, e agora ela tá a beira de andar outra vez. Entendo tudo que ela é de ruim, mas... até então, estamos vivos, não é? estamos bem, estamos a salvo, você não ganharia sem ela
Lexa se afastou dos dois e chegou mais perto da parede, encarando a tinta roxa nela, o quarto era relativamente escuro, como se fosse feito para dormir, não queria mais conversar, foi muita informação ao mesmo tempo, e pensar que a maior parte de sua equipe ainda estava lá, jogados e mortos, lhe deixava sem chão. A morte de qualquer um de seu povo a afetava, é por isso que ela não conseguia ver nenhuma vantagem em Clarke — Aquela garota vai ser presidente um dia, a comandante da morte, porque tudo que ela faz é matar, por favor não me peçam para tentar entender alguém desse nível — mas mesmo que falasse isso, sem controle dos pensamentos, ela tentava entender.
— Acoida! — Madi bateu forte no rosto de Clarke, acertando seu nariz
— Au — Griffin sentiu o ardor do nariz sensível irradiar pelo rosto, coçando-o — Hey! Não pode me bater, senão eu vou te bater
— Miminhoca — Madi deu um sorrisinho — Acoida miminhoca
— Eu tô acordada — sentou-se na cama para provar, encarando o relógio ao seu lado que marcava as 11 da manhã — Como tem coragem de me escravizar? Olha — apontou o relógio — Eu não dormi a quantidade certa
Madi olhou o relógio e olhou ela de novo — Não intendi
— O que você quer? Por que me acordou?
O bebê só apontou para a boca
— Fome? Não, não, aqui nessa casa é jejum intermitente — voltou a se deitar e fechou os olhos, sentindo uma mãozinha agarrar em sua orelha e puxar com força — AÍ! Tá! Inferno, quer comer o que? Não sendo minha ex, pode pedir o que quiser.
Lexa finalmente conseguiu adormecer, mas os seus sonhos eram apenas pesadelos da arena, revivendo aqueles momentos em um looping sem fim. Seus olhos se mexeram impacientes por baixo das pálpebras e sua pele estava suada, às vezes falava algo como "não" e choramingava, as lágrimas escorreram nas laterais do rosto.
— Lex.. — Uma voz falou baixinho e ela despertou no susto, sentando na cama em um pulo e respirando ofegante, estar a "salvo" era um alívio, mas o trauma da arena só estava começando.
— Oi? — ela observou Jasper, que a chamou, ele sorriu gentil e a entregou uma toalha de mãos — Você estava tendo pesadelos, já é hora de acordar, dormiu um dia inteiro, são 10 da manhã
— Como a Maya está? — pegou a toalha e secou o rosto, observando a outra cama
— Melhorando, vou pegar seu café da manhã e você toma um banho, okay?
— Não temos uma entrevista dos vencedores? Todos os anos tem — ela se lembrou das responsabilidades
— Não dessa vez, aconteceu muita coisa enquanto você dormia...
O dia anterior
— Agora tá bom? — Clarke entregou a Madi um copo de leite, ela apenas tocou no objeto e negou — Muitu quenti — a loira virou mais leite para reduzir a temperatura — E agora? — o bebê tocou — Muitu gelatu
— Ah você vai tomar assim mesmo, nem tinha comida e agora tá reclamando da temperatura — Clarke brigou um pouco, estressada pela falta de sono
Madi apenas ficou quietinha e puxou o copo para perto, se esquivando um pouquinho e demonstrando algum medo
— AHHH NÃOOOO, não faz isso — fez um biquinho e se aproximou dela — Me desculpe querida, eu não deveria falar assim com você — agora usou sua voz doce e acariciou a bochechinha — Tá tudo bem reclamar se algo não te agrada. Vou esquentar um pouquinho mais seu copo, okay?
Madi concordou um pouquinho.
— Ótimo.
— Você é de fuder mesmo viu — Abby suspirou alto enquanto entrava na cozinha — Só me arruma problemas, mas eu te amo do tamanho da dificuldade que você é
— Não exagere, é melhor uma filha rebelde do que uma filha mansinha — Jake seguiu logo atrás
— Desculpem, eu estava totalmente drogada e fora de minhas faculdades mentais — Clarke sorriu enquanto ligava o microondas pela terceira vez
— Liga a TV e observe as consequências de suas ações irresponsáveis — Abby pediu, mas ela mesma ligou a TV.
Os três se voltaram a tela, era um canal especial que noticiava apenas para os membros do alto escalão, e ele exibia câmeras nos distritos, todos, todos sendo atacados, a população se voltava contra os pacificadores, muitos moradores e soldados mortos, civis armados, gangues se formando, e o sinal de Griffin sempre sendo feito por alguém.
Seu coração acelerou com a imagem, um pouco surpresa com sua influência — Eu os motivei?
— Que que cê acha?
— Leiti — Madi pediu quando ouviu o microondas apitar, Clarke entregou a ela e não questionou se estava bom, então ela achou que estava.
— O que isso quer dizer? Podemos reverter?
— Filha, agora é guerra — Jake passou um braço por seu ombro e a abraçou de lado — O presidente disse que isso é reversível, mas.. sabemos que não, eles tomam mais força a cada hora, as coisas estão acontecendo rápido demais, e precisamos escolher um lado.
— A Capital ou os Distritos
— Não, Clarke — Abby a observou — Sem uma líder competente, isso nos levará ao declínio, é o fim de todos nós, sem capital e sem distritos.
— "Uma"?
— Foi mulher o suficiente para começar uma independência, seja mulher para apoiá-los até o fim — Abby desligou a TV outra vez e se virou para ela — Sei que quer isso, nunca achei que a crueldade lhe vestisse bem, seu coração não apodreceu mesmo depois disso tudo.
— Eu e sua mãe não somos os maiores fãs desse regime — Jake sussurrou
— Não?
— As coisas sempre foram assim, mas eu e seu pai realizamos o treinamento militar quando éramos jovens, vivenciamos muita crueldade, mas não é fácil mudar o mundo.
— E então você nasceu...
— A garotinha que faria isso ser fácil — Abby levou uma mão a sua bochecha e apertou, como costumava fazer quando ela era uma criança — Nós dois estamos às suas ordens, vamos morrer então que seja pela liberdade, ninguém merece viver daquela forma
Clarke sorriu inacreditada com esse apoio, pensando no que faria agora e qual missão poderia designar aos seus pais, a vida deles estava em suas mãos...
— Raven! — Abby entrou no quarto da garota, fechando a porta mais rápido do que faria normalmente ao ver Luna simplesmente dormindo junto a ela — Luna?
— AI MEU DEUS — a ruiva deu um pulo no lugar, escorregando da cama, gemendo de dor quando suas costas atingiu o chão
— Ih, você acabou dormindo aqui — Raven se sentiu enquanto esfregava os olhos, bocejando — Ontem você também dormiu aqui
— É que a gente tava conversando muito — Luna se levantou rápido, limpando as roupas e ajeitando tudo — E eu perdi a hora
— Preciso de vocês duas. Raven, solicitei a um engenheiro que montassem um dispositivo para ajudar na sua fisioterapia, tomem um café e se arrumem formalmente — sorriu normalmente antes de sair da sala outra vez. Se encontrando com o marido no corredor
— Quero você nas câmeras de segurança, derrube o sistema inteiro quando eu fizer o sinal — ordenou, Jake apenas concordou
Capital: Panem
36 horas desde o início da revolta
Lexa já estava bem fisicamente, seu corpo levemente dolorido, mas nada que a impedisse de se levantar, trocar de roupas e seguir junto a Jasper em busca de Clarke. Maya ficou para se recuperar.
— Mas por que ela iniciaria protestos? Contra a capital? Estamos falando da mesma pessoa? — Lexa andava logo atrás dele pelas ruas da capital, usando uma máscara cirúrgica e preta no rosto, não era tão comum mas nada ali era comum então ninguém prestou uma real atenção nela
— Você não a conhece muito bem — Jasper sorriu andando na frente, entre todos aqueles prédios e casas, aquela cidade totalmente tecnológica — Julgou o livro pela capa, mas era um livro de poesias de amor — o garoto se virou e entrou em uma rua apenas de casas, todas pareciam exatamente iguais e decoradinhas em cores que combinavam — Inesperado, eu sei — foi até a porta de uma delas, encostando o dedo no scanner de digitais e abriu, puxando Lexa e a empurrando suavemente para dentro — Dê uma chance — fechou a porta em seguida, ele tinha outros assuntos para cuidar.
Lexa andou silenciosamente pelo lugar, não havia ninguém no andar de baixo, mas antes que subisse ouviu uma voz vinda dos fundos.
— Não, não é para amassar — Clarke tomou a flor da mão de Madi — Nem arrancar, são tulipas.
— Tutipas — o bebê repetiu e observou as outras cores, apontando o dedinho — I exa?
— Todas são tulipas.
— Exa? — apontou outra flor mais distante
— É a mesma coisa, só muda a cor
Lexa abriu com cuidado a porta do fundo, saindo alguns passos para fora e observando as duas conversarem
— Todas as flores possuem um significado — Clarke explicou mas temeu que ela não fosse entender essa parte — Por exemplo, uma flor amarela e grande, o girassol, significa flor do sol — Clarke arrancou uma pétala amarela, entregando ao bebê — Isso é amarelo, essa cor, sabe?
— Gilaso — Madi concordou
— Não! Não, isso é uma tulipa amarela, o girassol é diferente, enfim. Entendeu sobre o significado único de cada uma? Flor do sol
— Não xo burra — devolveu a pétala a ela
— Então, a tulipa significa o amor perfeito, eu não sei exatamente tudo sobre ela porque o conhecimento se perdeu com o tempo, então eu mesma inventei uma tradição — Clarke sorriu gentil, voltando a atenção ao jardim enquanto escolhia uma flor — Eu prometi só entregar uma tulipa a alguém que eu tivesse um amor perfeito, não precisa ser eterno, só precisa ser.. perfeito para mim, na minha concepção errônea de perfeito, talvez você acha que isso é imperfeito mas não, o perfeito é variável de opinião a opinião.
— Tá.
— Escolhe uma cor — pediu, o bebê pensou enquanto os olhinhos examinavam todas, levando um dedinho ao queixo para pensar, apontando para o rosa.
Clarke não disse nada, apenas arrancou a flor escolhida e entregou para Madi enquanto lhe dava um sorrisinho — Eu te dou uma tulipa, mas não se ache muito importante, tá? Eu te conheço a pouco tempo e pretendo me livrar de você, só acho que alguém tinha um amor perfeito por você, então.. — não sabia se acreditava nisso, estava confusa demais sobre Costia e ainda sentia uma culpa nojenta por correr até aquela arena com o objetivo de matá-la.
— Tulipas são originárias da Ásia central, sabia? — Lexa pronunciou, dando um susto em Clarke por acidente, Madi apenas ignorou a presença dela e ficou rodando sua florzinha — O nome vem de "turbante", não é tão interessante — suspirou e chegou mais perto, se abaixando da mesma forma que Clarke estava para ficarem mais próximas de Madi — Elas não são flores tão difíceis de cultivar, existe uma rara onde duas cores se misturam, o branco e o vermelho, como um copo de leite se misturando com sangue.
Clarke pensou muito no que falar, tinha tantas coisas sérias para conversar, mas ao mesmo tempo era só isso que ela fez desde que viu Lexa pela primeira vez, conversou sobre coisas sérias — Eu nunca vi desse tipo, você já?
— Conheço um lugar que tem — Lexa tentou dar um sorriso forçado, mas só conseguiu sorrir de canto — Talvez um dia eu te leve lá
— Bem, acho que eu não tenho a coleção completa — Clarke olhou Madi, curiosa sobre essa flor rara, nunca ouviu falar disso, e como Lexa sabia? — Queria pedir desculpas, ou me desculpar de alguma forma, por tudo, mas se tornou grande demais para ser perdoável, virou até egoísmo ter a audácia de falar isso
— De quem é esse bebê? Não me diga que você é mamãe — Lexa observou Madi, e a garotinha negou — Não é mia mamãe
— Ela é a Madi — Griffin falou lentamente e baixinho, sentiu-se afetada por supor que aquilo afetaria Lexa. Ela já viu muitos "vencedores", todos tinham algo em comum nos olhos, como se o brilho fugisse deles, e os de Lexa não estavam diferentes, talvez agora piorasse
Lexa lembrou-se da sensação de suas mãos ardendo de tão forte que apertou aquela faca para matar Costia, mas ver o bebê não a afetou, ela achou que iria, mas por motivos estranhos, não.
— E por que ela tá aqui?
— Não dava pra deixar ela lá — a loira voltou a olhá-la, mas também havia algo diferente nos olhos de Clarke — Eu não vou conseguir descrever o que eu vi, é só... desumano.
Lexa concordou — Me desculpe por ser injusta com você — desviou o olhar para o jardim — É que depois de crescer no inferno, é muito difícil acreditar que o demônio não quer te queimar viva.
Talvez elas fossem rir em outro momento, mas não nesse — Me desculpa — Clarke se aproximou sem pensar muito, abraçando os ombros da morena e apertando de forma controlada, fechando os olhos antes que eles enchessem com lágrimas, evitava aquele contato, mas queria fazer isso desde quando chegou na arena, respeitar o "espaço" de Lexa e o fato dela não querer sua proximidade era algo que começava a machucar, e machucava muito rápido — Não entendo muito bem o que tá acontecendo comigo, mas parece que o mundo fica leve perto de você — apertou mais forte — Eu tinha um sonho, mas ele era impossível, então obedeci o Snow, meus pais, meus amigos, seguiu o que escolheram, gostei de ser má... Isso era pesado demais, me acostumei, e então você faz tudo ficar leve como era antes, quando eu ainda sonhava com o dia em que aquele canhão seria desativado.
Lexa não retribuiu o abraço a princípio, mas conforme Clarke falava ela a abraçou de volta, Madi se aproximou e tentou entrar no abraço, sorrindo simpática sem entender direito
— Eu não sinto o mesmo, Clarke — sussurrou com cuidado, com medo que aquelas palavras fossem machucá-la, mesmo que soubesse que iriam — Mas você me ganhou através do medo — apertou as mãos com raiva de admitir isso — Quando tirou o capacete na arena, eu senti tudo ao mesmo tempo.. sabe? Eu senti amor, um amor genuíno e insano, tão insano que eu quase enlouqueci — tentou manter a voz no mesmo tom, não queria demonstrar nenhuma fraqueza, nenhum psicólogo do mundo podia explicar o que houve naquela hora — Eu senti tanto medo, tanto nojo, tanto ódio.. que também quase enlouqueci, eu queria te matar e queria me esconder atrás de você, implorar para que me protegesse, porque eu não quero me proteger, me proteger custou tudo naquele lugar, e se você me protegesse, eu não precisaria perder mais nada. Mas por outro lado, eu só queria te matar e vingar cada pessoa, não é sua culpa né? Mas eu preciso culpar alguém além de mim mesma
Lexa sentiu o coração de Clarke pular conforme falava, e isso a fez abraçar mais forte. Madi cansou do abraço e voltou a se enfiar entre as flores, pisando onde Clarke proibiu anteriormente.
— Queria dizer que posso te proteger, mas isso é uma ilusão. E agora, as coisas serão muito piores do que foram naquela arena — Griffin foi a primeira a se afastar, segurando os braços de Lexa e a encarando nos olhos, transformando a conversa em algo sério — Me ajude, a capital pode me adorar mas os distritos adoram você, eles são brasas e você é o oxigênio que pode explodir o mundo — sorriu recuperando a esperança que perdeu a muito tempo — Eu tiro a sua culpa e a minha, somos duas garotas, não dava para impedir a morte da Anya e a de ninguém, se quer um culpado, por que não olha o verdadeiro culpado? Eu posso te ajudar
— Como eu te ajudo? — Lexa estava cansada de só pensar em outras batalhas, porém sabia que era sua melhor chance, a chance de fazer o que sempre quis, salvar seu povo
— Lute ao meu lado.
— Você vai morrer, o meu povo te odeia.
— Não vão me odiar se você estiver comigo, se falar que sou de confiança, se provar que eu não sou..
— Quem eles acham que você é? — a interrompeu e completou, lembrando daqueles pensamentos na arena, satisfeita por estar um pouco certa
— Isso.
— Aceito com uma condição.
— Qual?
— Você me protege?
Clarke sorriu com a pergunta como se esquecesse o cenário todo a sua volta — E quando foi que eu não te protegi?