O último dia
— Hoje teremos a entrevista para a capital toda, não sejam tímidos — Roan aconselhava sua equipe, todos estavam sendo preparados com maquiagens e roupas exageradamente brilhantes — Sejam atrevidos, não há necessidade de medo, lembre-se que na mais provável hipótese, vocês irão morrer.
— Tão motivador — Ontari suspirou cansada, e nada nem havia começado ainda. Maya não acreditava que iria morrer, apesar de tudo, ela só não tinha muita noção do que era realmente a morte
Lexa esqueceu a noite anterior como um dia comum de rotina que some da nossa memória em alguns dias, pensava somente no que precisava ser feito, mas o plano em sua mente mudava toda hora, e agora precisava focar na entrevista, pensava em tantas coisas ao mesmo tempo que poderia dizer que pensou em cada detalhe da sua vida. Menos em Clarke.
Já Clarke ficou a manhã inteira completamente feliz e anestesiada, ainda tinha 17 anos e se permitiu agir como uma adolescente emocionada, ela sabia muito bem que não deveria mas priorizou sua curta felicidade ilusória, imaginou como seria se Lexa sobrevivesse, como o reencontro poderia ser divertido, se imaginou conhecendo sua irmã e seus amigos, apresentando seus pais, talvez esse amor se fortifique, talvez Lexa sentisse o mesmo, talvez ela estivesse feliz da mesma forma, todos diriam que são um casal lindo e...
— Tá animada hoje meu amor — Finn Collins entrou no quarto de Griffin sem aviso prévio e um tiro destruiu toda sua fanfic imaginária, desmanchando o sorriso bobo em seu rosto, se pegou em flagrante sendo uma adolescente impulsiva, Finn era bonito, gentil, perfeito para seus pais e sua família, a realidade caiu sobre seus ombros outra vez e ela era muito mais cinza do que ela se lembrava...
Distrito 12
Bellamy e Octavia esperavam na frente de um grande telão, ouvindo a entrevista com cada escolhido, começando pelo distrito 1 e assim por diante, em ordem de sorteio. Era difícil deduzir qualquer coisa, todo mundo parecia bom demais, como em todos os anos anteriores.
— E se ela não voltar? — Bellamy cogitou essa ideia pela primeira vez em todos aqueles dias
— Ela vai.
— Ela me prometeu, então vai — Raven repetiu, sentando-se no lado deles, ambos os irmãos a olharam surpresos — Você não precisa ver se não quiser — o rapaz sugeriu
— Preciso, por ela.
Faltava apenas alguns minutos para Lexa entrar no palco, ouvindo enquanto a entrevista da Ilian chegava ao final. Suas mãos tremiam com tanta força e ela tinha certeza que não iria conseguir, odiava se apresentar na frente de tantas pessoas, sabendo que os 12 distritos e capital colocariam seus olhos nela por quase meia hora, nesse momento ela tinha certeza que essa era a parte mais difícil dos jogos vorazes.
— Roan, eu não tô bem — observou seu "professor" com os olhos marejados — Meu estômago dói, meu coração não para, meu intestino virou uma cobra agitada e minha garganta tá se fechando, eu não consigo respirar direito, meu cérebro parece que desligou
— Vai ser muito tranquilo, ninguém vai te julgar naquele palco — Maya se aproximou e ajoelhou no chão, apoiando as mãos nas pernas de Lexa, que estava sentada, já havia sido entrevistada — Do que ta com medo?
— Garota, dá seu jeito, não pode desistir agora — Roan acendeu um cigarro enquanto observava Ilian todo tímido na TV — Precisa de uma bebida para relaxar?
— Eu tenho medo de falar algo que faça todos me odiarem — Lexa se abriu com a equipe — Não posso parecer fraca, fraqueza é morte, ninguém quer uma fraca..
— Chamei a Clarke — Ash entrou na sala rapidamente, sendo seguida pela Griffin. Mesmo que a odiasse lá no fundo, ela era o poder concentrado em uma pessoa.
— Ficou muito nervosa? — Clarke se aproximou sem expressar nenhuma emoção, apenas tinha em mãos um copo de vidro redondo, parecia bebida alcoólica, encostou os dedos na testa de Lexa — Sem febre então é emocional, lembra que você é a favorita? nada pode te derrubar hoje — sorriu leve tentando passar alguma confiança
— Eu quero ir pra casa — sua voz falhou quando as lágrimas começaram — Por favor.. Clarke, faz eles escolherem outra garota, eu não quero morrer — o pânico começou a dar as caras. Você pode ser a pessoa mais controlada do mundo, mas uma hora, você explode
— Toma isso, vai te acalmar — a loira levou o copo a seus lábios e praticamente a forçou — É remédio.
Lexa segurou com a mão trêmula e obedeceu, sentindo o corpo todo relaxar em segundos, mas seu medo ainda estava tão visível quanto sua pele. Clarke focou em apenas impedir que ela desistisse em cima da hora, tentou ignorar que o pedido a fez sentir alguma coisa, apenas empurrou isso para longe de sua mente e coração — Só vai morrer se for muito burra, você é a favorita da capital
— E quem é a sua favorita? — Lexa sentia a pele ferver de calor apesar de não estar quente
— Eu não tenho — Clarke voltou a atenção para Roan — Tudo pronto?
— A não tem favorita? que engraçado por que a Ash me contou que.. — Griffin puxou Woods pelo braço e a arrastou até a entrada do palco, logo atrás das cortinas, a empurrando para fora e não lhe dando chance de continuar
A garota Woods surgiu na tela de todas as TV's do mundo, entrando no palco com um rosto corado e perdido, segurando toda sua ansiedade e desconforto, seu emocional mudou por completo desde que chegou a capital e se adaptar não era tão simples, mas ela sobreviveria.
O público a aplaudiu de uma forma tão exagerada que ficou claro o favoritismo, o distrito 12 entrou em festa, Lexa era a última entrevistada daquela noite e se esforçou para recuperar a postura.
— Seja bem vinda, Alexandra Woods — o entrevistador com um cabelo estranho e azul falou com um sorriso exagerado e falso. Lexa usava um vestido preto com um caimento vermelho que o fazia parecer sangrar, usava uma maquiagem diferente de qualquer outra, eram como lágrimas pretas em seu rosto, sua pintura de guerra, o cabelo preso em trancinhas impecáveis, suas costas toda era visível, com uma tatuagem de planetas, sete principais e o restante eram pequenas bolinhas, quase como pintinhas, mas claro que era um tatuagem falsa.
— Muito obrigada por me receberem de forma tão animada nessa noite, senhoras e senhores, garanto que valerá perder seu precioso tempo comigo — riu elegante, observando a câmera e a plateia, seu coração ainda batia rápido, se conteve para não deixar o queixo bater de tão nervosa, disfarçava bem.
— Confesso que estou muito curioso sobre a tatuagem em suas costas, o que significa?
— É uma homenagem a vida de cada um que morrerá ao longo dos jogos
— E os maiores? Pode virar para mostrar? — o entrevistador tinha algo estranho em seus olhos, ele era muito falso e escondia algum sentimento negativo, como se fosse forçado a isso tudo.
— Claro que sim — se virou no sofá, deixando a câmera focar na tatuagem — Os maiores são as vidas que eu mesma irei tirar, vou honrá-los e eles não serão esquecidos.
Raven estranhou, aquela não parecia Lexa.
O público se impressionou com a resposta.
— E porque honrar um inimigo?
— Meu inimigo é a família Snow, senhor — deu uma risadinha como se brincasse, e isso fez a opinião pública inteira concordar com ela — Eles são só jovens sem sorte, ninguém merece ser esquecido, não concorda?
— Ah sim, claro que eu concordo — o entrevistador voltou a ler algumas fichas em sua mão — É da consciência de todos que você é a mais corajosa, se oferecendo como tributo no lugar daquela garota, pode nos contar o motivo dessa decisão perigosa?
Tantos olhos nela, tanta expectativa...
— Bellamy, por favor, não deixe a Raven me ouvir agora — sorriu sentindo lágrimas inundaram seus olhos, sentia uma falta sufocante deles.
Bellamy a obedeceu e uma discussão começou entre eles, Octavia entrou no meio da briga para defender a escolha de Lexa.
— A Raven é minha irmã de criação — suspirou tentando buscar as melhores palavras naquele momento — Quando tínhamos 11 anos, assistimos nossa irmã mais velha, Anya Woods, ser arrastada contra sua vontade até aquele palco — as memórias voltaram como um filme de terror — Ninguém se ofereceu para salvá-la, Raven sempre foi muito impulsiva e tentou se oferecer como tributo — voltou os olhos as próprias mãos, se lembrando do que lutou tanto para esquecer, e agora explicava aquilo a seus assassinos, para que eles se divertissem com sua dor, como se fosse apenas uma ficção, o ódio que sentia saiu em risadas tristes, indignada e revoltada, mas não podia agir, precisava ser esperta, se quisesse mudar o mundo hoje, faria isso com suas palavras — Eu e ela brigamos, mas a raiva dela era muito grande para alguém tão pequena, então.. ela avançou em um guarda, foi inútil e ele revidou com um tiro — lambeu os lábios e olhou o entrevistador — Quase perdi duas irmãs no mesmo dia, se tem uma coisa que eu aprendi, é a controlar minhas ações.
— Vejo que é uma garota protetora.. bem, lendo as perguntas do público, muita gente quer saber se o seu coração já tem um dono.
Na realidade, foi Clarke quem o obrigou a fazer essa pergunta.
Lexa sorriu sem jeito enquanto o público pareceu gostar da questão, adoraria falar que é lésbica mas isso a mataria em 7 episódios — Olha não é algo recíproco mas, o meu melhor amigo se chama Bellamy.
Clarke sentiu uma flecha atravessar seu peito, mas não entendeu o motivo desse sentimento horrível repentino, cruzando os braços e fechando a expressão. Finn estava ao seu lado, como sempre, falando coisas que ela não se importava o bastante para prestar atenção ou responder.
Bellamy, Raven e Oc pararam de discutir quando o assunto mudou, os três se encararam franzindo as sobrancelhas, entrando em pane no sistema.
— O Bell é engraçado, às vezes parece uma garotinha mimada, mas existe alguma coisa nos olhos azuis que.. — Bellamy tinha olhos castanhos — Eu não sei, eu sinto que ele é uma caverna de segredos ocultos e ninguém nunca vai descobrir porque ninguém vai se arriscar a explorar. Eu sinto coisas quando me imagino decifrando seus mistérios
Clarke ficou em dúvidas de quem ela falava, observando Finn enquanto ele sorria de um jeitinho encantador, burro demais para notar qualquer sinal
— Sente "coisas"?
— Me deixa feliz, mas é difícil explicar
— Você fala como um poeta, e isso é lindo, tem alguma profissão dos sonhos? Mesmo que ela não seja possível — o apresentador realmente parecia gostar da conversa
— Eu teria uma loja de velas.
— OLHOS AZUIS AHAHAHAHAHAHAHAHA — Octavia gargalhava há minutos, segurava a barriga com as duas mãos e sentia até as bochechas doendo — OLHOS AZUIS!! AZUIS
— Que belos olhos azuis Bell — Raven brincava também — Você parece uma menina mimada mesmo
— Vão se fuder vocês duas — o garoto ignorava, não tinha sentimentos por Lexa mas aquele discurso estranho o fez se sentir curioso sobre quem ela falava
O resto da entrevista foi divertida e tranquila, Lexa os fez rir muitas vezes e isso era maravilhoso, também demonstrou compaixão com seus oponentes, e deixou muito explícito que viveria aqueles jogos pensando em sua única família, sua irmã de criação, Raven Reyes, tocou o coração de cada telespectador antes de finalizar, saindo do palco com quase 10 minutos de atraso, sendo odiada por todos pelo privilegio do tempo, sua equipe não a esperou, apenas Ash e Clarke continuaram ali, e Finn.
— Alexandra, é uma pena que demorei tanto para te ver —Finn segurou uma das mãos dela com as duas dele, apertando suavemente — Confesso que adoro ouvir suas historias, mas me pergunto por que não foi mais a fundo e comentou sobre seus pais e outros familiares?
— Infelizmente eu não os conheci, Finn Collins — sorriu de forma meiga e manteve os olhos presos nos dele — Mas conheci sua namorada, estão juntos a muito tempo?
— 3 anos, é normal achar o amor da sua vida antes dos 15 anos — Finn soltou sua mão lentamente, olhando Clarke — Se conheceram no jantar em que eu infelizmente não pude participar, quem sabe em uma próxima oportunidade
— Foi só um jantar mas tive a chance de conhece-la a fundo —Lexa olhou Clarke, mantendo o sorriso e observando a loira corar suavemente enquanto cortava o contato visual — Espero ter satisfeito as expectativas dela, agora, se me dão licença, preciso dormir
— Claro, foi uma honra conhece-la — Finn ajeitou a postura e observou a morena se afastar, também observou os olhos azuis da parceira seguindo ela até a saída, isso o magoava, é claro que ele teve uma confirmação da parte das duas, mas não era a primeira vez e sempre se recusou a conversar sobre, apenas engoliu o que machucava e seguiu como se nada tivesse acontecido.
— Se importa se eu for falar com o Jasper e te encontrar mais tarde? — a garota mexeu no cabelo sem olhar em seus olhos
— Não se atrase — ele suspirou e se inclinou para dar um beijinho na sua testa — Eu te amo
Clarke concordou rapidamente e sussurrou a mesma coisa, fugindo de sua vista ao sair da sala, tentava ser menos escandalosa com seus passos mas era impossível devido aos saltos altos que sempre usava, encarando apenas o chão, conhecia tantas pessoas que era difícil passar sem ser notada, foi o suficiente para pegar Lexa entrando no quarto, se enfiando na fresta da porta antes que ela a fechasse — Oi
Alexandra revirou os olhos como se a odiasse, e tecnicamente, odiava — Eu já fiz o que queria, se ousar me pedir mais alguma coisa eu não vou me importar de te expulsar daqui de forma violenta.
— Por que sempre que me vê, acha que eu quero alguma coisa?
— Porque você sempre quer alguma coisa.
— O presidente vai sortear o tema dos massacre mas os jogadores não vão saber, é uma surpresa, serão 3 opções — Clarke olhou em volta para ter certeza que ninguém iria ouvir — A utilização de armas biológicas não letais, armas psíquicas ou armas cyberbiológicas letais, a primeira e a última não são as piores, caso ele use a segunda, abandona a sua equipe e eu vou te ajudar, mas eu não posso fazer nada com eles perto, okay?
— Por que? — a morena não pareceu surpresa
— Eles vão enlouquecer, é uma arma de toxinas chamada "red sun", então se o sol falso ficar muito vermelho, corre até um lugar seguro e espera, eu vou te enviar um antídoto —Clarke sorriu olhando seus olhos — Fui eu quem dei a ideia, gostou?
— Monstrinha — Lexa suspirou, observando seus olhos, e mesmo de salto, Clarke era do seu tamanho — Obrigada
— Que a sorte esteja sempre ao seu favor — Griffin nunca desejou isso a outro jogador, apenas esperou que a sorte fosse capaz de entender esse peso e escolher Lexa, se afastando sem mais palavras ou dicas, geralmente ficava animada para que começasse logo, mas não dessa vez.
O terrível dia chegou.
Alexandra abriu seus olhos suavemente, encarou o quarto e voltou a fechá-los assim que lembrou que dia era, queria dormir apenas outra vez, até seu pior pesadelo era melhor do que o dia de hoje.
Anya era quem repercutia em sua mente, Anya foi o motivo pelo qual se levantou, realizou sua última refeição e se encaminhou até a sala de preparação, vestindo um uniforme que seria maravilhoso para qualquer tipo de clima, térmico e adaptável, mas não havia nada de confortável naquele momento desesperador.
— Vocês sabem que as primeiras horas são as piores, vai ser um massacre, apenas corram, não tentem pegar nenhuma arma — Roan os instruiu, mas a mente de Lexa estava muito longe para prestar atenção, ele não parava de falar mas quando ele parou, era um péssimo sinal — Vão a seus lugares.
Todos se afastaram, mas lutariam em equipe, até onde sabiam, as regras mudaram e 4 seriam vencedores, desde que fossem da mesma equipe.
— 20 segundos.
A porta de alguns elevadores de vidro em formato cilíndrico se abriu, ainda eram 8 horas da manhã, que horário terrível para morrer, pensou Woods.
— 18.
Clarke entrou e ignorou tudo e todos, um pacificador tentou a impedir mas ela tinha total autoridade ali dentro, indo apenas até Lexa e segurando uma de suas mãos antes que ela entrasse no elevador, apertando e encarando seus olhos — Corra para o leste, okay?
Lexa engoliu em seco, anestesiada e lerda, tudo parecia irreal e ela estava em um episódio de dissociação — Por que?
— Se você morre, eu me prejudico financeiramente, então me obedeça — Clarke apertou forte o bastante para seus dedos doerem e isso a trouxe novamente a realidade — Lidere-os para o leste, sul é morte, norte é morte, oeste é morte, ouviu?
— Okay — concordou, olhando o relógio sinalizar 10 segundos, sentia o coração tentando fugir pela boca e precisava ser sincera, Clarke não poderia viver acreditando que Lexa sentia algo além de muita raiva — Eu te odeio Clarke
— Pode odiar, mas vá para o leste
— Eu te odeio porque você é um monstro — seus olhos se prenderam apenas nos segundos — E usa pessoas prestes a morrer, você é nojenta, você é o pior tipo de pessoa que pode existir, sádica, psicopata, desumana, e eu espero que o universo esteja reservando a você a morte mais terrível, dolorosa e lenta que já existiu
5 segundos
Clarke soltou sua mão, não tinha uma resposta, Lexa apenas se afastou e entrou no elevador transparente, atordoada demais para prestar atenção em algo além de focar na palavra "leste", só estão se dando conta de que Clarke colocou uma pequena bússola em sua mão quando a segurou, pequena o bastante para passar despercebida, mas o suficiente para ser extremamente útil. Sua equipe toda surgiu na plataforma no meio do campo, todos estavam em média 5 metros um do outro.
Clarke abaixou a cabeça e observou sua mão levemente trêmula, Lexa não estava errada, mas também não sabia de nada. Ela se virou antes que os deixassem lutar, correndo o mais rápido para a sala do presidente Snow, onde veria o início dos jogos com toda a sua família.
Lexa encarou a bússola e marcou a direção leste, logo atrás dela.
— Corram atrás de mim — ordenou em voz alta, Ilian e Maya concordaram, Ontari não
— Precisamos daquelas armas
— Cala a boca e me obedece
— Ah, é, me esqueci que você comeu aquela princesa e agora tá vazando de privilégios — Ontari deu de ombros e aguardou o tempo do relógio regressivo terminar na arena, uma voz no alto falante anunciou o inicio "Que a sorte esteja sempre ao seu favor", quase todos os grupos correram em direção as armas, alguns grupos se dividiram ali, adolescentes desesperados que esqueceram tudo que aprenderam, Lexa e sua equipe correram para as árvores no leste, uma corrida longa que não parou por cerca de 15 minutos, até estarem longe o bastante.
Clarke sentiu a mão de Finn envolver seu ombro e a puxar para se deitar nele, mas ela não conseguia, a tensão no seu corpo o fez se tornar rígido demais para relaxar, pensando em todo investimento que fez em cima de Alexandra e o quanto iria perder se ela não ganhasse, já que as apostas começaram antes mesmo dos jogos. E lá no fundo, por razões que ela não podia entender, surgiu uma agonia, leve, mas constante.
Distrito 12
Raven, Bellamy e Octavia foram convidados a assistirem o início dos jogos em uma sala especial, tinham comida e bebida à vontade , mas para a surpresa dos organizadores, eles não tinham apetite.
— Ela é esperta, viram? Ela foi treinada, vai dar tudo certo — Bellamy tentou ser otimista no meio das duas garotas
— Essa edição é feita para durar menos tempo, eu não sei se foi.. a escolha certa — Raven pensava em todas as possibilidades, se sua perna não fosse um problema nos jogos, ela com certeza iria o vencer, já que era um gênio e sabia disso.
Uma porta interna se abriu e todos ignoraram a presença de uma líder de esquadrão dos pacificadores, ela usava um uniforme diferente, sem armadura, apenas formalidades, seu blazer se destacavam por ser apenas preto, não brilhoso ou todo cheio de detalhes como costumavam ser as roupas da capital, Raven voltou a atenção até ela por um tempo, desconfiada de suas intenções
A mulher sorriu suavemente, sabia que não havia motivos para sorrisos mas queria ser simpática, seu cabelo ruivo com cachos longos chamavam a atenção.
— Você gostaria de passar por uma consulta com um médico especialista? Para avaliar sua perna...
Bellamy esticou seu braço na frente de Raven, a protegendo de algo que nem havia acontecido, mas que ele suspeitou — Por que? Agora vocês cuidam dos coitadinhos do distrito 12?
Luna cruzou os braços e o encarou com certo julgamento — a senhorita Clarke Griffin ordenou que eu cuidasse pessoalmente dessa questão, vamos dizer que Lexa conseguiu uma boa amiga.
Octavia soltou uma risada assim que ouviu o absurdo, Clarke era, provavelmente, a futura presidente da capital, levando em conta sua proximidade ridícula com Snow, seu nome sempre estava entre os principais organizadores dos jogos, ou melhor, entre os maiores psicopatas da capital.
— Isso é mentira
— Raven não vai a lugar nenhum — Bellamy falou firme
— Vocês podem vir juntos — Luna revirou os olhos.
Capital
O presidente Snow realizou um evento rápido mas muito aguardado, sorteando em uma caixa de vidro com papeis amarelos qual seria o tema daquele ano, sempre com um sorriso doentio no rosto. Sua mão girou entre os papéis enquanto ele decidia cuidadosamente, puxando um deles e se decepcionando com a opção, até lembrar-se que era o presidente e inventar uma nova opção naquele instante
— É com imenso prazer que declaro que esses jogos serão... uma grande surpresa.
Os moradores da capital se chatearam com o mistério, e todos os distritos tremeram de raiva, cada vez isso ficava mais e mais injusto. Snow decidiu misturar todos os temas em um só.
2 horas após o início dos jogos
Clarke desviou os olhos da TV apenas para atender um telefonema, ouvindo a voz de Luna informando o relatório médico de Raven e a situação gravíssima de sua perna, um trauma horrível mas que poderia ser sim, revertido.
— Quero ver essa fracassada correndo antes do fim dos jogos — e desligou, ela tinha acesso a todas as câmeras, estava apenas seguindo o grupo do distrito 12, esperando que eles se acalmassem e colocassem a cabeça no lugar antes de começar a se divertir com as surpresas de um massacre quaternário.
O som dos canhões iniciou para contar os mortos do início dos jogos, cada tiro arrepiava-os de uma forma diferente, os nomes e rostos apareciam no céu.
— 9 mortos.. — Ontari sussurrou, mas o canhão atirou uma última vez.
— 10 — Ilian observou as garotas — Precisamos de armas
— Então vamos fazê-las — Lexa odiava a liderança nesse momento, mas também agradecia porque sabia que poderiam viver se fossem racionais e calmos — A sobrevivência escolhe o mais apto, sempre, não o mais forte. Podemos montar arco e flechas, armadilhas, arpões, vamos escolher um lugar para montarmos acampamento e o cercamos com armadilhas.
Sua equipe toda concordou.
— Não não não — Clarke resmungou enquanto olhava a TV — É um massacre, não um jogo normal, Lexa.. você vai ter que lutar, não dá pra se esconder — mordiscou os lábios — Eu disse, não fique parada.
A loira mudou as câmeras em busca dos outros competidores mais próximos, nenhum deles foi tão longe na floresta e todos se preparavam para uma guerra.
— Tô patrocinando o distrito 8 — Finn comentou próximo a ela
— Hum, problema seu.
— Se os seus bichinhos ficarem muito tempo aí, vão acordar com névoa ácida queimando seu cérebro — riu com a hipótese, mas estava animado para ver isso
— Ela não sabe o quanto correu, não conhece essa floresta e a adrenalina bagunçou seus sentidos — Clarke falou consigo mesma, precisava avisar mas todos os recados eram proibidos nas primeiras horas, precisava esperar até o anoitecer.
Mas até lá, poderia ser tarde demais.