OBSERVAVA O NASCER NO SOL no topo da colina, ao lado de Cannibal.
Estava sobrecarregada era um fato, não conseguiria dormir com o entalo de uma guerra batendo a minha porta.
Vidas estavam em minhas mãos.
Não tardei em conseguir navios para levar meu exército a Dragonstone, já podia riscar essa preocupação da minha cabeça.
Minha avó ofereceu suprimentos para que eles se mantivessem durante a viagem, agradeci imensamente.
Senti seu amor por mim nesse gesto de apoio, ou foi coisa da minha cabeça desesperada por aprovação.
Os suprimentos se consumidos com responsabilidade poderiam satisfazer totalmente suas necessidades até um pouco depois de chegarmos ao destino.
O nascer do sol me trouxe de volta a realidade de obrigações, tive que retornar para o castelo me deparei com Qoren, meu tio mais velho.
Eu sabia que ele seria o herdeiro do trono de Dorne, todos sabiam.
━━━ Perdeu o desjejum, minha sobrinha.
Assenti, não dando importância.
━━━ Por sorte, Oberyn pediu para que as criadas levassem para seus aposentos. Se eu fosse você me apressava para não esfriar.
Sua mão tocou o topo de minha cabeça lhe ofereci um sorriso antes de entrar e subir para o meu quarto onde me deparei com o café sobre a escrivaninha, mas ignorei indo direto para o banho e trocar minhas vestes para só então eu comer.
Agora estava no campo aberto onde meus soldados treinavam os menos experientes. Cannibal essa manhã ele me fez mais companhia que de costume.
━━━ Sir.Yam, princesa.
Uma criada anuciou levantei as sobrancelhas surpresa, fui sem demoras à entrada do castelo.
Por quê ele está aqui?
━━━ Yam? O que aconteceu?
Notei que ele não queria me olhar nos olhos.
━━━ Podemos conversar a sós?
Virei para Elijah que observava a cena com curiosidade.
━━━ Pode cuidar deles por mim?
Elijah entendeu voltando ao campo de treinamento, vi a cabeça do meu dragão se levantar curioso.
━━━ Vamos.
Andamos até meu quarto em silêncio, odiava esse suspense. Algo muito ruim aconteceu.
━━━ Lucerys Velaryon está morto.
Não houve cerimônia, e por minha parte não houveram reações imediatas além de meus joelhos fraquejando, me fazendo sentar na cama.
━━━ Lys...
Ergui a mão para indicar silêncio.
━━━ Como? Quando?
Ele me olhou com compaixão. Eu sabia que meu rosto não transparecia nada, mas a droga de lágrimas salgadas encheram meus olhos.
━━━ Aemond... Recebemos a noticia pela noite do dia em que você partiu.
Ajeitei a postura o encarando. Travei o maxilar e olhei para cima.
━━━ Está tudo bem chorar, Alyssa.
Não, não está.
Senti sua mão tocar meu ombro e tive vontade de agir como o esperado; Chorar, soluçar e até mesmo gritar.
━━━ Eu tenho um exército para comandar.
Minha voz não passava o sentimento que eu queria, mas sim o que eu gostaria de mascarar a dor.
Aemond Targaryen morreria pelas aminhas próprias mãos.
━━━ Lys... O serpente marinha lhe enviou uma carta.
Olhei para ele com a visão embaçada e então Yam me entregou o pergaminho e saiu do quarto me dando privacidade.
QUERIDA ALYSSA,
Espero que esta carta encontre você. A triste notícia da perda de Lucerys me entristece profundamente, e minha preocupação por você é imensa. Sei que as palavras não podem curar a dor, mas espero que encontre algum conforto nas memórias felizes que compartilhou com meu neto.
Neste momento sombrio, lembre-se de que você não está sozinha. Sua determinação e coragem são admiráveis, e seu apoio ao lado de Rhaenyra é uma luz em meio à escuridão. Sua lealdade é inestimável, e tenho certeza de que Lucerys estaria orgulhoso de ver a força que você demonstra.
Não hesite em recorrer a mim se precisar de apoio ou consolo. Independente de tudo, estou aqui para oferecer meu ombro amigo. Mantenha-se firme em sua missão, Alyssa, pois o reino precisa de pessoas como você.
Com amor e admiração,
Corlys Velaryon
Voltei ao campo de treinamento e os meus soldados bateram seus pés no chão e endireitaram a postura.
Yam me observava desde que deixei aquele quarto, mas eu não o encarava quando sabia que seus olhos me leriam.
━━━ Hoje, nós erguemos nossas lanças e marchamos para Pedra do Dragão, onde faremos que nosso grito de guerra ecoe pelos Sete Reinos, pois não descansaremos até que a coroa usurpada seja devolvida e os traidores se curvem!
O lado verde despertou com crueldade, e nós a devolveremos se é assim que desejam.
━━━ Que os verdes tremam diante da fúria que se aproxima, pois o sangue derramado por Aegon e seus cúmplices será cobrado com juros de dor e desespero!
Sustentava o alto valiriano em minhas palavras e eles sustentavam a atenção em nelas.
━━━ Matem quem estiver do lado traidor. Traição será resolvida com fogo e sangue!
Naquela noite, abominei a ideia de dormir até meus olhos me trairem e o cansaço me levar.
MEUS PASSOS AFUNDAM enquanto caminho pela praia deserta, envolta em uma névoa densa que obscurece o horizonte. O som das ondas quebrando suavemente contra a areia ecoa ao meu redor, criando uma atmosfera de solidão e mistério.
Meus passos são lentos e hesitantes, como se estivesse sendo atraída por uma força invisível em direção ao desconhecido.
À medida que avanço, sinto um aperto no peito, uma sensação de inquietação que me faz procurar freneticamente por algo, sem saber ao certo o que é.
O ar está carregado de uma energia pesada e melancólica, como se o próprio ambiente estivesse impregnado de tristeza.
Então, avisto à distância a silhueta de um corpo caído na areia. Meu coração dispara e corro na direção da figura inerte, temendo o pior.
Ao me aproximar, reconheço imediatamente o rosto de Lucerys, pálido e imóvel. As lágrimas inundam meus olhos, pois percebo que nunca tive a chance de me declarar, de expressar todo o amor que guardava em meu coração.
O quão burra fui?
A sensação de arrependimento e desespero tomam conta de mim, enquanto a brisa fria da praia envolve meu corpo trêmulo.
Estou paralisada diante da realidade devastadora que se desenrola diante de mim, meu joelhos encontram o chão.
Estava arrepiada, puxei seu corpo para o meu colo sentindo algo se fechar ao meu redor, tão sufocante que minha respiração já não tinha padrão.
O gosto amargo do arrependimento ia além do meu paladar, ele não tinha seu sorriso habitual, seus lábios estavam esbranquiçados com um tom de roxo surgindo no meio.
Ele nunca saberia o quanto eu o amava. Ou podia pensar nisso enquanto em vida mas nunca houve uma confirmação.
Eu sempre fui mesquinha, odiava ser cruel com ele.
Lucerys era meu mar.
Lucerys sempre foi como o mar para mim. Assim como as ondas que dançam suavemente na praia, ele era calmo e sereno, trazendo um senso de tranquilidade à minha vida agitada. Sua presença era como a brisa marítima, refrescante e revigorante, acalmando as tempestades que rugiam dentro de mim.
As tempestades que tanto me assolavam. Todos nós temos demônios mas Luke sabia acalmar os meus me trazendo para seu(meu) céu.
Cada olhar profundo que trocávamos era como mergulhar nas águas misteriosas, descobrindo novas facetas de sua alma cativante.
E assim como o mar, ele tinha o poder de me encantar e me assombrar ao mesmo tempo. Sua presença me atraía irresistivelmente, mas também despertava um medo primitivo do desconhecido. Eu não sabia navegar nas águas turbulentas das emoções que ele despertava em mim, e por isso me afastei, mantendo-me à margem daquilo que mais amava.
Agora, diante de seu corpo inerte na praia nublada, lamento não ter me permitido explorar as profundezas de seu ser como sempre desejei fazer com o mar. Em vez disso, fiquei à distância, admirando sua beleza de longe, sem jamais mergulhar na imensidão de seu amor.
NOTAS DA AUTORA.
Ouvir Born To Die reescrevendo esse capítulo foi meu império romano.
É o fim do ato 2 minhas gostosas, gostaram?