Emma observava com carinho Henri brincando na sala, os brinquedos de madeira espalhados pelo chão. Thomaz, entrau pela porta após um longo dia de trabalho e a abraçou ternamente.
— Boa noite, minha querida. Como foi o seu dia?
— Boa noite, amor. Foi um dia cansativo, cheio de contratempos. Mas olhar para o Henri aqui me traz paz.
— Sinto muito ouvir isso, meu amor. Soube que proibiu meu pai de ver nosso filho. O que ele aprontou?
Emma suspira antes de responder: – Seu pai, Aquela figura mal-educada, fanfarrona e dramática, já foi fazer fofocas e chorar as pitangas para você?
Thomaz, franzindo a testa e esperou a esposa responder.
Emma, com um olhar cansado: – Ele achou de bom tom ensinar nosso filho a maltratar os empregados. Segundo ele, é o qur cavaleiros fazem.
Thomaz, balançando a cabeça: – Lamento por isso, Emma. Você merece paz em casa. Mas, acho que proibi-lo de ver o neto, pode ser um pouco traumático para nosso pequeno.
— Eu não o proibi, apenas disse que não poderá mais ficar a sós com ele. Sem a minha ou a sua supervisão.
— Realmente não se pode confiar em nada que ele diz. - A decepção na voz do homem fez o coração de Emma vibrar e encolher. Apesar de tudo, ela sabia que Thomaz ainda cultivava amor pelo pai. – Faremos do seu jeito, meu bem. Vai ficar tudo bem. - Thomaz disse lhe dando um beijo
Emma sorriu, agradecida pelo apoio de Thomaz, e o abraçou mais uma vez, encontrando conforto nos braços do marido enquanto Henri continua a brincar despreocupadamente.
— Já que este assunto está resolvido, que tal juntarmos? Henri já se banhou e eu esperei para fazer o mesmo... Só que com você.
— Plano perfeito. - Thomaz soltou a esposa e caminhou até o filho. – Oi garotão.
— Papai! Estava ansioso para que chegasse. Olha o que montei hoje. - Disse o pequeno lhe mostrando o pequeno carrinho de madeira que confecciono com o auxílio de um dos empregados da casa. – O senhor Paul me ajudou.
— Que perfeição. Lembrou de agradecê-lo pela ajuda?
— Sim. - O pai orgulhoso deu-lhe um afago gostoso.
— Muito bem filho. Agora guarde seus brinquedos, lave as mãos e vamos jantar.
Abraçados, o casal o observou a criança subir as escadas correndo para cumprir o qur lhe fora pedido.
Sentados a mesa e compartilhando uma refeição quente, essa era, na opinião de Emma a definição de felicidade. Por mais simples que a cena parecesse, ela está a feliz. Porém, sempre há escuridão, ela sempre tenta destruir a luz.
Do outro lado da cidade, quase em meio a floresta, Lorrence colocava as mãos em algo perigoso.
— Tem certeza que isso funciona? - Perguntou girando o pequeno frasco nas mãos e observando o líquido transparente dançar dentro dele.
— Tem minha palavra. Em um adulto, duas gotas são o suficiente para solucionar o problema.
— Perfeito. Talvez eu deva dar tudo a ela... ‐ O olhar perverso é escuro moldado pelo sorriso torto o transformava em um ser que se assemelhava à qualquer monstro dos contos de fadas.
— Não será preciso. Se quer que seja invisível e indefectível... De duas gotas misturada no suco. Acredite, ela já sofrerá o bastante.
— É instantâneo?
— Não. O senhor disse que ela é quase da sua altura, vai agonizar por uns dias. Assim parecerá que contraiu alguma doença. Quanto menor o indivíduo, mais rápido e letal é a ação.
— Seu pagamento. - Entregou-lhe um saco cheio de moedas. – E estes são por seu silêncio. - Deu a velha senhora um pequeno embrulho e dentro dele havia dois colares de diamante. – Caso eu obtenha o sucesso que desejo lhe darei outro desses.
— Ao seu dispor meu senhor.
Havia se passado quase um mês daquela fatídica tarde na qual Emma proibira Lorrence de ficar sozinho com o neto. A mulher não cedeu um centímetro, então ele resolveu por seu plano terrível em prática.
Mandou uma carta ao casal propondo paz e sugerindo um almoço de reconciliação, no qual pretendia demonstrar que mudara. Mesmo sentindo o coração apertar, a jovem mãe aceitou o pedido do sogro e o tal amplo foi marcado.
Conforme os dias passavam, mais incomodado Emma ficava.
— Se quiser cancelamos o encontro meu amor. - Dizia Thomaz em uma tentativa de acalentar a esposa.
— Não. Nosso menino fez muitos planos para com o avô. Deixe como está. Só me prometa que ficará de olho no seu pai. - Thomaz concordou.
Aquele domingo começou atípico. Para se sentir mais segura, Emma convidou os pais e surpreendente, seu sogro estava se comportando exemplarmente.
Como fazia um dia lindo, solicitou que a mesa fosse montada no jardim para que pudessem apreciar melhor o momento e assim Henri poderia correr livremente.
Lorrence observa furtivamente o que cada um dos presentes fazia e quando a oportunidade surgiu, pingou duas gotas do líquido transparente no copo de suco de Emma.
— Aqui minha querida, beba. - Ofereceu ele.
Emma segurou o copo de maneira desconfortável e quando se preparava para dar o primeiro gole, Sua mãe a chama, interrompendo o momento. Emma atende apressadamente, deixando o suco intocado. Lorrence ficou ansioso, espreitando a cena.
Quando finalmente Emma retornou ao suco, Henri chamou sua atencao, trazendo consigo uma animada conversa sobre o dia. O suco permanece ignorado na mesa, e Lorrence disfarçou sua frustração.
Finalmente, sedento de tanto correr, Henri viu no copo de suco a oportunidade perfeita para matar sua sede. Sem hesitar, ele deu um grande gole, enquanto Lorrence, horrorizado, observava em desespero. O grito do velho homem ecoou pelo jardim quando ele percebe o que aconteceu, deixando todos perplexos com a cena.
O terrível líquido que corria pelas veias do pequeno corpo, permitiu que a criança desse apenas alguns passos antes de cair diante de seu poder. Emma abraçou o filho vendo o vermelho escarlate jorrar por sua boca e nariz.
— NÃOOOO! NÃO. HENRI, NÃOO...
Os gritos dela eram carregados da mais profunda dor. Uma dor que nenhuma mãe jamais deveria sentir. Ao fundo ouvia-se um turbilhão de vozes que Emma já não distinguia. – Vá chamar ajuda. - Dizia alguém que parecia ser sua mãe. – O que foi que você fez? - Alguém questionava o sogro. Mas o que fez Emma sair do transe em que se encontrava foi a voz de seu marido, seguida da de seu pai.
— Meu... Filho... Aí... - Emma viu o marido cair próximo a si e Antonie vir ao seu auxílio.
— Respire rapaz. Vamos. - Seu pai afrouxava a gravata do genro desesperadamente.
Os olhos de Emma se embacaram e as lágrimas romperam como uma tormenta sem fim.
— Aaaaaahhhhh!!! - O grito tenebroso rompeu-se garganta a fora, assistando a todos. Ninguém conseguia fazer com que Emma soltasse o corpo do filho.
— Precisa soltar meu amor. - Marie dizia aos prantos. – O médico e o inspetor estão aqui. E seu marido precisa de você. ‐ Emma olhou para mãe. As lágrimas ainda escorreriam em abundância. Com muito custo ela deixou que examinassem o pequeno e voltou sua atenção a Thomaz que permanecia desacordado.
O médico logo deixou a criança de lado e para se concentrar no pai. Parou diante de Emma e com muito cuidado disse: – Lamento, não há o que fazer quanto ao seu filho. Vou verificar o senhor agora. - A vida parecia ter sido ceifada de Emma também. Não havia nada em seus olhos, nada além além dor. – O senhor parece ter sofrido uma mal súbito. Vamos ter que hospitaliza-lo.
— Faça o que for necessário. - A mulher disse depois de alguns minutos. Deu um singelo beijo na testa do marido e voltou para junto ao corpo do filho.
Ao passar pelo sogro que estava em choque, disse: – Eu sei que foi você. Se a justiça do homem não for feita, que a divina seja. Você vai queimar em vida e nem o céu ou o inferno irá te aceitar. Estará condenado a vagar sem rumo pelo que fez.
— Não fale isso filha. - Marie a puxava para longe. – Vamos.
Emma voltou-se para junto do corpo do filho e ali ficou. Chorou até não restarem mais lágrimas em seu corpo. Sentiu como se toda a felicidade do mundo tivesse sido tragada de seu corpo. Agora ela só existia.