Antes que o soldado puxasse o gatilho, outro guarda encostou a arma na nuca desprotegida pelo capacete, com o cano apontado para cima, não hesitando em atirar. O tiro foi baixo por usar um silenciador, Clarke virou o corredor mais a frente sem perceber o que acontecia logo atrás.
— Temos que segui-la — o pacificador que salvou a vida de Clarke era um soldado infiltrado, Bellamy Blake
5 horas antes
Bellamy e Octavia estavam sempre na porta do quarto da ala hospitalar improvisada no distrito 12, esperando por notícias melhores, não saiam de lá nem para dormir, os dois não confiavam que Raven ficaria bem sozinha.
E estavam certos.
— Precisamos levar Raven para a capital — Luna comentou com Abby.
— Por qual razão?
— Sua filha solicitou conhecê-la, e ela pode se tornar uma surpresinha dentro dos jogos — a ruiva sorriu suavemente
— Ela está em pós-operatório, não pode joga-la na arena — era fácil deduzir as intenções de Snow.
— Mudanças de planos doutora, mas para isso, temos que afastar aqueles dois.
Os irmãos Blake encararam as mulheres conversando a uma distância segura. Planejando como iria afastá-los, mas Bellamy também tinha um plano em mente.
— Elas vão agir — sussurrou para a irmã — Mas nós dois também vamos...
Arena — 3 dia
Lexa acordou com um grito alto ecoando pelas árvore, a mão de Costia agarrou seu braço e isso a impediu de cair do galho alto, olhando em volta, todos seus amigos estavam acordados, observando o chão abaixo deles
— Por favor, me ajudem! — um garoto implorava, sua perna estava presa estava sendo esmagada por uma das armadilhas de Maya, ele enfiou o pé onde não deveria e isso ativou vários espinhos venenosos que se afundaram em sua pele em segundos, causando um efeito paralisador, Ilian ajudou a encontrar a planta com esse tipo de veneno.
Todos ficaram parados, os gritos dele atraíram outros jogadores, um pequeno conflito se iniciou nos pés da árvore e não demorou para que o distrito 12 fosse notado, Ontari os atacou com sua flechas potentes, Maya se escondeu para não ser atingida por, seja lá o que eles fossem tentar jogar nela. ilian foi impulsivo em descer da árvore e iniciar uma luta física habilidosa, ele era alto e forte e isso foi uma vantagem, mas não faria nada sozinho.
— NÃO! — Costia tentou segurar Lexa quando a garota desceu tão rápido quanto poderia subir.
Haviam 3 pessoas, incluindo o garoto preso que apesar do ferimento ainda lutava, Ilian o derrubou e desarmou outro adversário que portava uma longa faca, empurrando suas costas na árvore e tentando o enforcar, Lexa desviou do soco de uma garota desarmada, rebatendo com o machado outro garoto que tentou a acertar com um tridente afiado.
Raven, Anya
Desligou a empatia humana naquele momento e o atacou, só se importava em proteger seus amigos e voltar para a casa, se virando em um movimento rápido e acertando o rosto da garota com o machado, na agitação do momento ela sequer viu o que acertou, seu cérebro só captou parte do rosto dela sendo arrancado, Costia pulou em cima das costas do garoto que segura o tridente, o impacto o levou para o chão e Lexa agiu em dupla com ela, quando Costia os virou no chão, Lexa deu um golpe fatal em seu peitoral, foi a primeira vez na vida que matou alguém.
Ontari acertou uma flecha que atravessou os olhos do garoto da armadilha, e Ilian desmaiou o outro rapaz, quebrando seu pescoço em um movimento rápido.
O silêncio se arrastou como uma onda que levou para longe toda agitação, Costia reagiu antes, se aproximando de Lexa e segurando seus braços — Hey, você se machucou?
A líder não percebeu que se sujou com sangue, mas negou suavemente com a cabeça, sua visão se nublou como uma nuvem pairando na frente de seus olhos, Anya também foi morta por um machado. Mas se quer sobreviver, precisa parar de pensar nela.
— Fez bem em não usar sua arma..
Maya desceu das árvores, assim como Ontari, certificando-se que todos estavam bem e analisando os itens que conquistaram dessa vez, ela pareceu a mais afetada pelas mortes, ficou enjoada com o cheiro de ferro no lugar e minutos depois vomitou.
Ela era o elo mais fraco.
Clarke parou seu café da manhã e sentou-se no chão durante a pequena batalha de equipes, assistida por toda a capital, de sua casa ela ouviu todos vibrando a cada morte, e não aguentou ficar de pé quando Lexa desceu das árvores, suas pernas perderam as forças por que ela tinha certeza que a veria morrer, mas isso não aconteceu, e o fato dela estar viva era como receber uma anestesia no cérebro, mas não entendia ainda porque se importava tanto.
— Você está realmente envolvida nisso, não é? — Jake a cutucou com o pé, sentado na mesa e tomando seu café sem perder o apetite
— Eu não deveria ter dormido, como não previ que eles iriam se aproximar? Mas parecia tão seguro, as armadilhas, as árvores — bufou chateada, encarando as próprias mãos na cerâmica fria do chão, se lembrava das últimas palavras de Lexa, não que se importasse, mas de forma inconsciente queria provar que ela estava errada, mesmo que gostasse de ser uma pessoa ruim e cheia de privilégios, igual seus pais, aqueles que ela mais amava — Por que ela só não morre logo?
— Estou confuso, qual delas te deixou louca?
— Tenta adivinhar — Clarke se virou e sorriu para seu pai, ele era seu melhor amigo depois de Jasper
— Maya é certinha demais, não.. — coçou a barba enquanto pensava — Ontari tem uma personalidade forte, talvez? — Clarke negou — Lexa? Hum, melhor seguir em frente, essa garota te odeia.
— A vida deles realmente vale menos do que a nossa? — sua voz era cheia de incertezas, Jake conhecia aquele rostinho, Niylah também balançou um pouquinho Clarke, essa não era uma dúvida recente
— Claro que não. Eles estão ali por escolha própria, uma chance de uma vida melhor
Essa não era a verdade, mas poderiam fingir que era.
— Então por que as garotas da capital não podem participar dos jogos?
— Não seja boba, não há motivos — Jake franziu as sobrancelhas — O que ganharia com isso?
— Diversão?
— Diversão? — Jake encarou a tela da TV e os sobreviventes, era divertido do lado de fora, mas não havia nada de legal em ser um deles.
Distrito 11
Madi era nova demais para entender o que assistia no telão, mas sempre dava sorrisinhos ao ver sua mãe, e às vezes chorava por sentir sua falta, seus tios estavam ocupados demais no trabalho então, ela se cuidava sozinha...
(...)
Arena
— Certo, conseguimos duas jaquetas térmica, um saco de dormir, adaga, tridente, temos o arco e flecha, o revólver e o arco e flecha improvisado, somos cinco, 24 menos 4, ainda temos 20 inimigos.. — Lexa revisava o arsenal, agora, o arco e flecha improvisado pertencia a ela, assim como a adaga, Ilian ganhou o tridente, Costia permaneceu com a arma e Ontari com outro arco e flecha. — Oh, e o machado — apontou para a arma nas mãos de Maya, mas ela parecia desconfortável ao carregá-lo — Eu achei que seria mais difícil...
— Às vezes, milagres acontecem — Ontari sorriu confiante
— "Nem tudo que é milagroso é um milagre" — Lexa recitou uma frase "marcante" da última vendedora
— Você está bem? — Costia andou pertinho de Lexa, mantendo os olhos nos dela
— Acho que estou um pouco esperançosa, e você?
— Igualmente.
As duas trocaram sorrisos gentis, e a garota do distrito 11 estava sempre falando baixo, mas fazendo Lexa rir ou se entreter.
— Atirador um? — Clarke perguntou no walkie-talkie
— Em posição, senhorita Snow — um pacificador respondeu, dentro da arena dos jogos, muito bem camuflado e armado com um dardo mortal
— Atirador dois?
— As suas ordens.
— Atirador 3?
— Preparado.
— Atirador 4?
— Na mira.
— Atirador 5?
— Aguardando permissão, senhorita.
— Perfeito, continuem onde estão — Clarke encarou o relogio na parede, Snow já não estava tão disposto a comandar a situação e passou todo o plano para a garota, não que ela gostasse tanto do que viria a seguir, só cumpria ordens.
O terceiro dia de jogos foi uma caçada entre os sobreviventes, a violência explodiu junto às armas biológicas preparadas pela capital. Ao meio-dia o sol começou a se tornar mais forte, adquirindo uma cor avermelhada. Woods se lembrou que deveria correr, mas era incapaz de fazer isso sozinha — Precisamos nos esconder, Ilian, em qual direção encontramos a caverna mais próxima?
— Qual o problema? — Maya a questionou, Ontari e Costia só aceitaram dessa vez, já haviam aceitado que Lexa tomava as melhores decisões, Ilian pediu para ver a bússola — ao sul
— Não façam perguntas, só me sigam — segurou seus itens com mais força e andou apressada na frente, não sabia quanto tempo levaria, mas estava preparada.
Os jovem que estavam sendo adorados pela capital, e quase batiam de frente com a popularidade de Lexa, foram cercados por uma nuvem de insetos venenosos e raivosos. Uma garota entre eles, Charlotte, foi esperta em afasta-los com o fogo, Jasper estava junto no comando do painel nesta tarde, enviando a eles a chuva negra, também conhecida como chuva da morte. A intenção era eliminar todos, já que se tornariam um perigo em potencial.
Trina e Pascal não conseguiram se salvar a tempo, talvez suas roupas não tão boas foram a causa da morte rápida, ele tropeçou e nunca mais se levantou, mas seus gritos de dor e desespero foram escutados em toda a arena, já a garota conseguiu chegar intacta a um abrigo de árvores mais densas, mas ferida demais para sobreviver além de alguns minutos. Charlotte e Ethan foram os únicos sobreviventes, mas Jasper estava muito afim de acabar com eles naquele mesmo dia, usando a névoa ácida como meio de condutor, obrigando o último sobrevivente do distrito 10 a fugir em sua direção, e quando finalmente se encontraram, as toxinas do "red sun" mexeram com a cabeça de todos, houve um confronto, um confronto violento em baixo do sol vermelho, a morte de todos foi confirmada pelos tiros do canhão. Charlotte foi a última que sobreviveu e tentou correr o máximo que podia, chegando a apenas 20 metros do grupo de Lexa, mas foi atingida pelo dardo mortal de um dos atiradores, as câmeras estavam nubladas demais para captarem o ataque, ou melhor, a trapaça. Clarke os enviou a arena justamente para proteger Lexa do red sun.
A capital amava aquela carnificina rápida, foi-se a época em que os jogos vorazes durava mais do que uma semana.
— Tem alguma coisa errada — Lexa se perdeu em pensamentos, sendo afetada pela toxina, ouvindo a voz de Anya chamar pelo seu nome e se virando para procurar — Anya? — não conseguia mais distinguir direito o real do irreal, sua noção, sua capacidade de compreensão, tudo se desmanchou, sentiu uma vontade irresistível de atacar sua equipe, soube que era tarde, deveriam ter sido mais rápidos.
Ela se virou e encontrou sua equipe na mesma situação, Ilian respirou com raiva e avançou na direção de Ontari, sem falar uma única palavra, tentou golpea-la com seu tridente, ela desviou e os dois começaram uma luta injusta, devido a diferença de altura. Costia a ajudou, tomando o machado de Maya e cravando-o nas costas do garoto, seus olhos mudaram e ela o atacou ainda mais, em seguida, tentou atacar Ontari, Maya também saiu do controle, mas ao contrário das outras, ela começou a se arranhar e falar coisas estranhas sobre a morte, porém não durou muito, lutava contra algum autocontrole e tinha consciência do que acontecia — Que merda ta acontecendo com a gente?
— Precisamos tira-las do alcance do sol — Lexa não precisou pedir, Maya agarrou Costia e separou a briga das duas, a puxando com força enquanto corria na direção certa, as cavernas eram próximas, em 100 metros. É claro que Costia tentou brigar com ela mas não deu muito certo, sendo basicamente arrastada. A líder seguiu o exemplo com Ontari, mas a guerreira contra atacou e começou uma luta irritante, socos, chutes, esquiva, uma tentativa de facada, Lexa levantou o revolver para o rosto de sua colega, mas não puxou o gatilho.
— Da um calmante pra essa ai — Clarke falou com um dos pacificadores pelo radio — Afirmativo.
Ontari recebeu um dardo tranquilizante que atingiu seu pescoço, revirando seus olhos enquanto caia inconsciente no chão, Lexa viu, ela encarou o soldado camuflado, voltando os olhos a sua amiga e a levantando no colo, dando tudo de si para chegar até aquela maldita caverna.
Outros participantes entraram em conflito, foi pior do que poderiam prever, o "red sun" não havia sido testado, 10 sobreviventes morreram lutando contra os outros, 4 deles se suicidaram.
Restaram apenas 6
Sala presidencial
— Que tipo de massacre quartenário vocês dois estavam tentando montar? — Snow entrelaçou as mãos sobre a mesa, encarando a sobrinha e o filho, ambos não olhavam seu rosto — 14 mortos em 25 minutos...
— Os telespectadores adoraram — Clarke comentou baixinho
— Eu tenho 76 anos, vivenciei 76 jogos vorazes e assisti todos os que ocorreram antes do meu nascimento — o homem velho encarava apenas ela agora — Eu nunca vi 14 mortos em 25 minutos, e isso não é um elogio.
— Pai, você autorizou o red sun — Jasper o lembrou — Disse que queria ver carnificina real, violência em sua forma mais pura e intensa, não tinhamos certeza mas tinhamos autorização.
— O problema desse número exorbitante é que nossos espectadores vão perder o interesse caso as coisas se prolonguem por muitos dias — Snow relaxou na cadeira, voltando os olhos a um painel na mesa, o número de audiência nunca foi tão alto, todos os records foram batidos — Façam isso acabar amanhã. — os jovens concordaram e se levantaram, não pronunciando mais nada enquanto se retiravam da sala
— Cuide delas essa noite, preciso ir a um lugar — Clarke sussurrou,
Hospital
— Como se sente? — Abby visitou Raven durante a fisioterapia, não precisava mais cuidar dela, mas queria ver como ela estava
— É meio estranho, eu sinto algumas coisas mas... é só estranho —Reyes não assistia aos jogos há algumas horas — Doutora Griffin, pode me falar se a Lexa está bem?
— Viva, segura, e aparentemente bem — sorriu gentil — Me deixa feliz saber que voltou a sentir algo, é um sinal maravilhoso.
— Obrigada, sem sua ajuda, isso seria impossível..
— Não me agradeça, você merecia um tratamento médico muito antes — Abby chegou mais perto, observando os olhinhos castanhos — Podemos conversar?
Mansão dos Griffin's
Clarke entrou em casa esfregando um mão na nuca, um pouco cansada, se aproximando de Jake no sofá, franzindo as sobrancelhas com a forma como estava deitado, ouvindo o som de uma arma sendo engatilhada e encostada contra sua cabeça, mas não sentiu medo — Meu pai ta morto?
— Não, só desmaiado — a voz de Bellamy informou — Se vira.
Quando ela se virou, haviam dois pacificadores, Octavia e Bellamy, usando capacetes e armadura, mas sem um nome no uniforme — Então os boatos de revolução eram reais, vão me matar? Ou querem contar o passado sofrido do vilão antes? — arqueou uma sobrancelha e os encarou de cima a baixo, julgando
— Não queremos mata-la, só queremos falar sobre Raven e Lexa. — Bell abaixou a arma, não desejava parecer uma ameaça
— Ah, claro, o meu plano de jogar Raven na arena — revirou os olhos — Não viram os jogos hoje? Tudo foi por água a baixo, minha máquina de loucura era mais potente do que imaginei, tipo as bombas nucleares durante a segunda guerra mundial
Octavia avançou em Clarke e encostou sua arma no abdómen da garota, a puxando pela gola do vestido e encarando seus olhos — Para de enrolar sua filha da puta
— A Raven está bem, e a Lexa vai ficar bem, os jogos acabam amanhã e indenpendente do que acontecer, eu tenho contatos e poder, a Lexa sairá de lá viva, nem que eu mesma tenha que entrar naquela arena e arrasta-la para fora. Enrolei muito?
— Por que ajudou ela? — Bell questionou, Griffin só desviou o olhar e pensou em uma resposta, mas era um sentimento muito misturado para ser explicado — Não fui eu, apenas sigo ordens — voltou a encarar os Blake — Inclusive, como chegar até aqui? Com toda segurança, devo supor que são profissionais, mas a sorte estava ao seu favor, se me matarem, vão ser pegos, se me deixarem ir, eu os entrego e vão ser pegos — Clarke sorriu sádica e cheia de ideias, Bellamy e Octavia trocaram olhares, como se tentassem dividir o cérebro e pensarem juntos em uma solução
— Eu tenho uma ideia melhor — Octavia empurrou mais forte a arma na barriga dela
— Eu tenho uma ideia melhor — Clarke a interrompeu — Faço duas etiquetas originais para seus uniformes, manipulo o sistema, e até que os jogos acabem, serão meus subordinados, preciso de favores.
— Que tipo de favores? — ele retirou o capacete para iniciar uma conversa importante, Clarke pareceu surpresa de repente, já sabia quem ele era — É mais bonito pessoalmente, Bell.
Octavia fez o mesmo, retirando seu capacete e Clarke deixou seu queixo cair —Esquece, você acaba de ficar feio perto dessa princesinha aqui, qual é seu nome mesmo? — sorriu interessada
— Saudações aos últimos sobreviventes dos jogos vorazes — a voz irritante da mulher do sorteio ecoou pela arena através de auto-falantes — Se estiverem atentos, perceberam que só restam 6 de vocês.
— Fodeu — Costia se encostou em Lexa, lamentando, protegidas dentro da caverna
— Os vivos são: Ontari, Maya e Lexa, do distrito 12, Costia, do distrito 11, Diyoza, do distrito 4 e Mccreary, do distrito 9.
— Por favor Lex — Maya se arrastou até ela e abraçou um de seus braços, deixando o pavor lhe dominar e começar a chorar, sem medo de parecer fraca por isso — Não me deixa sozinha, eu não consigo matar vocês...
— Maya — Ontari chegou perto também, apoiando uma mão em seu ombro — Ninguém vai te machucar, fique calma, você é uma mulher forte..
— De agora em diante — a voz no auto falante se tornou empolgada — Todos são seus inimigos! — uma risada malvada ecoou — Não há mais alianças, somente UM jogador sairá vivo, os jogos deverão acabar amanhã ao meio-dia! Lembre-se que de agora em diante, todas as ameaças são livres. Boa sorte, campeões, e que vença o melhor.
Todas se olharam com calma e medo, naquele segundo era tão visível que não passavam de vítimas do destino. Ainda abaladas por mais cedo, e pela morte de Ilian. O chanhão começou a atirar sinalizando todos os mortos do dia, e parecia que aquele som nunca iria terminar.
Lexa pensava friamente, depois de tudo, será que a vida delas vale menos que a vontade dela de voltar para casa? Será que quando ela voltar para casa, as coisas vão ser como eram?
Não, ela nunca mais seria a mesma.
Distrito 11
O trem da capital parou na estação, os irmãos Blake desceram na frente, portando duas metralhadoras e agora tinham etiquetas com seus nomes, "O.Blake" e "B.Blake".
Clarke desceu logo atrás deles, disfarçada com roupas um pouco mais simples, mas ainda deixava claro de onde ela era, Seu rosto foi parcialmente coberto por uma máscara descartavél, o capuz de seu sobretudo a ajudava esconder bastante do rosto, ainda mais em uma noite tão escura. Seus olhos se arregalaram ao ver o lugar, ele era muito pior do que podia imaginar.
— Vamos — Bellamy andou na frente, Clarke o seguiu e Oc foi logo atrás dela. Existiam pessoas ainda trabalhando, mesmo que poucas. Um choro chamou a atenção dela, observando enquanto um pacificador torturava uma mulher, sentindo seu corpo congelar naquela visão horrível que não chocava ninguém além dela, todos acostumados.
— Eu sei que é ruim, mas precisamos continuar — Octavia sussurou, a empurrando levemente
— Por que estão fazendo isso? — sua mente não tinha a menor noção da realidade, e agora tudo caiu na sua cabeça como um raio
— Provavelmente ela roubou comida, tudo que eles plantam aqui pertence a capital, mas são proibidos de comer, se forem pegos provando um morango sequer, são castigados — a garota Blake parou para olhar os olhos de Clarke, perdida depois do choque — Sério que não sabe?
— Andando, não podemos perder tempo — Bellamy as apressou.
Conforme passavam por ruas enlameadas e casas que não pareciam nada além de uma construção improvisada, pessoas com fome e crianças abandonadas, Clarke regredia mais ao seu passado, sentia-se novamente uma criança, aquela que um dia prometeu para Deus que não iria continuar com aqueles jogos, aquela que tinha tanta empatia na sua alma, que chorava cada vez que ouvia o canhão. A criança que ela achava que já tinha matado, ainda vivia.
— Ei! — Octavia gritou quando um garotinho passou correndo por eles e arrancou uma pulseira de Clarke, correndo tão desesperado e com tanto medo que tropeçava nos próprios pés
— Deixa pra lá — Griffin nem sentiu o puxão de tão rápido, era só uma pulseira para ela, mas podia ser muita coisa a ele.
— Chegamos — Bellamy parou em frente a porta e bateu nela algumas vezes, com força para quase derrubá-la, talvez ele tivesse potencial para esse emprego.
O piso da casa rangeu quando passos se aproximaram e abriram, um homem alto e extremamente magro a abriu, sem sorriso ou boa noite, observou os três e suspirou, deduzindo friamente — Outra mulher da capital querendo adotar uma das nossas crianças?
Os irmãos Blake ficaram em silencio, Clarke só desejava ver se ela estava bem mas agora precisava tira-la daquele lugar, mesmo que isso fosse arranca-la de sua família — Madi?
O homem pensou por um momento, a tristeza em seus olhos era tão gigante que parecia nunca ter sido feliz em toda a vida — 3 mil Panar — "Panar" é a moeda da capital, a ele era um preço muito alto, mas para Clarke era ridículo de baixo
— Pago 30 mil — tirando ela, todos que ouviram ficaram atordoados com o valor exorbitante, o homem paralisou e saiu da frente da porta, a abrindo ainda mais e dando passagem — Segue esse corredor, segunda porta a direita, mas entre sozinha, não aceito policia na minha casa.
Eles se olharam, podia ser um péssimo sinal, ele podia tentar mata-la, mas Clarke aceitou por usa conta e risco. Deslizou a mão no sobretudo, retirando um envelope com o dinheiro, imaginou que pediriam ainda mais então trouxe vários com 10 mil, entregando 3 deles e seguindo em frente.
Andou com cuidado ouvindo todo o chão ranger, como se não fosse bem vinda ali, não havia iluminação além de poucas velas, o rapaz não a seguiu. Sozinha, abriu a porta que possuia um rabisco de "Costia e Madi" e se deparou com a garotinha dormindo em uma cama grande demais para ela, o lugar era apenas horrível e tinha cheiro de mofo, sentia-se um monstro por "comprar" alguém mas decidiu que daria um jeito que salvar Costia também, e ela precisava estar lá, a esperando.
Clarke voltou para o trem com a criança ainda dormindo no seu colo, todos os olhares que recebia deixavam claro o desprezo absoluto, Snow estava certo, o sonho de qualquer um ali era ter a chance de arrancar sua vida com as unhas, sua vida de luxo não era mais importante do que aquelas
— Bellamy, Octavia, se existe uma resistência em busca e mudanças, o que falta para que comecem a revolução? — questionou baixo
— Armas, motivação, condições, não se muda o mundo sem uma guerra.
— Meu tio me diz a vida toda que a coisa mais importante, é evitar uma guerra civil — observou a criança ainda dormindo e babando em sua roupa — Só que na verdade, sempre estivemos em uma.. — voltou seus olhos a Oc e sorriu, retirando a máscara — De quantas armas precisam?