Naomi
— NAOMI!! -o grito da minha mãe atravessou paredes, oceanos, universos e então a porta do meu quarto.
Dou um sobressalto na cama, acordando de rompante, meus olhos se abrem arregalados e eu olho ao redor ofegante em busca do perigo eminente.
— Misericórdia. -digo levando a mão ao peito para ter certeza de que não havia um buraco ali por onde meu coração pode ter saltado fora.
— VENHA TOMAR CAFÉ!
— JÁ VOU!! -grito ofegante.
— Pare de gritar!!
Eu olho incrédula para a porta, mas ela está gritando!!
Balanço a cabeça agora mais calma, chuto os meus lençóis e caminho em direção ao guarda roupa, tirando dali uma calça jeans azul surrada, blusa e moletom pretos.
— Mais dois gritos e ela perde a filha para um infarto. -digo indo em direção a porta do banheiro.
Eu paro no caminho e retorno até minha estante de livros, em direção a minha prateleira nerd destinada a minha saga favorita, Cavaleiros do Zodíaco.
— Bom dia, Cavaleiros. -digo olhando para os bonequinhos de colecionador.
Aliso com o dedo um dos Cavaleiros de Ouro que carrega o título de o rei das miragens.
— Bom dia, Aiolia de Leão. -digo.
Sigo o meu percurso para o banheiro.
.
— Tem pão com queijo e presunto assados na chapa, suco, bolo, pão. —minha mãe disse ao me ouvir chegar na cozinha— e arepas com Queso.
— Bom dia, mãe. -digo.
— Bom dia, querida. -ela disse de costas, mexendo no fogão.
— Cheiro de.. -respiro fundo.
Meus olhos cintilam.
— Bolinhos da Lua? -meus olhos brilharam.
— Estão no forno, vão demorar um pouquinho.
— Eu espero por essa nona maravilha do mundo. -digo.
— Não seria oitava? -ela questiona mexendo no forno.
— A oitava sou eu.
Ela riu, sua risada resultando em um belo sorriso de covinhas, com os olhos puxados quase se fechando.
Bem, minha mãe nasceu no Japão mas sua mãe, a minha avó é chinesa e meu avô Japonês, minha mãe se casou com meu pai, um Brasileiro, o conheceu quando veio visitar o país e daqui não saiu mais desde então.
Meu pai era fuzileiro naval e morreu em atividade, minha mãe por preferência dela decidiu não voltar para o seu país Natal pois segundo ela eu não aguentaria a rígidez de sua família e eu particularmente concordo com ela.
Vivemos bem, ela trabalha, recebemos um auxílio mensal por meu pai ter servido tantos anos aqui. E seguimos nossas vidas, lidando com o luto a cada dia, ele morreu quando eu tinha doze anos de idade. Hoje com meus plenos dezoito anos eu procuro ajudar como posso e fazer cada dia ser leve para a minha mãe mesmo que para mim possa pesar uma tonelada, desde que eu tire o peso das costas dela eu não me importo de carregar uma bagagem a mais nas minhas.
— Sua avó virá nos visitar. -ela disse.
Eu me engasgo com o pão de queijo.
— Oi?! -tossi.
Tomo um gole do suco sentindo o bolinho descer dolorosamente em minha garganta.
— Akame Saito vai pisar no Brasil? —questiono boquiaberta— a vovó odeia esse país!
— Bem.. acho que ela pode mudar de idéia. -minha mãe deu de ombros.
Dou uma gargalhada.
— Até parece, ela não pisaria aqui nem que nossa vida dependesse disso, aí tem coisa. -digo desconfiada.
— O seu avô vem junto. -ela suspira.
Eu deixo o pão de queijo ir de Vasco no chão enquanto olho boquiaberta.
— O vovô vem aqui?! -grito.
— Naomi! -minha mãe me olha.
— Desculpe... O vovô vem aqui?? -a olho em choque.
Ela assentiu.
— Ok, alguma coisa bem polêmica deve ter acontecido. -ergo as mãos.
Me abano com uma mão enquanto a outra corta uma fatia de bolo.
— Quer dizer que Gohan Saito também vai vir... —assenti para o nada— passada, minha filha, mais passada do que esse pão com queijo.
— Para os Saito vir até aqui deve ser um babado muito forte. -digo mordendo o bolo.
— Querem ver você.
Aponto com o polegar para mim, as sobrancelhas erguidas.
Minha mãe assentiu.
— Tomara que seja pra dizer que virei herdeira deles ou que eu ganhei uma armadura para deixar de enfeite no quarto. -falo.
— Só pensa em desenho. -minha mãe me olha com tédio.
— É claro, desenhos quase nunca decepcionam. -falo.
Ela retirou os bolinhos da Lua do forno e os meus olhos brilharam como os de uma criança.
— Estão quentes. -ela colocou dois em meu prato.
— A nona maravilha do mundo. -assopro.
.
— Deveria ter seguido meu conselho e colocado aquela roupa. -minha mãe murmura para mim no aeroporto.
— Mãe, eu não iria vir enfeitada daquele jeito pra cá não, aquele vestido parece de carnaval. -faço careta.
— É da cultura dos seus avós, sua cultura também.
— Estamos no Brasil, a cultura é havaiana branca da bandeirinha e camisa do flamengo. -falo.
Ela acertou um tapa na própria testa.
— Eu escolhi uma roupinha comportada mas em casa eu coloco as havaianas e a camisa do flamengo. -digo.
Eu dou uma olhadinha do vestido que bate no meio das minhas coxas, preto com dragões vermelhos serpenteando.
Ela que me agradeça, usar preto nesse calor é pedir pra morrer.
— Você vai matar a sua avó.
— Minha avó não gosta muito de mim, sejamos sinceras, só quem gosta de mim é o vovô e ele é o único motivo pelo qual estou no aeroporto com um cartaz enorme e colorido nas mãos. -digo erguendo a cartolina com o nome do meu avô todo enfeitado e brilhante.
Minha mãe olhou para o cartaz e riu.
— Vão pensar que é protesto LGBT com tantos arco-íris desenhados.
— Já, já eu começo um sem nem ser LGBT. -falo.
Então vi de longe um casal de senhores e apenas pelas roupas casuais e orientais eu já sabia quem eram.
— Achei dois elementos importados ali. -aponto.
Minha mãe olhou e sorriu.
— São eles!
Eita que animação.
Larguei o cartaz e dei uma pequena corrida para abraçar o meu avô.
— Vovô, estava com saudades.
— Naomi. —ele sorriu de orelha a orelha— é bom vê-la, minha neta Cavaleira.
Eu sorri para ele.
— Está enorme e a cara da sua mãe. -ele disse me olhando admirado.
— E com traços do seu pai.. -minha avó entorta o nariz.
— Também é bom vê-la, vovó. -digo.
Ela balança a mão.
— Este país... Me dá sensações ruins.
— Não mais ruins do que as que tenho ao ver a senhora. -murmuro.
— O que disse?
— Nada.
— Tenho certeza de que falou algo.
— Impressão sua. -sorri.
Minha mãe veio em nossa direção.
— お父さん、お母さん、会えてとてもうれしいです。(mamãe, papai, estou tão feliz em vê-los). -ela disse sorrindo.
Ah não, começou a língua Maia.
— ようやく彼らを訪ねる時間ができました、さくら。 (Finalmente tivemos tempo para vir visitá-las, Sakura). -disse meu avô.
— あなたの娘さんは適切な服を着ていません。(Sua filha não está usando roupas adequadas). -disse minha avó.
Eu a olho feio, ela acha mesmo que eu não sei o que ela está falando? Faça-me o favor.
Minha mãe sorriu nervosa.
— Aqui faz muito calor para roupas habituais. -minha mãe explica.
— Na verdade, nós não estamos no Japão, aqui a vestimenta é livre. -semiceddo os olhos.
Minha avó me olha de cima a baixo.
— Hum. -ela disse.
— Dois. -me viro.
Meu avô riu andando ao meu lado.
— Tenho presentes para você, só pode abrir quando chegarmos na sua casa, querida. -ele disse.
— Sério? Algo de CDZ? -meus olhos brilham.
Ele sorriu.
— Talvez.
*Até o próximo capítulo, deixem seu comentário e seu voto pfvr ❤️❤️💋*.
Referência: Naomi Saito.
Não achei foto melhor, perdão.